Colapso (10)
Como tenho vindo a dizer nestas minhas humildes contribuições sobre a economia nacional, Moçambique - o nosso país - ainda vai conhecer dias amargos. É a tensão político- militar em curso e sem previsão de parar, visto que na mesa de negociações o Governo e Renamo não têm alcançado consensos, embora haja mediadores internacionais. Por outro lado, temos a questão dos refugiados que debandam das províncias onde o conflito armado se faz sentir, e Afonso Dhlkama não parece vergar na sua exigência de governar as seis províncias onde alega ter vencido as últimas eleições.
Eu, Nini Satar, um moçambicano que ama o país que o viu nascer, tenho sérias dúvidas de que a Frelimo irá ceder às exigências da Renamo e seu líder, mesmo que isso custe a vida de 10 milhões de compatriotas nossos inocentes. A Frelimo nunca cederá a estas pretensões de Dhlkama. Na eventualidade da Frelimo “entregar” essas seis províncias (um mera hipótese), estaria a legitimar que a Renamo pode ter ganho as últimas eleições. Aos incautos isto pode passar despercebido. O facto é que enquanto se medem forças, milhares de inocentes vão morrendo diariamente, as escolas estão fechadas, algumas actividades económicas estão encerradas e os camponeses não produzem.
Há dias, vi uma reportagem que retratava que cerca de 15 escolas estão encerradas na provincial da Zambézia, devido a guerra que se alastra aos poucos pelo país afora. Não sabemos quantas mais escolas poderão encerrar nos próximos tempos devido a esta situação. Imaginam o que se avizinha se o Governo e a Renamo continuarem a extremar as suas posições?
Afonso Dhlakama já esteve 16 anos nas matas. Portanto, é uma pessoa habituada à guerra. Tudo o que quer pede movendo uma guerra, enfraquecendo o país. Quem quer imaginar um cenário parecido com os passados 16 anos? Não seria catastrófico? Qualquer mente equilibrada sabe que não é fácil vencer uma guerra de guerrilha, porque está ataca de surpresa, ataca e foge. É esta guerrilha em curso que esta a matar, destruir infra-estruturas e a economia a colapsar.
Colapso em tudo
Vendo as fotos aqui postadas, vê-se claramente que estamos a recuar a olhos vistos para os velhos tempos, onde havia escassez de quase tudo.
Em Novembro passado, em um dos meus posts desta série de análise da economia e seus efeitos, alertei quando a moeda estrangeira começou a valorizar-se face ao metical que as importações iam reduzir e, eventualmente, até podiam parar.
Qualquer comerciante lúcido que fizer uma importação nesta economia ‘dolarizada’, de qualquer que seja o produto estará a perder o seu dinheiro. Se formos a fazer uma análise honesta e minuciosa de todas as moedas do mundo, o metical é que esta a sofrer a maior depreciação, pois de três em três dias, esta moeda esta a inflacionar em passos largos.
No mercado negro a unidade do dólar está por 81 meticais e o rand sul-africano a 5.5. Enquanto a moeda sul-africana está se fortificando, o metical esta perdendo o seu valor. Ora vejamos: há três meses atrás 1 dólar correspondia a 16 randes e hoje, 1 dólar esta a custar 13.7 randes. Isto quer dizer que o rand esta a recuperar a sua robustez perante o dólar e, desse modo, vai ganhando mais peso sobre o metical. E esta situação em nada beneficia Moçambique, já que importa quase tudo da África do Sul.
Colapso eminente nas cadeias de supermercados
A famosa cadeia de supermercados Pick n Pay que tinha aberto em tempos em Maputo, já fechou as portas. Já era. Os seus gestores concluíram que não compensava continuar em Moçambique. A Brithol Michcoma está por um fio e a qualquer momento pode encerrar. O GAME esta a acumular prejuízos incontroláveis. Eu, Nini Satar, não sei como este supermercado continua sobrevivendo até hoje, mas pelo actual rumo acabará por fechar as portas, seguindo o mesmo caminho do Pick N Pay.
A Woolwhorths está com as prateleiras vazias, como ilustram as fotos deste post. Este grupo também poderá fechar, talvez até esteja à espera de esgotar o stock ou o que resta das prateleiras. Se forem a fazer novas importações os preços dos produtos irão ser ajustados ao dobro ou ao triplo e a maioria dos seus clientes não terá como comprar. Até as fábricas que importam matéria prima não estão a conseguir obter os seus produtos por falta de divisas nos bancos comerciais.
Colapso dos ‘Mukheristas’
Os comerciantes informais, vulgos ‘Mukheristas’, também estão à beira do colapso. Os que tinham um capital de 500 mil meticais, o equivalente na altura da estabilização da economia a qualquer coisa como 150 mil randes, hoje aquele capital compara-se a 80 mil randes.
ALFÂNDEGAS
Os custos das deslocações e as extorsões nas fronteiras não compensam para que continuem a ir à luta neste cenário caótico. As alfândegas que vivem dos direitos aduaneiros vão ver as suas receitas reduzidas de forma automática por falta de comerciantes, que se irá reflectir num duro prejuízo para o Estado.
FINANÇAS
As finanças que dependem dos impostos também irão ver as suas receitas às migalhas porque comerciantes no activo serão poucos já que o grosso vai declarar insolvência. Aí, mesmo aos olhos dos leigos, o colapso ganhará forma!!!
Em jeito de conclusão
Nas minhas habituais conversas com amigos economistas, administradores de bancos e grandes empresas, gestores bancários, fico com a sensação de que a maioria deles estava convicto de que o dólar pudesse voltar para a casa dos 30 a 40 meticais a unidade em pouco tempo.
Eu, Nini Satar, tenho mais de 22 anos de experiência empresarial e sempre disse que o dólar não iria arrefecer. Os meus interlocutores hoje já me dão razão. E, por este caminhar, o dólar poderá chegar aos 110 meticais até ao final do ano e isso irá trazer grandes problemas ao povo.
É hora dos cérebros da economia moçambicana buscarem soluções palpáveis que a breve trecho ajudem a economia a respirar, sob pena de estarmos ao níveis dos colapsos vividos no Zimbabwé e Angola.
Nini Satar
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