Sunday, August 14, 2016

Inflação da comida ultrapassa 35% desde que Nyusi é Presidente, tornando alimentação condigna cada vez mais um privilégio em Moçambique


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Tema de Fundo - Tema de Fundo
Escrito por Adérito Caldeira  em 11 Agosto 2016
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Montagem fotográfica @VerdadeA promessa do Presidente Filipe Jacinto Nyusi de que “a alimentação condigna não deve constituir um privilégio. Ela é um direito humano básico que assiste a todos os moçambicanos” torna-se a cada dia em que vivemos a crise das dívidas secretas numa mentira mais evidente. “Tudo subiu quase a 100%, principalmente, os produtos de primeira necessidade” afirma um professor residente em Nampula. “O pão já foi substituído pela farinha de mandioca, caril já não chega por isso plantamos couve (…) nos caprichos da senhora obriguei-a a cortar careca para não ter custos com o cabelo” desabafou ao @Verdade outro funcionário público. Segundo o Instituto Nacional de Estatística(INE) a inflação em Moçambique aumentou, desde a investidura de Nyusi, mais de 20%, até preço do peixe seco(que não é bacalhau) aumentou.
Durante o mês de Julho os preços dos produtos e serviços voltaram a aumentar no nosso País, apesar das medidas que o Governo tem tomado assim como o Banco de Moçambique para supostamente controla-la.
“Da análise da inflação mensal por produto, resulta que o aumento dos preços do Óleo alimentar (7,0%), do Arroz (2,2%), da Cebola (5,5%), do Carapau (4,7%), do Milho (11,8%), da Farinha de milho (1,3%) e do Peixe seco (4,8%), contribuiu no total da inflação mensal com cerca de 0,73pp positivos” indica o Índice de Preços no Consumidor(IPC) do INE que não mostra a inflação real em Moçambique afinal apenas monitora os preços de alguns produtos nas cidades de Maputo, Beira e Nampula.
De acordo com o IPC divulgado nesta quarta-feira(10), “De Janeiro a Julho do ano em curso, o País registou um aumento de preços de cerca de 10,27%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas foi a que mais se destacou ao contribuir no total da inflação acumulada”.
Gráfico do Instituto Nacional de Estatísticas“Desagregando a inflação acumulada por produto concluiu-se que a Farinha de milho, o Arroz, a Cebola, o Óleo alimentar, o Açúcar amarelo, o Amendoim e o Feijão nhemba, são os que mais influenciaram o comportamento geral”, refere o INE.
Sensivelmente desde a tomada de posse do Presidente Nyusi, “o País registou um aumento de preços na ordem de 20,68%. A divisão de Alimentação e bebidas não alcoólicas foi a de maior agravamento de preços com cerca de 35,84%”, mostra o índice de preços do Instituto Nacional de Estatística.
Recorde-se que em Abril o Executivo de Filipe Nyusi reduziu os preços de referência de importação de produtos hortícolas e de mercearia mas o custo desses produtos para o consumidor final continua a aumentar.
Banco Central tem vindo a aumentar consecutivamente as taxas de juros de referência para conter a inflação e a desvalorização do metical mas o dólar e o rand continuam em alta, nesta quarta-feira(10) já foram transaccionados acima dos 78,5 e 5,4 meticais, respectivamente.
Se para os empresários nacionais está cada vez mais difícil manter os seus negócios aos moçambicanos honestos e trabalhadores começa a faltar criatividade para não passarem fome.
“Tenho visto o meu salário a minimizar cada vez mais”
Um profissional de Saúde afecto no distrito de Malema, na província de Nampula, declarou ao @Verdade que “com o aumento dos preços, que o Governo não consegue controlar, tenho visto o meu salário a minimizar cada vez mais. Se 25 kg de farinha de milho ou de arroz, 5 litros de óleo, peixe fresco ou seco sobem meu salário emagrece pelo menos duas”.
Pai de dois filhos, com casa própria e auferindo cerca de 13 mil meticais o enfermeiro tenta fazer o seu rancho mensal na capital provincial, que dista cerca de 300 quilómetros, para minimizar os seus custos mas, segundo o nosso entrevistado, já não consegue comprar as mesmas quantidades de produtos.
“Tudo está caro e aumenta de preço todos os dias”
Foto de Cidadão RepórterErnesto Maculuve, de 33 anos de idade, trabalha na cidade de Maputo, mas vive em Marracuene, numa casa arrendada. É casado e tem três filhos, dos quais o mais velho frequenta a 5ª classe. Por conta da crise nem sempre há lanche para levar para a escola. “Antes eu comprava uma caixa de sumo, a 360 ou 380 meticais. Mas desde que passou a custar 650 não consigo mais comprar. As bolachas, de fabrico nacionais, ainda dou um jeito e o miúdo, inocente que é, não entende o que estamos a passar”.
As deslocações de Ernesto, de casa para o trabalho e vice-versa, são feitas com recurso ao transporte semi-colectivo de passageiros e queixa-se de não estar a suportar os gastos porque o preço da comida não dá tréguas. “A vida está difícil e tende a ser um sufoco. Tudo está caro e aumenta de preço todos os dias. Antes eu comprava arroz, carapau, farinha de milho e massa, mas há três meses que só compro arroz e carapau”, disse o nosso entrevistado, explicando que deixou de adquirir as outras coisas “para poder continuar a pagar água, luz e carvão vegetal”.
Num outro desenvolvimento, Ernesto contou que os cortes na despensa visaram igualmente assegurar que haja mata-bicho, porque caso contrário “não sobraria dinheiro para comprar pão pelo menos durante 20 dias do mês. Nos restantes dias, antes de chegar o salário, a gente nem sabe como vive”.
“Gasto tudo com a renda da casa, comida e já no posso construir a minha casa porque do salário que recebo não resta nada. Não sei há quanto tempo que não compramos roupa nova, pelo menos para as miúdas”, narrou.
“A vida está dura demais”
“O meu salário não chega para cobrir a série de despesas fixas que vão desde água, carvão, vestuários, creche, combustível, energia, alimentação variada para os 30 dias úteis, incluindo o sinal descodificador de televisão. Isto é o básico para se sentir bem, sem contar com a assistência médica da família” disse ao @Verdade um funcionário do sector de Educação em Lichinga.
O nosso entrevistado referiu que a sua família tentou apostar no empreendedorismo, para auxiliar os rendimento mensais, “arrendamos um espaço no centro da urbe, aonde tentamos empreender um salão de beleza mas em contrapartida a clientela reduziu drasticamente. Para ser sincero, a vida está dura demais. Se conseguimos matabichar, temos mesmo que agradecer a Deus. Não sei aonde vamos com isto”, desabafou.
“Quando o mata-bicho é reforçado não há almoço”
Foto de Adérito CaldeiraAna Lampião, 25 anos de idade, reside na Matola, não trabalha e frequenta uma instituição de ensino superior privada na capital do País. De acordo com ela, ia à escola de carro pessoal, mas já não o faz há dois meses porque o seu pai, de quem depende para estudar, não consegue garantir combustível e ainda pagar as mensalidades. “Vou à faculdade e volto de chapa, fazendo ligações. Até o meu pai há dias que vai e volta de chapa por falta de dinheiro para combustível”.
“Em casa somos dois que estudamos numa faculdade privada e o meu pai nem sempre consegue pagar as mensalidades a tempo. Com esta crise a situação tende a piorar: basicamente matabichamos com manteiga e pão. Nos dias em que o mata-bicho é reforçado, com salada de alface por exemplo e peixe, não há almoço e temos de esperar até o jantar”, contou a jovem.
“Não consigo fazer cabalmente as diversas despesas”
Um jovem trabalhador do sector privado, em Inhambane, que não aufere mais de 25 mil meticais por mês afirmou ao @Verdade que “de um tempo para cá as despesas de casa tem me sufocado demais e não consigo fazer poupança para aquisição de outros bens essenciais para o melhoramento da vida. Não consigo fazer cabalmente as diversas despesas e necessidades que tenho”.
“Eu sempre pautei por comidas não processadas( de fora dos supermercados) mas há alguns planos individuais que havia agendado para este ano que não estão a se concretizar como é o caso de fazer alguns cursos adicionas a minha profissão, construção de habitação própria, etc”, adicionou o jovem que sustenta a mãe e a irmã.
“Já não tenho esperança de concluir a minha casa”
Foto de ArquivoMário Tembe, de 55 anos de idade, vive igualmente numa habitação arrendada no bairro Zona Verde, no município da Matola. Ele é casado e pai de sete filhos, dos quais dois frequentam o ensino superior. Segundo contou-nos, a sua família, constituída por 11 membros, tem feito “das tripas o coração” para sobreviver.
“Virou moda todos nos queixar do custo de vida e é o que está a acontecer. As coisas estão cada vez mais caras, mas o salário não muda, é mesmo que deve comprar comida, construir, pagar escola, água, luz e outras despesas”, disse.
De acordo o nosso entrevistado, na sua casa já só se compra o básico, que consiste em 25 kg de arroz, 10kg de peixe, 5litos de óleos, três quilos de açúcar, entre outros. Entretanto, estas compras não cobrem todo o mês.
“Não tenho como não pagar a renda de casa, água e luz e a escola dos miúdos. Só estas despesas consomem mais da mais da metade do meu salário. Ainda fica por custear o transporte de oito membros da família. E alguns fazem ligações e estudam até aos sábados”, disse Mário, que conclui dizendo que da forma como a vida está difícil já começa a esperanças de concluir a sua casa.
“Eu não sei porque é que o Estado permite esta subida galopante de preços”
Um professor secundário na cidade de Nampula, pai de três filhos, disse @Verdade que viu-se obrigado a suspender o consumo de alguns produtos como é o caso de carne e batatas para além de parar de fazer a poupança mensal. “Já não posso pensar em poupar dinheiro, porque quase todo salário acaba na compra de comida”.
“Vivo na minha casa própria. Tenho transporte próprio (carro), mas já não pode circular como antes, porque devo poupar o combustível. Eu não sei porque é que o Estado permite esta subida galopante de preços sabendo os salários praticados no país não são compatíveis. Se mesmo antes da crise muitos funcionários não conseguiam fazer as compras é nesta crise que irão fazê-lo?” questionou.
“Tivemos que adoptar um esquema para poupar carvão”
Montagem fotográfica @VerdadePedro Marengula, de 43 anos de idade, vive no bairro do Zimpeto, na cidade de Maputo, disse que trabalha por conta própria e é dono de uma loja de roupa no centro da urbe. Sem querer entrar em detalhes ou referir-se aos preços dos produtos que compra para manter a sua despensa, o nosso interlocutor disse ainda que a sua esposa também trabalha, mas devido ao custo de vida, que se agrava diariamente, os seus rendimentos já não cobrem as mesmas despesas de há pouco tempo.
“Com as minhas duas filhas somos quatro em casa e tivemos de deixar de consumir muitas coisas. O mata-bicho é praticamente água fervida e pão, ou seja, há meses que não consigo comprar leite e milo ou café. Cortámos tudo que nos proporcionava um bom mata-bicho”, disse o nosso entrevistado.
Segundo Pedro, a sua família vive em casa própria, mas não está concluída e não há perspectiva de fazê-lo, porque o material de construção está caro. “Deixei de pensar nisso porque o que ganhamos quase que acaba tudo em alimentação e outras despesas tais como água, luz e transporte. “E tivemos que adoptar um esquema para poupar carvão. Preparamos uma só panela para o almoço e jantar. Isso evitar estar toda a hora a acender o fogão”.
“Obriguei-a a rapar o cabelo para não ter custos”
Um outro funcionário público entrevistado pelo @Verdade relatou o drama da sua família neste termos “eu e a minha família somos oito, eu como responsável por todos e o único a trabalhar. Estou no aparelho do Estado onde ganho 7 mil por mês e estou a dever o banco por mês me cortam 1500 fico com 5500. Tiro 1.100 para um saco de arroz, 4 quilos de açúcar a razão de 60 meticais, uso folhas de chá praticamente avulsas que custam 15 meticais o púcaro. Feijão, óleo, sabão, pão e e transporte para o serviço não dá”.
“Agora cortei o chapa uso bicicleta 28, o pão já foi substituído com farinha de mandioca com leite de coco ralado, para conseguir caril plantamos couve”, detalhou o nosso entrevistado que reside na província de Maputo e acrescentou que “acerca dos caprichos da senhora cortei tudo, obriguei-a a rapar o cabelo para não ter custos” concluiu.
Os únicos produtos cujos preços não sofreram agravamentos em 2016 são o pão, que desde há 3 anos ficou com metade do peso, e a cerveja nacional, que mantém o mesmo custo há vários anos.
Entrevistas realizadas com a colaboração de Emildo Sambo e Leonardo Gasolina.

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