Um estudo que envolveu mais de 6000 pessoas da América Latina associou pela primeira vez dez genes a características como a densidade dos pêlos faciais, a forma do cabelo, a calvície e a monocelha.
Quando nascemos, os folículos capilares já estão distribuídos pela pele. Ao longo do crescimento, os folículos produzem pêlos, barba e cabelo, consoante a região do corpo, o sexo e a genética de cada um. Estes factores dão alguma variedade entre humanos, mesmo se só olharmos para os cabelos: há cores diferentes, várias densidades e alguns são ondulados, outros encaracolados ou lisos. Com a idade, os primeiros cabelos grisalhos vão surgindo e muitos homens tornam-se calvos.
Toda esta dinâmica está ligada à actividade dos genes das células do folículo capilar. Agora, um estudo genético populacional associou vários genes a características do cabelo e da barba. Entre eles, está o gene IRF4, que foi associado pela primeira vez ao aparecimento dos cabelos brancos. O estudo, publicado nesta terça-feira na revista científica Nature Communications, pode vir a ajudar no desenvolvimento da cosmética.
“Já sabemos que vários genes estão envolvidos na calvície e na cor do cabelo, mas esta é a primeira vez que um gene para o cabelo grisalho foi identificado nos humanos, assim como outros genes que influenciam a forma e a densidade do cabelo”, disse Kaustubh Adhikari, do University College, em Londres, no Reino Unido, um dos cientistas da equipa que contou com investigadores de vários países da América Latina.
A equipa analisou o genoma de mais de 6000 pessoas do Brasil, da Colômbia, do Chile, do México e do Peru. Para cada pessoa, os investigadores anotaram a forma do cabelo (se era liso ou encaracolado), a sua cor, se era calva, se tinha cabelos brancos, a grossura das sobrancelhas, as monocelhas – quando os pêlos formam uma única sobrancelha – e, no caso dos homens, a densidade da barba.
Com um grande número de pessoas é possível associar determinados genes às características físicas. Além disso, a população daqueles países tem uma ascendência variada: índios sul-americanos, europeus e africanos. “[O estudo para os pêlos] só foi possível porque analisámos uma população muito diversa, o que nunca foi feito a esta escala. Estas descobertas têm possíveis aplicações cosméticas e forenses”, acrescentou Kaustubh Adhikari, citado num comunicado da sua universidade.
Um dos genes que surgiu na análise genómica foi o IRF4. Já se sabia que este pedaço de ADN comandava a produção de uma proteína associada à regulação do pigmento que dá cor ao cabelo e à pele, a famosa melanina. Esta molécula é produzida pelos melanócitos, células que se encontram na pele e nos folículos capilares. Os melanócitos armazenam a melanina em pequenos pacotes, que são enviados para as outras células da pele e para as células que vão formar o cabelo, dando-lhes cor (o cabelo é composto por células mortas ricas em queratina).
Mas por alguma razão, os folículos deixam de produzir melanina e surgem os cabelos grisalhos. A razão do fenómeno é desconhecida, mas o gene IRF4 terá um papel determinante. Estudar este gene “pode ser um bom modelo para compreender aspectos da biologia do envelhecimento”, explicou Andrés Ruiz-Linares, líder do estudo, do University College, citado no mesmo comunicado. “Compreender este mecanismo poderá ser importante para desenvolver formas de adiar o aparecimento dos cabelos grisalhos.”
A equipa associou 16 genes às várias características físicas enumeradas acima. Há dez novidades. Por exemplo, o gene EDAR está ligado à densidade da barba, a monocelha foi associada ao gene PAX3 e o gene PRSS53 influencia o encaracolamento do cabelo.
“A enzima [produzida a partir] do gene PRSS53 actua na parte do folículo capilar que dá forma à fibra de cabelo que está a crescer. A nova variante [deste gene] descoberta, associada a cabelos lisos das pessoas do Leste asiático e dos nativos americanos, corrobora a ideia de que a forma do cabelo é uma selecção [evolutiva] recente na família humana”, explicou Desmond Tobin, da Universidade de Bradford (no Reino Unido), também da equipa.
Mas ainda está por se descobrir como é que a actividade daqueles genes dá origem às formas e às cores que vemos quando nos vemos ao espelho, explica Kaustubh Adhikari: “É pouco provável que os genes que identificámos funcionem isoladamente, terão um papel em conjunto com muitos outros factores que ainda estão por identificar.”
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