O Conselho da Defesa e Segurança Nacional recomendou ao Presidente da República, Filipe Nyusi, a criar condições de segurança para o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, a fim de se encontrarem com o objectivo de discutirem problemas da paz ameaça pelo reunício da guerra entre os homens armados do governo e da Renamo. Nyusi disse que quer converser sem pré-condições, como aconteceu nas duas vezes anteriores em que não se passou de um aperto de mãos, sorrindo para as câmaras e o assunto morreu por aí. Alguns ficaram impressionados enquanto outros disseram que não passava de uma brincadeira, fintando-se um ao outro. Nyusi e Dhlakama se querem se encontrar sem pré-condições, poderão faze-lo num quiosque ou numa barraca qualquer.
Como se pode conversar enquanto a casa está em chamas? O país está mergulhado em guerra que, com um pouco de bom-senso e justiça, poderia ter sido evitada. Como a ganância e o acumular de riqueza sem causa soa mais alto, vemos mortes de moçambicanos, destruições de bens, infra-estruturas e o desenvolvimento sócio-económico fica comprometido. Muitas crianças ficaram sem ir a escolar, porque os pais tiveram que mudar para lugares mais seguros, o fluxo de investimento parou. A dívida pública subiu devido à ganância de enriquecimento rápido de alguns. A compra de material bélico continua para matar a outros moçambicanos que discordam com a forma pouco transparente como o país está sendo governado. Como se pode conversar sem pré-condições?
Um encontro sem pré-condições visa, apenas, impressionar. O encontro terá que resolver o problema que está por detrás da guerra, que é a fraude eleitoral protagonizada pela Frelimo e apadrinhada pela Comissão Nacional de Eleições e Conselho Constitucional. O que gerou a guerra é a partidarização das instituições do Estado. A exclusão politico-social a quem não seja portador do cartão de membro da Frelimo é um problema bastante sério. Ao funcionário público que não seja da Frelimo tem as portas encerradas – não pode ser chefe nem pode progredir na carreira profissional. O professor e o enfermeiro são obrigados a inscreveram-se como membros da célula da Frelimo, para ter a oportunidade de apanhar migalhas que came da recheada mesa do poder.
Os refugiados moçambicanos, fugindo das atrocidades das tropas do governo, vão enchendo os campos, em países vizinhos. Os refugiados dizem que as tropas da Frelimo queimam-lhes celeiros, roubam-lhes cabritos, ovelhas, galinhas, patos e, por fim, fecham algumas pessoas nas suas casas e ateam fogo, como fazia o exército colonial. Foi assim em Wiriamo, em 1972, na província de Tete, durante a guerra de libertação. A soldadesca do regime de Ian Smith, da Rodésia do Sul, fazia o mesmo – fechava as populações moçambicanas nas suas casas e incendiavam-nas, como forma de as castigar pelo seu apoio à guerrilha da Frelimo. Mudam os actores da História mas a essência dos métodos continuam.
O povo quer um encontro com uma agenda concreta, capaz de calar o troar das armas. Deseja uma agenda que despartidarize o aparelho de Estado, capturado pela Frelimo desde a Independência Nacional, e instale um Estado que sirva a todos os moçambicanos, sem qualquer distinção como agora acontece. Pretende uma agenda capaz de reformar as forças governamenatais - FADM, FIR e SISE - em apartidárias, que deixem de obedecer ao pernicioso comando do partido Frelimo. Tem que ser uma agenda inclusiva da distribuição da riqueza nacional e de oportunidades de negócio que, hoje, contemplam, somente, as elites da Frelimo.
Portanto, a exigência de se encontrar com Dhlakama sem pré-condições é uma grande farsa. Revela, por outro lado, que Nyusi e o seu grupo não têm um plano para atingir a paz porque, segundo as palavras do Arcebispo da Beira, Dom Cláudio Dalla Zuanna, “os inimigos da paz são aqueles cujos interesses acabam por ser favorecidos pela guerra”.
Se a constituição é um impedimento à paz e concórdia, então que seja reformulada. A constituição não é nenhuma bíblia sagrada ou alcorão para se manter inalterável. A constituição não deve ser um obstáculo à paz, tanto mais que a exigência da Renamo (tanto de governadores quanto das autarquias provinciais) não fere a nossa constituição, logo, os argumentos levantados pela Frelimo são falsos e, totalmente, infundados.
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