Em pouco menos de um mês, a Frelimo estará reunida
na Matola em II sessão extraordinária do
Comité Central, o mais importante órgão de decisão
do partido no intervalo entre os congressos.
Espera-se que seja uma reunião de ruptura com o passado
mais recente (leia-se guebuzismo), onde o PR deverá colocar
pessoas da sua confiança para dirigirem a máquina
partidária com eficácia e equilíbrio.
A expectativa é ver se será desta que Filipe Nyusi consegue
obter na totalidade o martelo do poder, dadas as
crescentes dúvidas que pairam em certos sectores sobre
quem de facto manda no país e no partido.
Quando, por exemplo, o líder da oposição é atacado três
vezes (contando com o assalto à sua residência na Beira)
e chegam indicações de que as ordens não foram dadas
pelo Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança,
mas por sectores belicistas ligados ao anterior
consulado, para bloquear iniciativas de paz e minar a sua
governação, é porque algo de profundo e estrutural está
errado e deve ser mudado.
Mas esse exercício de mudanças num partido cinquentenário
requere muita coragem política e acarreta um custo
político demasiado elevado para um PR, que começou o
seu consulado aparentemente motivado e bem-intencionado,
com um discurso promissor.
Promover uma “revolução” nos órgãos decisórios do partido,
montando uma máquina na base da meritocracia e
transparência, significa enfraquecer as redes clientelistas e
neo-patrimoniais que foram decisivas para a ascensão de
Filipe Nyusi à chefia do Estado. É neste contexto que será
testada a determinação de Nyusi.
Contudo, rupturas não devidamente acauteladas podem
gerar um terramoto que resulte em fracturas dentro do
partido. Vai ser importante construir alianças com o passado,
sob pena de enfrentar um cenário estrutural altamente
adverso, tendo em conta os vícios instalados e interesses
estabelecidos.
Depois do Comité Central, que se espera difícil, Filipe
Nyusi vai precisar de demonstrar que pode governar sem
hesitações, que pode construir um país sustentável, “com
ideias sem cores partidárias”.
Ele sabe que Afonso Dhlakama e a Renamo endureceram
o seu discurso e voltaram a ameaçar governar à força as
seis províncias onde reivindicam vitória.
Será que, após o CC, Filipe Nyusi terá argumentos polí-
ticos suficientes para negociar uma estabilidade duradoura
no país? Irá ampliar a base de sustentação do poder
até aos sectores, “tanto de dentro como de fora”, que não
nutrem simpatia por ele, aproveitando para tentar acertar
onde o guebuzismo errou? A ver vamos.
É
possível uma ciência social
crítica sem que os seus praticantes
sejam críticos? Esta
questão pode parecer de fácil
resposta, mas epistemologicamente
ela exige muito exercício reflexivo pela
sua natureza teórica. Coloquei-me
esta pergunta pois que constatei que
mesmo depois de um evento político,
marcante, o facto de o presidente
da República ter dito querer indultar
ou comutar ou mesmo perdoar 1000
reclusos, este não mereceu uma re-
flexão sistematicamente crítica, senão
discursos normativos uns dizendo que
era bom outros que era mau. O que
é que isso revela? Qual é a economia
política dessa decisão? Não vi no debate
público nacional a formulação de
questões, vi respostas que iam desde
o normativismo legal ao normativismo
comum. O pensamento complexo
(Edgar Morin) estava praticamente
ausente. Não discutirei essa decisão,
mas a usarei como ponto de partida
para a minha reflexão crítica da acriticidade
da «nossa» crítica. Esse evento
demonstrou que dentro das nossas
ciências sociais não estamos a ser su-
ficientemente críticos no sentido de
proceder com uma reflexão rigorosa
e tomando uma atitude de distancia-
ção (Max Weber, J.F. Bayart, Julien
Freund) em relação aos fenómenos
que mereceriam uma dissecação aprofundada
(Deleuze, Mamadou Diouf,
Derrida) para que estejamos próximos
da compreensão menos problemática
(L. Boltasnki, Howard Becker). Para
pensar esse assunto voltei aos textos
do clássico Weber (“L’objectivité de
la connaissance dans les sciences et
la politique sociales” (1904); “Études
critiques pour servir à la logique des
sciences de la culture” (1906); Essai
sur quelques catégories de la sociologie
compréhensive” (1913) e “Essai
sur le sens de la «neutralité axiologiA
acriticidade da «nossa» crítica
Por Régio Conrado
que» dans les sciences sociologiques
et économiques” (1917), ao livro de
Marx «a Miséria da Filosofia» e de
Leon Trosky «De la Révolution» porque
esses textos, na minha opinião,
permitem ver a importância da crítica
nas ciências sociais, sem a qual ela é
propaganda sofisticada ou apenas uma
traição à reflexividade, para parafrasear
Trosky.
Com efeito, na nossa sociedade a crí-
tica tem sido postulada como uma posição
que se toma ou que se assume
em determinadas circunstâncias, sobretudo
nas CS. Essa forma de olhar
para a crítica é um sintoma geral da
nossa sociedade que olha para a crí-
tica como um discurso negativo ou
uma postura agressiva mesmo que seja
epistemologicamente vazia (Heidegger)
ou incapaz de captar a dinâmica
dos fenómenos (Husserl). Assim, a
crítica confundida com discursos normativamente
violentos em relação à
uma entidade substitui o rigor da re-
flexão que é o fundamento de toda a
crítica. Se lermos com atenção grande
parte das obras de Bourdieu (Miséria
do Mundo, por exemplo) ou de Giddens
(A constituição da sociedade),
veremos que a crítica é uma prática
ontologicamente constituinte de toda
a actividade reflexiva nas CS, não é
um estado, é uma prática consequente
e sempre actual. Aliás, os textos a que
fiz referência, sobretudo, os de Weber,
são ostensivos no sentido em que a vocação
compreensiva das CS pressupõe
uma atitude radicalmente questionante.
Nesse sentido, a ideia de Trosky de
revolução permanente é importante
porque a crítica não é uma posição
que se assume e se desassume, ela é
uma atitude permanente, como o devia
ser a atitude filosófica para aqueles
que praticam as CS. Recentemente
foram publicadas postumamente as
aulas de P. Bourdieu no prestigiado
colégio da França de 1981-1983 «Sociologie
Générale Tome 1», onde nas
três primeiras aulas, capítulos do livro,
Bourdieu pretende construir aquilo
que seria conhecido como «Sociologia
crítica» pois que a crítica prevalecente
escondia a sua incapacidade crítica em
relação aos fenómenos. Constata-se
uma profunda influência de Nietzsche
et Shopenhauer nas suas formulações,
pois para esses últimos a virtude dos
pensadores livres é a capacidade de
pensar criticamente a crítica da sociedade.
Então, quando constato que não
há posicionamentos rigorosamente
críticos em relação a um fenómeno
como esse «perdão» do PR, tenho a
impressão de estarmos a violar a única
coisa que faz as CS serem o que elas
são, sem pretensões de substancializar.
Esse evento que mais do que um «perdão»
pode revelar a vontade de poder
do PR passando a imagem de um homem
que procura sempre o bem da
sociedade mesmo em relação aos que
moralmente não o mereceriam. Que
tipo de mensagens pretende ele transmitir,
a quem ? Esse perdão não poderá
revelar a produção da contra-imagem
em relação ao antigo presidente
sempre violento, intolerante e menos
passional? Estamos perante uma das
manifestações mais profundas da teatralização
do poder (Balandier) para
legitimar-se num contexto de erosão
generalizada de legitimidade em muitos
grupos sociais. Essas práticas são
bem conhecidas na história de Roma e
de muitos reinos e impérios africanos,
e mesmo hoje alguns líderes autoritá-
rios em África que usam o perdão de
alguns prisioneiros para reconstituir a
sua imagem, daquele que é capaz de
perdoar. Mais do que um simples acto
de perdão, este pode mostrar a reestruturação
das tecnologias de gestão
do poder em curso no país e dentro
da Frelimo.
N
uma noite recente, dei comigo
a evocar o Ruben. Foi uma associação
de ideias que surgiu de
forma fortuita e fluiu sem percurso
nem destino predefinidos. Aconteceu
que depois do jantar e enquanto
esperava pelo início do telejornal, a
minha mulher aconchegou a neta ao regaço
e tentou fazer com que ela embarcasse
no entusiasmo com que encarava
a ideia de lhe oferecer como prenda de
Natal um vestidinho e um par de sapatos
novos. Mas notei que, apesar do seu
esforço e contrariamente ao que acontecia
normalmente, ela não conseguia
fazer com que a neta se animasse. Pelo
contrário, esta respondia-lhe com uma
certa indiferença, com monossílabos,
Efeito boomerang
enquanto o seu olhar teimava em fixar-
-se no televisor. Acompanhei a cena um
pouco constrangido, porque sentia uma
certa pena pelo esforço inglório que a
minha mulher fazia.
Foi então que se deu a cambalhota para
trás que me fez cair no ano de 1962.
Nessa época, eu tinha exactamente
nove anos, tal como a nossa netinha.
Com essa idade, ao meu tempo, qualquer
criança a quem se sugerisse a ideia
de uma prenda feita de vestidos ou de
calções e sapatos novos entraria numa
onda de excitação sem limites que lhe
tiraria o sono durante várias noites. Mas
é natural que assim fosse: aquela que é
hoje uma cidade cosmopolita, com um
formigueiro em movimento incessante
desde as primeiras horas do dia até à
noite, era então uma pequena vila com
meia dúzia de casas de alvenaria de cor
alvacenta, onde se albergava uma comunidade
de comerciantes brancos ou
indianos; era a ponte de atracagem dos
barcos que faziam a travessia – e nem
eram muitos, eram dois – para o outro
lado da baía e vice-versa; a pousada, o
mercado municipal, o edifício da administração,
o hospital rural, a antiga
capela que agora funcionava apenas
como escola primária e ao lado da qual
se erguia a nova igreja, de traços arquitectónicos
que se poderiam considerar
avançados para a época.
Nesse contexto, é escusado dizer que
nenhum menino nas minhas condições,
ou seja, que vivesse na periferia desse
núcleo urbano, tinha no seu universo de
festas coisas que se pudessem parecer
com montras profusamente iluminadas
e multicolores, nem nada que se parecesse
com pais natais ou árvores de Natal.
Na verdade, a quadra festiva, lá onde
as casas eram de caniço ou blocos e cobertura
de macuti, era anunciada desde
finais do mês de Outubro, quando os
cajueiros, as mafurreiras e as mangueiras
se cobriam de farta folhagem verde
e soçobravam sob o peso do caju e da
castanha, da manga e da mafurra. Era a
altura da fartura e era esse o período em
que, em revoadas, percorríamos o cajual
e as mangueiras na apanha da castanha,
porque era esta mesma castanha que
depois seria trocada pelos nossos pais
por roupa. E era esse o ponto máximo
da nossa festa.
O que eu recordava nessa noite, no entanto,
é que o Ruben, embora tivesse a
mesma idade que nós, não partilhava o
nosso entusiasmo na apanha da castanha
nem sequer se deixava atrair muito
pelo consumo das mangas ou da mafurra.
Enquanto nós estávamos nisso, ele
seguia atentamente e com ar absorto a
trajectória incerta das borboletas esvoa-
çando por entre as flores silvestres, tentando,
quem sabe, encontrar uma lógica
no seu voo, que claramente não obedecia
a lógica nenhuma. Ou então pasmava
durante longo tempo debaixo de um
cajueiro, absorvido a contemplar um ou
outro pássaro a debicar a polpa da fruta.
Era para nós, embora não o disséssemos,
como se fosse um estranho. E era
assim que se portava mesmo nas aulas,
com o seu ar eternamente distraído.
Punha a si próprio e a mim, como seu
amigo eleito, ainda não sei bem porquê,
perguntas que a nenhum de nós
ocorriam e que não se atrevia a fazer,
por exemplo, ao catequista. Dizia-me
ele: como é que Deus, mesmo sabendo
que Adão e Eva acabariam por pecar,
teimou em criá-los e deixá-los à solta
no jardim do Paraíso? Como é que os
seus filhos Abel e Caim conseguiram
garantir a multiplicação da espécie, se
a única mulher que existia, criada por
Deus, era Eva e esta era a sua mãe? E
porque é que, mesmo sabendo que Judas
Iscariotes acabaria por atraiçoar
Jesus vendendo-o por trinta dinheiros,
insistiu em integrá-lo no grupo dos 12
Apóstolos?
Já na adolescência e na procura de respostas
a estas e outras perguntas, entrou
para o seminário, onde, para além de
tudo, sonhava com a possibilidade de
ter tempo suficiente para meditar sobre
outras questões essenciais da vida. Mesmo
na recta final, no entanto, esbarrou
contra o muro intransponível do celibato,
tendo-se-lhe posto o dilema de
escolher entre o hábito de monge e as
capulanas da negra Débora. Escolheu
a via da Débora e enterrou definitivamente
o sonho de seguir a carreira de
padre. Mas não enterrou os seus sonhos.
Soube mais tarde, já na segunda metade
dos anos 70, que era um fervoroso
membro da seita das Testemunhas de
Jeová, onde se notabilizava como pregador.
Quando o regime incluiu as Testemunhas
de Jeová no seu rol de inimigos
a eliminar, por estes teimarem em não
prestar vassalagem aos símbolos do
Estado, Ruben, tal como centenas dos
seus alinhados na mesma lista das prostitutas,
dos fumadores de soruma e dos
improdutivos que foram deportados
para as matas de Sofala, Tete, Nampula
e Cabo Delgado, acabou por ir parar algures
no planalto de Angónia, em Tete.
A ideia era que deste grupo de vítimas
da caça às bruxas não ficasse nem um
exemplar para semente.
P.S. Perdi a pista do Ruben, mas preservo a
memória dele até hoje e acredito que, aconteça
o que tiver acontecido com ele, a sua
semente certamente não terá caído em solo
árido. E tenho razões para crer que não: a
fauna nocturna da Rua de Bagamoyo, da
Avenida 24 de Julho, da Kenneth Kaunda
e de vários outros núcleos de bordéis bem
ou mal disfarçados que existem nesta cidade
e noutras cidades ou vilas deste País; o
número crescente de desempregados que as
estatísticas oficiais chancelam; os crescentes
grupos de jovens que são sistematicamente
citados como sendo consumidores de drogas
e o facto de os templos das Testemunhas de
Jeová ou outras seitas religiosas se multiplicarem
com o tempo confirmam que não
só a semente germinou, como também se
fortificou em edifícios de pedra e cal. Alguma
coisa saiu errada. Ou talvez não.
O
ano de 2016, numa perspectiva
meramente formal ou mesmo
mecânica, iniciou, certamente,
no primeiro segundo do dia 1
do corrente mês de Janeiro, devendo
prolongar-se até ao último segundo do
dia 31 de Dezembro próximo. Mas, em
termos histórico-políticos, e elaborando
com recurso ao pensamento de Eric
John Hobsbawn, um dos cientistas
sociais mais influentes dos últimos 50
anos, pode ser que o ano de 2016 tenha,
materialmente, iniciado antes mesmo
de formalmente terminado o de 2015,
como pode ser que ainda não tenha,
efectivamente, iniciado.
Na perspectiva que para aqui convocamos,
a contagem de tempo não ocorre
de forma automática; ela tem como
fonte eventos específicos, momentos
concretos, ou seja, situações historicamente
relevantes que marcam substancialmente
um certo período de tempo,
seja ele um ano, uma década, um século.
O que poderia, então, ser assumido, ainda
que hipoteticamente, como marco se
disséssemos que o ano de 2016 iniciou
quando ainda transcorria o de 2015? E
o que poderia, na mesma dimensão, ser
apontado se arguíssemos que, em termos
materiais, o ano de 2016 ainda não
iniciou?
Para a primeira situação, poderíamos,
por exemplo, usar como marco o dia
16 de Dezembro de 2015, data na qual
aconteceram duas situações politicamente
relevantes e que marcarão o ano
de 2016: a ida de Nyusi, pela primeira
vez, ao Parlamento, para apresentar o
seu informe atinente ao Estado Geral
da Nação, por imperativos constitucionais,
no qual falou não só do passado,
como do futuro; no mesmo dia, Afonso
Macacho Marceta Dhlakama, presidente
da Renamo, fez a sua primeira
‘aparição pública’, designadamente ao
dar a sua versão do ‘Estado Geral da
Nação’, em teleconferência.
Para a segunda situação, não seria de
todo exagerado se elegêssemos o dia 5
de Fevereiro próximo, data na qual terá
lugar uma sessão extraordinária do CoConfiança,
um activo que nos
falta e foge!
mité Central da Frelimo, como a mais
do que provável data do início efectivo
do ano [de 2016], pelo que dali poderá
emergir.
Confessamos que nos inclinamos mais
a apoiar a situação segunda, por a sessão
do Comité Central em perspectiva,
a primeira desde que Nyusi se tornou
presidente da Frelimo, em finais de
Março de 2015, ainda que a sua agenda
ainda seja desconhecida, poder definir
muito do que será, politicamente, o
ano de 2016, senão mesmo o período
que irá até às próximas eleições gerais,
em 2019. Será nessa sessão do Comité
Central, muito provavelmente, em
que Nyusi adquirirá a não-objecção
político-partidária ao que já deve possuir,
cremos, como ideias-solução para
a paz efectiva no país; dessa reunião,
muito provavelmente, poderá lançar
elementos quanto ao tipo de colaboradores
que gostaria de ter em seu redor,
designadamente ministros, se se
assumir que a economia política para a
formação da sua equipa governativa, em
Janeiro de 2015, terá sido dominada, ou
influenciada, por muitos factores que
escaparam ao seu controlo. Não é preciso
ser vidente para prever, para pouco
depois dessa sessão do Comité Central,
uma remodelação governamental, não
se sabendo se profunda ou de pequena
monta.
Achamos nós que não é por acaso que
Dhlakama esteja a anunciar, nas suas
últimas aparições, ainda que sem muito
de inédito, que irá governar “as províncias
em que ganhou” a partir de Março
de 2016. Aliás, Dhlakama tem vindo
a fazer essa promessa mesmo antes do
anúncio público da sessão do Comité
Central convocada para 5 de Fevereiro
próximo, o que pode significar que ele já
soubesse, por outras vias, da convocação
daquela reunião. O contexto em que um
discurso é elaborado, diz-nos o ABC da
sociologia da comunicação, é, ele pró-
prio, parte do discurso!
Na extensa entrevista que concedeu ao
‘Canal de Moçambique’ publicado esta
quarta-feira, Dhlakama reitera que “irá
governar” a partir de Março próximo,
timing que, a nosso ver, pode ter que
ver com o que espera que suceda nas semanas
imediatamente a seguir à anunciada
sessão extraordinária do Comité
Central da Frelimo. “Quero aproveitar
o ‘Canal de Moçambique’ (...) para informar
que vamos governar mesmo em
Março”, diz o líder da Renamo numa
das passagens da referida entrevista.
Em boa verdade, deve ser pela influ-
ência que pretende ter no anunciado
início, em termos histórico-políticos,
do ano de 2016, que se decidiu em dar
essa entrevista.
Construções, leituras e interpretações à
parte, de uma coisa não temos a mínima
dúvida: a falta de confiança existente
entre os principais actores políticos
(Governo e Renamo, em particular)
há-de continuar a manifestar-se em
2016. Se a 18 de Dezembro de 2015, à
margem da recepção de fim do ano que
ofereceu aos membros do seu Governo
e a alguns convidados, Nyusi deu indicações
de que o diálogo nunca parara,
do que se extraiu que havia alguns contactos
com Dhlakama, não deixa de ser
curioso que, na entrevista que concede
esta semana ao ‘Canal de Moçambique’,
Dhlakama defenda não haver qualquer
tipo de contacto, directa ou indirectamente.
Confiança é, em bom rigor, o
que tem estado a rarear desde que nos
abrimos formalmente ao multipartidarismo,
há mais de 20 anos.
Interessante será notar se a excessiva
dose de desconfiança existente entre
as partes irá pelo menos baixar a níveis
em que os supremos interesses de todos
nós, do Estado enquanto colectividade,
possam prevalecer a todo o custo, a começar
pela paz efectiva, qual fonte da
esperança, do crescimento económico
que se traduza em desenvolvimento
humano, da prosperidade, do bem-estar
social, sem diversões inúteis. Com Jacob
Zuma, presidente da África do Sul,
e a Igreja Católica como mediadores,
conforme proposto pela Renamo, talvez
se reestabeleça alguma confiança...
no diálogo.
Enquanto isso, a confiança vai-se evidenciando
como o activo que tanto nos
falta e foge! Para a nossa infelicidade
colectiva!
O
antisexismo defende que a
erradicação da superioridade
masculina passa pelo
estabelecimento de paridade
nas definições e nas possibilidades
de vida e carreira. Porquê?
Porque as mulheres são tão capazes
quanto os homens.
Sucede então que tudo se resume
em mudar uma certa forma tradicional
de pensar sem mudar a
estrutura das relações sociais que
produzem e reproduzem a dicotomia
desfavorável a um determinado
género, no caso vertente ao género
feminino.
Queremos que as mulheres sejam
socialmente iguais aos homens, dotando-as,
por exemplo, de quinhões
paritários de poder (ministérios,
direcções, etc.).
Distribuímos quinhões de poder
sem alterar a estrutura social e as
relações básicas de poder que geram
e mantêm a dualidade e a discriminação
social, convencidos de
que as representações sociais podem
mudar sem que mude a matriz
do modo de produção e de reprodução
da vida.
A
nova ronda de confronto entre a Arábia Saudita
e o Irão arrisca agravar-se e expandir ondas de
choque pelo Médio Oriente na ausência de potências
externas capazes de mediarem ou oferecerem
garantias de segurança a Riade e Teerão.
Durante as décadas de “boom” petrolífero e até à revolução
iraniana de 1979, os Estados Unidos asseguraram
o equilíbrio entre as ambições do xá Mohammad Reza
Pahlavi e da Casa de Saud e zelaram pela segurança no
Golfo ante eventuais ameaças soviéticas.
O Aiatollah Khomeini fez ruir um dos pilares do sistema
de segurança e se a aliança espúria das monarquias
sunitas do Golfo com Saddam Hussein na guerra entre
o Iraque e o Irão (1980-88) conteve Teerão, não obstou
a que a arrogância do ditador de Bagdade acabasse por
justificar uma intervenção militar norte-americana na
região, com caução da ONU e luz verde de uma URSS à
beira da implosão.
A jihad e o xiismo
No final de 1979, a Grande Mesquita de Meca fora
ocupada por milenaristas proclamando a redenção, o advento
do mahdi, e o ano que começara com o retorno
triunfal de Khomeini a Teerão terminaria com a invasão
soviética do Afeganistão.
O jihadismo sunita, alternativa ao fracasso de regimes
autoritários e desenvolvimentistas secularistas e panarabistas,
ampliado na guerra do Afeganistão, fazia, entretanto,
o seu caminho contestando os Irmãos Muçulmanos
(massacrados na Síria por Hafez al Assad em 1982)
e movimentos salafistas.
Uma nova reivindicação do poder pela minoria xiita,
mesmo descartando a doutrina de governo de todo
o quotidiano da comunidade dos crentes pelos juristas
da xaria avançada por Khomeini, iria também entrar em
choque com o regime da seita waabita.
O rigorismo salafista dos sauditas expandira-se em proselitismo
sem peias graças ao peso ganho pela conjunção
da custódia das cidades santas de Meca e Medina e as
receitas do petróleo.
No Líbano, as alterações na balança demográfica a favor
dos xiitas tiveram o corolário político na pujança do Hizballah,
ainda que os fiéis de Ali no Bahrein ou no Leste
da Arábia Saudita não tenham conseguido livrar-se do
jugo dos al Khalifa e dos Saud.
A invasão do Iraque de 2003 condenaria o domínio sunita
no Iraque, abrigaria Israel do risco de guerra em todas
as frentes, e reforçaria o irredentismo curdo, prejudicando
sobretudo a Turquia.
A par das disputas entre estados abria-se o caminho à
contestação dos ordenamentos impostos no final da I
Guerra Mundial num quadro de quezílias generalizadas
entre grupos étnico-religiosos curdos druzos, maronitas,
gregos católicos e ortodoxos, turcomenos, alauítas, xiitas,
alevis, sunitas, yezidis, entre outros.
Alianças de circunstância
Os alinhamentos tácticos no apoio a Bashar al Assad e à
minoria alauíta - ramo esotérico e no limite contrário à
ortodoxia xiita vigente em Qom (Irão) e Najaf (Iraque)
- ou a cooperação nuclear com Moscovo não fazem esquecer
em Teerão que a expansão da Rússia tzarista e do
sovietismo no Cáucaso, Ásia Central e nas margens do
Mar Cáspio se fez à custa da Pérsia e da Turquia.
Os Estados Unidos inibidos por sucessivas desfeitas no
Afeganistão e no Iraque mostram-se às elites do poder
em Teerão e Riade como aliados ou adversários equívocos,
potencialmente letais em caso de recurso às armas,
mas sem garra e espírito para guerras prolongadas.
Sauditas e iranianos guerreiam-se no Iémen e na Síria,
no Iraque e no Líbano, e tal como turcos e israelitas, debatem-se
com as potenciais consequências de reintegra-
ção de Teerão nas redes económicas e financeiras globais
caso vingue a primeira fase do acordo de contenção e
desarmamento nuclear assinado com a ONU e as grandes
potências.
Opções sauditas
A desintegração do poder do Estado na Síria e a partilha
de facto do Iraque entre xiitas e curdos, em detrimento
de sunitas e turcomenos, bem como a virulência do jihadismo
sunita contra a Casa de Saud, o xiismo, apóstatas,
crentes não-muçulmanos e ateus, criaram constrangimentos
inesperados em Riade.
A entronização de Salman bin Abdulaziz em Janeiro de
2015 e a designação de Muhammad bin Nayef como
príncipe herdeiro levaram à adopção de atitudes de confronto
aberto com o Irão, designadamente a intervenção
no Iémen contra os houthis.
A recusa de cortes na produção de petróleo, arcando com
quebras de preços, numa estratégia de consolidação e
ampliação de quota de mercado tentando arruinar concorrentes
com custos mais elevados de extracção (caso
das explorações norte-americanas de xisto betuminoso),
obriga os sauditas a cortes orçamentais, mas prejudica
fortemente o Irão.
Plano de batalha
As contingências da aplicação destas estratégias, sem porem
em causa o apoio a facções jihadistas sunitas na Síria
ou ao regime militar egípcio, ameaçam o pacto interno
de anuência ao regime saudita e propiciam atitudes de
força para intimidar dissidentes e a minoria xiita.
A decapitação do clérigo al Nimr deu pretexto no Irão
aos radicais opositores de maiores cedências na soberania
em prejuízo de um programa militar nuclear para subirem
a parada com recurso ao tradicional ataque a instalações diplomáticas a um mês das eleições parlamentares.
Acoitadas e alucinadas pelas legitimações religiosas
das suas causas, as facções mais belicistas optaram pelo
braço-de-ferro tornando difíceis compromissos e concessões.
E
m termos de Paz para o país, o
ano de 2016 começa de forma
muito preocupante.
De paciência perdida, depois do
chumbo de todas as suas propostas
de solução pacífica do impasse, criado
pelas eleições de Outubro passado,
Afonso Dhlakama diz que não vai
negociar mais coisa nenhuma e vai
governar as seis províncias em que
a Renamo teve maioria a partir de
Março.
Ele diz que isso se fará pacificamente,
sem derramamento de sangue, mas
é óbvio que ninguém acredita nessa
possibilidade. Bastou ver a demonstração
de poderio militar que o Governo
fez, em Maputo, para impedir
um pequeno grupo de militantes da
Renamo, desarmados, de irem à rua
falar com as pessoas, para perceber
que qualquer tentativa de ocupar o
poder político naquelas províncias,
por muito pacífica que possa ser, vai
encontrar uma resposta violenta por
parte das autoridades.
E Dhlakama está consciente disso.
Ameaça mesmo defender-se se for
atacado.
Ora como não restam muitas dúvidas
de que será atacado, isso só tem
um nome: guerra. E uma guerra de
consequências imprevisíveis, pois
um dos lados tem imenso material
militar mas gente sem experiência
combativa, enquanto o outro lado
tem veteranos calejados na guerrilha,
embora aparentemente apenas com
armamento ligeiro.
Na sua tentativa de ir ganhando tempo
de presença no Poder, de forma
absoluta, o Governo/Frelimo adiaram
para a próxima legislatura a cria-
ção de uma comissão para a revisão
constitucional. Tenho, no entanto, a
sensação de que o elástico foi esticado
demais e não vamos sair deste impasse
sem que corra sangue inocente.
Em entrevista ao Canal de Moçambique,
Dhlakama diz que só volta a
negociar depois de estar já a governar
as “suas” províncias. Isto quer dizer
que só quer negociar a partir de uma
posição de força e já não na circunstância
de mero dirigente de partido a
falar com o Governo do país.
Gostemos disso ou não (eu não gosto
nada) uma tal situação pode descambar
numa guerra civil entre o centro/
norte e o sul, com Cabo Delgado
numa desagradável posição de entalanço
de encontro à fronteira tanzaniana.
Numa mensagem amplamente divulgada
pelos órgãos de informação do
Governo/Frelimo, Filipe Nyusi, dirigindo-se
à Renamo, apela ao bom
senso para se encontrarem saídas para
esta situação.
Talvez seja altura de ele fazer esse
discurso do bom senso dirigindo-se
aos seus camaradas de gatilho fácil.
Não se pode apelar ao bom senso da
contraparte enquanto se tenta matar
o seu chefe em emboscadas e ataques
sucessivos.
Talvez Filipe Nyusi possa começar
por se colocar em frente de um espelho
e recomendar bom senso à imagem
reflectida.. E, depois, ir alargando
a abrangência do apelo.
Mas seria bom que isso fosse feito
com rapidez, porque os prazos agora
são muito curtos e arriscamo-nos
a acordar, um dia destes, já no fundo
do abismo.
E o descontentamento popular, de
norte a sul do país, com as condições
de vida insuportáveis para uma maioria,
podem ser um acelerador determinante
do desastre.
D
ouglas M. Griffiths, na hora de
despedida, no final de 2015, como
embaixador dos EUA para Mo-
çambique, mandou alguns alertas
que com ele ganharam nova roupagem. Vaticinou
que Moçambique enfrentará diversos
desafios no presente ano, 2016, tendo
dito que como País não devemos subestimar
a “incerteza económica e os desafios
políticos”.
Estamos relativamente habituados a viver
de incertezas económicas e de desafios
políticos stressantes, o que não constitui
novidade alguma. O problema pode estar
na variação dessas incertezas. Ainda que
este menu seja por demais conhecido, vale
a pena repensar sobre a questão da honestidade.
Sobre este aspecto ele refere que o
nosso futuro, como moçambicanos, está
“condicionado pela honestidade no recoHonestidade
e incertezas
nhecimento das fontes dos desafios, pela inclusão
de todos os elementos da sociedade na
procura de soluções, e pela abertura perante a
próxima geração”.
Os exemplos de honestidade, de comprometimento
com o desenvolvimento de Moçambique,
de inclusão, existem na sociedade mo-
çambicana como um todo. Porém, todos esses
exemplos tornam-se ou tornar-se-iam mais expressivos
se partissem do topo das hierarquias
políticas e governamentais. A honestidade dos
políticos não precisa de ser necessariamente similar
àquela que encontramos entre cidadãos
pacatos. Para estes, o político não é honesto,
mente. Mas, para o político não há espaço
para mentiras, ele não precisa de mentir para o
seu concidadão, precisa, isso sim, de fazer política
com honestidade. É neste processo que
a percepção da existência de honestidade no
reconhecimento das fontes dos desafios pode
divergir.
Para o estágio em que nos encontramos no
ranking de desenvolvimento do PNUD, no
mundo entre os últimos, essa divergência é
fonte de criação de desonestos entre os que aos
olhos do povo deveriam assumir-se como honestos.
Só com esta qualidade podem agir com
honestidade. As fontes dos nossos desafios políticos
e de desenvolvimento são reconhecidas
com honestidade sim, mas não são encaradas
como tal. Por exemplo, não vamos procurar saber
neste momento se as últimas eleições gerais
e legislativas foram encaradas com honestidade
ou desonestidade ou se foram ou não a principal
fonte de instabilidade político-militar que
se instalou, não; porque onde se alega fraude
e trafulhices de todo o tipo não há espaço para
que se questione a honestidade e a seriedade
das instituições que estiveram em frente desses
processos. Essas instituições não falharam,
agiram dentro do padrão que as caracteriza no
nosso actual estágio de honestidade.
Dependendo do tipo e qualidade de governação,
a avaliar pelas tendências actuais,
ainda vamos levar muito tempo para que as
políticas assegurem que “os benefícios alcancem
muitos e não apenas alguns”. O compadrio
e nepotismo, por exemplo, continuam
a ser o foco resultante da inércia do monopartidarismo
ou, se quisermos, da história
recente do País. Griffiths pode ter lá a sua
razão se encararmos essas políticas somente
como um ideal. E, de resto, brilha quando
diz que “a democracia é difícil, mas tanto na
economia como na política, a competição
gera melhores resultados”. Desde que esta
competição seja encarada com honestidade.
Percebe-se em Griffiths que Moçambique
tem vindo a melhorar. Assim sendo, o País
exige crescentemente mais e mais críticas
para que continue a melhorar com honestidade.
E
dmilsa Luciano Governo é a
mais nova estrela do atletismo
moçambicano. Nascida
a 28 de Fevereiro de 1998,
a atleta paralímpica, na categoria
T-12, há três anos, já conquistou
o país desportivo, ao amealhar
21 medalhas internacionais, das
quais 15 de ouro (a última nos Jogos
Africanos de 2015); quatro de
prata e duas de bronze, sendo a última,
em Doha, nos mundiais. No
seu curto percurso contam-se também
quatro recordes africanos. Em
2015, foi distinguida como atleta
feminina do ano, durante a V Gala
do Desporto e o SAVANA elegeu-
-a como figura desportiva do ano,
distinção que se repetiu por toda a
imprensa moçambicana.
Por estas razões, a reportagem deste
semanário foi ter com a menina de
ouro paralímpico para se inteirar da
sua carreira e dos dias de ouro que
ela vive.
Do futebol ao atletismo
Edmilsa Governo conta que pratica
o desporto desde a infância e o
futebol foi a primeira modalidade
por si praticada, apesar de nunca ter
tido oportunidade de participar nos
Jogos Escolares, devido aos problemas
de visão.
“A minha modalidade sempre foi o
atletismo. No futebol apenas perseguia
a bola. Era difícil para mim
jogar a bola, porque dificilmente a
via, mas sempre corria atrás dela”,
revela.
Entretanto, em 2012, entraria na
rota do seu desporto predileto.
Tudo começou quando um colega,
que treinava com Francisco Faquir
(seu actual treinador), no Clube dos
Deficientes, convidou-a para fazer
parte da equipa.
“Ele entrou na sala de aulas e perguntou
quem queria praticar desporto.
Gostei da ideia e aceitei o
convite. Até mentiu, dizendo que
havia viagens e lanches, mas não
quis saber disso, porque só queria
um sítio para treinar e me sentir
à vontade. Então, fui para lá. Fui
avaliada e classificada e comecei a
correr”, explica.
“Luto para ser segunda
Mutola”
Passados três anos, Edmilsa Governo
tornou-se numa referência
do atletismo paralímpico moçambicano.
O facto deve-se à conquista
de 21 medalhas internacionais (15
de ouro, quatro de prata e duas de
bronze), sendo a conquista da medalha
de ouro nos Jogos Africanos
de 2015 e a medalha de bronze nos
Jogos Mundiais de Doha, no Qatar,
as suas maiores conquistas.
Para a atleta, estas conquistas significam
muita responsabilidade,
porque as exigências passarão a ser
outras.
“Tenho de ser a segunda Mutola.
Os moçambicanos consideram-me
uma segunda Mutola e, para tal,
exigem mais trabalho de mim. Es-
Com o ouro africano e o bronze mundial, Edmilsa Governo promete:
“Quero ser a segunda Mutola!”
Por Abílio Maolela
tou a fazer um esforço e vou conseguir
trocar o lugar da Mutola. Não
vou apagar o nome dela, mas vou
conseguir colocar o meu nome ali
em frente”, promete.
Internamente, e como uma forma
de reconhecimento do seu trabalho,
o Instituto Nacional do Desporto
(INADE) distingui-a como atleta
feminina do ano e a imprensa
elegeu-a como figura desportiva de
2015.
Edmilsa responde às distinções:
“Sinto-me emocionada. É gratifi-
cante ser reconhecida por todos. Já
esperava o prémio de atleta paralímpica
do ano, mas atleta feminina
do ano não. Foi uma surpresa grande
e sinto-me feliz. Significa uma
grande responsabilidade e mais trabalho
para que possa convencer aos
que me premiaram e isso passa por
conseguir uma medalha no Brasil.
Isso vai fazer-me crescer e sentir-
-me mais a vontade”, diz.
Para ela, as medalhas amealhadas
no ano passado e os respectivos
recordes africanos é que determinaram
a sua eleição, em detrimento
das suas concorrentes.
Falta apoio ao atletismo
paralímpico
Além da distinção do INADE e
da eleição pela imprensa de atleta
feminina do ano, Edmilsa Governo
foi laureada com um milhão e
duzentos mil meticais vindos do
Governo, dos dez milhões e quinhentos
mil meticais destinados à
premiação dos atletas medalhados,
em 2015.
A “laureada” revela a sua emoção
pelo feito, mas lembra que “os campeões
são fabricados”, pelo que há
uma necessidade de se apoiar estes
na sua fase de preparação.
“O Governo tem ajudado, quando
se trata de uma selecção nacional.
Ajudam quanto ao equipamento e
pocket money, mas quando se trata
de uma viagem programada pela
federação não há nenhuma ajuda.
Até mesmo nos Jogos da CPLP,
poucas vezes temos tido apoio, falo
por exemplo do Estágio e lanches.
É raro que isso aconteça. Quanto
ao equipamento, às vezes temos de
depender do equipamento oferecido
no ano anterior”, diz.
“Em Março vamos à Tunísia, mas
não temos as devidas condições.
Queríamos muito participar, agora,
num estágio na Swazilândia, mas
não temos condições. Temos Jogos
Paralímpicos no Rio e eles querem
muito que a gente traga medalhas,
mas não nos conseguem ajudar. Tenho
colegas e amigas, de fora, que
já estão em estágio há dois anos, só
para os Jogos de 2016. Estou em
forma, mas preciso mais. Preciso de
sair para competir fora. Preciso de
um ginásio, que ainda não tenho.
Era importante que eles olhassem
para o desporto paralímpico, porque
não brincamos. Trabalhamos
seriamente. Às vezes, viajámos para
disputar a competição no mesmo
dia”, acrescenta.
Entretanto, a campeã africana dos
200 metros, na categoria T-12, revela
que nunca se preocupou muito
com o apoio governamental, pois,
sabe que este demora e “se eu pensar
nele posso estragar minha carreira”.
“Nunca treinei preocupando-me
com a ajuda do governo, porque se
me preocupo, enquanto eu sei que
vai demorar, não vou muito longe.
Então, vou lutar com meu esforço
próprio. Com aquilo que eu consigo.
Portanto, não vou colocar as
dificuldades em frente, se não prejudicam-me.
Porque com ou sem
dificuldades, sei que vou chegar lá,
mas era imperioso que eles ajudassem”,
sublinha.
“Meu sonho é ganhar a
bolsa paralímpica”
A ajuda do Governo ao atletismo
paralímpico consta de um rol de
preocupações da nova estrela do
atletismo moçambicano. A bolsa
paralímpica é, do momento, o
maior choro de quem fez entoar o
hino nacional, num palco africano,
16 anos depois.
No últimos anos, vários atletas
foram atribuídos bolsas de solidariedade
olímpica, destacando-se
Creve Machava e Alberto Mamba,
no atletismo e Neyd Ocuane, no
basquetebol.
Entretanto, essa sorte ainda não
bateu a porta da casa da Edmilsa
Governo.
“É muito triste falar disto, porque
desde 2012 que comecei a treinar,
sempre ouvi na rádio que ia ganhar
uma bolsa paralímpica, mas nada.
Já bati a porta em todas as instituições
e o Doutor Munguambe
diz que terei a bolsa, mas ainda não
aconteceu”, denuncia.
“Este ano saíram muitos atletas
para fora do país, mas eu ainda
não tenho resposta. Isso deixa-me
muito em baixo. Não vou desistir,
mas sempre foi meu sonho ganhar
uma bolsa para estudar fora do país.
Ter uma bolsa, não significa sair e ir
brincar. Significa reconhecer aquilo
que foi dado. Então, para mim era
muito importante ter uma bolsa”,
reitera.
Além da bolsa paralímpica, constitui
também o sonho da Edmilsa
Governo conquistar uma medalha
nos Jogos Paralímpicos do Rio de
Janeiro, a realizarem-se neste ano,
naquela cidade Brasileira. Para tal,
conta que está a fazer o que sempre
fez: “dar o meu máximo. Estou a
treinar. Quando estou cansada tento
me esforçar para frente. Estou a
insistir, persistir e acredito que isso
vai me levar longe. A entrega e dedicação
é o segredo do meu sucesso”,
finaliza.
O
antigo capitão da selecção
francesa, Zinedine
Zidane, foi apresentado,
esta semana,
como treinador do Real Madrid,
sucedendo ao espanhol,
Rafael Benítez. Aos 43 anos,
aquele que foi considerado
um dos melhores jogadores
da história prepara-se para
enfrentar um desafio à medida
da fama que granjeou nos
relvados.
Nesta altura, os adeptos merengues
colocam principalmente
uma questão. Terá Zidane,
cuja única experiência
como técnico principal foi na
Internacional
Zidane, génio dos relvados. E nos bancos?
equipa secundária dos blancos (e
ainda como adjunto no consulado
de Carlo Ancelotti), capacidade
para guiar um dos barcos que mais
turbulência enfrenta no Mundo?
“Zidane sabe, melhor do que ninguém,
o que é estar à frente de um
plantel do Real Madrid. Durante
toda a sua vida, submeteu-se aos
desafios maiores do futebol. Sabe
como é duro estar nesse banco”, assim
explicou Florentino Pérez a sua
escolha, na conferência de imprensa
de hoje.
Depois do sucesso como futebolista
no Real (2001-2006), onde foi um
dos expoentes máximos da gera-
ção dos galácticos, vem agora um
desafio que parece ter proporções
ainda maiores. Mas quem o conhece
acredita mesmo que Zizou é o
homem certo para o lugar certo.
“Um homem que foi o melhor no
jogo que tanto amamos a orientar
um clube que eu e tantos outros
adoram. Alguém com dedicação,
paixão e que não aceita falhar em
qualquer aspecto (...). É a melhor
pessoa para este trabalho”, afirmou
David Beckham, também ele um
antigo galáctico, no seu Instagram.
Também Bixente Lizarazu, antigo
colega de Zidane no Bordéus e na
selecção francesa, aplaudiu a escolha
de Florentino. “Faz-me lembrar
a opção por Guardiola da parte do
Barcelona. É o mesmo começo de
Zidane e desejo que tenha o mesmo
sucesso. É uma pessoa
muito determinada, que faz
as coisas com paixão”, referiu
o ex-lateral.
Recorde-se que Guardiola
assumiu o Barça em 2008
depois de uma passagem pela
equipa B e, na equipa principal,
conquistou 14 títulos
em quatro anos. Os adeptos
do Real ficariam certamente
satisfeitos com o mesmo
sucesso... Acrescente-se que,
esta temporada, no Castilla,
Zidane seguia no segundo
lugar do grupo 2 da terceira
divisão espanhola, com 10 vitórias
em 19 jogos.
O
pintor moçambicano Malangatana
Valente Ngwenya morreu há precisamente
cinco anos, a 05 de janeiro de
2011, e a data foi assinalada com uma
singela homenagem no Centro Cultural de
Matalana, na região de Matalana, distrito de
Marracuene, Província de Maputo.
A homenagem, na qual esperávamos a presença
do Ministro da Cultura e Turismo, Silva
Dunduro, e outros membros do governo, apenas
estiveram familiares e membros da comunidade.
Recordamos que no primeiro ano da
sua morte assistimos a cerimónias em homenagem
ao artista plástico. Passados cinco anos
não vemos algo digno a ser feito para recordar
a figura de um dos maiores pintores moçambicanos.
No entanto, a efeméride fica também marcada
pela notícia de que as obras em falta no Centro
Cultural de Matalana pararam por falta de
financiamento. “Como é possível ver, as obras
estão paradas. Não conseguimos dar continuidade
com as obras iniciadas por Malangatana
por falta de financiamento”, lamenta o filho
primogénito Mutxini Malangatana.
Até ao final do ano, são várias as actividades
que serão levadas a cabo pela família e amigos
para recordar o artista plástico, poeta, actor,
dançarino, músico, dinamizador cultural e até
deputado, da Frelimo. “Em Junho, vamos realizar
uma exposição com as obras do artista
em Maputo. Como sabem, se estivesse vivo, em
Junho Malangatana completaria 80 anos de
idade. Malangatana Valente Ngwenya nasceu
a 6 de junho de 1936, em Matalana”, recorda
Mutxini.
Para o Governo, a notícia da sua morte foi uma
“surpresa” recebida com “profunda tristeza” e o
ex-Presidente Joaquim Chissano considerou
Malangatana esquecido!
que “a cultura está desfalcada” de um “animador
de cultura em todos os aspectos”.
Durante as entrevistas, o pintor repetia várias
vezes estas palavras: ‘’Não tenho medo da morte...Só
peço aos meus amigos que cuidem bem
das minhas obras’’, recorda a jornalista e escritora
Rosa Langa.
Em vida, fez de tudo um pouco: foi pastor,
aprendiz de curandeiro, empregado doméstico
mas viria a notabilizar-se no mundo das artes,
tornando-se num dos mais famosos artistas
moçambicanos.
O pintor fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura.
Fez experiências com areia, conchas,
pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino,
músico, dinamizador cultural, organizador de
festivais e filantropo. Foi ainda um dos criadores
do Museu Nacional de Arte de Moçambique,
dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador
da UNICEF e arquitecto de um sonho
antigo que levou para a frente a criação de um
Centro Cultural na “sua” Matalana.
Expôs em Moçambique, em Portugal e noutros
países como Alemanha, Áustria e Bulgária,
Chile, Brasil, Angola e Cuba, Estados
Unidos, Índia. Tem murais em Maputo e na
Beira, na África do Sul e na Suazilândia, mas
também em países como Suécia e Colômbia.
Contando com as obras em museus e galerias
públicas e em colecções privadas, Malangatana
vai continuar presente praticamente em todo o
mundo, parte do qual conheceu como membro
de júri de bienais, inaugurando exposições, fazendo
palestras, até recebendo o doutoramento
honoris causa, como aconteceu recentemente
em Évora, Portugal.
Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu
o prémio Príncipe Claus, e de Portugal
levou também a medalha da Ordem do Infante
D. Henrique. A.S
O
s artistas consideram que a situação
económica do país faz com que o governo
relegue a cultura para o último
reduto. Cada ano que passa a cultura
nacional é menos sentida. Cada governo que
passa tem feito menos pela cultura. As prioridades
dos governantes actuais têm sido para
as outras áreas. Ao sector da cultura não se
tem sentido muito apoio nas últimas governações.
Dificilmente ouve-se o governo a falar de
actividades culturais. O que sabemos que faz
parte nas actividades do governo é o Festival
Nacional de Cultura. “Já era tempo de cada
província ter um festival, mesmo os distritos.
Isso faria com que os fazedores de cultura de
todo o país tivessem motivação para continuar
a criar. Actualmente os artistas têm de ter
outra actividade fora da cultural para sustentar
a família. Não digo que isso seja mau. Mas
para o artista que vive apenas da arte fica diCultura
refém da economia
fícil”, lamenta Hélio D, membro fundador do
grupo Djovana, da beira, acrescentando: “na
actual governação nunca ouvimos os governantes
a falar da cultura. Recentemente ouvimos
o informe do Presidente da República na
Assembleia da República e não ouvimos nada
sobre a cultura. Hoje a cultura não interessa
ao governo do dia. No passado souberam
fazer uso da cultura para libertar o país, mas
hoje já se esqueceram do papel da cultura no
desenvolvimento do país”.
Os governantes estão a perder sensibilidade
no que tange à cultura. Quando vemos os
governantes reunidos, o Ministro da Cultura
e Turismo aparece apenas na comitiva para
fazer papel. “Ainda não ouvimos a falar de
algum plano sobre a cultura, por isso muitos
artistas dizem que o Ministério da Cultura
serve para drenar dinheiro. É de recordar
os dizeres do artista plástico, Naguib Abdul,
num evento realizado em Maputo, quando
disse que o Ministério da Cultura apenas serO
pintor moçambicano Malangatana
Valente Ngwenya morreu há precisamente
cinco anos, a 05 de janeiro de
2011, e a data foi assinalada com uma
singela homenagem no Centro Cultural de
Matalana, na região de Matalana, distrito de
Marracuene, Província de Maputo.
A homenagem, na qual esperávamos a presença
do Ministro da Cultura e Turismo, Silva
Dunduro, e outros membros do governo, apenas
estiveram familiares e membros da comunidade.
Recordamos que no primeiro ano da
sua morte assistimos a cerimónias em homenagem
ao artista plástico. Passados cinco anos
não vemos algo digno a ser feito para recordar
a figura de um dos maiores pintores moçambicanos.
No entanto, a efeméride fica também marcada
pela notícia de que as obras em falta no Centro
Cultural de Matalana pararam por falta de
financiamento. “Como é possível ver, as obras
estão paradas. Não conseguimos dar continuidade
com as obras iniciadas por Malangatana
por falta de financiamento”, lamenta o filho
primogénito Mutxini Malangatana.
Até ao final do ano, são várias as actividades
que serão levadas a cabo pela família e amigos
para recordar o artista plástico, poeta, actor,
dançarino, músico, dinamizador cultural e até
deputado, da Frelimo. “Em Junho, vamos realizar
uma exposição com as obras do artista
em Maputo. Como sabem, se estivesse vivo, em
Junho Malangatana completaria 80 anos de
idade. Malangatana Valente Ngwenya nasceu
a 6 de junho de 1936, em Matalana”, recorda
Mutxini.
Para o Governo, a notícia da sua morte foi uma
“surpresa” recebida com “profunda tristeza” e o
ex-Presidente Joaquim Chissano considerou
Malangatana esquecido!
que “a cultura está desfalcada” de um “animador
de cultura em todos os aspectos”.
Durante as entrevistas, o pintor repetia várias
vezes estas palavras: ‘’Não tenho medo da morte...Só
peço aos meus amigos que cuidem bem
das minhas obras’’, recorda a jornalista e escritora
Rosa Langa.
Em vida, fez de tudo um pouco: foi pastor,
aprendiz de curandeiro, empregado doméstico
mas viria a notabilizar-se no mundo das artes,
tornando-se num dos mais famosos artistas
moçambicanos.
O pintor fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura.
Fez experiências com areia, conchas,
pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino,
músico, dinamizador cultural, organizador de
festivais e filantropo. Foi ainda um dos criadores
do Museu Nacional de Arte de Moçambique,
dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador
da UNICEF e arquitecto de um sonho
antigo que levou para a frente a criação de um
Centro Cultural na “sua” Matalana.
Expôs em Moçambique, em Portugal e noutros
países como Alemanha, Áustria e Bulgária,
Chile, Brasil, Angola e Cuba, Estados
Unidos, Índia. Tem murais em Maputo e na
Beira, na África do Sul e na Suazilândia, mas
também em países como Suécia e Colômbia.
Contando com as obras em museus e galerias
públicas e em colecções privadas, Malangatana
vai continuar presente praticamente em todo o
mundo, parte do qual conheceu como membro
de júri de bienais, inaugurando exposições, fazendo
palestras, até recebendo o doutoramento
honoris causa, como aconteceu recentemente
em Évora, Portugal.
Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu
o prémio Príncipe Claus, e de Portugal
levou também a medalha da Ordem do Infante
D. Henrique. A.S
Passam cinco anos após a morte do artista plástico Malangatana
via para drenar dinheiro”, repisa hélio D.
Os eventos culturais vão reduzido cada ano
que passa. Não me recordo de ouvir um plano
concreto sobre a cultura em todas as vertentes.
Vai ser difícil reverter o cenário actual. “Se os
governantes não tiverem sensibilidade em relação
à cultura o país vai continuar cada vez
mais pobre. Se percebessem o papel da cultura
no desenvolvimento do país iriam dar alguma
prioridade como outras áreas da sociedade.
A educação, saúde e outras áreas teriam outro
desenvolvimento se a cultura ocupasse o
seu lugar na nossa sociedade”, explica o arista
plástico Falcão.
É preciso que governantes voltem para os
anos passados e busquem aquela sensibilidade
que tiveram em relação à cultura. Agora estão
ofuscados com outras prioridades. “Se dessem
primazia à cultura muitos problemas seria minimizados.
Mesmo que os fazedores da cultura
se esforçassem em fazer o seu papel sem a
intervenção do governo, é difícil que a cultura
nacional esteja a ocupar o lugar que merece
no país”, lamenta o saxofonista Zé Maria.
Mesmo com dificuldades, os artistas vão fazendo
o seu papel na sociedade. O artista tem
o dever de sensibilizar os outros sobre o que
acontece na sua sociedade e no mundo. “Parece
que esse papel é visto como sendo contra os
dirigentes. É preciso mudar essa mentalidade
para que o país desenvolva num todo. Podemos
ver em certos países que se aperceberam
do papel da cultura para o desenvolvimento.
Mesmo aqueles países que estavam piores
economicamente e culturalmente que o nosso
viram que a cultura desempenha um papel
preponderante para o desenvolvimento. Agora
aqui no nosso país estamos longe de ver
esta situação acontecer. Porque pensam que
o desenvolvimento só acontece com as áreas
da mineração, gás e outras, menos a cultura”,
finaliza Matchote. A.S
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