domingo, 10 de janeiro de 2016

Um Comité Central de viragem?

Em pouco menos de um mês, a Frelimo estará reunida na Matola em II sessão extraordinária do Comité Central, o mais importante órgão de decisão do partido no intervalo entre os congressos. Espera-se que seja uma reunião de ruptura com o passado mais recente (leia-se guebuzismo), onde o PR deverá colocar pessoas da sua confiança para dirigirem a máquina partidária com eficácia e equilíbrio. A expectativa é ver se será desta que Filipe Nyusi consegue obter na totalidade o martelo do poder, dadas as crescentes dúvidas que pairam em certos sectores sobre quem de facto manda no país e no partido. Quando, por exemplo, o líder da oposição é atacado três vezes (contando com o assalto à sua residência na Beira) e chegam indicações de que as ordens não foram dadas pelo Comandante em Chefe das Forças de Defesa e Segurança, mas por sectores belicistas ligados ao anterior consulado, para bloquear iniciativas de paz e minar a sua governação, é porque algo de profundo e estrutural está errado e deve ser mudado. Mas esse exercício de mudanças num partido cinquentenário requere muita coragem política e acarreta um custo político demasiado elevado para um PR, que começou o seu consulado aparentemente motivado e bem-intencionado, com um discurso promissor. Promover uma “revolução” nos órgãos decisórios do partido, montando uma máquina na base da meritocracia e transparência, significa enfraquecer as redes clientelistas e neo-patrimoniais que foram decisivas para a ascensão de Filipe Nyusi à chefia do Estado. É neste contexto que será testada a determinação de Nyusi. Contudo, rupturas não devidamente acauteladas podem gerar um terramoto que resulte em fracturas dentro do partido. Vai ser importante construir alianças com o passado, sob pena de enfrentar um cenário estrutural altamente adverso, tendo em conta os vícios instalados e interesses estabelecidos. Depois do Comité Central, que se espera difícil, Filipe Nyusi vai precisar de demonstrar que pode governar sem hesitações, que pode construir um país sustentável, “com ideias sem cores partidárias”. Ele sabe que Afonso Dhlakama e a Renamo endureceram o seu discurso e voltaram a ameaçar governar à força as seis províncias onde reivindicam vitória. Será que, após o CC, Filipe Nyusi terá argumentos polí- ticos suficientes para negociar uma estabilidade duradoura no país? Irá ampliar a base de sustentação do poder até aos sectores, “tanto de dentro como de fora”, que não nutrem simpatia por ele, aproveitando para tentar acertar onde o guebuzismo errou? A ver vamos. 

É possível uma ciência social crítica sem que os seus praticantes sejam críticos? Esta questão pode parecer de fácil resposta, mas epistemologicamente ela exige muito exercício reflexivo pela sua natureza teórica. Coloquei-me esta pergunta pois que constatei que mesmo depois de um evento político, marcante, o facto de o presidente da República ter dito querer indultar ou comutar ou mesmo perdoar 1000 reclusos, este não mereceu uma re- flexão sistematicamente crítica, senão discursos normativos uns dizendo que era bom outros que era mau. O que é que isso revela? Qual é a economia política dessa decisão? Não vi no debate público nacional a formulação de questões, vi respostas que iam desde o normativismo legal ao normativismo comum. O pensamento complexo (Edgar Morin) estava praticamente ausente. Não discutirei essa decisão, mas a usarei como ponto de partida para a minha reflexão crítica da acriticidade da «nossa» crítica. Esse evento demonstrou que dentro das nossas ciências sociais não estamos a ser su- ficientemente críticos no sentido de proceder com uma reflexão rigorosa e tomando uma atitude de distancia- ção (Max Weber, J.F. Bayart, Julien Freund) em relação aos fenómenos que mereceriam uma dissecação aprofundada (Deleuze, Mamadou Diouf, Derrida) para que estejamos próximos da compreensão menos problemática (L. Boltasnki, Howard Becker). Para pensar esse assunto voltei aos textos do clássico Weber (“L’objectivité de la connaissance dans les sciences et la politique sociales” (1904); “Études critiques pour servir à la logique des sciences de la culture” (1906); Essai sur quelques catégories de la sociologie compréhensive” (1913) e “Essai sur le sens de la «neutralité axiologiA acriticidade da «nossa» crítica Por Régio Conrado que» dans les sciences sociologiques et économiques” (1917), ao livro de Marx «a Miséria da Filosofia» e de Leon Trosky «De la Révolution» porque esses textos, na minha opinião, permitem ver a importância da crítica nas ciências sociais, sem a qual ela é propaganda sofisticada ou apenas uma traição à reflexividade, para parafrasear Trosky. Com efeito, na nossa sociedade a crí- tica tem sido postulada como uma posição que se toma ou que se assume em determinadas circunstâncias, sobretudo nas CS. Essa forma de olhar para a crítica é um sintoma geral da nossa sociedade que olha para a crí- tica como um discurso negativo ou uma postura agressiva mesmo que seja epistemologicamente vazia (Heidegger) ou incapaz de captar a dinâmica dos fenómenos (Husserl). Assim, a crítica confundida com discursos normativamente violentos em relação à uma entidade substitui o rigor da re- flexão que é o fundamento de toda a crítica. Se lermos com atenção grande parte das obras de Bourdieu (Miséria do Mundo, por exemplo) ou de Giddens (A constituição da sociedade), veremos que a crítica é uma prática ontologicamente constituinte de toda a actividade reflexiva nas CS, não é um estado, é uma prática consequente e sempre actual. Aliás, os textos a que fiz referência, sobretudo, os de Weber, são ostensivos no sentido em que a vocação compreensiva das CS pressupõe uma atitude radicalmente questionante. Nesse sentido, a ideia de Trosky de revolução permanente é importante porque a crítica não é uma posição que se assume e se desassume, ela é uma atitude permanente, como o devia ser a atitude filosófica para aqueles que praticam as CS. Recentemente foram publicadas postumamente as aulas de P. Bourdieu no prestigiado colégio da França de 1981-1983 «Sociologie Générale Tome 1», onde nas três primeiras aulas, capítulos do livro, Bourdieu pretende construir aquilo que seria conhecido como «Sociologia crítica» pois que a crítica prevalecente escondia a sua incapacidade crítica em relação aos fenómenos. Constata-se uma profunda influência de Nietzsche et Shopenhauer nas suas formulações, pois para esses últimos a virtude dos pensadores livres é a capacidade de pensar criticamente a crítica da sociedade. Então, quando constato que não há posicionamentos rigorosamente críticos em relação a um fenómeno como esse «perdão» do PR, tenho a impressão de estarmos a violar a única coisa que faz as CS serem o que elas são, sem pretensões de substancializar. Esse evento que mais do que um «perdão» pode revelar a vontade de poder do PR passando a imagem de um homem que procura sempre o bem da sociedade mesmo em relação aos que moralmente não o mereceriam. Que tipo de mensagens pretende ele transmitir, a quem ? Esse perdão não poderá revelar a produção da contra-imagem em relação ao antigo presidente sempre violento, intolerante e menos passional? Estamos perante uma das manifestações mais profundas da teatralização do poder (Balandier) para legitimar-se num contexto de erosão generalizada de legitimidade em muitos grupos sociais. Essas práticas são bem conhecidas na história de Roma e de muitos reinos e impérios africanos, e mesmo hoje alguns líderes autoritá- rios em África que usam o perdão de alguns prisioneiros para reconstituir a sua imagem, daquele que é capaz de perdoar. Mais do que um simples acto de perdão, este pode mostrar a reestruturação das tecnologias de gestão do poder em curso no país e dentro da Frelimo.

N uma noite recente, dei comigo a evocar o Ruben. Foi uma associação de ideias que surgiu de forma fortuita e fluiu sem percurso nem destino predefinidos. Aconteceu que depois do jantar e enquanto esperava pelo início do telejornal, a minha mulher aconchegou a neta ao regaço e tentou fazer com que ela embarcasse no entusiasmo com que encarava a ideia de lhe oferecer como prenda de Natal um vestidinho e um par de sapatos novos. Mas notei que, apesar do seu esforço e contrariamente ao que acontecia normalmente, ela não conseguia fazer com que a neta se animasse. Pelo contrário, esta respondia-lhe com uma certa indiferença, com monossílabos, Efeito boomerang enquanto o seu olhar teimava em fixar- -se no televisor. Acompanhei a cena um pouco constrangido, porque sentia uma certa pena pelo esforço inglório que a minha mulher fazia. Foi então que se deu a cambalhota para trás que me fez cair no ano de 1962. Nessa época, eu tinha exactamente nove anos, tal como a nossa netinha. Com essa idade, ao meu tempo, qualquer criança a quem se sugerisse a ideia de uma prenda feita de vestidos ou de calções e sapatos novos entraria numa onda de excitação sem limites que lhe tiraria o sono durante várias noites. Mas é natural que assim fosse: aquela que é hoje uma cidade cosmopolita, com um formigueiro em movimento incessante desde as primeiras horas do dia até à noite, era então uma pequena vila com meia dúzia de casas de alvenaria de cor alvacenta, onde se albergava uma comunidade de comerciantes brancos ou indianos; era a ponte de atracagem dos barcos que faziam a travessia – e nem eram muitos, eram dois – para o outro lado da baía e vice-versa; a pousada, o mercado municipal, o edifício da administração, o hospital rural, a antiga capela que agora funcionava apenas como escola primária e ao lado da qual se erguia a nova igreja, de traços arquitectónicos que se poderiam considerar avançados para a época. Nesse contexto, é escusado dizer que nenhum menino nas minhas condições, ou seja, que vivesse na periferia desse núcleo urbano, tinha no seu universo de festas coisas que se pudessem parecer com montras profusamente iluminadas e multicolores, nem nada que se parecesse com pais natais ou árvores de Natal. Na verdade, a quadra festiva, lá onde as casas eram de caniço ou blocos e cobertura de macuti, era anunciada desde finais do mês de Outubro, quando os cajueiros, as mafurreiras e as mangueiras se cobriam de farta folhagem verde e soçobravam sob o peso do caju e da castanha, da manga e da mafurra. Era a altura da fartura e era esse o período em que, em revoadas, percorríamos o cajual e as mangueiras na apanha da castanha, porque era esta mesma castanha que depois seria trocada pelos nossos pais por roupa. E era esse o ponto máximo da nossa festa. O que eu recordava nessa noite, no entanto, é que o Ruben, embora tivesse a mesma idade que nós, não partilhava o nosso entusiasmo na apanha da castanha nem sequer se deixava atrair muito pelo consumo das mangas ou da mafurra. Enquanto nós estávamos nisso, ele seguia atentamente e com ar absorto a trajectória incerta das borboletas esvoa- çando por entre as flores silvestres, tentando, quem sabe, encontrar uma lógica no seu voo, que claramente não obedecia a lógica nenhuma. Ou então pasmava durante longo tempo debaixo de um cajueiro, absorvido a contemplar um ou outro pássaro a debicar a polpa da fruta. Era para nós, embora não o disséssemos, como se fosse um estranho. E era assim que se portava mesmo nas aulas, com o seu ar eternamente distraído. Punha a si próprio e a mim, como seu amigo eleito, ainda não sei bem porquê, perguntas que a nenhum de nós ocorriam e que não se atrevia a fazer, por exemplo, ao catequista. Dizia-me ele: como é que Deus, mesmo sabendo que Adão e Eva acabariam por pecar, teimou em criá-los e deixá-los à solta no jardim do Paraíso? Como é que os seus filhos Abel e Caim conseguiram garantir a multiplicação da espécie, se a única mulher que existia, criada por Deus, era Eva e esta era a sua mãe? E porque é que, mesmo sabendo que Judas Iscariotes acabaria por atraiçoar Jesus vendendo-o por trinta dinheiros, insistiu em integrá-lo no grupo dos 12 Apóstolos? Já na adolescência e na procura de respostas a estas e outras perguntas, entrou para o seminário, onde, para além de tudo, sonhava com a possibilidade de ter tempo suficiente para meditar sobre outras questões essenciais da vida. Mesmo na recta final, no entanto, esbarrou contra o muro intransponível do celibato, tendo-se-lhe posto o dilema de escolher entre o hábito de monge e as capulanas da negra Débora. Escolheu a via da Débora e enterrou definitivamente o sonho de seguir a carreira de padre. Mas não enterrou os seus sonhos. Soube mais tarde, já na segunda metade dos anos 70, que era um fervoroso membro da seita das Testemunhas de Jeová, onde se notabilizava como pregador. Quando o regime incluiu as Testemunhas de Jeová no seu rol de inimigos a eliminar, por estes teimarem em não prestar vassalagem aos símbolos do Estado, Ruben, tal como centenas dos seus alinhados na mesma lista das prostitutas, dos fumadores de soruma e dos improdutivos que foram deportados para as matas de Sofala, Tete, Nampula e Cabo Delgado, acabou por ir parar algures no planalto de Angónia, em Tete. A ideia era que deste grupo de vítimas da caça às bruxas não ficasse nem um exemplar para semente. P.S. Perdi a pista do Ruben, mas preservo a memória dele até hoje e acredito que, aconteça o que tiver acontecido com ele, a sua semente certamente não terá caído em solo árido. E tenho razões para crer que não: a fauna nocturna da Rua de Bagamoyo, da Avenida 24 de Julho, da Kenneth Kaunda e de vários outros núcleos de bordéis bem ou mal disfarçados que existem nesta cidade e noutras cidades ou vilas deste País; o número crescente de desempregados que as estatísticas oficiais chancelam; os crescentes grupos de jovens que são sistematicamente citados como sendo consumidores de drogas e o facto de os templos das Testemunhas de Jeová ou outras seitas religiosas se multiplicarem com o tempo confirmam que não só a semente germinou, como também se fortificou em edifícios de pedra e cal. Alguma coisa saiu errada. Ou talvez não.

O ano de 2016, numa perspectiva meramente formal ou mesmo mecânica, iniciou, certamente, no primeiro segundo do dia 1 do corrente mês de Janeiro, devendo prolongar-se até ao último segundo do dia 31 de Dezembro próximo. Mas, em termos histórico-políticos, e elaborando com recurso ao pensamento de Eric John Hobsbawn, um dos cientistas sociais mais influentes dos últimos 50 anos, pode ser que o ano de 2016 tenha, materialmente, iniciado antes mesmo de formalmente terminado o de 2015, como pode ser que ainda não tenha, efectivamente, iniciado. Na perspectiva que para aqui convocamos, a contagem de tempo não ocorre de forma automática; ela tem como fonte eventos específicos, momentos concretos, ou seja, situações historicamente relevantes que marcam substancialmente um certo período de tempo, seja ele um ano, uma década, um século. O que poderia, então, ser assumido, ainda que hipoteticamente, como marco se disséssemos que o ano de 2016 iniciou quando ainda transcorria o de 2015? E o que poderia, na mesma dimensão, ser apontado se arguíssemos que, em termos materiais, o ano de 2016 ainda não iniciou? Para a primeira situação, poderíamos, por exemplo, usar como marco o dia 16 de Dezembro de 2015, data na qual aconteceram duas situações politicamente relevantes e que marcarão o ano de 2016: a ida de Nyusi, pela primeira vez, ao Parlamento, para apresentar o seu informe atinente ao Estado Geral da Nação, por imperativos constitucionais, no qual falou não só do passado, como do futuro; no mesmo dia, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, presidente da Renamo, fez a sua primeira ‘aparição pública’, designadamente ao dar a sua versão do ‘Estado Geral da Nação’, em teleconferência. Para a segunda situação, não seria de todo exagerado se elegêssemos o dia 5 de Fevereiro próximo, data na qual terá lugar uma sessão extraordinária do CoConfiança, um activo que nos falta e foge! mité Central da Frelimo, como a mais do que provável data do início efectivo do ano [de 2016], pelo que dali poderá emergir. Confessamos que nos inclinamos mais a apoiar a situação segunda, por a sessão do Comité Central em perspectiva, a primeira desde que Nyusi se tornou presidente da Frelimo, em finais de Março de 2015, ainda que a sua agenda ainda seja desconhecida, poder definir muito do que será, politicamente, o ano de 2016, senão mesmo o período que irá até às próximas eleições gerais, em 2019. Será nessa sessão do Comité Central, muito provavelmente, em que Nyusi adquirirá a não-objecção político-partidária ao que já deve possuir, cremos, como ideias-solução para a paz efectiva no país; dessa reunião, muito provavelmente, poderá lançar elementos quanto ao tipo de colaboradores que gostaria de ter em seu redor, designadamente ministros, se se assumir que a economia política para a formação da sua equipa governativa, em Janeiro de 2015, terá sido dominada, ou influenciada, por muitos factores que escaparam ao seu controlo. Não é preciso ser vidente para prever, para pouco depois dessa sessão do Comité Central, uma remodelação governamental, não se sabendo se profunda ou de pequena monta. Achamos nós que não é por acaso que Dhlakama esteja a anunciar, nas suas últimas aparições, ainda que sem muito de inédito, que irá governar “as províncias em que ganhou” a partir de Março de 2016. Aliás, Dhlakama tem vindo a fazer essa promessa mesmo antes do anúncio público da sessão do Comité Central convocada para 5 de Fevereiro próximo, o que pode significar que ele já soubesse, por outras vias, da convocação daquela reunião. O contexto em que um discurso é elaborado, diz-nos o ABC da sociologia da comunicação, é, ele pró- prio, parte do discurso! Na extensa entrevista que concedeu ao ‘Canal de Moçambique’ publicado esta quarta-feira, Dhlakama reitera que “irá governar” a partir de Março próximo, timing que, a nosso ver, pode ter que ver com o que espera que suceda nas semanas imediatamente a seguir à anunciada sessão extraordinária do Comité Central da Frelimo. “Quero aproveitar o ‘Canal de Moçambique’ (...) para informar que vamos governar mesmo em Março”, diz o líder da Renamo numa das passagens da referida entrevista. Em boa verdade, deve ser pela influ- ência que pretende ter no anunciado início, em termos histórico-políticos, do ano de 2016, que se decidiu em dar essa entrevista. Construções, leituras e interpretações à parte, de uma coisa não temos a mínima dúvida: a falta de confiança existente entre os principais actores políticos (Governo e Renamo, em particular) há-de continuar a manifestar-se em 2016. Se a 18 de Dezembro de 2015, à margem da recepção de fim do ano que ofereceu aos membros do seu Governo e a alguns convidados, Nyusi deu indicações de que o diálogo nunca parara, do que se extraiu que havia alguns contactos com Dhlakama, não deixa de ser curioso que, na entrevista que concede esta semana ao ‘Canal de Moçambique’, Dhlakama defenda não haver qualquer tipo de contacto, directa ou indirectamente. Confiança é, em bom rigor, o que tem estado a rarear desde que nos abrimos formalmente ao multipartidarismo, há mais de 20 anos. Interessante será notar se a excessiva dose de desconfiança existente entre as partes irá pelo menos baixar a níveis em que os supremos interesses de todos nós, do Estado enquanto colectividade, possam prevalecer a todo o custo, a começar pela paz efectiva, qual fonte da esperança, do crescimento económico que se traduza em desenvolvimento humano, da prosperidade, do bem-estar social, sem diversões inúteis. Com Jacob Zuma, presidente da África do Sul, e a Igreja Católica como mediadores, conforme proposto pela Renamo, talvez se reestabeleça alguma confiança... no diálogo. Enquanto isso, a confiança vai-se evidenciando como o activo que tanto nos falta e foge! Para a nossa infelicidade colectiva!

O antisexismo defende que a erradicação da superioridade masculina passa pelo estabelecimento de paridade nas definições e nas possibilidades de vida e carreira. Porquê? Porque as mulheres são tão capazes quanto os homens. Sucede então que tudo se resume em mudar uma certa forma tradicional de pensar sem mudar a estrutura das relações sociais que produzem e reproduzem a dicotomia desfavorável a um determinado género, no caso vertente ao género feminino. Queremos que as mulheres sejam socialmente iguais aos homens, dotando-as, por exemplo, de quinhões paritários de poder (ministérios, direcções, etc.). Distribuímos quinhões de poder sem alterar a estrutura social e as relações básicas de poder que geram e mantêm a dualidade e a discriminação social, convencidos de que as representações sociais podem mudar sem que mude a matriz do modo de produção e de reprodução da vida.

A nova ronda de confronto entre a Arábia Saudita e o Irão arrisca agravar-se e expandir ondas de choque pelo Médio Oriente na ausência de potências externas capazes de mediarem ou oferecerem garantias de segurança a Riade e Teerão. Durante as décadas de “boom” petrolífero e até à revolução iraniana de 1979, os Estados Unidos asseguraram o equilíbrio entre as ambições do xá Mohammad Reza Pahlavi e da Casa de Saud e zelaram pela segurança no Golfo ante eventuais ameaças soviéticas. O Aiatollah Khomeini fez ruir um dos pilares do sistema de segurança e se a aliança espúria das monarquias sunitas do Golfo com Saddam Hussein na guerra entre o Iraque e o Irão (1980-88) conteve Teerão, não obstou a que a arrogância do ditador de Bagdade acabasse por justificar uma intervenção militar norte-americana na região, com caução da ONU e luz verde de uma URSS à beira da implosão. A jihad e o xiismo No final de 1979, a Grande Mesquita de Meca fora ocupada por milenaristas proclamando a redenção, o advento do mahdi, e o ano que começara com o retorno triunfal de Khomeini a Teerão terminaria com a invasão soviética do Afeganistão. O jihadismo sunita, alternativa ao fracasso de regimes autoritários e desenvolvimentistas secularistas e panarabistas, ampliado na guerra do Afeganistão, fazia, entretanto, o seu caminho contestando os Irmãos Muçulmanos (massacrados na Síria por Hafez al Assad em 1982) e movimentos salafistas. Uma nova reivindicação do poder pela minoria xiita, mesmo descartando a doutrina de governo de todo o quotidiano da comunidade dos crentes pelos juristas da xaria avançada por Khomeini, iria também entrar em choque com o regime da seita waabita. O rigorismo salafista dos sauditas expandira-se em proselitismo sem peias graças ao peso ganho pela conjunção da custódia das cidades santas de Meca e Medina e as receitas do petróleo. No Líbano, as alterações na balança demográfica a favor dos xiitas tiveram o corolário político na pujança do Hizballah, ainda que os fiéis de Ali no Bahrein ou no Leste da Arábia Saudita não tenham conseguido livrar-se do jugo dos al Khalifa e dos Saud. A invasão do Iraque de 2003 condenaria o domínio sunita no Iraque, abrigaria Israel do risco de guerra em todas as frentes, e reforçaria o irredentismo curdo, prejudicando sobretudo a Turquia. A par das disputas entre estados abria-se o caminho à contestação dos ordenamentos impostos no final da I Guerra Mundial num quadro de quezílias generalizadas entre grupos étnico-religiosos curdos druzos, maronitas, gregos católicos e ortodoxos, turcomenos, alauítas, xiitas, alevis, sunitas, yezidis, entre outros. Alianças de circunstância Os alinhamentos tácticos no apoio a Bashar al Assad e à minoria alauíta - ramo esotérico e no limite contrário à ortodoxia xiita vigente em Qom (Irão) e Najaf (Iraque) - ou a cooperação nuclear com Moscovo não fazem esquecer em Teerão que a expansão da Rússia tzarista e do sovietismo no Cáucaso, Ásia Central e nas margens do Mar Cáspio se fez à custa da Pérsia e da Turquia. Os Estados Unidos inibidos por sucessivas desfeitas no Afeganistão e no Iraque mostram-se às elites do poder em Teerão e Riade como aliados ou adversários equívocos, potencialmente letais em caso de recurso às armas, mas sem garra e espírito para guerras prolongadas. Sauditas e iranianos guerreiam-se no Iémen e na Síria, no Iraque e no Líbano, e tal como turcos e israelitas, debatem-se com as potenciais consequências de reintegra- ção de Teerão nas redes económicas e financeiras globais caso vingue a primeira fase do acordo de contenção e desarmamento nuclear assinado com a ONU e as grandes potências. Opções sauditas A desintegração do poder do Estado na Síria e a partilha de facto do Iraque entre xiitas e curdos, em detrimento de sunitas e turcomenos, bem como a virulência do jihadismo sunita contra a Casa de Saud, o xiismo, apóstatas, crentes não-muçulmanos e ateus, criaram constrangimentos inesperados em Riade. A entronização de Salman bin Abdulaziz em Janeiro de 2015 e a designação de Muhammad bin Nayef como príncipe herdeiro levaram à adopção de atitudes de confronto aberto com o Irão, designadamente a intervenção no Iémen contra os houthis. A recusa de cortes na produção de petróleo, arcando com quebras de preços, numa estratégia de consolidação e ampliação de quota de mercado tentando arruinar concorrentes com custos mais elevados de extracção (caso das explorações norte-americanas de xisto betuminoso), obriga os sauditas a cortes orçamentais, mas prejudica fortemente o Irão. Plano de batalha As contingências da aplicação destas estratégias, sem porem em causa o apoio a facções jihadistas sunitas na Síria ou ao regime militar egípcio, ameaçam o pacto interno de anuência ao regime saudita e propiciam atitudes de força para intimidar dissidentes e a minoria xiita. A decapitação do clérigo al Nimr deu pretexto no Irão aos radicais opositores de maiores cedências na soberania em prejuízo de um programa militar nuclear para subirem a parada com recurso ao tradicional ataque a instalações diplomáticas a um mês das eleições parlamentares. Acoitadas e alucinadas pelas legitimações religiosas das suas causas, as facções mais belicistas optaram pelo braço-de-ferro tornando difíceis compromissos e concessões.

 E m termos de Paz para o país, o ano de 2016 começa de forma muito preocupante. De paciência perdida, depois do chumbo de todas as suas propostas de solução pacífica do impasse, criado pelas eleições de Outubro passado, Afonso Dhlakama diz que não vai negociar mais coisa nenhuma e vai governar as seis províncias em que a Renamo teve maioria a partir de Março. Ele diz que isso se fará pacificamente, sem derramamento de sangue, mas é óbvio que ninguém acredita nessa possibilidade. Bastou ver a demonstração de poderio militar que o Governo fez, em Maputo, para impedir um pequeno grupo de militantes da Renamo, desarmados, de irem à rua falar com as pessoas, para perceber que qualquer tentativa de ocupar o poder político naquelas províncias, por muito pacífica que possa ser, vai encontrar uma resposta violenta por parte das autoridades. E Dhlakama está consciente disso. Ameaça mesmo defender-se se for atacado. Ora como não restam muitas dúvidas de que será atacado, isso só tem um nome: guerra. E uma guerra de consequências imprevisíveis, pois um dos lados tem imenso material militar mas gente sem experiência combativa, enquanto o outro lado tem veteranos calejados na guerrilha, embora aparentemente apenas com armamento ligeiro. Na sua tentativa de ir ganhando tempo de presença no Poder, de forma absoluta, o Governo/Frelimo adiaram para a próxima legislatura a cria- ção de uma comissão para a revisão constitucional. Tenho, no entanto, a sensação de que o elástico foi esticado demais e não vamos sair deste impasse sem que corra sangue inocente. Em entrevista ao Canal de Moçambique, Dhlakama diz que só volta a negociar depois de estar já a governar as “suas” províncias. Isto quer dizer que só quer negociar a partir de uma posição de força e já não na circunstância de mero dirigente de partido a falar com o Governo do país. Gostemos disso ou não (eu não gosto nada) uma tal situação pode descambar numa guerra civil entre o centro/ norte e o sul, com Cabo Delgado numa desagradável posição de entalanço de encontro à fronteira tanzaniana. Numa mensagem amplamente divulgada pelos órgãos de informação do Governo/Frelimo, Filipe Nyusi, dirigindo-se à Renamo, apela ao bom senso para se encontrarem saídas para esta situação. Talvez seja altura de ele fazer esse discurso do bom senso dirigindo-se aos seus camaradas de gatilho fácil. Não se pode apelar ao bom senso da contraparte enquanto se tenta matar o seu chefe em emboscadas e ataques sucessivos. Talvez Filipe Nyusi possa começar por se colocar em frente de um espelho e recomendar bom senso à imagem reflectida.. E, depois, ir alargando a abrangência do apelo. Mas seria bom que isso fosse feito com rapidez, porque os prazos agora são muito curtos e arriscamo-nos a acordar, um dia destes, já no fundo do abismo. E o descontentamento popular, de norte a sul do país, com as condições de vida insuportáveis para uma maioria, podem ser um acelerador determinante do desastre.
D ouglas M. Griffiths, na hora de despedida, no final de 2015, como embaixador dos EUA para Mo- çambique, mandou alguns alertas que com ele ganharam nova roupagem. Vaticinou que Moçambique enfrentará diversos desafios no presente ano, 2016, tendo dito que como País não devemos subestimar a “incerteza económica e os desafios políticos”. Estamos relativamente habituados a viver de incertezas económicas e de desafios políticos stressantes, o que não constitui novidade alguma. O problema pode estar na variação dessas incertezas. Ainda que este menu seja por demais conhecido, vale a pena repensar sobre a questão da honestidade. Sobre este aspecto ele refere que o nosso futuro, como moçambicanos, está “condicionado pela honestidade no recoHonestidade e incertezas nhecimento das fontes dos desafios, pela inclusão de todos os elementos da sociedade na procura de soluções, e pela abertura perante a próxima geração”. Os exemplos de honestidade, de comprometimento com o desenvolvimento de Moçambique, de inclusão, existem na sociedade mo- çambicana como um todo. Porém, todos esses exemplos tornam-se ou tornar-se-iam mais expressivos se partissem do topo das hierarquias políticas e governamentais. A honestidade dos políticos não precisa de ser necessariamente similar àquela que encontramos entre cidadãos pacatos. Para estes, o político não é honesto, mente. Mas, para o político não há espaço para mentiras, ele não precisa de mentir para o seu concidadão, precisa, isso sim, de fazer política com honestidade. É neste processo que a percepção da existência de honestidade no reconhecimento das fontes dos desafios pode divergir. Para o estágio em que nos encontramos no ranking de desenvolvimento do PNUD, no mundo entre os últimos, essa divergência é fonte de criação de desonestos entre os que aos olhos do povo deveriam assumir-se como honestos. Só com esta qualidade podem agir com honestidade. As fontes dos nossos desafios políticos e de desenvolvimento são reconhecidas com honestidade sim, mas não são encaradas como tal. Por exemplo, não vamos procurar saber neste momento se as últimas eleições gerais e legislativas foram encaradas com honestidade ou desonestidade ou se foram ou não a principal fonte de instabilidade político-militar que se instalou, não; porque onde se alega fraude e trafulhices de todo o tipo não há espaço para que se questione a honestidade e a seriedade das instituições que estiveram em frente desses processos. Essas instituições não falharam, agiram dentro do padrão que as caracteriza no nosso actual estágio de honestidade. Dependendo do tipo e qualidade de governação, a avaliar pelas tendências actuais, ainda vamos levar muito tempo para que as políticas assegurem que “os benefícios alcancem muitos e não apenas alguns”. O compadrio e nepotismo, por exemplo, continuam a ser o foco resultante da inércia do monopartidarismo ou, se quisermos, da história recente do País. Griffiths pode ter lá a sua razão se encararmos essas políticas somente como um ideal. E, de resto, brilha quando diz que “a democracia é difícil, mas tanto na economia como na política, a competição gera melhores resultados”. Desde que esta competição seja encarada com honestidade. Percebe-se em Griffiths que Moçambique tem vindo a melhorar. Assim sendo, o País exige crescentemente mais e mais críticas para que continue a melhorar com honestidade.

E dmilsa Luciano Governo é a mais nova estrela do atletismo moçambicano. Nascida a 28 de Fevereiro de 1998, a atleta paralímpica, na categoria T-12, há três anos, já conquistou o país desportivo, ao amealhar 21 medalhas internacionais, das quais 15 de ouro (a última nos Jogos Africanos de 2015); quatro de prata e duas de bronze, sendo a última, em Doha, nos mundiais. No seu curto percurso contam-se também quatro recordes africanos. Em 2015, foi distinguida como atleta feminina do ano, durante a V Gala do Desporto e o SAVANA elegeu- -a como figura desportiva do ano, distinção que se repetiu por toda a imprensa moçambicana. Por estas razões, a reportagem deste semanário foi ter com a menina de ouro paralímpico para se inteirar da sua carreira e dos dias de ouro que ela vive. Do futebol ao atletismo Edmilsa Governo conta que pratica o desporto desde a infância e o futebol foi a primeira modalidade por si praticada, apesar de nunca ter tido oportunidade de participar nos Jogos Escolares, devido aos problemas de visão. “A minha modalidade sempre foi o atletismo. No futebol apenas perseguia a bola. Era difícil para mim jogar a bola, porque dificilmente a via, mas sempre corria atrás dela”, revela. Entretanto, em 2012, entraria na rota do seu desporto predileto. Tudo começou quando um colega, que treinava com Francisco Faquir (seu actual treinador), no Clube dos Deficientes, convidou-a para fazer parte da equipa. “Ele entrou na sala de aulas e perguntou quem queria praticar desporto. Gostei da ideia e aceitei o convite. Até mentiu, dizendo que havia viagens e lanches, mas não quis saber disso, porque só queria um sítio para treinar e me sentir à vontade. Então, fui para lá. Fui avaliada e classificada e comecei a correr”, explica. “Luto para ser segunda Mutola” Passados três anos, Edmilsa Governo tornou-se numa referência do atletismo paralímpico moçambicano. O facto deve-se à conquista de 21 medalhas internacionais (15 de ouro, quatro de prata e duas de bronze), sendo a conquista da medalha de ouro nos Jogos Africanos de 2015 e a medalha de bronze nos Jogos Mundiais de Doha, no Qatar, as suas maiores conquistas. Para a atleta, estas conquistas significam muita responsabilidade, porque as exigências passarão a ser outras. “Tenho de ser a segunda Mutola. Os moçambicanos consideram-me uma segunda Mutola e, para tal, exigem mais trabalho de mim. Es- Com o ouro africano e o bronze mundial, Edmilsa Governo promete: “Quero ser a segunda Mutola!” Por Abílio Maolela tou a fazer um esforço e vou conseguir trocar o lugar da Mutola. Não vou apagar o nome dela, mas vou conseguir colocar o meu nome ali em frente”, promete. Internamente, e como uma forma de reconhecimento do seu trabalho, o Instituto Nacional do Desporto (INADE) distingui-a como atleta feminina do ano e a imprensa elegeu-a como figura desportiva de 2015. Edmilsa responde às distinções: “Sinto-me emocionada. É gratifi- cante ser reconhecida por todos. Já esperava o prémio de atleta paralímpica do ano, mas atleta feminina do ano não. Foi uma surpresa grande e sinto-me feliz. Significa uma grande responsabilidade e mais trabalho para que possa convencer aos que me premiaram e isso passa por conseguir uma medalha no Brasil. Isso vai fazer-me crescer e sentir- -me mais a vontade”, diz. Para ela, as medalhas amealhadas no ano passado e os respectivos recordes africanos é que determinaram a sua eleição, em detrimento das suas concorrentes. Falta apoio ao atletismo paralímpico Além da distinção do INADE e da eleição pela imprensa de atleta feminina do ano, Edmilsa Governo foi laureada com um milhão e duzentos mil meticais vindos do Governo, dos dez milhões e quinhentos mil meticais destinados à premiação dos atletas medalhados, em 2015. A “laureada” revela a sua emoção pelo feito, mas lembra que “os campeões são fabricados”, pelo que há uma necessidade de se apoiar estes na sua fase de preparação. “O Governo tem ajudado, quando se trata de uma selecção nacional. Ajudam quanto ao equipamento e pocket money, mas quando se trata de uma viagem programada pela federação não há nenhuma ajuda. Até mesmo nos Jogos da CPLP, poucas vezes temos tido apoio, falo por exemplo do Estágio e lanches. É raro que isso aconteça. Quanto ao equipamento, às vezes temos de depender do equipamento oferecido no ano anterior”, diz. “Em Março vamos à Tunísia, mas não temos as devidas condições. Queríamos muito participar, agora, num estágio na Swazilândia, mas não temos condições. Temos Jogos Paralímpicos no Rio e eles querem muito que a gente traga medalhas, mas não nos conseguem ajudar. Tenho colegas e amigas, de fora, que já estão em estágio há dois anos, só para os Jogos de 2016. Estou em forma, mas preciso mais. Preciso de sair para competir fora. Preciso de um ginásio, que ainda não tenho. Era importante que eles olhassem para o desporto paralímpico, porque não brincamos. Trabalhamos seriamente. Às vezes, viajámos para disputar a competição no mesmo dia”, acrescenta. Entretanto, a campeã africana dos 200 metros, na categoria T-12, revela que nunca se preocupou muito com o apoio governamental, pois, sabe que este demora e “se eu pensar nele posso estragar minha carreira”. “Nunca treinei preocupando-me com a ajuda do governo, porque se me preocupo, enquanto eu sei que vai demorar, não vou muito longe. Então, vou lutar com meu esforço próprio. Com aquilo que eu consigo. Portanto, não vou colocar as dificuldades em frente, se não prejudicam-me. Porque com ou sem dificuldades, sei que vou chegar lá, mas era imperioso que eles ajudassem”, sublinha. “Meu sonho é ganhar a bolsa paralímpica” A ajuda do Governo ao atletismo paralímpico consta de um rol de preocupações da nova estrela do atletismo moçambicano. A bolsa paralímpica é, do momento, o maior choro de quem fez entoar o hino nacional, num palco africano, 16 anos depois. No últimos anos, vários atletas foram atribuídos bolsas de solidariedade olímpica, destacando-se Creve Machava e Alberto Mamba, no atletismo e Neyd Ocuane, no basquetebol. Entretanto, essa sorte ainda não bateu a porta da casa da Edmilsa Governo. “É muito triste falar disto, porque desde 2012 que comecei a treinar, sempre ouvi na rádio que ia ganhar uma bolsa paralímpica, mas nada. Já bati a porta em todas as instituições e o Doutor Munguambe diz que terei a bolsa, mas ainda não aconteceu”, denuncia. “Este ano saíram muitos atletas para fora do país, mas eu ainda não tenho resposta. Isso deixa-me muito em baixo. Não vou desistir, mas sempre foi meu sonho ganhar uma bolsa para estudar fora do país. Ter uma bolsa, não significa sair e ir brincar. Significa reconhecer aquilo que foi dado. Então, para mim era muito importante ter uma bolsa”, reitera. Além da bolsa paralímpica, constitui também o sonho da Edmilsa Governo conquistar uma medalha nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, a realizarem-se neste ano, naquela cidade Brasileira. Para tal, conta que está a fazer o que sempre fez: “dar o meu máximo. Estou a treinar. Quando estou cansada tento me esforçar para frente. Estou a insistir, persistir e acredito que isso vai me levar longe. A entrega e dedicação é o segredo do meu sucesso”, finaliza.

O antigo capitão da selecção francesa, Zinedine Zidane, foi apresentado, esta semana, como treinador do Real Madrid, sucedendo ao espanhol, Rafael Benítez. Aos 43 anos, aquele que foi considerado um dos melhores jogadores da história prepara-se para enfrentar um desafio à medida da fama que granjeou nos relvados. Nesta altura, os adeptos merengues colocam principalmente uma questão. Terá Zidane, cuja única experiência como técnico principal foi na Internacional Zidane, génio dos relvados. E nos bancos? equipa secundária dos blancos (e ainda como adjunto no consulado de Carlo Ancelotti), capacidade para guiar um dos barcos que mais turbulência enfrenta no Mundo? “Zidane sabe, melhor do que ninguém, o que é estar à frente de um plantel do Real Madrid. Durante toda a sua vida, submeteu-se aos desafios maiores do futebol. Sabe como é duro estar nesse banco”, assim explicou Florentino Pérez a sua escolha, na conferência de imprensa de hoje. Depois do sucesso como futebolista no Real (2001-2006), onde foi um dos expoentes máximos da gera- ção dos galácticos, vem agora um desafio que parece ter proporções ainda maiores. Mas quem o conhece acredita mesmo que Zizou é o homem certo para o lugar certo. “Um homem que foi o melhor no jogo que tanto amamos a orientar um clube que eu e tantos outros adoram. Alguém com dedicação, paixão e que não aceita falhar em qualquer aspecto (...). É a melhor pessoa para este trabalho”, afirmou David Beckham, também ele um antigo galáctico, no seu Instagram. Também Bixente Lizarazu, antigo colega de Zidane no Bordéus e na selecção francesa, aplaudiu a escolha de Florentino. “Faz-me lembrar a opção por Guardiola da parte do Barcelona. É o mesmo começo de Zidane e desejo que tenha o mesmo sucesso. É uma pessoa muito determinada, que faz as coisas com paixão”, referiu o ex-lateral. Recorde-se que Guardiola assumiu o Barça em 2008 depois de uma passagem pela equipa B e, na equipa principal, conquistou 14 títulos em quatro anos. Os adeptos do Real ficariam certamente satisfeitos com o mesmo sucesso... Acrescente-se que, esta temporada, no Castilla, Zidane seguia no segundo lugar do grupo 2 da terceira divisão espanhola, com 10 vitórias em 19 jogos.

O pintor moçambicano Malangatana Valente Ngwenya morreu há precisamente cinco anos, a 05 de janeiro de 2011, e a data foi assinalada com uma singela homenagem no Centro Cultural de Matalana, na região de Matalana, distrito de Marracuene, Província de Maputo. A homenagem, na qual esperávamos a presença do Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, e outros membros do governo, apenas estiveram familiares e membros da comunidade. Recordamos que no primeiro ano da sua morte assistimos a cerimónias em homenagem ao artista plástico. Passados cinco anos não vemos algo digno a ser feito para recordar a figura de um dos maiores pintores moçambicanos. No entanto, a efeméride fica também marcada pela notícia de que as obras em falta no Centro Cultural de Matalana pararam por falta de financiamento. “Como é possível ver, as obras estão paradas. Não conseguimos dar continuidade com as obras iniciadas por Malangatana por falta de financiamento”, lamenta o filho primogénito Mutxini Malangatana. Até ao final do ano, são várias as actividades que serão levadas a cabo pela família e amigos para recordar o artista plástico, poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural e até deputado, da Frelimo. “Em Junho, vamos realizar uma exposição com as obras do artista em Maputo. Como sabem, se estivesse vivo, em Junho Malangatana completaria 80 anos de idade. Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de junho de 1936, em Matalana”, recorda Mutxini. Para o Governo, a notícia da sua morte foi uma “surpresa” recebida com “profunda tristeza” e o ex-Presidente Joaquim Chissano considerou Malangatana esquecido! que “a cultura está desfalcada” de um “animador de cultura em todos os aspectos”. Durante as entrevistas, o pintor repetia várias vezes estas palavras: ‘’Não tenho medo da morte...Só peço aos meus amigos que cuidem bem das minhas obras’’, recorda a jornalista e escritora Rosa Langa. Em vida, fez de tudo um pouco: foi pastor, aprendiz de curandeiro, empregado doméstico mas viria a notabilizar-se no mundo das artes, tornando-se num dos mais famosos artistas moçambicanos. O pintor fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais e filantropo. Foi ainda um dos criadores do Museu Nacional de Arte de Moçambique, dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador da UNICEF e arquitecto de um sonho antigo que levou para a frente a criação de um Centro Cultural na “sua” Matalana. Expôs em Moçambique, em Portugal e noutros países como Alemanha, Áustria e Bulgária, Chile, Brasil, Angola e Cuba, Estados Unidos, Índia. Tem murais em Maputo e na Beira, na África do Sul e na Suazilândia, mas também em países como Suécia e Colômbia. Contando com as obras em museus e galerias públicas e em colecções privadas, Malangatana vai continuar presente praticamente em todo o mundo, parte do qual conheceu como membro de júri de bienais, inaugurando exposições, fazendo palestras, até recebendo o doutoramento honoris causa, como aconteceu recentemente em Évora, Portugal. Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu o prémio Príncipe Claus, e de Portugal levou também a medalha da Ordem do Infante D. Henrique. A.S

O s artistas consideram que a situação económica do país faz com que o governo relegue a cultura para o último reduto. Cada ano que passa a cultura nacional é menos sentida. Cada governo que passa tem feito menos pela cultura. As prioridades dos governantes actuais têm sido para as outras áreas. Ao sector da cultura não se tem sentido muito apoio nas últimas governações. Dificilmente ouve-se o governo a falar de actividades culturais. O que sabemos que faz parte nas actividades do governo é o Festival Nacional de Cultura. “Já era tempo de cada província ter um festival, mesmo os distritos. Isso faria com que os fazedores de cultura de todo o país tivessem motivação para continuar a criar. Actualmente os artistas têm de ter outra actividade fora da cultural para sustentar a família. Não digo que isso seja mau. Mas para o artista que vive apenas da arte fica diCultura refém da economia fícil”, lamenta Hélio D, membro fundador do grupo Djovana, da beira, acrescentando: “na actual governação nunca ouvimos os governantes a falar da cultura. Recentemente ouvimos o informe do Presidente da República na Assembleia da República e não ouvimos nada sobre a cultura. Hoje a cultura não interessa ao governo do dia. No passado souberam fazer uso da cultura para libertar o país, mas hoje já se esqueceram do papel da cultura no desenvolvimento do país”. Os governantes estão a perder sensibilidade no que tange à cultura. Quando vemos os governantes reunidos, o Ministro da Cultura e Turismo aparece apenas na comitiva para fazer papel. “Ainda não ouvimos a falar de algum plano sobre a cultura, por isso muitos artistas dizem que o Ministério da Cultura serve para drenar dinheiro. É de recordar os dizeres do artista plástico, Naguib Abdul, num evento realizado em Maputo, quando disse que o Ministério da Cultura apenas serO pintor moçambicano Malangatana Valente Ngwenya morreu há precisamente cinco anos, a 05 de janeiro de 2011, e a data foi assinalada com uma singela homenagem no Centro Cultural de Matalana, na região de Matalana, distrito de Marracuene, Província de Maputo. A homenagem, na qual esperávamos a presença do Ministro da Cultura e Turismo, Silva Dunduro, e outros membros do governo, apenas estiveram familiares e membros da comunidade. Recordamos que no primeiro ano da sua morte assistimos a cerimónias em homenagem ao artista plástico. Passados cinco anos não vemos algo digno a ser feito para recordar a figura de um dos maiores pintores moçambicanos. No entanto, a efeméride fica também marcada pela notícia de que as obras em falta no Centro Cultural de Matalana pararam por falta de financiamento. “Como é possível ver, as obras estão paradas. Não conseguimos dar continuidade com as obras iniciadas por Malangatana por falta de financiamento”, lamenta o filho primogénito Mutxini Malangatana. Até ao final do ano, são várias as actividades que serão levadas a cabo pela família e amigos para recordar o artista plástico, poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural e até deputado, da Frelimo. “Em Junho, vamos realizar uma exposição com as obras do artista em Maputo. Como sabem, se estivesse vivo, em Junho Malangatana completaria 80 anos de idade. Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de junho de 1936, em Matalana”, recorda Mutxini. Para o Governo, a notícia da sua morte foi uma “surpresa” recebida com “profunda tristeza” e o ex-Presidente Joaquim Chissano considerou Malangatana esquecido! que “a cultura está desfalcada” de um “animador de cultura em todos os aspectos”. Durante as entrevistas, o pintor repetia várias vezes estas palavras: ‘’Não tenho medo da morte...Só peço aos meus amigos que cuidem bem das minhas obras’’, recorda a jornalista e escritora Rosa Langa. Em vida, fez de tudo um pouco: foi pastor, aprendiz de curandeiro, empregado doméstico mas viria a notabilizar-se no mundo das artes, tornando-se num dos mais famosos artistas moçambicanos. O pintor fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais e filantropo. Foi ainda um dos criadores do Museu Nacional de Arte de Moçambique, dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador da UNICEF e arquitecto de um sonho antigo que levou para a frente a criação de um Centro Cultural na “sua” Matalana. Expôs em Moçambique, em Portugal e noutros países como Alemanha, Áustria e Bulgária, Chile, Brasil, Angola e Cuba, Estados Unidos, Índia. Tem murais em Maputo e na Beira, na África do Sul e na Suazilândia, mas também em países como Suécia e Colômbia. Contando com as obras em museus e galerias públicas e em colecções privadas, Malangatana vai continuar presente praticamente em todo o mundo, parte do qual conheceu como membro de júri de bienais, inaugurando exposições, fazendo palestras, até recebendo o doutoramento honoris causa, como aconteceu recentemente em Évora, Portugal. Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu o prémio Príncipe Claus, e de Portugal levou também a medalha da Ordem do Infante D. Henrique. A.S Passam cinco anos após a morte do artista plástico Malangatana via para drenar dinheiro”, repisa hélio D. Os eventos culturais vão reduzido cada ano que passa. Não me recordo de ouvir um plano concreto sobre a cultura em todas as vertentes. Vai ser difícil reverter o cenário actual. “Se os governantes não tiverem sensibilidade em relação à cultura o país vai continuar cada vez mais pobre. Se percebessem o papel da cultura no desenvolvimento do país iriam dar alguma prioridade como outras áreas da sociedade. A educação, saúde e outras áreas teriam outro desenvolvimento se a cultura ocupasse o seu lugar na nossa sociedade”, explica o arista plástico Falcão. É preciso que governantes voltem para os anos passados e busquem aquela sensibilidade que tiveram em relação à cultura. Agora estão ofuscados com outras prioridades. “Se dessem primazia à cultura muitos problemas seria minimizados. Mesmo que os fazedores da cultura se esforçassem em fazer o seu papel sem a intervenção do governo, é difícil que a cultura nacional esteja a ocupar o lugar que merece no país”, lamenta o saxofonista Zé Maria. Mesmo com dificuldades, os artistas vão fazendo o seu papel na sociedade. O artista tem o dever de sensibilizar os outros sobre o que acontece na sua sociedade e no mundo. “Parece que esse papel é visto como sendo contra os dirigentes. É preciso mudar essa mentalidade para que o país desenvolva num todo. Podemos ver em certos países que se aperceberam do papel da cultura para o desenvolvimento. Mesmo aqueles países que estavam piores economicamente e culturalmente que o nosso viram que a cultura desempenha um papel preponderante para o desenvolvimento. Agora aqui no nosso país estamos longe de ver esta situação acontecer. Porque pensam que o desenvolvimento só acontece com as áreas da mineração, gás e outras, menos a cultura”, finaliza Matchote. A.S

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