Relançado o debate sobre a introdução nas escolas do manifesto partidário e ideológico do nacional-socialismo. Livro regressou às bancas pela primeira vez desde 1945.
O instituto a cargo da edição alemã anotada de Mein Kampf, o manifestado partidário e autobiográfico de Adolf Hitler e o guia ideológico do nazismo, recebeu quase quatro vezes mais encomendas da obra do que o número de livros publicado. O livro regressou às livrarias alemãs na sexta-feira, pelaprimeira vez desde 1945 e do fim da Segunda Guerra Mundial.
A decisão de reeditar um dos maiores símbolos do nacional-socialismo sofreu avanços e recuos à medida que se aproximavam os 70 anos desde a morte de Hitler – o que, segundo a lei alemã, faz com que a obra entre em domínio público. O livro foi publicado em dois volumes, duas mil páginas e acompanhado de cerca de cinco mil entradas de comentários, resultado da investigação académica do Instituto de História Contemporânea de Munique.
O director do instituto recebeu encomendas para 15 mil cópias, o que ultrapassa em muito a impressão original de quatro mil cópias. O instituto aumentou a tiragem mas, mesmo assim, na sexta-feira o livro já se esgotara no site alemão da Amazon. Os dois volumes custam 59 euros.
A republicação de Mein Kampf foi tema de debate aceso na Alemanha. Hitler inscreveu grande parte da identidade racista e anti-semita do Partido Nazi na obra, enquanto estava preso pela tentativa falhada de golpe de Estado em 1923. A ministra alemã da Educação voltou este sábado a defender a introdução do estudo de Mein Kampf na escolaridade obrigatória.
“Trata-se de um importante instrumento de educação política”, argumentou Johanna Wanke em declarações à rádio pública alemã, RTL. “Os liceus são o lugar indicado para que, com a ajuda dos professores, seja divulgada esta edição comentada de um livro sobre o qual existem muitos mitos."
A grande edição do Instituto de História Contemporânea de Munique não foi pensada para o sistema de ensino alemão, embora os autores admitam que isso seria possível pela dimensão dos comentários académicos. O facto de as anotações terem mais predominância nas páginas da reedição do que os escritos de Hitler foi fundamental na batalha em torno da reimpressão da obra.
“De qualquer maneira, há um consenso amplo em relação a um ponto decisivo”, afirmou Andreas Wirsching, director do instituto, na apresentação da obra. “Seria completamente irresponsável permitir que esta salgalhada de desumanidade viesse a público sem comentários, sem o contradizer através de referências críticas que ponham o texto e o seu autor no seu lugar.”
Mas, no momento em que se assiste ao ressurgimento de algumas ideias semelhantes às que Hitler inscreveu na ideologia nacional-socialista – as grandes marchas antimigração do Pegida são exemplo disso –, a ideia de estudar Mein Kampf nas escolas é vista por alguns com desconfiança.
É o caso do germanólogo Jeremny Adler, que lecciona língua e história alemã. “Mein Kampf é uma fonte turva”, argumenta, sublinhando o facto de Hitler ter escrito o livro em parte justificando o golpe de Estado falhado. “[É] um livro sobre técnicas de propaganda cheio de ódio e desejos de grandeza”, afirma, citado pelo diário espanhol ABC. “O que é que se pode aprender com essa diatribe que apela à louca monstruosidade do assassínio?”
Sem comentários:
Enviar um comentário