PAULO CUNHA/LUSA
Rebecca Engebretsen diz que se a classe média em Angola continuar a perder poder de compra isso pode desencadear perturbações sociais e políticas
"Um decréscimo no poder de compra do grupo que detém o poder em Luanda pode desencadear perturbações sociais e políticas, como aconteceu noutros países durante a Primavera Árabe", escreveu a investigadora Rebecca Engebretsen numa análise publicada na AllAfrica Global Media.
Para esta doutoranda em Oxford, o Governo angolano, assim com a classe dirigente, "no ambiente de preços baixos, enfrenta um dilema delicado", que consiste em apostar na diversificação económica a sério, mas isso implica que a classe média e a elite dirigente perca os benefícios da oligarquia que foi criando.
"Por um lado, os decisores políticos estão cientes que defender o valor da moeda é cada vez mais oneroso, e a sua capacidade para o fazerem está a diminuir porque as reservas externas continuam a ser usadas", escreve Rebecca Engebretsen, acrescentando que, "ao mesmo tempo, estão também cientes que a desvalorização pode ser boa para promover outras partes da economia que há muito sofrem de falta de competitividade".
Aumentar a atratividade dos setores não petrolíferos "é crucial se Angola quiser acabar com os ciclos de crescimento-empobrecimento" que surgem da exposição excessiva à variação dos preços do petróleo.
Aumentar a diversificação económica tem, no entanto, desvantagens: "Por outro lado, aumentar a competição pode colocar em perigo os interesses da classe dirigente que pode poder as suas posições oligárquicas, até porque se as importações se tornarem mais caras, a classe média cada vez maior de Angola pode ter dificuldade de acesso aos bens internacionais que se habituou a ter, e os decisores políticos em Luanda está bem cientes que uma diminuição no poder de compra do grupo que detém o poder pode desencadear perturbações sociais e políticas, como aconteceu noutros países durante a Primavera Árabe".
Para já, as grandes reservas internacionais têm permitido a 'quadratura do círculo', estando a ser usadas "pelo Governo para defender o valor do kwanza e apoiar as necessidades de importação em vez de qualquer transformação real da economia"
Só que, conclui Rebecca Engebretsen, "se os preços do petróleo continuarem baixos, é questionável quanto tempo este modelo pode realisticamente ser mantido".
Na análise, a investigadora lembra que entre 2002 e 2014 Angola recebeu 468 mil milhões de dólares em receitas do petróleo, que vale 95% das exportações e mais de 75% das receitas fiscais.
A queda do preço do petróleo fez descer as receitas fiscais em mais de 50% face ao ano passado e cortou todas as previsões de crescimento da economia para 2016, que não deve passar dos 4%.
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