Presidente moçambicano inicia segundo ano do mandato em clima de incerteza -- analistas
Postado 2016/01/14
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, completa na sexta-feira um ano no poder, com o país numa situação de incerteza, que ameaça arrastar-se ao longo deste ano, sobretudo no campo político, consideram analistas políticos ouvidos pela Lusa em Maputo.
João Pereira, docente de Ciência Política na Universidade Eduardo Mondlane (UEM), a maior instituição do ensino superior do país, considera que Nyusi irá debater-se em 2016 com as ameaças da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana), principal partido de oposição, de tomar o poder nas seis províncias do centro e norte do país onde reivindica vitória nas eleições gerais de 2014.
"A situação é de incerteza, estão todos à espera de ver se o líder da oposição (Afonso Dhlakama) terá ou não capacidade de materializar o seu discurso e também como é que as instituições de Estado vão reagir à materialização deste mesmo discurso", afirmou.
Com a prevalência da incerteza, prosseguiu o académico, Moçambique continuará a viver, tal como em 2015, uma situação de instabilidade, condicionando os investidores e a acção das instituições do Estado.
"Eu acho que a questão não pode estar só centrada a nível do Presidente Nyusi, a questão deve ser discutida a partir da pergunta: como é que o partido (Frelimo, no poder), no seu todo, vai ajudar no processo da estabilização política do país. Como é que os grupos de interesse que têm uma grande resistência em relação à aceitação e a uma reconciliação da família moçambicana vão agir perante este fenómeno todo", observou o analista.
Referindo-se à sessão extraordinária do Comité Central da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), agendada para fevereiro e vista por alguns círculos como a reunião da consolidação do poder de Filipe Nyusi no partido, João Pereira disse esperar que o encontro sirva para a abordagem de questões concretas que afectam o país.
"Eu espero que no Comité Central extraordinário sejam debatidas questões concretas sobre com serão resolvidos os grandes problemas que o país enfrenta, falo da crise económica e a questão política. Mas o mais importante agora, na minha opinião, é a questão da exclusão social, que é um problema que afecta um grande número de pessoas que vivem em pobreza extrema", disse.
Em entrevista à Lusa em Dezembro, o analista moçambicano e professor de Ciência Política José Jaime Macuane considerou que o Presidente de Moçambique vai ser confrontado em 2016 com uma escolha entre a crise económica e a crise militar, defendendo que dificilmente conseguirá gerir as duas ao mesmo tempo.
Macuane considerou que 2016 será "um ano com um alto nível de incerteza", atendendo ao choque externo que a economia enfrenta e à ameaça de Dhlakama de tomar o poder em seis províncias.
"Como decisão estratégica, o chefe de Estado precisa ver qual a crise que consegue gerir a curto-prazo", assinalou o analista, lembrando que Moçambique tem pouco controlo sobre o actual choque externo, que, associado a problemas estruturais da sua economia, não faz prever resultados positivos tão cedo.
Nesse sentido, "a estratégia mais óbvia seria concentrar-se na questão militar", observou o académico, até porque se tornaria mais fácil gerir depois a crise económica, traduzida por forte desvalorização do metical face ao dólar, com impacto nos preços das importações, disponibilidade de divisas e inflação.
Perante o "ajuste de contas" prometido por Dhlakama, Macuane reconhece que "a possibilidade de um confronto militar é mais alta", mesmo depois de o chefe de Estado, Filipe Nyusi, ter parado o desarmamento compulsivo da oposição.
Por seu turno, o jurista e analista político Alexandre Chivale previu que Filipe Nyusi vai seguir uma postura que proteja o país de um novo conflito militar, apostando no apelo ao diálogo com o líder da Renamo.
"O Presidente adoptou um tom conciliador que evitou que o país descambasse para a guerra e espero que ele mantenha uma linha de tolerância", disse.
Em relação à sessão extraordinária da Frelimo, Chivale disse ser "compreensível" que o presidente do partido no poder pretenda colocar quadros da sua confiança na direção da organização, mas considerou que isso não implicará o apagamento da herança política de Armando Guebuza.
"Todos os líderes querem um partido à sua medida, mas reconhecem o valor da herança que lhes foi passada pelos seus antecessores, Armando Guebuza legou vários feitos à atual administração, nomeadamente no campo das infraestruturas", defendeu o jurista.
Sem comentários:
Enviar um comentário