segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O homem do lenço branco



Esta fotografia foi extraída do blog, Delagoa Bay.* É de 1971, ano em que o Presidente Kamuzu Banda, do Malawi, visitou Moçambique. Foi tirada no Aeroporto de Nampula em 27 de Setembro.

As relações entre a Frelimo e Banda, e depois entre o governo por ela liderado e o Malawi nunca foram das mais amistosas. Mas a Frelimo manteve sempre um representante no Malawi durante a luta pela independência de Moçambique. Nessa fase as relações da Frelimo com o Malawi eram ao nível da segurança – a Special Branch do Malawi e o DS (ou Departamento de Segurança da Frente de Libertação de Moçambique). Laços que revelar-se-iam cruciais quando a Frelimo toma o poder em Moçambique e aposta na neutralização de todas as forças e figuras políticas que se lhe opunham.

O DS, chefiado por Joaquim Chissano desde 1966, que é também primeiro-ministro do governo de transição, reactiva velhas amizades com a Special Branch. São também amizades fortalecidas por laços étnicos. A Special Branch malawiana está sob a alçada do todo-poderoso, Albert Muwalo Nqumayo, secretário-geral do Malawi Congress Party e chairman dos Serviços de Segurança. É um nguni, tal como os líderes da Frelimo.

É a pedido do DS que Albert Nqumayo atrai o Reverendo Uria Simango a uma cilada, dois meses depois do governo de transição ter sido empossado em Lourenço Marques. E é ele quem depois entrega Simango à Frelimo, numa bandeja, em Milange.

Sorte idêntica caberia a Paulo Gumane e a outros membros do Coremo, presos num hotel em Blantyre, também em Novembro. Simango e Gumane, juntamente com centenas de outros "inimigos do povo" desfilariam no ano seguinte perante o «dirigente máximo» na orwelliana Farm 17, em Nachingwea. Quase todos eles desapareceriam no Niassa, sob folhas secas de miombo.

Albert Muwalo Nqumayo, homem de mão de Banda, responsável pela matança – os "acidentes de viação" eram a sua especialidade – de oponentes do Life President, cairia em desgraça logo a seguir ao serviço prestado à Frelimo. Foi preso por traição em 1975 e dois anos depois executado. A Frelimo perdia assim um aliado, um camarada, um irmão.

Albert Muwalo Nqumayo é o homem do lenço branco, atrás de Banda, no palanque montado na pista do Aeroporto de Nampula.



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