terça-feira, 12 de janeiro de 2016

MAHUNGU - Patrocinar imoralidades

Ariel Inroga's photo.
Terça, 12 Janeiro 2016
DEPOIS de passar as festas do Natal e do fim do ano na minha terra por vontade própria é muito pouco provável que certo ano mude do local da quadra festiva para a outro dentro ou fora do país em busca de outros ambientes.
Nas últimas duas semanas de cada ano, a “Terra da Boa Gente” torna-se um pouco mais apetecível, pois, é destino turístico por excelência. Agrada-me ver aquele movimento desusado de pessoas, quando a cidade reclama semáforos já que as pequenas artérias de Inhambane ficam congestionadas pelo intenso movimento. As filas que se prolongam para mais de 50 metros nas quatros gasolineiras incluindo a da praia de Tofo, o frenesim das compras, a reserva de espaço na zona da prancha lá na marginal, o bloqueio da estrada da marginal, a fuga temporária dos bispos que vivem na zona da prancha a Guiua, distrito de Jangamo por causa da poluição sonora, o barulho das discotecas móveis montadas em viaturas do último grito, a disputa dos DJs pelos proprietários de estabelecimentos turísticos para animar as noites de festas, entre outras recreações, fazem da minha terra, um “paraíso” para quem gosta de um ambiente verdadeiramente festivo, por isso, todas festas prefiro passar na minha terra.
E prontos, as festas passaram e a vida voltou à normalidade e retomei o meu périplo das férias. Estou agora na terra do rand. Para fazer tempo, vezes sem conta, entretenho-me vasculhando as redes sociais para me informar do que se passa no mundo, embora reconhecendo que nem tudo que se escreve lá não passa de lixo, pois de concreto nada tem a ver.
Depois de ver o vai e vem de pessoas e viaturas de todas marcas simplesmente para alimentar a vista, decidi escolher um café para tomar um geladinho e matar a cede já que nesta terra também há temperaturas altas. Estou a visitar a cidade de Cartonnivell, arredores de Joanesburgo onde meu pai, Dazane, viveu e trabalhou perto de três décadas. Meu pai foi maquinista de comboio eléctrico, Makalanhane, tal como dizia, na companhia mineira de Blyvoor. Diz que era basboy, ou seja, chefe do grupo e fui teclando o meu telefone para revistar amigos, não é que uma mensagem me chamou atenção.
“Sucaaaa, vai trabalhar malandro”, era excerto de uma entrevista numa televisão nacional em estilo do vídeo publicado no facebook. Palavras de uma cantora que nos últimos dias alimenta conversas de esquina e café, pela forma que escolheu para entrar no mundo de música no país, estava em directo na tal televisão.
Fiquei chocado e ao mesmo tempo não acreditei no que via e ouvia no tal vídeo, mas mesmo assim, recuei, ou seja, repeti, para ouvir de novo aquilo que classifiquei de uma barbaridade.
“Tudo o que tenho é fruto do meu trabalho, rezei e agora estou a bater, você que tem inveja é consigo. Vai trabalhar malandro”, disse a dita cuja numa entrevista conduzida por um jovem amante de televisão que há cerca de um ano foi convidado a deixar uma televisão ao permitir que seu entrevistado em directo, igualmente um músico, protagonizasse algo que feriu a moral, não só dos donos da empresa, mas também da sociedade no geral. O entrevistado fumou droga em pleno programa.
“Mas esta cantora faz e fala assim em todas televisões onde já foi entrevistada”, chamou atenção o meu acompanhante de viagem com quem vi e ouvi aquela picante declaração da vovó Melancia de Moz, como é tratada a tal cantora.
Parei de feicebookar ou wattsapar não em cima do no muro tal como diz meu colega do jornal “desafio”. Fiquei com telemóvel pensando na estratégia da minha sociedade na sua luta para resgatar valores morais ou contra a sua degradação social. A conclusão não tardou chegar, ainda no café, ainda antes de acabar o meu gelado. É de que todos nós, a sociedade, temos culpa pelo actual estado das coisas.
“Sabe duma coisa”, perguntou, continuando a minha companheira das férias, esta cantora protagonizou escândalos que nunca esperei ver na minha vida quando foi actuar na cidade da Maxixe.
O que ela fez, perguntei.
“Quando subiu ao palco, foi ruidosamente aplaudida e as palmas aumentavam do tom quando se agitava na tal sua coreografia. O público, na sua maioria jovens na faixa etária de 16 a 25 anos, atirava moedas para si, recolhia e metia na sua roupa interior. Alguns de nós levámos as mãos à cabeça, enquanto alguns aplaudiam, aquilo não passava de uma cena de striptease”, desabafou agastada a minha companheira.
Esta revelação que não era novidade do que venho lendo e acompanhando desta mãe e avó, pois na sua degradação pela província de Inhambane foi desaguar à vila turística de Vilankulo, de onde igualmente depois da sua actuação foram lançados observações nada abonatórias contra si, já que muitos consideraram autêntica violência à nossa cultura e a civilização moçambicana, ao civismo e a evolução da música moçambicana.
Esta a minha sociedade onde o anormal é fonte de captação de receitas. Uma sociedade de contraste onde as televisões preenchem seus espaços divertindo-se com uma cantora que incendeia aos amantes de televisão que por causa disso algumas famílias principalmente são tidas conservadoras, já não assistem em conjunto alguns programas televisivos, porque a qualquer momento podem ser agredidos pela considerada cantora de top nos tempos que correm.
Victorino Xavier

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