quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Ivan Bukavshin, o fim trágico aos 20 anos de idade



OPINIÃO

Virar o bico ao prego sem aprender nada com a História

Com a resolução do PE, todos os problemas foram agravados e a Líbia mergulhou no inferno.


A verdade é como o azeite, acaba sempre por vir ao de cima. Novamente se cumpre o adágio.
Marisa Matias, no debate televisivo com Edgar Silva, respondendo à crítica de que tinha votado favoravelmente no Parlamento Europeu (PE) a intervenção militar externa na Líbia, afirmou e repetiu categoricamente três vezes que votou contra, por voto nominal, e aconselhou a consulta das respectivas actas.
A resolução em discussão no PE, em Março de 2011, continha um parágrafo que solicitava à Alta Representante da UE e aos Estados-Membros a disponibilidade para uma decisão do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) sobre uma zona de exclusão aérea na Líbia (com a justificação demagógica de impedir o regime de atacar a população civil).
Uma tal zona era o pretexto para a intervenção militar, pois assegurá-la exige meios militares. O parágrafo, com a habitual linguagem diplomática, instava na verdade a Alta Representante e os Estados-Membros a cumprir a provável decisão do CSNU de impor essa zona e, mais do que isso, a reclamar essa decisão, através dos Estados-Membros que aí tinham assento (França e Reino Unido, membros permanentes, Alemanha e Portugal) e das pressões que a UE poderia fazer sobre alguns dos restantes.
Marisa Matias, tal como eu, Ilda Figueiredo e outros, votou contra a inclusão deste parágrafo na proposta de resolução a submeter ao Parlamento. Mas o parágrafo foi mantido.
Na votação final da resolução, que constituiu a deliberação do PE (Resolução RC-B7-0169/2011, de 10/03/2011) e que inclui o funesto parágrafo, Marisa Matias votou a favor, como se vê na acta a que aconselhou a consulta (p. 6). É transparente que faltou à verdade quando disse que votou contra.
Além do mais contradiz-se. Invocou o facto de ter votado contra esse parágrafo, na votação prévia, para mostrar que votou contra a intervenção militar, reconhecendo assim que o parágrafo abria o caminho. Mas quando votou a favor da resolução final, que o continha, a intervenção militar desaparece, como se o parágrafo não constasse. Muito conveniente, mas inconsistente. O parágrafo é o mesmo nas duas votações. Só que a segunda era a definitiva e constituía a deliberação oficial da resolução do PE.
Confrontada com o facto, em vez de admitir o duplo erro, o voto a favor e a falta à verdade, tenta virar o bico ao prego e acusa quem foi coerente do princípio ao fim. E fá-lo disparatando: afirma que o PCP decidiu legitimar o regime de Khadafi.
Sucede que a resolução não tratava de legitimar ou deslegitimar o regime de Khadafi. O que pretendia, ocultando-o demagogicamente, era legitimar a intervenção militar.
Como consta da declaração de voto dos deputados do PCP, disse Ilda Figueiredo na declaração de voto, “lamentavelmente, a Resolução do PE defende a intervenção militar, dado que não pode haver zona de exclusão aérea sem intervenção militar. Por isso, esta resolução, em vez de contribuir para uma solução pacífica, parece visar a preparação de actos de agressão, pelos EUA, a NATO e talvez da União Europeia, contra a Líbia, pelo que expressamos a nossa firme oposição a qualquer intervenção militar externa neste país.”
Aprovada a resolução, os acontecimentos seguiram exactamente o guião estabelecido pelos falcões da guerra. Uma semana depois, o CSNU decidiu a imposição da “zona de exclusão aérea” e as forças militares, já em estado de prontidão, iniciaram em dois dias os ataques.
Todos os problemas foram agravados e a Líbia mergulhou no inferno. O curso posterior dos acontecimentos, nomeadamente as vagas de refugiados que procuram atravessar o Mediterrâneo daí provenientes, são como pedras lançadas à cara da UE a recordar-lhe as responsabilidades na instabilidade, na guerra, na devastação e no colapso de um Estado agora muito mais falhado do que alguma vez o possa ter sido.
O controlo dos recursos naturais líbios foi o motivo fundamental da intervenção militar, que nunca teve como verdadeira preocupação o povo líbio, tal como a intervenção militar foi o motivo fundamental da resolução (aprovada por Marisa Matias), que nunca teve como verdadeira preocupação os direitos humanos.

Deputado do PCP no Parlamento Europeu

JORGE GUIMARÃES 

Mundo do xadrez lamenta a morte de jovem esperança russa da modalidade.
Ivan Aleksandrovich Bukavshin ETERI KUBLASHVILI/AFP




O mundo do xadrez está de luto com o precoce desaparecimento de uma das grandes esperanças do xadrez mundial, o russo Ivan Bukavshin, vítima de um derrame cerebral fulminante durante um estágio que estava a realizar na localidade de Tolyatti, em conjunto com alguns outros elementos mais cotados da nova geração.
O jovem, que aparentava boa saúde, ter-se-ia queixado na tarde anterior de dores de cabeça mas não teria dado demasiada importância, não solicitando apoio médico, o que acabaria por se revelar fatal.
Na sua curta carreira, Bukavshin sagrou-se campeão europeu de sub-12, sub-14 e sub-16 e era o actual campeão russo sub-21, repetindo em 2015 a vitória que já alcançara em 2014.
Ivan Aleksandrovich Bukavshin, nascido a 3 de Maio de 1995, na cidade russa de Rostov-on-Don, 950 kms a Sul de Moscovo, teve a sua iniciação na modalidade muito cedo, por iniciativa paterna, quando tinha apenas 4 anos de idade e, apesar de, inicialmente, não ter um interesse particularmente grande na modalidade, aos poucos ele foi-se desenvolvendo e aos 10 anos era já um dos melhores jogadores russos da sua categoria.
Em 2011 alcança o título de mestre Internacional e, apenas poucos meses depois, o de Grande Mestre, lançando-se decisivamente no caminho do sucesso. O ano de 2015 fora particularmente positivo, entrando pela primeira vez no "top-100" mundial, onde ocupava a 92.ª posição e o quinto lugar na hierarquia júnior, e tendo-se pela primeira vez classificado para a superfinal do campeonato russo, em que alcançaria 5 pontos de 11 possíveis, no confronto directo com os “monstros” consagrados da modalidade.
Sergei Karjakin, o detentor da Taça do Mundo e Peter Svidler, hepta campeão russo, foram dois dos seus compatriotas que expressaram a sua profunda consternação pelo precoce desaparecimento de um dos grandes talentos emergentes, a quem teceram rasgados elogios pela compreensão que já possuía das subtilezas estratégicas, pela criatividade e espírito combativo que manifestava.
A última participação de Bukavshin em provas internacionais ocorreu no final do ano, no encontro Nutcracker, realizado em Moscovo, onde uma selecção de jovens esperanças se confrontou com um grupo de veteranos jogadores da elite, tendo alcançado a segunda posição que partilhou com o ex-vice-campeão mundial, Boris Gelfand. O israelita manifestou-se chocado pelo trágico acontecimento, considerando que no seu encontro pessoal, para além de ter encontrado uma pessoa extremamente cordial, tinha-se também deparado com um grande talento natural que, sem dúvida, mais tarde ou mais cedo, o teria catapultado para a elite e talvez mesmo para a luta pelo título máximo. Ficará para sempre sem resposta até onde poderia ter ido este promissor jovem, ele que nem sequer tinha ainda optado pelo profissionalismo, encontrando-se também a frequentar a Universidade “Ural State Mining”, em Ekaterinburg.

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