terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Doutores, analistas e porta-vozes foram desmentidos

Só um funeral também enterrou a terceira força

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Canal de Opinião por Noé Nhantumbo

Durante alguns dias, a partir de 25 de Setembro de 2015, foram avançadas teses que apontavam para a existência de uma terceira força militarizada que estaria organizando e executando emboscadas contra AMMD e a sua comitiva.
Também foi dito que eram elementos da própria Renamo que estariam envolvidos nas tais emboscadas.
Uma das coisas que ficou evidente, na altura, foi a existência de um certo descomando ou a existência de mais do que um comando no seio da FADM/PRM. O comandante-em-chefe, PR parecia hesitar ou, pelo menos, não comandava as forças no terreno. A chefia parecia repousar nos mesmos que protagonizaram o ataque a Satungira. Mesmo que o actual PR fosse na altura o ministro de Defesa era notório que a proveniência do pacote de ordens residia noutro lado.
É facto que viveu-se algum tempo com um poder repartido entre o PR e presidente da Frelimo, até que a última reunião do Comité Central da Frelimo dissipou as dúvidas e trouxe o estatuído pela Frelimo para a mesa. Convém não esquecer que os estatutos da Frelimo preconizam que o seu presidente, quando simultaneamente Presidente da República, deve obediência à Frelimo.
Mesmo depois de regularizada a questão do poder na Frelimo e no Governo, as coisas não ficaram resolvidas, porque a poderosa Comissão Política da Frelimo continuou a ser a mesma de antes. Assim, pode dizer-se que o comando efectivo das FADM/PRM continua no mesmo lugar.
Não se trata portanto da existência de uma terceira força, mas sim de uma força que continuou a receber ordens do mesmo comando.
Que tenha sido sem conhecimento ou anuência do PR, isso é uma questão importante, mas que não iliba o PR do que as forças constitucionalmente sob o seu comando façam.
Compreende-se que existam problemas de transição de poderes e que, no nosso caso, seja mais complexo que em Repúblicas mais estruturadas.
Atendendo a que o processo que levou FJN ao poder tenha sido caracterizado por suspeitas, convulsões mesmo ao nível da Frelimo, não foi consensual que as coisas tenham seguido determinado rumo e não outro.
O que é deveras estranho, preocupante e perigoso é dar às coisas nomes que não tenham.
Quem fala de terceira força pode estar dizendo a verdade, mas desde o AGP que se conhecem duas forças militarizadas no país. FADM/PRM gravitando à volta da Frelimo de um modo ou de outro, embora abundem os que dizem que são forças constitucionais.
E as forças chamadas “residuais” da Renamo, que existem por não se ter efectuado a sua integração efectiva conforme o prescrito no AGP.
Os diferendos existem e há que saber resolvê-los de forma que sejam preservados os interesses nacionais.
Quando são figuras prominentes que se fazem ao palco para dizer alguma coisa inconsistente, isso arrasta muita gente, e algumas delas não se dão ao tempo de analisar a veracidade das afirmações.
Lourenço do Rosário é uma figura de relevo no panorama académico e sociopolítico nacional. Quando ele avança com teses relacionadas com a existência de uma terceira força emboscando AMMD pode ser a partir de dados concretos, mas os factos no terreno acabam por desmenti-lo, quando se fica a saber que um capitão das FADM morre e é enterrado em Zimpinga.
Esse mesmo capitão foi exumado e recentemente enterrado na sua terra natal. Onde está a terceira força aqui?
O que aqueles analistas apressadamente disseram aquando da emboscada de Chibata, um alegado rebentamento de pneus, jamais foi engolido pela maioria dos moçambicanos.
Teses, por mais inverdades que sejam, podem ser instrumentais para ganhar pão, cimentar posições e alavancar o futuro individual. Algumas das peças expostas pelas estações televisivas e jornais assim como a rádio denotam exactamente isso. Gente que quer aparecer e oferecer defesas de actos indefensáveis, com o visível objectivo de garantir a sobrevivência material.
Mas, quando se trata de figuras de relevo, é claro que existe cumplicidade estratégica.
Parece que, se antes havia sintonia com os detentores do poder, hoje há que mostrar serviço que garanta que determinado “status” continue existindo.
Estar encostado e continuar com costas quentes e aquecidas é vital.
Reconheçamos que estas mesmas pessoas, num passado recente, também apareceram vendendo inquéritos eleitorais que não se concretizaram.
Comentar, analisar são exercícios que comportam riscos, e obviamente que “quem anda à chuva molha-se”.
Houve analistas de renome e académicos que se enganaram e enganaram os moçambicanos. Seria muito interessante, bonito e indicador de hombridade e verticalidade que estes compatriotas viessem a público reconhecer que as suas avaliações e análises foram infelizes.
Assim como se exige que, a bem da governabilidade do país e da consequência política, se demitam e sejam exonerados os que possuem desempenhos sofríveis, Moçambique precisa de aumentar a faísca qualitativa dos seus académicos, analistas e outros fazedores de opinião.
Basta de mediocridade negocial, mediadores esgotados sem credibilidade, analistas de pacotilha e um Executivo de faz de conta.
Ao PR, a recomendação que os moçambicanos sentem é que ele precisa de redescobrir e reoxigenar a sua equipa de assessores.
Moçambique é Moçambique com todos os seus filhos e sem emboscadas. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 19.01.2016

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