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"O povo é o meu patrão", disse o novo Presidente de Moçambique
No dia 15 de Janeiro de 2015, faz hoje pouco mais de um ano, o MP – Mr. President, então eleito, Filipe Jacinto Nyusi, calou os cépticos, inflamou os seus sequazes e chamou atenção dos desinteressados com o seu discurso de tomada de posse onde defendia, em jeito de parangonas, que o POVO É O MEU PATRÃO (sic) – NOTA: Patrão dele e não meu!
Na verdade, conforme escreveu o Jornal português “Público” na sua edição daquele dia, “Filipe Nyusi prometeu um governo "prático e pragmático" para resolver "problemas e combater despesismo". Dirigindo-se à oposição, pediu unidade.”
Ora, ora, ora, não é que um ano depois, quando ainda choramos as feridas da crise que fez o dólar correr mais rápido que Ben Johnson, nadar mais rápido que Michael Phelps e chegar mais longe que Neil Armstrong, somos presenteados com a noticia do concurso público n.º 06/DNPE/DA/15, que saiu no suplemento de hoje, 19 de Janeiro de 2016, do Jornal Notícias (de Maputo), onde se comunica a adjudicação da aquisição PELO ESTADO de diversos veículos automóveis a outro tanto número de empresas já conhecidas de quem anda nesta coisa de análise da postura despesista do Estado.
Ora, isso não seria problema, até porque eu só tomei conhecimento graças à imparcialidade do Estado, em publicar as suas aquisições (pese embora ache que nenhum dos novos Ministros declarou os seus bens, mas isso é assunto para outros carnavais). O problema começa quando, ao lado de Mahindras, TATA’s, vemos o Estado a adquirir Ford Ranger (não a básica) Wildtrak, VW Touareg, Land Rover Discovery, Nissan Patrol, Range Rover Sport, e eufemisticamente as considerando como sendo viaturas protocolares de CAMPO… De campo? Espera ai!!!
Num país que não tem estradas, tem um dos mais deficientes (e ineficiente) sistemas de transporte do mundo, crianças sentam-se ainda no chão (como eu fizera, 25 anos antes) assistimos a pessoal médico (médicos, enfermeiros e auxiliares) sem salários, hospitais sem medicamentos, estamos a braços com uma seca sem precedentes que está a dizimar o gado do comum cidadão (ou seria melhor dizermos, do PATRÃO?), colheitas inteiras perdidas, enfim, um país dilacerado pela miséria, cortado de cima à baixo pela ineficiência económica, e é desta forma como se combate o despesismo? É desta forma que se vai conseguir unidade com a oposição?
Que carnaval fora de época é este, ilustre Senhores (aqui modero a linguagem quando falo directamente com as pessoas, para que não me acusem de ofensa ao seu bom-nome)? Será que é apenas isto que este bando de pacóvios que, como eu, votou em vós merece? Um belo de um cuspo para cima das cabeças? Será porque ainda faltam 4 anos para as próximas eleições, e lá o povo, o tal que devia ser patrão, já terá esquecido, quando se acercarem das suas cubatas, com peças de capulana, para fazer mucume ni vhemba com as caras rechonchudas do candidato, que seguramente contrastarão com o raquitismo dos eleitores por este andar? Será a certeza de que a camiseta, em tamanho descomunalmente grande para a ressequida e languida população, escrita na china, em português pouco corrente (diria até inexistente), para tapar as vergonhas que as presentes aquisições vergonhosas destaparão por largos anos, será a certeza de que esta camiseta vos dará o voto que vos leva a esta afronta ao bom-senso do comum do cidadão (o tal patrão)? Meus Senhores, (epah, esqueci, é ilustre Senhores), eu farei questão de não me esquecer. Nunca mais dou um cheque em branco a quem já me mostrou não saber usar essa faculdade.
O Prof. PLO Lumumba (procurem vídeos no Youtube) diz numa das passagens de um discurso “We live in a continent today, where (…) our young women are born attaining puberty cannot afford sanitary pads but our public servants have ipad which they do not know how to use”. Esta frase é sintomática do estado actual de África, onde a definição de prioridades é coisa para os Brancos fazerem e virem nos dizer.
Mas sinceramente, algo não vai bem na nossa consciência colectiva enquanto país e enquanto pais. Como é que um pai consegue explicar ao filho que ele, servidor público (não trabalho em nenhuma empresa que efectivamente produza riqueza) tem uma viatura do último grito, num país em que pessoas morrem nos bancos dos hospitais por falta de paracetamol? Por falta de soro fisiológico? Como explicam aos filhos isso? Ou fazem o jogo do avestruz?
Ou, vendo de outra forma, eu é que só vejo o mal nas coisas? Yah, pode ser: que mal tem o Ilustre Sr. ganhar mais um brinquedinho para o campo, que não conhecerá, se não, as dunas da Ponta d’Ouro? Que mal tem, o filho dele usar essa viatura (lá venho eu de novo com a minha inveja quanto aos filhos dos ilustres Senhores)…
Moçambique deve ser um país porreiro… eu é que sou pessimista. A avaliar pelo nível de vida dos empregados, Moçambique é o país mais porreiro do mundo. Imaginem o nível de vida do patrão que consegue dar um Range Rover Sport ao seu empregado. E reparem que não é ao empregado-mor. É para os mid managers, aqueles que são chefes, mas não são, porque existe ainda o dono do cão acima deles.
Vhadla Vhotche
José de Matos, Antonio A. S. Kawaria, Sic Spirou e 35 outras pessoas gostam disto.
23 comentários
Comments
Benny Matchole Khossa Adeus. Até para o ano
José de Matos Postagem 5 estrelas! Abraco!
Sandra C Manjate Coisas de vergonha
Joaquim da Costa Essas máquinas como carros protocolares de campo?????
Só num estado falhado como o nosso, para tamanha palhaçada. JC
Chil Emerson David Meteram agua...
Ramalho Edson Paris Agora comeca a aparecer na pratica o discurso do entar homen do primeiro tiro...Qual e o homen que nao roba trabalhando neste governo??????kkkkkkkkkkkkkkkkkk
Antonio A. S. Kawaria África está mal. Falta de seriedade, de cometimento. Mas a questão não é dos seus dirigentes, senão do tipo de cidadãos.
Pedro Miguel Vhakitih, Vadlha votche.
Pedro Armando Muito triste....
Essa publicação cobrirá/substituirá a sua ausência. LEMBRE-SE
Abraços Benny....
Nelson Nhamuave Triste e lamentavel.
Laura Nhacume Realmente è lamentavel...
Cléo Morgan Mafu Os supostos patroes andam de 'my love' e eles em carros de luxo. Alguns ministros viviam em hoteis. É assim q pretendem conter gastos?
Mauro Ferreira Vou processar-te...não podes invadir a minha mente e ejacular os meus pensamentos, a unanimidade é burra sim, mas não podemos negar o óbvio
Dino Foi Tem de ser publicado num jornal, este texto não pode morrer nas redes sociais Benny Matchole Khossa.
Jerry Revelador Fonseca Welcome and goodbye. A leitura desta postagem devia ser obrigatória em rádiod e tv's em alto e bom som.
Nadia da Silva Com que então o meu amigo Benny Matchole Khossa some maningue e quando regressa vem com uma destas!?
Vou começar a ter medo desse teu sumiço irmão
El Patriota Na mosca! Para terminar eu diria: DEMITAM-SE
David Colaco Ribeiro Palmas para ti Benny Matchole Khossa...bem dito e bem escrito. Quem assim escreve, não é gago. Como disse mano Dino Foi, este texto não.pode morrer no facebook.
El Patriota Matias De Jesus Júnior. Há um texto oportuno aqui. Vinde e vede!
Lúcio T Langa Acho que esses carros tem multipla função. Devem puxar charua e fertilizar nas machambas, ja que agricultura é prioridade.
David Colaco Ribeiro Parece que o nosso Governo não gosta das boas práticas. Ao invés de copiar o exemplo da Tanzânia não...vão copiar modelos de governação de sei lá de onde?
Luis Nhachote Um texto eivado de altos indicies de exercício de cidadania activa. O direito a indignação deve ser exercido. Well done.
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