Supremacia policial jamais foi sinónimo de poder
Essa de que a força e o medo da força resolvem problemas já foi tentada de 1974 até 1992. A obstinação e a arrogância acabam por ser más conselheiras, porque impedem de ver e escolher o mais razoável, racional, justo e apropriado para resolver os problemas que temos.
As manobras de manipulação da opinião pública, por mais bem elaboradas que sejam, acabam por se revelar incompletas e inúteis para os fins desenhados.
Atacam, emboscam, cercam sedes de partidos políticos, saqueiam e incendeiam sedes de opositores, numa estratégia de asfixia lenta, para a decapitação final feita por vias legais através de órgãos constituídos e integrados por gente que é lhes simpática. Por conveniência, chamam a isso democracia, mas é claramente falso e grotesco.
Montaram um Estado fascista à sua maneira, onde o que vale é a obediência cega aos chefes distribuídos a dedo pelo território nacional. Montaram lavandarias de dinheiro denominadas bancos, e, através dos negócios do Estado, enriqueceram e fizeram-se potentados rodeados de milhões de pessoas vivendo na mais indigna indigência.
E depois, quando comunicam com os seus concidadãos, cantam histórias de sucesso que jamais existiram. Décadas no poder produziram “empresários de sucesso”, que acontece coincidirem com os seus próprios filhos.
É este espectáculo macabro que importa parar e erradicar com todos os meios à nossa disposição.
A esperança de vermos e termos um Moçambique de que os seus filhos se orgulhem depende do que façam não só os políticos no activo, mas também a generalidade dos moçambicanos. Cada um de nós tem talento e vontade própria. Sempre foi arma dos ditadores embrutecer a população, para daí sacar proveitos.
Os que dizem e impedem com artifícios que a crise política instalada se resolva por meios pacíficos são os mesmos que, empoleirados no poder, se “empoderaram” ilicitamente.
Não é assim tão difícil de ver a causa de tanta teimosia e relutância e admitir que emendas constitucionais são a ordem do dia para que Moçambique retome e retorne para caminhos de paz e concórdia.
É demasiado difícil acreditar que tanta mente educada e informada alinhe por caminhos que podem muito bem trazer mais um conflito fratricida. O poder é importante, mas quando exercido sem legitimidade e consensualidade, transforma-se em fonte de conflitos.
Ninguém advoga nem pretende que o país se torne ingovernável nem que o caos tome conta da situação. Mas é patético invocar razões constitucionalmente inválidas para cercar a sede de um partido na capital do país.
Quando se “brinca com fogo, acaba-se chamuscado”. Se alguém se lembra, as hostilidades dos “18 meses” começaram com o cerco de sedes.
Esta IV República está tendo um começo atribulado, cheio de incertezas quanto ao rumo pretendido.
Revela-se repleta de assessores que ainda não provaram que sabem o que estão fazendo. Muito puxa-saco ostentando títulos e usufruindo de chorudos salários já deveria ter visto que a via da confrontação é contrária ao interesse nacional. Por outro lado, enquanto não houver uma demarcação entre a agenda presidencial e a agenda de outros poderes existentes na Frelimo e nas Forças de Defesa e Segurança, continuaremos a ter e assistindo a acções vergonhosas por parte de quem deveria estar empenhado na defesa e segurança do país.
Há que tirar espaço aos instigadores da guerra. Há que travar tentativas insensatas de incendiar o ambiente político nacional.
Instalada a desconfiança entre as partes em litígio, seria importante ver liderança das partes, no sentido de criarem pontes e não desistirem do único caminho viável e sensato. Qualquer que seja a guerra que aconteça, acabará na mesa de negociações, como a História já o demonstrou.
Há uma questão que importa repetir quantas vezes sejam necessárias, RESPEITO entre compatriotas deve ser algo tangível. Só com isso se pode construir a moçambicanidade que está faltando a olhos vistos.
Quando de alguns segmentos se ouve falar de visões dominadas por possibilidade de criar algo com bases na etnia, denota falhanço no projecto de criação da nação. E quando se vêem segmentos historicamente ligados ao poder relutantes em abrirem a possibilidade de ser oposição, uma vez derrotados nas eleições, isso alimenta agendas secessionistas, num processo turvo e cheio de oportunismo político.
Um país ganha passos e cresce quando seus políticos aprendem a conviver respeitando-se, e nós estamos errando nesse aspecto. Apresentam-se assuntos como se fosse uma questão de inimigos, quando, na verdade, não passamos de adversários políticos.
A nossa diversidade e a maneira como cada um interpreta os factos não nos faz inimigos uns dos outros.
Ninguém é mais puro ou dotado do que outro moçambicano, como alguns vociferam por aí.
Dialogar, ceder, transigir e deixar retóricas esfarrapadas para a História é o que cada um deve assumir como caminho a seguir.
Mas construir as bases da continuação do diálogo vai requerer que se removam os promotores da discórdia para os “canis” de onde não deviam ter saído.
Nossos doutores, especialistas, analistas, clérigos, tragam o vosso saber para a mesa, mas que seja sem sectarismos nem imposições. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 06.01.2016
Do dogma da revolução desconseguida às emboscadas
Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Um caminho de repressão repleto de intolerância
A nossa situação neste belo e empobrecido Moçambique segue os contornos da sua génese. Uma República fundada ou proclamada sob o signo do decalque puro e simples de experiências mais ou menos falhadas de outros no chamado mundo socialista da altura evidenciou-se desde os seus primórdios num modelo de intolerância que se foi enraizando.
Com a intolerância reinando, era relativamente fácil ir experimentando e impondo os pontos de vista daqueles que se tinham como iluminados, mas que essencialmente eram os que exerciam o poder discricionário.
Eles pensavam, ordenavam e mandavam executar seja o que for que julgassem apropriado.
Muitos foram os termos enxertados ou importados, mas quase sempre era para consumo da populaça e nada para ser compreendido.
Eram dogmas de cumprimento obrigatório transformados em linha política dita revolucionária.
Logo que se começou a verificar uma contestação consistente e organizada a este modelo de República, vimos uma guerra civil eclodindo e um regime endurecendo os seus procedimentos para conter a rebelião. Mas esta era uma rebelião já anunciada e que teve as suas causas no tratamento que os dissidentes recebiam durante a luta armada anticolonial. Quando na Frente de Libertação de Moçambique começou a ser proibido ter opinião e se começou a rotular uns de revolucionários e outros de contra-revolucionários e reaccionários, estava encontrada a fórmula da exclusão com a intolerância adstrita.
Qualquer regime político tem direito de defender-se, mas quando a defesa é feita coarctando os direitos políticos e económicos de cidadãos, entra-se numa rota de colisão que aliena pessoas e torna tal regime numa ditadura.
Os que se arvoravam em revolucionários e detentores da verdade desnaturaram-se ao longo do processo, e hoje mostram de maneira irrefutável a sua verdadeira face.
Matou-se compatriotas em nome de supostas ideologias que hoje verificamos serem tambores vazios.
Antes de uma luta ideológica em defesa de um regime que tinha o povo no centro da sua agenda, somos obrigados a constatar que tudo se resumia ao exercício do poder para benefício próprio. O desdobramento das fortunas no país, a opulência de uns poucos em contraste com a indigência de milhões atesta quanto se mentiu em nome de um povo que continua vendo os seus filhos sentados no chão nas escolas espalhadas um pouco por todo o país. Ao mesmo tempo, os “queridos filhos” da elite detentora do poder são enviados para as melhores escolas do estrangeiro.
Isto, em si, demonstra o falhanço dos nossos “revolucionários”.
Chegados aqui e num quadro prenhe de condições para a eclosão de uma nova guerra civil, vemos uma ofensiva mediática para continuar a negar-se a milhões os seus direitos políticos e económicos.
O voto é roubado e anulado, quando se mostra que a derrota chegou para os que se julgavam “únicos e eleitos divinamente” para governar perpetuamente Moçambique.
A terra, que se dizia que era uma das causas da luta de libertação, é expropriada e entregue a “joint-ventures” constituídas pelos “revolucionários e libertadores” em associação com corporações estrangeiras. O camponês cantado é positivamente corrido e expulso da terra onde sempre viveu e cultivou, alegadamente para instalação de projectos que lhe darão trabalho e segurança. Nenhum camponês Moçambique pediu desenvolvimento ou algo que se pareça.
O camponês moçambicano não pediu favores nem caridade.
Não é preciso ter muita ciência para certificar que os “revolucionários e libertadores” se transformaram em negociantes de terras que diziam ser do Estado. Negociaram concessões ferro-portuárias em proveito próprio. Estabeleceram parcerias público-privadas onde o Estado ficou endividado e os privados enriqueceram.
Num “travesti” de democracia, até conseguiram inquinar o “procurement” eleitoral, e depois reclamam que os outros querem ferir a ordem constitucional. Aquisições de “software” e de material de votação são domínio exclusivo deles, e todos os outros têm de aceitar.
Isto é ditadura pura e simples. Jamais foi democracia, e há muita gente “iluminada” defendendo que a maioria dos moçambicanos tem de continuar a “engolir sapos”.
Se a revolução apregoada não vingou, é bom saber que as emboscadas também não vingarão. O abuso da força policial para limitar as actividades políticas da oposição política também não vingará.
Algo que poderia ser resolvido com rapidez e no interesse de todos pode tornar-se num problema de solução complexa e demorada.
A eliminação física de opositores políticos não vai abrir as portas da paz nem do desenvolvimento do país.
Também aclarar que qualquer guerra que ecloda em Moçambique será em detrimento da posição e da oposição e em benefício directo dos fornecedores de armas e exploradores dos recursos naturais estratégicos do país por eles.
Os moçambicanos anseiam que 2016 seja aquele ano em que irmãos desavindos entendam definitivamente que podem e devem compartilhar Moçambique em pé de igualdade e sem complexos de qualquer natureza. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 07.01.2016
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