O professor não se cala!
Castel-Branco diz que os três pré-candidatos da Frelimo são a continuação do actual regime (#canalmoz)
Maputo (Canalmoz) – O académico e ex-director do Instituto de Estudos Económicos e Sociais, Carlos Nuno Castel-Branco, juntou-se à corrente de opiniões que defende que os três pré-candidatos da Frelimo avançados pela Comissão Política não representam alternativa para tirar o País do “caos” em que se encontra, por representarem exactamente a continuação do actual regime liderado por Armando Guebuza.
Numa opinião publicada na sua página do Facebook, Castel-Branco exorta aos membros do Comité Central que não estão de acordo com os três nomes avançados para que “tenham a coragem e a dignidade de se pronunciarem abertamente, de escolherem e apoiarem alternativas reais e de votarem com a vossa consciência”, porque na opinião daquele reputado académico “o futuro do Partido e do País, pelo menos a curto e médio prazo, depende da decência, coerência, coragem e pensamento para além do umbigo”.
Eis a seguir a opinião do Prof. Castel-Branco na íntegra.
Sobre as propostas da Comissão Política da Frelimo para candidatos a candidatos presidenciais pela Frelimo:
Desde que foram anunciados os nomes dos pré-candidatos da Frelimo (candidatos a candidato da Frelimo para as eleições presidenciais) o debate no facebook não tem cessado. Por um lado concordo que as três figuras não parecem representar alternativas ao figurino actual. Se há uma opinião próxima de consenso, é que este G3 não serve. Por outro, concordo que embora a Frelimo, como qualquer outro partido, seja soberana para fazer as suas escolhas, o seu peso político na sociedade faz com que essas escolhas tenham um impacto que vai muito para além do partido e afecta, ou pode afectar, a vida de milhões de pessoas. Portanto, é normal que as pessoas se preocupem.
No entanto, gostava de chamar a atenção para 5 aspectos. Primeiro, estas não parecem ser escolhas da Frelimo. Da Comissão Política são, mas a Frelimo não se limita à sua Comissão Política. A disciplina partidária pode impor estas escolhas ao resto do Partido, do mesmo modo que insatisfação com o estado da Nação pode levar o resto do partido a querer alternativas que melhor o credibilizem e permitam trazer ar fresco e ideias novas para a governação do País.
Segundo, o comportamento e actuação das pessoas também depende do contexto e, portanto, não é imutável. Será tão importante discutir e influenciar a escolha das agendas e métodos de governação como será influenciar a escolha das pessoas.
Terceiro, se Guebuza continuar na liderança do Partido e o Partido concretizar a sua intenção de controlar as acções dos seus membros titulares de cargos públicos, as possibilidades de mudança serão muito poucas. Portanto, além de discutir quem o substitui como candidato a presidente da República, é preciso garantir que o Presidente da República de facto o seja, e não apenas um pau mandado de Guebuza ou do Partido.
Quarto, qual é a agenda de governação? Mais guerra, mais crime, mais corrupção, mais polícias, soldados, juristas, parlamentares, governantes e funcionários com excesso de zelo? Mais relatórios falsos, arrogância e placas a comemorar a passagem do filho mais querido e da primeira-dama por um certo sítio? Aliança mais forte entre o Estado e o grande negócio corporativo à custa do povo? Mais desprezo pelos que trabalham, andam a pé, usam serviços públicos cada vez mais decadentes e incapazes de servir o público e não têm emprego? Se for esta a agenda, para quê mudar? Discutir a agenda é mais importante do que discutir a pessoa A ou B.
Mas, em minha opinião, o ponto mais importante é o seguinte: nós não podemos, eternamente, limitar as grandes opções do nosso País à Frelimo e às suas decisões. Temos que criar alternativas que façam sentido, que tenham substância e que de facto ofereçam alternativas - de visão, de ideias, de programas, de estilos e métodos de governação. Não podem ser só emblemas/bandeiras/faces alternativas em quem votar, mas a substância tem que ser clara e de facto alternativa e progressista. Estamos a perder tempo analisando, reanalisando, sobreanalisando, desesperando e chorando sobre as decisões que a CP da Frelimo, soberanamente, tomou. O que devemos estar a fazer é organizar as alternativas na sociedade (ou no Partido, para quem for membro do partido). Ninguém é obrigado a gostar e aceitar as decisões da CP da Frelimo, do mesmo modo que a CP da Frelimo não é obrigada a mudar as suas decisões e processos porque uma parte da sociedade (ou do Partido) não gosta deles (desde que não Seja uma clara, consciente e identificável maioria).
Para quem não tiver gostado da lista de 3 pré-candidatos, a forma mais prática de evitar que qualquer um deles se torne PR é gerar alternativas melhores, com substância, progressistas, que captem a imaginação do povo, e que possam ganhar ou, pelo menos, ficar tão perto que ponham pressão efectiva e competente na governação de quem tiver ganho, assim obrigando a melhorar a governação. Para os membros do Comité Central da Frelimo que não gostem de nenhum destes três - e espero que haja muitos - tenham a coragem e a dignidade de se pronunciarem abertamente, de escolherem e apoiarem alternativas reais e de votarem com a vossa consciência. O futuro do Partido e do País, pelo menos a curto e médio prazo, depende da vossa decência, coerência, coragem e pensamento para além do vosso umbigo.
É possível mudar, se começarem agora a trabalhar a sério. A vitória organiza-se e prepara-se. Há uma outra frase, menos conhecida, mas igualmente importante, que diz o seguinte: planificação conjunta, actuação dispersa.
Nenhum partido foi, é ou será o destino eterno de uma sociedade inteira. Os melhores partidos são parte do destino da sociedade, mas não são o seu destino. Não sejamos nós a reproduzir Guebuzite ou Frelimite em Moçambique. Moçambique é de todos os seus cidadãos, e não apenas dos que por qualquer razão detêm o poder político e económico agora. A mudança está nas nossas cabeças, corações e mãos, e não apenas nas palavras dos que não querem mudar nada.
O segredo da felicidade é a liberdade, e o segredo da liberdade é a coragem e dignidade.
"Tudo é considerado impossível, até acontecer" (Nelson Mandela). (Carlos Nuno Castel-Branco)
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