Sempre o ano chega ao fim, as pessoas fazem o balanço, para avaliar o que de bom, de mau e de pior aconteceu; aprender com as lições e preparar-se para o ano seguinte.
Como sociedade, como país, 2015 foi para mim, o ano conturbado. E será o mais conturbado da governação do Presidente Nyusi. Explico porquê:
Primeiro, por causa do diferendo pós-eleitoral, opondo a Renamo e o Governo. Levamos onze longos meses tentando encontrar soluções que se ancoram na desmilitarização da Renamo, na reconciliação nacional e na integração dos homens residuais da Renamo. Todas as soluções propostas e consensos alcançados não foram suficientes para alterar o status-quo, caracterizado pelo acirrar das posições, perseguições e mortes por motivações políticas bem como uma linguagem violenta de (des)qualificação do outro. Lá mais a frente, voltearei ao tema, mas notarão que deixei de lado a questão da legitimidade do novo governo saído das eleições pelo facto de na prática todas as partes beligerantes reconhecerem e trabalharem como tal: de um lado governo e do outro partido na oposição.
Segundo, apesar de a luta contra a corrupção e despesismo ter sido anunciada, nenhum gatuno foi a cadeia muito menos houve consequências para os autores da actual crise económica que vivemos. Todo moçambicano tem a mínima ideia de que foi roubado descaradamente pelo anterior regime e que o presente governo encontrou os cofres vazios. Quando alguém não age no sentido contrário, a dificilmente pode pensar-se ao contrário senão conivência ou impotência em agir. É verdade que a economia não se cura com detenções, mas se tal tivesse acontecido este governo teria a simpatia do seu povo. Ainda neste ponto, importa recuperar a figura dos “veto players”, (acotres que no actual cenário político têm o poder de “veto” sobre determinados assuntos e que por isso balcanizam os esforços de Paz e reconciliação político-económica da governação de Nyusi. O que estou a dizer é consensual entre conceituados cientistas políticos moçambicanos tais sejam José Jaime Macuane, Miguel de Brito, Luis de Brito, João Pereira, Salvador Cadete Forquilha, Nobre Canhanga, Manuel Araújo, Alberto Ferreira ou mesmo Severino Ngoenha.
Ora, o próximo ano e os anos seguintes serão para este governo menos difícil, uma vez que pior do que isso, não estaremos. Mas para tal, actos concretos deverão ser levados a cabo. Estou a falar de trazer ao controlo a economia, encontrar as necessárias saídas políticas no diferendo Renamo-Governo e alargar o diálogo social; abrir a economia à competição interna e aplainar o terreno para que cada moçambicano viva da sua inteligência e esforços. Nenhum moçambicano esquecerá tão depressa a anterior governação se o actual governo não tratar pelo menos as feridas deixadas por aquele. Tal implica igualmente alargar o acesso às instituições e aos órgãos, pessoas combatidas pelas ideologias do apartheid.
UM OLHAR PARA A OPOSIÇÃO
Ao longo dos vinte anos da nossa democracia notamos que em processos eleitorais, os diferendos eleitorais prevalecem e alastram-se por longos períodos de tempo. Isto tem custos económicos que urge quantificar. Mesmo sem fazê-lo, já dá para perceber que se almejamos sair do buraco em que nos encontramos, devemos manter este país longe de turbulências político-militares. Esta é a obrigação de quem governa. E a Frelimo, porque quer governar, DEVE resolver este problema de uma vez por todas sem o mínimo derramamento de sangue.
Enquanto a Frelimo manter instituições fracas para lhe beneficiar; permanecer tolerante à corrupção e desvios comportamentais dos servidores do estado ou continuar a construir e a fortalecer o que Professor Adriano Nuvunga chamou por “cartel da elite” muito dificilmente conseguirá passar a mensagem da sua justiça. Muito dificilmente terá do seu lado, o povo para lhe dar o necessário apoio. É que o povo precisa de uma base moral concreta, a partir da qual lhe ajude a fazer eco aos apelos do governo contra o que for.
• O povo não concebe como o governo acusa a Renamo de militarista quando são as forças armadas na linha ofensiva
• O povo não percebe como a Renamo deve desarmar quando o que lhe mata não são as armas mas a corrupção, o roubo descarado dos titulares de cargos de governo
• O povo não irá a luta enquanto não perceber porquê é que não se oferecem as necessárias condições para a integração dos homens residuais da Renamo
• O povo não irá alinhar no discurso anti-Dhlakama quando esteve claro que por três vezes tentaram mata-lo
• O povo não vai aderir ao discurso anticorrupção quando sabe que os graúdos nunca serão presos
• O povo não vai entender as mensagens de austeridade e produtividade quando vê todos os dias os titulares de cargos públicos abusarem dos recursos do estado para fins privados.
Enfim, se eclodir a guerra, o governo jamais ganhará a Renamo porque lhe faltará o necessário apoio do povo para consentir os sacrifícios necessários. Foi assim durante a luta armada de libertação nacional foi assim durante a guerra civil, assim será enquanto insistirem num método misto de arma e diálogo.
Todavia, é também urgente reflectir sobre porquê a Renamo é o único movimento que tanto “resiste” à conformar-se com a fraude. Por outro lado, importa fazer outro tipo de pergunta: Porque esta resistência não tem aliados de outros partidos de oposição? Será porque todos eles andam “mancomunados” com o regime? OU será que a Renamo não gosta de os ter como aliados? Será que a Renamo quer sozinha partilhar o poder, tal como umas e outras individualidades já avançaram?
Das duas, uma verdade: ou a estratégia da Renamo é má/exclusivista ou de facto, a oposição fora da Renamo é de facto cobarde.
De uma ou de outra maneira, o sistemático falhanço das estratégias de resistência da Renamo sugerem que ela não é suficientemente aglutinadora e abrangente para apelar outros sectores da sociedade a aliar-se a ela; ou porque os instrumentos usados não são de domínio de todo; ou porque a linguagem é invulgar ou mesmo porque a própria Renamo quer e gosta de levar sozinha esta guerra de resistência. A verdade porém é que é tempo de a própria Renamo reflectir profundamente se quer caminhar sozinha, continuando com o modus operandi ou quer ter ao seu lado, pessoas físicas, partidos políticos físicos e não apenas vontades bem como as massas. A verdade é que os últimos vinte anos provaram que a forma como ela luta não traz sucessos, pelo menos, os almejados e muito rapidamente é abandonada pelo grande público. É hora para reflectir e mudar de táctica. Aqui vao algumas sugestões:
• Alargar o diálogo político entre partidos políticos da oposição para que a Renamo lidere uma ampla frente oposicionista, consensualizada em torno de causas especificas
• Melhorar a sua influência no seio da opinião pública alinhando as suas mensagens aos principais grupos de interesse
• Sempre que possível, alinhar as suas mensagens com as da bancada do MDM ao nível do parlamento
• Multiplicar as suas iniciativas inspectivas ao nível do parlamento e fora dela, com a inclusão de outras frentes.
A mensagem, no fundo, é a seguinte: Se a Renamo quiser provar e demonstrar como se faz a inclusão, ela deve trabalhar com toda a oposição em actividades que assim atestem. E deve transmitir este calor à Frelimo, provando que governando, ela é capaz de trazer a inclusão. A flutuação de posições políticas de partidos de oposição extraparlamentar e até do MDM sugere que a Renamo não está assumir o seu papel dirigente na política oposicionista. E assim, outros actores, porque devem sobreviver, vão preferindo trabalhar com outros sectores, inclusive do governo.
O segredo de uma oposição viável reside na sua capacidade de se apresentar resoluta em desmobilizar o partido no poder. Tal implica construir consensos em torno de uma alternativa que se apresente coerente e convincente em toda sua actividade oposicionaista.
Sou da opinião de que se a Renamo esquecer por uns instantes a actual estratégia de resistência e concentrar-se na mobilização da elite oposicionista; dos grupos de interesse, dos marginalizados, dos partidos políticos da oposição sérios, da sociedade civil, da mensagem, da formação, da comunicação política, da organização de base e das próximas eleições municipais, pode, a breve trecho, augurar desmontar a Frelimo no poder. Manter grupos armados e instrumentalizar a violência deve e é muito caro e não deixa tempo para mais nada. Os militares porque andam escondidos não votam; eles também não podem se fazer presentes nas mesas. Por outro lado, sem organização e consenso do lado da oposição, dificilmente a Renamo pode avançar sozinha. Já tentou, mas não foi possível. Se isto o que digo não serve, então pelo menos uma sugestão: como racionais, quando insistimos numa estratégia que sempre falha, ou mudamos da estratégia ou paramos para reflectir. Julgo que esta reflexão, este tempo de reflexão, pode ser útil até para os moçambicanos.
Se me permitir, sugiro que o ano de 2016 seja ano para todo povo moçambicano reflectir profundamente sobre a sua sorte….EM PAZ. Este é o único motivo que me leva para 2016.
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