segunda-feira, 2 de novembro de 2015

População de Malema promove escaramuças devido à cólera


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Destaques - Nacional
Escrito por Leonardo Gasolina  em 02 Novembro 2015
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A vila municipal e sede do distrito de Malema, província de Nampula, viveu momentos turbulentos, caracterizados por escaramuças, destruição de casas e vandalização de um carro da Polícia da República de Moçambique (PRM), há dias, facto que culminou com a detenção de um número não especificado de cidadãos, supostamente porque a população não percebe por que razão as comunidades são assoladas pelas diarreias agudas, o que mais tarde foi confirmado como sendo cólera.
O caos naquele ponto do país começou quando um grupo de pessoas se dirigiu à casa do primeiro secretário distrital do partido Frelimo para alegadamente pedir esclarecimentos sobre a eclosão da doença cuja causa é a falta de higiene individual e colectiva, para além do deficiente saneamento do meio nas zonas residenciais.
Quando os visados chegaram à casa do militante do partido no poder, segundo apurámos, exigiram detalhes sobre as causas da cólera que já afectou mais de 120 pessoas, tendo matado pelo menos três delas. Por alegada falta de explicações, o representante da Frelimo manteve-se calado. Na sequência, o grupo exigiu que o secretário aceitasse que se fizesse uma vistoria na sua habitação, pois acreditava-se que ele sabia de qualquer coisa sobre a enfermidade.
José Adriano, um dos cidadãos entrevistados pelo @Verdade, contou que a população acredita que há um produto que tem sido espalhado pelas comunidades, à noite, com o propósito de disseminar a cólera.
Não tendo nada a esconder e para sossegar a multidão, o secretário permitiu que o seu domicílio fosse inspeccionado mas, antes de se proceder a tal vistoria, a PRM fez-se ao local, onde, em vez de dispersar a população, pôs-se aos tiros e protagonizou agressões físicas, mas ninguém abandonou o sítio. Pelo contrário, gerou-se violência.
Munidos de instrumentos contundentes, dos quais paus e pedras, o grupo atacou os agentes da Lei e Ordem, tendo ferido alguns polícias e outros puseram-se em fuga para escapar à fúria popular, de acordo com informações fornecidas à nossa Reportagem. O carro da PRM foi danificado.
Alberto Henriques, outro residente na vila de Malema, disse à nossa Reportagem que a esposa do secretário da Frelimo foi também vítima de agressão física perpetrada pela multidão, que, inclusive, se dirigiu ao Comando Distrital da PRM para exigir esclarecimentos sobre a sua “intromissão” no assunto.
Dada a incapacidade de os agentes da Lei e Ordem amainar os ânimos, estes tentaram esconder-se nas casas dos secretários dos bairros, o que fez com que as habitações destes líderes fossem deitadas abaixo, segundo Henriques. Consta ainda que a população pretendia destruir as instalações da Polícia em Malema, mas a intenção não se concretizou porque os agentes da Lei e Ordem que se encontravam no local responderam a tiro, com o apoio da Polícia Municipal.
Um professor da Escola Secundária Eduardo Silva Nihia, cujo nome omitimos a seu pedido, disse que a atitude da multidão se deve à desinformação sobre as diarreias e cólera em Malema. Na sua opinião, o governo local deve criar formas de contrapor a desordem e difundir as boas práticas em relação à enfermidade em questão, para que as pessoas saibam que elas mesmas é que a causam quando não observam as regras de higiene.
O docente lamentou o facto de algumas escolas terem interrompido as aulas em virtude das escaramuças, pois o alunos tinham medo de serem surpreendido durante as lições.
Enquanto isso, no distrito costeiro de Mossuril, um secretário de um dos bairros foi morto por linchamento, alegadamente por estar ligado ao fenómeno de “chupa-sangue”, um boato que tem estado a agitar Nampula. Naquela parcela do país alguns estabelecimentos de ensino foram encerrados por receio de vandalização.
O porta-voz do Comando Provincial da PRM em Nampula, Sérgio Mourinho, confirmou os problemas a que nos referimos e apelo à população para não se deixar levar pelos boatos propagados por pessoas de má-fé nas comunidades.

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