PENSEI bastante antes de escrever-lhe esta carta. Enfrentei um dilema que consistiu em pensar como o líder da Renamo interpretaria este meu singelo gesto. Faço esta minha carta no âmbito da liberdade de expressão e opinião que o nosso ordenado jurídico moçambicano permite.
Sou um leitor assíduo de quase todos os jornais importantes publicados no nosso país, bem como assistente infalível das principais notícias nas várias televisões do país e do mundo em geral. Não costumo falhar a transmissão de debates quer nas rádios quer na televisão. Converso muito sobre política feita no nosso país com diversas sensibilidades.
Desde a assinatura dos acordos de paz em Roma, Itália, o senhor Dhlakama saiu das matas onde permaneceu dezasseis anos e passou a ser aceite pelo povo bem como o seu partido Renamo está a fazer política como os demais partidos existentes em Moçambique. A Renamo, o seu partido, é o segundo mais votado desde as primeiras eleições multipartidárias e, a Frelimo e o seu presidente declarados vencedores de acordo com a vontade popular depositada nas urnas.
Senhor Dhlakama. Eu até compreendo as suas inquietações nas diversas fases da sua luta mas, olhando para a sua trajectória, para a sua idade, para o actual contexto político nacional e internacional, quero lhe sugerir o seguinte:
1.Abandona a sua maneira de pensar porque a mesma só prejudica a si mesmo. Já não tem idade para constantemente estar nas matas que um dia até pode ser atingido por uma bala perdida; os dezasseis anos de guerra deixaram muitas armas em mãos alheias; o senhor merece gozar a vida como eu. Que eu saiba, o senhor tem um bom salário, por isso, pegue na sua família e vai as praias de Inhassoro, Vilankulo, Závora e, por que não atravessar a fronteira com o seu carro para Malalane e Nelspruit; Visita Mole, na África do Sul para curtir a vida. Falo por experiência própria pois tenho 59 anos de idade e não desperdiço a oportunidade de “mapandzar” sempre que posso.
2.Senhor Dhlakama, acho que as razões que o levaram a guerra já estão ultrapassadas. O país hoje está a desenvolver, as crianças já estudam, os moçambicanos já desfrutam das riquezas do seu país, o que é preciso mais?
3.Os desafios do país são cada vez mais crescentes, mas o tipo de luta que se deve desenvolver para mudar as coisas não é mais com as armas. Um dia, seguramente, pode vir a ficar sozinho na sua luta. Deixe que o desenvolvimento produza novos guerrilheiros económicos e sociais em Moçambique. Temos como exemplo os presidentes Joaquim Chissano e Armando Emílio Guebuza. É uma grande lição de democracia.
4.O objectivo da minha carta é apenas de lhe chamar à consciência (não pertenço a nenhum partido) no sentido de repousar e gozar a vida.
O senhor já faz parte da história de Moçambique. As gerações vindouras irão ler o seu nome na nossa história. Não confie nos homens. Thomas Hobbes chama atenção para a natureza selvagem do homem. Os homens são lobos vestidos de cordeiro. Os seus guerrilheiros, pessoas que são, um dia poderão deixá-lo sozinho para serem eles a desfrutarem de tudo que lhe sugiro. Aproveite agora que o ambiente está favorável para si. Não se preocupe com o orgulho pessoal e deixe que as pessoas falem o que quiserem. Entregue e mande entregar todas as armas que os seus homens ainda têm em mão e vai a reforma e desfrute do descanso merecido.
Quero segredar-lhe uma coisa. Eu até estou a procura de uma ocupação remunerada, me prontificando por isso a servir de seu guia para diversos lugares de lazer existentes cá em Moçambique, na África do Sul, Brasil e por que não em Cuba? Julgo que vai gostar mesmo e vai me agradecer.
Custódio Francisco Faiane
População de Zimpinga diz que não incendiou viaturas da Renamo
Emboscada do dia 25 Setembro
A população de Zimpinga (próximo de Amatongas – Estação), no distrito de Gondola, província de Manica, nega ter sido ela a incendiar as viaturas da Renamo, depois de as forças do Governo tentarem assassinar Afonso Dhlakama, no atentado do dia 25 de Setembro. A população diz que o Governo é quem sabe quem de facto incendiou as viaturas da caravana da Renamo.
Os residentes na zona exigem a remoção das carcaças das viaturas.
Segundo eles, ouvidos numa breve visita do CANALMOZ a Zimpinga no passado sábado, a permanência das carcaças cria-lhes fantasmas dos episódios vividos naquele dia de tiroteio.
Fernando Raúl, residente em Zimpinga, disse que a vida voltou à normalidade, mas vivem com fantasmas de guerra enquanto as carcaças dos carros queimados não forem removidas da estrada.
“Temos medo devido a estas carcaças. Pedimos à Renamo e ao Governo para virem remover”, disse Fernando Raúl.
População não incendiou os carros
Manuel Lázaro, também residente em Zimpinga esclareceu que não foi a população que queimou os carros da Renamo.
“Peço a vocês para falarem a verdade. Aqui foram queimados muitos carros. Não é verdade que nós é que queimámos os carros. É mentira. Nenhuma pessoa daqui dormiu aqui naquela noite.
Foram disparados muitos tiros e fomos apanhados de surpresa. Eram 19.00 horas quando que começaram a chover tiros”, disse.
E acrescentou: “A Renamo e as tropas sabem quem queimou os carros. Não foi a população.
Fugimos e voltámos dois dias depois. A situação já está calma. As carcaças metem-nos medo”. (Cláudio Saúte)
CANALMOZ – 02.11.2015
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