Numa só região, da Costa à Fronteira com o Zimbabwe, entrechocam-se os interesses. Neste momento, centenas de soldados, instrumentos
de guerra gigantescos, como monstros pré-históricos, movimentam-se. Políticos e
analistas da actualidade espalham fogo e aço em argumentos para ver com quem
fica a razão. Comentários horrendamente mortíferos dos defensores da
legalidade, de um lado, e dos defensores da justiça, do outro enchem os meios
de comunicação de massas. Milhares de moçambicanos angustiosos aguardam, com
ansiedade, pelo desfecho feliz. A comunidade internacional e os investidores assistem
à distância ao imenso teatro dos preparativos de uma nova guerra, ainda
evitável. A indústria armamentista já faz as primeiras arrumações de encomendas
a serem requisitadas enquanto os seus donos esfregam as mãos de alegria e sem
remorsos ante os lucros de sangue à vista. O sangue dos moçambicanos. Duas forças
estão no centro das atenções e ao que tudo indica, uma representando a paz e a outra
representando a guerra. A olhos vistos, pela quarta vez (1964-1974, 1976-1992,
2012-2014…), o país poderá ser palco de novos confrontos que poderão levar à
toda a parte a destruição e a chacina, privando os que combaterão e as
populações inermes, de todo e qualquer refúgio, de todos os meios de abrigo e de
salvação.
Dados os preparativos em curso, quando o tempo chegar,
veremos que as cóleras da natureza são bem menos cruéis e mais benévolas do que
a dos homens. O próximo capítulo das hostilidades dará outra feição à guerra e
subverterá até o que nestes dias se propõe alcançar. A guerra nos será mais
cara do que os 5% que sobraram no Centro de Conferências Joaquim Chissano. O
refrão de fraude, que parece estar na origem da actual tensão, é simples
pormenor. As causas remotas residem numa antiga e quase perpétua rivalidade
Frelimo-Renamo. O seu tempero está presente
no AGP e tem uma única palavra: integração. Para a Renamo, durante 20 anos, os
seus membros viveram uma paz sem benefícios quando se supõe que a guerra acabou
sem vencedores e sem vencidos. A Frelimo que defende a integridade da nação,
representa apenas um aspecto. Foi ela que, com a lei eleitoral, criou um
precedente perigoso. Aprovou-a debaixo do fogo. E, por força do hábito, a
Renamo quer fazer, novamente, prevalecer o seu intento. A causa intermediária
da tensão encontra-se no acordo assinado em Setembro de 2014 e tem uma única
expressão: implementação. Enquanto ignorarmos a implementação das nossas
decisões, é provável que continuaremos a viver assustados e perseguidos pelos
monstros de que somos actores. A Renamo representa somente outro dos tantos
incidentes do grande cataclismo. E pode agora afirmar-se que se assiste à
transformação das posições, ou antes, à genese ciclópica duma realidade nova.
Os factos que aparentemente estão a promover a conflagração do futuro, ou que
serão o seu fulminante detonador, são sobejamente conhecidos.
A imprensa da Direita continua a fazer crer que a deflagração
do conflito no país está perto, se bem que,
uma vez a outra, as agências noticiosas do Status Quo informem que se
não perdeu ainda a esperança de Maputo e Gorongosa se entenderem. Na realidade,
a Renamo não deseja a guerra, mas reconhece que terá de fazê-la, e,
demonstrando-a quanto pode, já se posicionou do Centro à entrada para o Sul do país
e procura, entretanto, evitar que o exército se desembarque definitivamente dos
últimos estorvos postos à sua desenvolta neutralidade. Ter-se-á, porém, a
guerra aproximado do seu início? De certo, haverá caminho para a evitar mas
este, por agora, não se divisa, nem pode prever-se qual será. A verdade é que
todas as previsões são por demais falíveis – quer desejem que o êxito decisivo
venha a pertencer a um lado, quer ambicionem que o alcance o outro – tão
incalculavelmente complexos e inéditos são os problemas para que precisam de
encontrar solução as forças ainda em luta verbal. O acontecimento culminante
dos últimos dias haverá sido, talvez, a emboscada fracassada contra Afonso
Dhlakama promovida pelas forças governamentais como o reconhecem as evidências,
na operação, ao que o MTQ soube, 25 de Setembro. Neste momento, a Frelimo e os
seus testas-de-ferro encontram-se isolados ante opinião pública nacional não
obstante milhões de meticais gastos em campanha de desinformação usando os
meios públicos. Enquanto a imagem de uma
frelimo decadente percorre aos lares dos moçambicanos, as forças da Renamo,
como se de cogumelos se tratassem, multiplicam as bolsas de resistência: Tsangano, Inhaminga, Morrumbala, Moatize, Gondola, Moxungue.
Poderá o exército desalojá-las ou encurralá-las? Longe,
muito longe disso. Só se o poder político assim o desejar, poderemos assistir a
paralisação de algumas cidades com as emboscadas nas principais rodovias. A
guerra, queremos crer, não terá o alcance decisivo em Manica, como também se
não decidirá no campo das operações. Embora os primeiros reecontros possam
surgir no Centro do País, a última batalha há-de travar-se no Sul, como
repetidamente deixou claro, Afonso Dhlakama: «agora vamos atacar lá». O centro
sempre foi teatro de quanto o país pôde ter visto de verdadeiramente grande e
extraordinário. E o povo já se apercebeu que, para a Frelimo, enquanto o Sul
estiver a gozar a tranquilidade, nenhum problema é solúvel. Na sublevação em marcha - do futuro contra o
presente egoísta e decrépito, de que a próxima guerra será o seu expoente
catastrófico, tem solução. A batalha derradeira, que há-de decidir sob que nova
luz se encaminharão os passos dos moçambicanos, mais uma vez, há-de ferir-se sobre
uma vitória de uma das partes em luta.
Nas circunstâncias actuais em que a natureza tratou de dividir
a Nação, não é de esperar que a ofensiva no Sul fará aproximar a guerra do seu ponto
final, não será até fantasioso prever-se que ela prefacie a tentativa dum
desmembramento da nação. Ao que tudo indica, para a Renamo nada incomoda se
deixar o Sul com a Frelimo. Que outros acontecimentos reserva a atitude, por
enquanto mal definida, de Nyusi e Dhlakama, os quais, possivelmente, farão
alastrar a guerra por todo o território no recrutmento compulsivo de jovens
para servirem de comida de canhões! A guerra, ziguezagueando subitamente,
conforme fora no passado, poderá dum momento para outro, envolver determinados
países. É essa, outra razão de, neste recanto do Mundo, considerarmos de
interesses culminante, a possibilidade iminente de a guerra alastrar por todo o
país.
Se somos, ainda hoje e pelo futuro descortinável, uma nação
dos heróis, se os nossos desejos são o prolongamento dos desejos dos fundadores
da pátria, se a nossa ansiedade perante o mundo é a única e não mensurável
pelas razões actuais e gerais do país, se temos de cumprir para com ele uma
missão original e única – tudo o que temos
sido há 40 anos e o que seremos nos que vierem, está contido na ambição sem limites da Frelimo e da Renamo. Criticá-los tem sido
para muitos tabu; mas
chegou o tempo em que é preciso ver nestes dois partidos verdadeira ameaça à Paz e a Estabilidade. Eles são não apenas um
espectro de tempos mortos, mas monstros que por duas vezes já nos levaram aos
sepulcros.
INTRANQUILIDADE NÃO DEVE SER A FORMA DE VIDA DOS MOÇAMBICANOS
O presidente da República, Filipe Nyusi, lamentou hoje o facto de os esforços por ele empreendidos e pelo governo, bem como por vários sectores da sociedade não estarem até então a resultar numa paz efectiva no país, situação que coloca os moçambicanos a viver num ambiente de intranquilidade.
Falando hoje durante a celebração do Jubileu dos 75 anos da Missão de Imbuho, no distrito de Mueda, província nortenha de cabo Delgado, Nyusi vincou que o seu governo tudo tem feito, com actos visíveis, para que a paz reine no país e mesmo nos cultos em que tem participado sempre apelou à paz em Moçambique.
Lamentamos que todos os esforços que têm sido empreendidos não estejam a ser compensados e valorizados com resultados, afirmou o presidente, realçando que o espírito de intolerância que ainda reina destrói o amor e a solidariedade entre os moçambicanos.
Nyusi sublinhou que, no país, ainda reina o medo de que o ódio e a ganância pelo poder possam vir a sacrificar a vida dos moçambicanos e destruir a jovem nação.
É momento de reflexão sobre a paz. É momento de orarmos. É momento de perdoarmos, defendeu o estadista moçambicano, convidando à toda sociedade a se juntar ao governo no projecto de paz, porque entende que as armas nunca terminam a guerra. Nunca trazem a paz. E a guerra destrói infra-estruturas, destrói a natureza e o homem.
Pelo contrário, segundo Nyusi, a confiança traz a esperança e o diálogo devolve a vida.
A missão de Santa Teresinha Coração de Jesus de Imbuho foi fundada num processo iniciado a 21 de Fevereiro de 1940 com a chegada dos padres holandeses, idos da Missão de Nangololo (também em Cabo Delgado), no âmbito da evangelização que os holandeses faziam no Planalto Maconde e culminou com a abertura oficial da missão em 3 de Outubro do mesmo ano.
Durante os primeiros 15 anos despertou na juventude de Mueda que por lã passou, o pensamento nacionalista.
De referir que, naquela missão, passaram algumas figuras bem conhecidas na história da luta de libertação de Moçambique, entre eles Alberto Chipande, antigo ministro da Defesa Nacional; Raimundo Pachinuapa; Marcelina Chissano; Marina Pachinuapa; Lagos Lidimo, Salvador Ntumuke (actual ministro da Defesa Nacional) e muitos outros.
Aliás, o actual Presidente da República estudou numa escola da missão, onde foi baptizado em 16 de Setembro de 1959. Ainda hoje, por ocasião da cerimónia, Nyusi recebeu, a título simbólico, o seu certificado de baptismo das mãos do Bispo da Diocese de Pemba, D. Luís Fernando Lisboa.
A missão foi encerrada em 23 de Março de 1965 por ordens do governo português por causa de eclosão e desenvolvimento da guerra de libertação de Moçambique, alegadamente para evitar que os padres mantivessem contactos com guerrilheiros da Frelimo.
Recordando estes e outros factos, o Chefe de Estado moçambicano sublinhou que a história da Missão de Imbuho é também a história de heroicidade do povo moçambicano.
Passados 25 anos de encerramento foi reaberta num processo que iniciou em 1993 e terminou 2010, está agora em fase de revitalização e reposição das infra-estruturas e sobretudo do seu papel de evangelização.
Paralelamente aos esforços de revitalização em curso, Nyusi convidou os responsáveis desta Missão a apostarem nos projectos de formação, como foi outrora, tendo em conta que maior capital é o homem.
Nyusi participou na cerimónia a convite daquela Igreja, acto que marcou a sua última etapa da visita de dois dias que vinha efectuando à província de Cabo Delgado.
DT/le
AIM – 03.10.2015
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