sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Heroicidade reconciliada e reconhecida traz paz

Canal de Opinião por Noé Nhantumbo
Ignorar os heróis dos outros afugenta a paz. Não é preciso elaborar muito, pois é tão simples como isso.
Reconciliar vivos e mortos deve ser feito numa perspectiva realista e perseguido com vigor e sentido de urgência.
Moçambique não pode continuar fazendo de conta que nada aconteceu, de que os assassinatos politicamente motivados foram acções limpas e necessárias, de que só existem heróis de um lado, porque do outro só se encontra gente reaccionária e inimiga da revolução.
Chegados aos dias de hoje, é manifestamente visível que a “suposta e dita” revolução foi um logro em toda a linha. Aqueles que transportavam a “tocha da revolução” abdicaram dos princípios que diziam defender e desertaram positivamente para o campo oposto.
Na Beira, deu-se um primeiro grande passo, ao ser erigido numa praça importante uma estátua em memória de André Matsangaíça.
Este moçambicano, primeiro comandante-em-chefe das forças militares da Renamo, foi moçambicano tal como todos os outros.
Sem que se aprenda a desconstruir tabus, falsa repugnância pelos outros, o nosso país arrisca-se a atrasar a sua reconciliação e paz efectiva.

Abundam manifestações de ódio visceral para com compatriotas, numa atitude estudada e propalada com objectivos concretos.
O extremismo com que brindamos concidadãos contraria as nossas pretensões pacifistas.
As guerras do passado não foram “santas”, e os beligerantes não eram santos. Houve mortes dos dois lados e heroicidade também dos dois lados. Foi o extremo de desavenças e incompreensão entre irmãos de um mesmo Moçambique.
Foi o exacerbar de uma situação com génese própria, característica de um momento particular de nossa história. Não se constrói presente e futuro sem passado, e, como povo, não devemos envergonhar-nos de nossa história.
Lavar ou falsificar a história não nos vai levar a patamares de glória ou de grandeza.
É preciso “ver com olhos de ver” certos assuntos aparentemente esquecidos e enterrados. Na busca incessante da paz e da reconciliação tão apregoados, é preciso revisitar o passado e honrar todos os que tombaram na luta pela Independência.
Esse é um primeiro passo para que se faça uma limpeza espiritual e se apaziguem as almas dos nossos compatriotas perecidos nas mãos de excessos cometidos.
Esse é um passo que requer coragem de pedir perdão e perdoar. É algo que deve ser feito de maneira honesta, sem o cinismo habitual que caracteriza alguns políticos.
Quando os interesses mais altos da nação estão em causa, deve haver sacrifícios que ultrapassam egos.
Reconciliar é perdoar para ser perdoado. É despir-se dos orgulhos e pompa com que muitos de nós nos armamos para esconder o que de facto não somos.
Há muitos “atiradores furtivos” enchendo as páginas das redes sociais com pretensões sinistras advogando que se opte pela radicalização dos discursos e das acções no confronto político que se verifica no país. É a cegueira política, a miopia ou algo que se inscreve numa agenda acordada e aprovada nos “corredores secretos” dos que jamais admitiram que fosse possível conviver de forma salutar no país? Este país era só deles e não havia espaço para que outros moçambicanos tivessem opinião ou expressão. Este país havia-lhes sido entregue pelo Governo português em regime de exclusividade. Estes compatriotas, actuando com base na intolerância, continuam apegados a crenças de “pureza” porca e conspurcada.
Nenhum processo histórico é limpo e linear. Está faltando honestidade entre nós, e isso deve ser assumido de parte a parte.
Mas também está faltando equidistância de actores sociais muito importantes, como as confissões religiosas. Fecham os olhos quando os deviam ter abertos. Colaboram para uma forma insidiosa de mentir ao comportarem-se de forma facciosa e sectária. Recusam-se a reconhecer que o país vive com dois exércitos partidários e apontam o seu dedo acusador sempre para o mesmo lado.
Esta forma de comunicar e de agir é promotora da mentira política, da falsidade e da maquinação política.
Entre os antigos presidentes da CNE, pontificam pessoas provenientes de confissões religiosas que têm responsabilidades pelo que se passa nos dias de hoje. A crise despoletada pelos desacordos pós-eleitorais tem origens concretas, e gente concreta, conhecida, fez vista grossa quanto a ilícitos claros que violaram as leis eleitorais e os preceitos democráticos.
E se isso aconteceu, não foi por ignorância ou falta de experiência, como por vezes se alega. Houve concertação prévia para a organização de fraudes, algumas das quais monumentais, envolvendo figuras “insuspeitas” com mantos religiosos.
A laicidade do Estado viu-se manchada por um casamento contra a natura.
Nesse sentido, o país está em crise, porque os seus valores morais, éticos e culturais não têm recebido a atenção necessária, e os que se deveriam ocupar destes assuntos dão prioridade à promiscuidade e ao mercantilismo político-religioso.
Não é por acaso que se veri- fica uma proliferação de partidos políticos e seitas religiosas.
O país está sendo “pasto fresco” para os que exploram as nossas fraquezas relacionais em benefício das suas agendas de lucro fácil.
Quando não se encontram soluções para questões óbvias é porque não há vontade política. Os que deveriam tomar decisões reconciliadoras estão mais preocupados com as suas contrapartidas patrimoniais do que qualquer outra coisa.
Antes era assim e agora repete-se, infelizmente de forma trágica.
É o poder da elite que não desarma nem desiste de continuar a ser uma elite parasita que arrasta o país para mais um conflito.
“Vendettas” e vinganças jamais construirão um Moçambique solidário, com paz e desenvolvimento.
Travar de maneira inequívoca os ciclos de violência é proteger o país dos que se julgam cidadãos superiores.
Sem que se incorpore uma forma de estar na política em que se coloque o mérito e a qualidade no servir os concidadãos como critério perseguido e promovido, continuaremos a mentir uns para os outros.
Somos moçambicanos na nossa diversidade e com as nossas diferenças.
Não nos deixemos cair nas malhas e armadilhas dos redescobertos recursos minerais. É preciso não dar oportunidade à intolerância.
Haja senso de olharmos para o passado e reconhecer que poderíamos ter feito diferente.
Basta de matanças fratricidas em nome de uma pureza e santidade que jamais tivemos.
Muitas vezes o que parece impossível consegue-se simplesmente com respeito pelos outros.
Ninguém está apelando ou pedindo certificados de heróis para este ou aquele moçambicano.
Os heróis são conhecidos e reconhecidos pelos moçambicanos pela sua bravura, tenacidade, clarividência e liderança. (Noé Nhantumbo)
CANALMOZ – 23.10.2015

Renamo condena silêncio da Assembleia da República sobre os atentados de Zimpinga

“Nós, seus colegas de jornada, esperávamos algum ‘pronunciamento’ da presidente da Assembleia da República, independentemente dos autores desta acção, pelo menos este gesto de ‘pronunciamento’”, deputado da Renamo Simone Macuiana
No seguimento das actividades da II Sessão Ordinária da VIII Legislatura, a bancada parlamentar da Renamo levantou-se ontem contra o silêncio da Assembleia da República sobre os atentados contra a comitiva do presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, sobretudo a emboscada do dia 25 de Setembro, em Zimpinga, distrito de Gondola, província de Manica.
Na comitiva de Afonso Dhlakama estavam deputados da Assembleia da República. Simone Macuiana era um deles, e diz que, depois dos ataques, enviou uma carta-denúncia à presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, de quem esperava alguma declaração.
Durante a cerimónia de abertura da sessão, no seu discurso, Verónica Verónica Macamo não falou dos ataques a Dlhakama e à sua comitiva.
Em resposta a Macuiana, Verónica Macamo confirmou a recepção da carta, mas disse que não se pronunciou porque o assunto estava a ser tratado por órgãos próprios, mas não disse quais são.
“Nós, seus colegas de jornada, esperávamos algum ‘pronunciamento’ da presidente da Assembleia da República, independentemente dos autores desta acção”, disse o deputando Simone Macuiana, que foi uma das vítimas da emboscada de Zimpinga.
E acrescentou: “Até prova em contrário, continuamos colegas de jornadas parlamentares de V. Excia, presidente da Assembleia da República”.
Não foi só Verónica Macamo, que é também membro da Comissão Política da Frelimo, que cobriu com um manto de silêncio os ataques ao presidente da Renamo e à sua comitiva. Margarida Talapa, chefe da bancada da Frelimo, também não tocou no assunto.
“Era esta a questão que queria colocar, na esperança de que a senhora presidente da Assembleia da República se pode pronunciar ao seu mais alto critério em defesa da magna casa”, disse Macuiana.
Verónica Macamo confirma recepção da carta
“Eu recebi a carta-denúncia, mas pareceu-me que a carta tinha um procedimento que não era para ser tratado por esta casa, mas sim por órgãos próprios. Eu achei que o melhor era deixar que as coias fossem feitas, para depois nos pronunciarmos.
Não foi por nenhuma maldade, não teve nem sequer motivação política”, declarou Verónica Macamo.
“Há um rigor nesta casa. Eu usei o rigor porque não tenho dados, elementos substanciais para me pronunciar.”, disse. (André Mulungo)
CANALMOZ – 23.10.2015

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