Assisti e reassisti o vídeo espalhado na net onde o presidente da Renamo dá uma entrevista a um jornalista da STV. Sinceramente falando, aquela entrevista fez-me pensar sobre o papel do Presidente da República ao longo de todo este tempo para o alcance da Paz.
Recordei-me do primeiro encontro entre o PR e o líder da Renamo, numa situação em que havia uma forte indicação da tomada de posse pelos deputados da Renamo à revelia do líder, e já havia movimentação e cartas dos referidos deputados dirigidas ao líder da Renamo, onde os deputados ameaçavam tomar posse à revelia do líder.
Na verdade foi o encontro que o Presidente da República teve com Dhlakama que permitiu que ele tivesse um “controlo” sobre os seus deputados, e permitiu que ele “desse ordem” para os mesmos tomarem seus assentos na Assembleia da República. Neste encontro, sobressaiu mais a magnanimidade.
Aliás, em todo este processo, Nyusi sempre mostrou a sua disponibilidade incondicional, como sempre disse, para um encontro com Dhlakama que visasse pôr fim à instabilidade que este anunciava em seus comícios.
Lembremo-nos de uma situação recente, quando Nyusi convidou ao Dhlakama para um encontro, e este simplesmente descartou esse convite, alegadamente porque não tinha uma agenda específica, apesar de o Presidente da República afirmar que a agenda era a Paz.
A lógica de Nyusi é de que a Paz é uma agenda em si mesma, e que ela não pose carregar nenhuns pontos extras, porque quem quer a Paz, discute-a como ela é.
Lembremo-nos que Dhlakama devolveu o convite, e mesmo assim, o Presidente da República na sua busca incessante pela Paz reformulou o convite nos termos de Dhlakama, e mesmo assim ele disse que não ia encontrar-se com o Presidente da República.
Hoje, quando escuto esta entrevista onde Dhlakama apresenta-se totalmente vulnerável, totalmente sentimental e dependente de terceiros (jornalista e quejando que devem acompanhar a sua saída do mato), chego à conclusão que temos um Presidente da República GRANDE, que verdadeiramente quer a Paz incondicionalmente.
Na situação em que está o Dhlakama, onde até recorre aos seus filhos para justificar a sua vulnerabilidade, depois de semanas antes ter mandado capturar um administrador e um comandante da Polícia, chego à conclusão de a entrevista demonstra o estado de dependência em que ele está, e que o Presidente das República se tivesse algum ressentimento seria este o momento ideal para impor condições apertadas ao homem, e resolver os assuntos a seu favor.
Mas mais uma vez Nyusi demonstra que o que quer não é humilhar o homem, mas é resolver um problema maior que é a Paz, onde Dhlakama é uma peça fundamental para se chegar a esse objectivo. Nyusi, apesar da vulnerabilidade de Dhlakama, apesar da aparente vantagem que tem sobre o homem e o pender da força, ele, mais uma vez deixa que essa vantagem se esfume, e protege Dhlakama para que regresse são e salvo ao convívio da civilização, como fez aquando da crise dos deputados, quando ele legitimou a “ordem” de Dhlakama para que estes tomassem os seus assentos.
Ao escutar a entrevista um tanto que penosa de Dhlakama, onde diz que ele é um ser humano e tem direito à vida, mostrando todo o seu medo pela situação de vulnerabilidade que lhe afecta neste momento; ao escutar Dhlakama a dizer que não tem medo, mas precisa de garantia da presença de jornalistas, demonstrando que ele só não é aquele temível homem de guerra que sempre se pronunciou e que precisa de testemunhas para poder sair do seu esconderijo; ao ouvir Dhlakama a dizer que os seus filhos ligam-lhe a chorar, usando a família como estratégia de sobrevivência perante a aparente ameaça à vida que recebe de troco, fico com a certeza que o homem já teve a sua lição de vida, e que não vai repetir a sua arrogância.
O facto de ele ter tido a iniciativa de formar um grupo de conversações com o Governo, sem agenda (coisa que ele usou para desrespeitar o convite do Presidente da República), mostra que ele reconhece o espaço curto de manobras que tem nesse tal local onde está.
Sinceramente, espero que o que senti nesta entrevista de Dhlakama (vulnerabilidade, medo, espírito de preservação, reconhecimento da importância do diálogo, impotência), mostrem ele que é necessário que haja humildade e respeite as instituições republicanas, de acordo com as suas atribuições.
Eis a entrevista:
Dhlakama diz que breve estará na sua vida normal
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Comments
Cisco Afique Quando a cabeça não regula corpo é que paga.
Homer Wolf E' engracado, quando o homem esbraceja e' o diabo, e' o homem das matas, e' o senhor da guerra, etc. etc...
Se aparece a dar um entrevista (quanto a mim - repito - muito mais importante, oportuna e aguardada que as missas nyussicas) e' porque sofre de vulnerabilidade, medo, espírito de preservação, reconhecimento da importância do diálogo, impotência.
Homer Wolf "Hoje, quando escuto esta entrevista onde Dhlakama apresenta-se totalmente vulnerável, totalmente sentimental e dependente de terceiros (jornalista e quejando que devem acompanhar a sua saída do mato), chego à conclusão que temos um Presidente da República GRANDE"
eh eh eh... e' preciso muita genica para de uma coisa "concluir" outra!
Américo Matavele Leia tudo, Man. Acho que entendeste muito bem.
Homer Wolf Manda o resto entao, ue'...
Augusto De Almeida Eu cada vez mais odeio a política! Só posso me restringir a curtir futebol porque política estraga amizades!
Homer Wolf Vou parafrasear o jah Amerco: " get up stand up, don't give up the fight".
Augusto De Almeida Fight de quem? Sabe porque não existe paz no verdadeiro sentido da palavra? Antes de defendermos a paz, defendemos uma "equipe"/cor/Facção... Você não pode querer duas cenas, ou quer paz ou quer defender os ditames/regras/ da tua equipe!
Aziza Throne mas o teu PR chamou de "AQUELE CHEFE DA RENAMO... E TU ESTAS A CHAMAR PRESIDENTE KAKAKAKAKA.
Américo Matavele É presidente da Renamo. E eu sou eu.
Jeremias L. Chauque Os COMANDOS deixaram de ser o porto seguro e pela primeira vez em 23 anos a corda bamba nao esta em Tete ou Funhalouro, esta ali na propria comitiva. Se no momento em que aparentemente estava com a seguranca pessoal ao mais alto nivel e em numeros verdadeiramente assustadores aconteceu o que aconteceu, talvez seja tempo de cair na real e perceber que a componente militar ja nao pode ser instrumento de ameaca ao Estado e aos seus dirigentes. Ha que sentar e negociar.
José de Matos Sentar e negociar com seriedade, Jeremias, nao fingirem que querem Paz e depois violam acordos e fazem emboscadas!
Eu sempre defendo o dialogo serio!
Milton Cesar Cesar Acho que a insegurança a que estamos metidos hoje é uma consequência de um problema que tem barbas brancas, e que muitos de nós preferimos fingir que não existe ou é infimo. Dai que penso que todos encontros, acordos que forem assinados ou até assassinarem os expoentes de uma ou de outra forma não resolverá o problema, continuaremos a ter soluções paracetamol em nome do povo, projectos fraudulentos em nome do povo, assassinatos a todos que pensam diferente tdo em nome do povo. Portanto, não respeitarmos as nossas diferenças politicas, regionais, não pararmos de ter inimigos-irmãos no pensamento, apenas gastaremos tempo com encontros e acordos só para o boi dormir, que durarão até que ele acorde.
Homer Wolf Yah, mas por enquanto, nos 41 graus de temperatura em que vive o ambiente socio-politico, o melhor e' que se assine um acordo... O resto ve-se depois - desta vez com maior monitoria, supervisao, accountability...
Berno Kunchenje O seu comentário abre horizonte a muitos compatriotas, apesar de aparecerem aqui alguns amigos que não percebem que com a guerra ninguém ganhará e que o estado nunca aplicará a sua força de coerção para um grupo moribundo.
Homer Wolf Não foi bem o que aconteceu (senão a 12) a 25 de 9...
Manuel Viriato Este me parece um discurso de quem não quer a paz. Este discurso para ser daquelas mulheres que quando apreciam um homem e desejam receber uma cantada, começam a diabolizar o mesmo com propósito deste tentar provar que é capaz de a levar na cantada.
Espero que a Renamo e seu presidente não se importem com está percepção do amigo Américo.
Homer Wolf eh eh eh... Há 40 (quarenta) razoes para o chefe da Renamo fazer ouvidos de mercador a esta "analise discursiva subjectiva"
Muhamad Yassine Post em nexo nenhum, invertido de verdades e com sinal de incapacidade de mostrar e assumir que o Líder não pediu encontro nenhum, quem pediu o anunciou na praça da paz, o líder mantém o desejo de sentar mas com uma agenda clara. Se não tiverem esse em mente não haverá encontro nenhum.
Homer Wolf Tufa!
Delfim Bica Lucas A arrogancia e a aganancia Sao um verdadeiro perigo para os proprios, vejem k o djakama descobriu que brincar de emboscar outros nao e bom e ele agora sabe k o dialogo e a melhor coisa a fazer, pensar k e poderosa e andar a menospresar as pessoas e pior coisa k ele pode fazer pk Vao lhe tirar do baralho. Va dialogar sr lider da renamo.
Iassine Joao Ituiriua Este post so pode ser de um analfabeto, bajulador, lambebota, G40.
Berno Kunchenje Leia a entrevista para não falar de coisas que não sabe. A entrevista está disponível. ... a verdade é verdade.
Américo Matavele Mano Muhamad, eu não disse o contrario. Nyusi, sempre safa o velhote em situações embaraçosas, e esta é uma delas. Dhlakama esta numa situação de vulnerabilidade completa (a entrevista atesta), mas mesmo assim o PR convida-o para mais um dialogo. Isso é que demonstra a vontade do PR pelo dialogo. A posição de Dhlakama mostra um arrefecimento, e uma consciencialização da sua falibilidade, e não aparece aquele general arrogante que manda capturar um administrador. Se fosse uma outra pessoa, optaria por aproveitar esta fraqueza e impor condições, as quais aceitaria nesta situação em que se encontra. Mas não. O PR esta a convida-lo para dialogar sem nenhuma condição.
Muhamad Yassine Mano Americo, fico muito difícil te entender, sendo tu uma pessoa com capacidade de ler entre linhas, veja só, foram duas emboscadas e o Líder ainda está de pé, com os homens prontos para combater, tanto como estão fazendo até ontem, o PR pede um encontro em público e mesmo assim ainda achas que o Líder é que está a rasca?, se fosse esse o caso estaria a pedir paz a torto e a direito. Tens que entender que o PR tem que justificar ao mundo quem tentou matar o líder da Renamo. Tem que se reconciliar dentro do vosso partido e descobrir quem está a sabotar os seus planos. A incapacidade de gerir os seus está do vosso lado. O Líder não precisa desse encontro , tal como disse que somente vira se a agenda for clara, então terão que produzir assuntos lógicos e não os que já tentaram impingir. Hoje em dia quem está à procura de cessar fogo?, mas também como querem um encontro se ainda não sabem que nós ataca?, esse confronto não será favorável ao Nyussi e ele bem sabe disso, para quem conhece o Líder sabe muito bem como interpretar suas palavras, nunca as leve como fraqueza meu irmão.
“OS Excluídos e os Incluídos – a constitucionalidade e a Justiça e a Instabilidade Politica”
O problema dos Moçambicanos não esta na observância da constituição da republica mas sim no sentimento de exclusão social, económica e politica. Este sentimento de exclusão pode tornar o governo em uma máquina de opressores contra os que se sentem excluídos. E, os que se sente ‘incluídos’ ficarão cegos e surdos aos clamores dos excluídos…..os excluídos não reconhecerão qualquer sacrifico feito pelos os “incutidos’ ao seu favor se prevalece entre eles o sentimento de exclusão. Os “incluídos” irão achar os excluídos de ARROGANTES E INGRATOS. Dai que quem está ‘incluído’ exige que se observe a CONSTITUIÇÃO e o excluído exige JUSTA. Sabes se muito bem que a justiça não está na constituição mas sim na boa vontade de quem pratica o poder. Este sim tem a constituição com instrumento que deve usar para distribuir o bem-estar a todos. E só pode fazer justiça se se despir dos seus interesses pessoais e partidários e procurar perceber o que os outros pensam e usar a constituição para integrar os excluídos. Alias, por muitos anos, o apartheid, na Africa do Sul, foi aplicado e era parte da constituição. Violava a constituição o NEGRO que fosse aos lugares reservados para os brancos. Sim era inconstitucional, os NEGROS não podiam la estar. A pergunta é: Se era inconstitucional, será que era JUSTO segregar pessoas com base a cor da sua pele? E porque é que os problemas entre o Governo e a Renamo não podem serem vistos à luz da justiça e não de constitucionalidade? Aliás este problema não é da Renamo e o Governo mas sim do povo Moçambicano. Vamos dialogar para encontrarmos uma paz efetiva. Ninguém perde, o Governo da Frelimo não perde, nem a Renamo perde se os compromissos assumidos favorecem o povo. A maior constituição que não deve ser violada é o próprio povo. O que vale defender a constituição enquanto povo esta sendo violado. O que é a constituição?
O "tio" Afonso Dhlakama entendeu, finalmente, as minhas mensagens ecoando o clamor de todos os moçambicanos pela «paz efectiva» em Moçambique. Ele (o "tio" Afonso) já aceita encontrar-se com o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, sem pré-condições. E promete que não vai retalhar os supostos ataques contra si, cuja autoria ele atribui às forças governamentais. O tio Afonso fez estas declarações ontem, dia 04 de Outubro, a partir de parte incerta, por ocasião das celebrações para marcar a passagem de mais um aniversário do Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em Roma, a 04 de Outubro de 1992, entre o Governo de Moçambicano e a REsistência NAcional MOçambicana (RENAMO). Nessa altura, a RENAMO era um grupo insurgente que movia uma "guerra por procuração" contra o Governo de Moçambique, em representação dos regimes racistas de minoria branca instalados na Rodésia de Ian Smith e na África do Sul do apartheid, os quais não queriam ver um Estado socialista erguendo-se perto das suas fronteiras. Nessa empreitada, a RENAMO contava também com o apoio político e financeiro de organizações da extrema-direita das ex-potências colonizadoras e seus aliados, os quais eram contra a proliferação do socialismo e do comunismo no mundo.
O problema dos Moçambicanos não esta na observância da constituição da republica mas sim no sentimento de exclusão social, económica e politica. Este sentimento de exclusão pode tornar o governo em uma máquina de opressores contra os que se sentem excluídos. E, os que se sente ‘incluídos’ ficarão cegos e surdos aos clamores dos excluídos…..os excluídos não reconhecerão qualquer sacrifico feito pelos os “incutidos’ ao seu favor se prevalece entre eles o sentimento de exclusão. Os “incluídos” irão achar os excluídos de ARROGANTES E INGRATOS. Dai que quem está ‘incluído’ exige que se observe a CONSTITUIÇÃO e o excluído exige JUSTA. Sabes se muito bem que a justiça não está na constituição mas sim na boa vontade de quem pratica o poder. Este sim tem a constituição com instrumento que deve usar para distribuir o bem-estar a todos. E só pode fazer justiça se se despir dos seus interesses pessoais e partidários e procurar perceber o que os outros pensam e usar a constituição para integrar os excluídos. Alias, por muitos anos, o apartheid, na Africa do Sul, foi aplicado e era parte da constituição. Violava a constituição o NEGRO que fosse aos lugares reservados para os brancos. Sim era inconstitucional, os NEGROS não podiam la estar. A pergunta é: Se era inconstitucional, será que era JUSTO segregar pessoas com base a cor da sua pele? E porque é que os problemas entre o Governo e a Renamo não podem serem vistos à luz da justiça e não de constitucionalidade? Aliás este problema não é da Renamo e o Governo mas sim do povo Moçambicano. Vamos dialogar para encontrarmos uma paz efetiva. Ninguém perde, o Governo da Frelimo não perde, nem a Renamo perde se os compromissos assumidos favorecem o povo. A maior constituição que não deve ser violada é o próprio povo. O que vale defender a constituição enquanto povo esta sendo violado. O que é a constituição?
Finalmente…
O "tio" Afonso Dhlakama entendeu, finalmente, as minhas mensagens ecoando o clamor de todos os moçambicanos pela «paz efectiva» em Moçambique. Ele (o "tio" Afonso) já aceita encontrar-se com o Chefe de Estado, Filipe Nyusi, sem pré-condições. E promete que não vai retalhar os supostos ataques contra si, cuja autoria ele atribui às forças governamentais. O tio Afonso fez estas declarações ontem, dia 04 de Outubro, a partir de parte incerta, por ocasião das celebrações para marcar a passagem de mais um aniversário do Acordo Geral de Paz (AGP), assinado em Roma, a 04 de Outubro de 1992, entre o Governo de Moçambicano e a REsistência NAcional MOçambicana (RENAMO). Nessa altura, a RENAMO era um grupo insurgente que movia uma "guerra por procuração" contra o Governo de Moçambique, em representação dos regimes racistas de minoria branca instalados na Rodésia de Ian Smith e na África do Sul do apartheid, os quais não queriam ver um Estado socialista erguendo-se perto das suas fronteiras. Nessa empreitada, a RENAMO contava também com o apoio político e financeiro de organizações da extrema-direita das ex-potências colonizadoras e seus aliados, os quais eram contra a proliferação do socialismo e do comunismo no mundo.
Mas não era preciso o tio Afonso sofrer "atentados" contra a sua vida—que ele erradamente atribui a autoria às forças governamentais—, para perceber que a guerra militar já não é mais uma opção para ganhar o controlo do poder político em Moçambique, nem em nenhum outro país da África Austral. De tanto crer, ingenuamente, que era mais forte que todos os homens de Moçambique, e até chineses, cubanos, russos e outros—porque detentor de uma legião de "comandos bem treinados e equipados" que diz possuir—, o "tio" Afonso falou e ofendeu outros homens melhor qualificados que ele e os seus "comandos inatacáveis" na arte de fazer guerra. São esses homens melhor qualificados que tu e os teus "comandos" na arte de fazer guerra que quase punham termo à vida "tio" Afonso. A propósito, eu sonhei a ouvir dizer que esses homens agem por conta e risco próprios, fora do comando geral das Forças de Defesa e Segurança (FDS) e do "tio" Afonso. Dizia-se, nesse meu sonho, que os tais homens estão determinados a crivar o "tio" Afonso de balas ou estilhaços, caso ele volte a fazer discursos de incitação à violência armada. As FDS também andam meio nervosas, por causa de terem sido emboscadas pelos comandos do "tio" Afonso. Este nervosismo quase generalizado de homens que portam armas é pernicioso para o diálogo que se pretende reatado para se alcançar a «paz efectiva» em Moçambique. A arrogância, excesso de confiança e abusos verbais do "tio" Afonso são apontados como a causa que gerou este nervosismo.
A ti, "tio" Afonso, volto a pedir para parares com essa orgia de andares a cantar aos quatro ventos que podes fazer tudo à força. Se acatares este meu pedido, brevemente, alguém em que tu confias poderá vir ao teu encontro ai mesmo onde estás novamente entrincheirado, trazendo-te uma mensagem em que podes confiar. Será uma mensagem de paz. Enquanto não ameaçares, ninguém mais vai rogar a tua morte. "Atentaram" contra ti porque a prática de viveres ameaçando os outros coarcta as suas liberdades e isso não pode ser tolerado num Estado de Direito Democrático em construção, como é hoje a República de Moçambique. Aliás, essa prática é dissonante com o objectivo pelo qual te gabas de teres lutado com tanta crueldade—que tu confundes com bravura—durante quinze (15) anos. Quando saíres dessa trincheira onde tiveste que te entrincheirar novamente, venha para cá fazer política decente, sem arruaças, honesta, sem ameaças, sem armas escondidas nas matas deste Moçambique, e sobretudo sem homens armados sob o teu comando. A constituição que aprovamos em 2004, com o voto favorável dos deputados da Bancada do teu partido na Assembleia da República (AR), proíbe os métodos que tens estado a usar no cumprimento da tua agenda política. Estás a agir fora da lei, "tio" Afonso. É isso que agora volta a te tornar um alvo a abater. Em retrospectiva, noutra ocasião eu urgia-te para convenceres esses generais que te encurralaram—e tu confundes esse encurralamento em que te encontras com protecção—que o melhor caminho para uma vida decente já não é mais a guerra. Reitero aqui: saí das matas, entregai as armas e voltai ao convívio fraternal de todos nós vossos irmãos!
Agora, nós Frelimo temos que reconhecer que empolamos a oposição por acomodarmos comportamentos insanos de alguns dos nossos camaradas, incluindo pais, tios, irmãos, filhos, sobrinhos, cunhados, netos, amantes e amigos. Só temos que lembrar sempre que Moçambique é de todos os moçambicanos, não só de alguns! Mas, infelizmente, a nossa arrogância e o elitismo daqueles que colocamos no poder vêm criando a percepção de que só nós militantes e simpatizantes da Frelimo é que somos moçambicanos. Esta percepção ganhou mais espaço na opinião pública—sobretudo no campo—nos últimos quinze (15) anos, de 1999 2014. Com efeito, quando nas primeiras eleições multipartidárias, em 1994, elegemos o camarada Joaquim Chissano, este—já no poleiro—tratou de afastar velhos camaradas de perto de si, e se fez rodear de jovens gananciosos, os quais começaram a envolver-se em actos contrários à ética governativa. O camarada Joaquim «deixou andar» até que a prática de que «o cabrito come onde está amarrado» se generalizou. O povo falou contra esta prática, os velhos camaradas também, mas o camarada Joaquim ignorou os clamores pelo fim do «cabritismo» e facilitou a instalação do «espírito do deixar andar». Isto quase descambava com a Frelimo sendo empurrada para a oposição, nas eleições gerais de 1999.
Para resgatar a nossa imagem, ninguém melhor entre os velhos camaradas foi visto como melhor sucessor do camarada Joaquim. Foi assim, em 2004 chamamos o camarada Armando Guebuza para o poleiro. Este subiu muito vigorosamente, começando por projectar a 'remoralização' da sociedade com o discurso de «luta contra a pobreza» e com a promessa de erradicar do nosso seio o «espírito de deixa andar». Na sua "estratégia" para acabar com a pobreza, o camarada Armando apontou o Distrito como o «pólo de desenvolvimento». É assim que nasceu o "Fundo de Desenvolvimento Distrital (FDD)", vulgo «sete milhões», cuja implementação mais dividiu os moçambicanos em «nossos» e «outros», no lugar de combater a pobreza. De novo, o povo falou contra práticas contrárias à ética governativa, mas o camarada Armando também ignorou os apelos, enquanto era acusado de estar a promiscuir-se impavidamente com os negócios do Estado. Era a segunda vez que a voz do povo estava a ser ignorada, o que resultou em que os eleitores começaram a alhear-se da política.
Os casos dos desfalques no Ministério do Interior e na "Aeroportos de Moçambique, E.P."—que levaram ex-governantes à barra do tribunal durante o consulado do camarada Armando—foram vistos como tentativas para salvar a imagem do nosso regime. Mas não foram significativos para safar o nosso regime da crítica severa, muitas vezes até mal articulada e, por isso mesmo, injusta. Aliás, hoje até temos concidadãos—incluindo velhos camaradas—que tanto desejam ver o camarada Armando a enfrentar a barra do tribunal, igual que ele fez a outros ex-governantes, na tentativa de salvar o nosso regime. Hoje vislumbram sinais de que isso pode vir a vir a acontecer. O móbil da maquinação em curso para levar o camarada Armando a testar a dureza da barra do tribunal é que ele abusou o poder e ostracizou velhos camaradas, fazendo-se rodear de «lambe-botas». Isto nada mais será que uma guerra intestinal urdida à mistura com o interesse de encontrar um pode expiatório para restaurar a imagem algo corroída do nosso regime.
É verdade que o país está a registar progressos assinaláveis. Os serviços de educação, saúde e abastecimento de água potável estão a chegar cada mais perto das populações. Mas isto pode ser feito de forma mais acelerada e com melhor qualidade, para que seja sensível e duradoiro. A rede comercial que está em reabilitação e em expansão. Estradas e pontes estão a ser construídas, a cobertura, radiofónica, televisiva e telefónica está em expansão. Tudo isto são sinais de desenvolvimento de que nos devemo-nos orgulhar por ter logrado em apenas vinte e três (23) anos de paz, ainda que paz podre. Isto tem que nos encorajar a realizar cada vez mais obras, mas obras de melhor qualidade. Sim, obras de cada vez melhor qualidade! As obras de baixa qualidade emperram o nosso desenvolvimento, pois passamos o tempo todo a resolver os mesmos problemas.
As nossas realizações não são sentidas por causa desta prática de passarmos a vida a resolver os mesmos problemas. O nosso país (Moçambique) está localizado perto duma região onde nascem ciclones tropicais, e ao longo do trajecto destes. Isto significa que os ciclones tropicais sempre nos vão afectar. Por isso, para minimizar a nossa vulnerabilidade a estes eventos naturais fora do nosso controlo, precisamos de construir pontes, habitações, escolas, centros de saúde, torres de transmissão de energia e demais infra-estruturas sociais e económicas à prova de ciclones tropicais e/ou vendavais. Certas regiões do nosso país são afectadas por secas cíclicas. Nessas regiões temos que erguer infra-estruturas económicas e sociais que permitam reduzir o impacto destes eventos também naturais na vida das populações.
Quando passamos a vida a resolver os mesmos problemas, não estamos a desenvolver nada. O povo passa períodos de carências todos os anos. Isto cria um descontentamento popular. São estas populações que vivem carências constantes que acabam sendo o trunfo dos nossos opositores políticos. Não se explica que em vinte e três (23) anos de paz ainda tenhamos crianças a estudar ao relento, sem carteiras; que tenhamos comunidades sem acesso à água potável e aos cuidados primários de saúde. Entretanto, os nossos dirigentes, desde o distrito até ao topo possuem frotas de viaturas alineadas pelo Estado. Uma vez percebido que o dinheiro usado para a compra de tais viaturas vem das contribuições de todos nós, isso cria uma grande revolta. E quem mais se revolta são aqueles jovens com a idade da paz (23 anos) e menos, que não viveram a guerra, que não tem compromissos com a Frelimo nem com a Renamo, mas que procuram quem melhor articula as suas preocupações.
Ocorre que o "tio" Afonso sabe falar o que alimenta as esperanças desta juventude carente de boa educação, bons cuidados de saúde e emprego. Há-de ser por isso que esta juventude acorre em multidões nos comícios do "tio" Afonso, e alguns até tenham aceite aliciamento para integrar as fileiras dos "comandos inatacáveis" que protegem o "líder". São nossos concidadãos, nossos filhos, nossos sobrinhos, o futuro de Moçambique, todos aqueles jovens que se prontificam a morrer protegendo um lunático da guerra, só porque este sabe falar melhor do que nós o que lhes anima a esperança de dias melhores, que temos vindo a prometer a juventude mas nunca chagam, agora passam vinte e três (23) anos!
Para que a paz efectiva seja alcançada, nós que estamos a governar temos que governar com transparência, isenção, modéstia. Vamos pautar pela racionalização da despesa pública. Vamos parar de usar fundos públicos de comparar 4 x 4 para a alienação e circulação nas cidades. Vamos parar de criar empresas que parasitam as empresas públicas, para que estas possam render e investir na melhoria dos serviços que prestam ao público. Vamos purificar as nossas fileiras. Vamos combater o nepotismo, a arrogância e o elitismo. O servidor público tem que ser uma pessoa honesta e humilde, não um ostentador de bens conseguidos à custa do esforço de todos. Não ignoremos as críticas dos nossos concidadãos, mas aprendamos com elas! A paz efectiva será consequência natural da nossa honestidade e humildade na nossa acção governativa. Neste novo ciclo de governação, não digamos «deixem-nos trabalhar!», mas sim que «obrigado pela observação!» e «como acham que devíamos proceder?». Lembremo-nos de que "democracia" quer dizer "governo do povo pelo povo".
Estamos a construir um Estado de Direito Democrático, não um Estado aristocrático ou tecnocrático. Por isso, vamos governar contando com as ideias de todo o povo moçambicano, que com o seu voto nos fez seus governantes! Esta é a fórmula para a «paz efectiva». Deste modo, finalmente, o tio Afonso não mais terá "argumentos"—nem os falaciosos que tem usado recorrentemente—para fazer política fora da lei.
Vamos lá todos darmos um «basta!» à inimizade e construirmos consensos, para que haja paz efectiva entre nós!
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