Amado e prezado irmão no Senhor!
Ė com vénia e ponderação que lhe faço este ensaio esperando que o mesmo lhe alcance a si e aos demais na bondade e misericórdia do altíssimo.
Há muito que desejava saúda-lo, mas por congestionamento de agendas o momento foi sempre adiado. Eis aqui um momento achado pela circunstância que me permite cumprimentá-lo e louvá-lo pelos esforços pessoais e colectivos de assegurar a paz. Isso é prova do vosso ardente amor pela pátria e pelos moçambicanos. Tomo esta iniciativa para quebrar o monopólio de pensamentos e congruência de palavras que têm caracterizado o discurso geral da nossa sociedade. Falo das severas condenações a si, em particular, e aos seus, em geral. Porquê me torno assim tão suicida nas minhas palavras? É, pois, pela forma como alguns de nós seus concidadãos temos nalgum momento sido agressivos no nosso apelo para que você possa agir no sentido objectivo. Poucas vezes lembramos que mesmo fora de assuntos políticos temos a obrigação moral e ética de lhe cumprimentar e lhe desejar boa saúde como nosso irmão e compatriota. Para tal atitude, veridicamente pode contribuir a leitura constante e linear que temos feito eu e meus compatriotas acerca da vossa pessoa. Falo da imagem que um todo duma sociedade herdou ou construiu em volta da vossa pessoa. Isso prejudica bastante a forma que nós usamos para alcançarmos consensos e para entabularmos conversas prolongadas, relaxadas e contínuas. Há uma sensação profunda que nos remete ao facto de que vós não entendeis, sois insensíveis ao que a nação quer, ou ao que o povo diz. Isso na minha óptica pode não corresponder à verdade. Confio nesta minha crença pelo facto de não raras vezes eu tê-lo visto a sorrir, a dançar (e dança muito bem) e mesmo contando anedotas. Não raras vezes tem demonstrado atitudes dum homem idóneo cheio de sentimentos humanistas; homem de ponderação qualificada e de alma rica. Ora, com estas e outras qualidades não encontro justificação para que sejais odiado e menosprezado, se sabe fazer ou praticar muito bem aquilo que muitos de nós não o sabemos. Fostes vós que em Santunjira solicitastes uma oração antes do início da conversa com os visitantes religiosos e na ocasião tive a honra e o prazer de o fazer.
Fiquei a perceber que o líder da Renamo, em ambientes de descontracção e não tensos, é um homem de postura invejável, descontraído, alegre e que sabe se adaptar no seio de qualquer grupo social. Não encontro, assim sendo, motivos que justifiquem uma negativa reputação. Tudo isto para mim mostra que vive na graça de Deus quem julga a todos nós e quem conhece o coração de cada um de nós. Não me alimenta de prazer no espírito sentir que um amado de Deus como nós seja alvo de constante repúdio. O nosso discurso colectivo de condenação a vossa rica figura não ajuda a si e aos seus que lhe circundam, mas, pelo contrário, destrói não a si só, mas aos demais. Nenhum ser humano, por mais forte que seja, suporta um coro de condenações frequentes e perpétuas em volta da sua imagem. Vós tendes uma amada família a qual vos consola em momentos difíceis com a qual partilhais momentos de dor e de celebração; sei que tendes um pai querido com o qual tendes aparecido em momentos de discursos políticos e tenho lido algo na face do seu progenitor e, na minha limitação, consigo ver o amor elevadíssimo que o grande pai e amigo nutre consigo. Não creio que o seu progenitor e amigo não se orgulhe do seu filho e não creio que não o deseje o bem. Isso cria-me “inveja”, pois gostaria que o meu pai ainda estivesse vivo, para o levar aos mais paradisíacos lugares deste Moçambique que lhe viu nascer. Faço votos que encontre um momento de grande lazer que o fará esquecer momentos de turbulência política, pois ninguém nasceu para sofrer eternamente nem para ser rei da terra eternamente. Considere os seus opositores, pois de inimigo podem não ter nada, perdoe-os, por favor, onde for necessário, sabendo nós que o perdão nos vem de Deus e que o Homem por si só não possui a capacidade total de perdoar. Peça, por favor, a Deus que o ajude a perdoar e a apagar todo tipo de mágoa que ainda habita e coabita no condomínio da vossa alma. Rogo-lhe, pois, amado em Cristo, que faça do passado uma letra morta e um arquivo encerrado reservado apenas aos que desejam pesquisar o passado para escrever sobre o presente e perspectivar o futuro risonho. A história humana quer no campo económico, social, político e até religioso esteve sempre prenhe de injustiças. A economia do mundo nunca será perfeita, pois tudo isto é feito pelos Homens de que vós sois parte e sujeito de cometer qualquer erro mesmo governando. Ninguém é perfeito sobre a face da terra.
Lembre-se, pois, Amado meu e compatriota, que cada ser humano tem as suas limitações. Somos heróis, sim, mas todo herói tem seu defeito. Alguns dos nossos defeitos são visíveis e outros não, mas faço-lhe o apelo de converter os seus defeitos pessoais em bênção de Deus. Não permita que os seus compatriotas possam dizer tudo o que acharem da vossa pessoa, pois vós tendes e mereceis a dignidade como qualquer habitante do mundo. Saiba, estimado na seara do Senhor, que o próprio Cristo do excelente trabalho que realizou lhe valeu a condenação e a morte e quem somos nós para celebrar a vitória na terra? Calvino resumiu as nossas batalhas da seguinte forma: “A Deus somente Glória”! Diga o mesmo, pois só em Deus e para Deus você existe e fora de Deus não somos nada e absolutamente nada! Viemos do pó e para o pó voltaremos! Nós, os dirigentes religiosos e políticos, muitas vezes pensamos que somos eternos e que a nossa existência na terra é soberana. Não! Morreremos, cedo ou tarde vai chegar o dia. Seja por morte natural ou “artificial” ou mesmo numa emboscada! Chegará o dia. E quem sabe com essa nossa morte algo poderá mudar para o melhor. Não somos senhores dos quais o mundo depende para continuar a existir. Descobri nas minhas múltiplas andanças que a humildade é o garante do sucesso “eterno”. A vitória duradoura não vem pela força dos canos e canhões; e que os heróis não são apenas os que manejam tão bem os carros blindados ou a AKM, mas os que usam a palavra para travar a fúria dos átomos!
Vi-lhe discursando numa das universidades do nosso belo país na capital de Sofala e pude “descobrir” outros dotes naturais de que vós fostes enriquecido a saber: o domínio de conteúdos académicos, o comando gramatical impressionante, a capacidade de gerir o pensamento filosófico e disse eu para comigo: que bênção! Deus pode usá-lo afinal noutros domínios da existência mais significativos e dignificantes tal como na academia. Saiba, amado e irmão meu em Cristo, que para além de passar pela humilhação popular, Deus reserva-lhe outros momentos mais gratificantes e gloriosos não só para si, mas para toda a sua família e é nesse orgulho que faço votos de que um dia do mesmo possa desfrutar fora do âmbito das metralhadoras.
Digo isto não porque vós não sois grande general, mas porque no meu instinto ouço que é chegado o momento de dizer “já dei o que tinha a dar ao meu povo”. Combati o combate que me estava reservado (segundo S.Paulo) e que agora eis que é chegado o momento de me afastar das complicações a que a política me induz e me seduz. Acredito que os seus lhe iriam perceber, se bem que o amam, pois sinto que alguns estão procurando usá-lo para os seus intentos obscuros e desgastar a vossa única, sagrada e abençoada imagem. Crê, irmão meu, que trajado desses fatos modernos e tendo um corpo excelente que o seu fato deixa espelhar a sua pujança e charme da alma e espalha ao mundo inteiro a nota de que de maldoso nada tem. Sinto eu que não deixaria nenhuma dúvida aos seus. Vós já dissestes tudo quanto lhe corria na alma, já o fez à força e também duma forma intelectual. “Now relax! Please do relax”! Acho que o dever patriótico já foi cumprido. Tempo é este de saber descontar e até mesmo ignorar. Dizia um outro teólogo reformador que “não somos nós que iremos mudar a Igreja, mas Deus o fará através de nós”. Deus usa a quem quer, quando o quer e como o quer. Em nós nada de bom se acha. Somos todos pecadores, incluindo nós, os libertadores da pátria, que o fizemos com grande sacrifício. Acredito que ninguém nasce para fazer a guerra e findar na guerra. Acredito que os seus pais e irmãos não lhe desejariam ver terminando a sua jornada vital na guerra. Não acredito que foi condenado para viver e carregar problemas na nação. Por favor, dê-se tempo de usufruir ao máximo as benesses da vida enquanto ela ainda perdurar. Outra sorte, isso sim, que merece, acredito!
Rogo-lhe, pois, irmão, que não guardeis rancor para com qualquer moçambicano e peça aos moçambicanos que por ventura têm raiva acumulada por vós que o perdoem e que desfaçam o nó da maldição. Para nós, africanos, não é bom que vivamos enquanto um de nós tem um espírito revoltoso. Isso não é bom para a sua saúde e para o bem de todos moçambicanos. Mesmo os que se opõem a si não estão em paz enquanto vós não estiverdes livres no coração. Por isso mesmo esta nação nunca terá felicidade enquanto no seio da sua sociedade jorrarem gotas de rancor e enquanto os peitos necessitarem de certa refrigeração. Um país a caminhar pela rua da tristeza é uma maldição às suas riquezas e a tudo o que está no seu futuro. Veja Che-Guevara, Ortega, Mahatma Ghandi, Mandela! Não finalizaram as suas batalhas, porém os seus nomes vivem mais do que os vivos. Este seria o meu desejo para consigo, que o seu nome conste dos livros de história e do manual da paz e não no livro da maldição, pois de “diabo” pode não ter nada e no céu ficarmos surpreendidos com a recepção calorosa que podereis usufruir, mas nós podemos o “diabolizar” até onde pudermos mesmo sem necessidade. Quero terminar pedindo-lhe perdão mesmo em nome da Igreja da qual faço parte para que nos perdoeis, pois vezes sem conta pudemos não ter sido tão parciais em relação ao esperado, mas que somos seres humanos iguais a si, isso sim, que somos pecadores, isso “idem”! Perdoe a todos pela calúnia contra si, mas peço-lhe, em nome de Cristo, que surpreenda o mundo com atitudes positivas de que nós ainda não estamos informados. Lute pelo seu Moçambique amando o seu povo através de gestos de amor. Permita-me segredar-lhe algo especial. Sabe, ilustre, na Frelimo existem pessoas idóneas que sabem falar como homens e mulheres não como políticos, que conhecem o valor da palavra, se um dia lhe aparecerem pela frente, por favor, converse com eles. Da mesma forma que na Renamo há pessoas maduras que conhecem o ofício do verbo. Use-as! Guerra pode ser sinal de ignorância mortal e de ignorância, meu irmão, você não tem nada. Bem-haja o povo moçambicano e seus dirigentes e todos fazedores de política consciente.
Marcos Efraim Macamo - Pastor
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