02/10/2015
PARA se pôr fim à instabilidade político-militar que paira no país, sobretudo na região centro, urge o encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, defenderam, esta semana, em Maputo, líderes políticos e académicos abordados pela nossa Reportagem, a propósito do 4 de Outubro, Dia da Paz, que se assinala amanhã.
Segundo os entrevistados, Moçambique está a atravessar um momento político delicado, que se não for imediatamente ultrapassado poderá ter resultados de consequências imprevisíveis.
As nossas fontes foram, aliás, unânimes em afirmar que só as lideranças políticas, neste caso do Governo e da Renamo, é que detêm elementos indicados e credíveis para se acabar com o clima de instabilidade que se vive no país e promoverem a paz, uma paz efectiva e duradoira.
DESARMAR A RENAMO – CARLOS JEQUE, JURISTA
PARA Carlos Jeque, jurista e analista político, o país está a atravessar uma fase “muito crítica” porque se está a perder, gradualmente, o controlo da situação.
“Na prática, os acontecimentos dos últimos tempos mostram que se está a sair do espírito e letra do Acordo Geral de Paz (AGP) assinado entre o Governo e a Renamo, em Roma, a 4 de Outubro de 1992, e que pôs fim a 16 anos de guerra de desastabilização”, afirmou o jurista.
Jeque explicou que há cláusulas do AGP que devem, de imediato, ser respeitadas, “como é o caso do desarmamento das forças da Renamo”. Aliás, referiu que o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, também assinado pelo Governo e pela Renamo, em Setembro do ano passado, “reforça essa necessidade, daí que seja pertinente que os políticos privilegiem o diálogo para se encontrar soluções para esta e outras questões”.
Como exemplo da sua preocupação, o analista político aponta o facto de Afonso Dhlakama ter chamado um administrador distrital e um comandante (policial) para os julgar publicamente alegadamente, por terem impedido a população de participar num comício seu.
TODOS DEVEM CONTRIBUIR PARA A PAZ EFECTIVA –SHEIK CÁSSIMO DAVID, DO CONSELHO ISLÂMICO
O SHEIK Cássimo David, do Conselho Islâmico de Moçambique, considera que todos os moçambicanos são chamados a contribuir para a paz e estabilidade do país.
O dirigente religioso afirma que o dever de manter o país em paz e harmonia não depende exclusivamente dos políticos, mas de todos e de cada um de nós, muito embora reconheça que aos políticos cabe um papel de destaque nesta missão.
“Neste momento de evolução, de desenvolvimento económico e social, deveríamos ter mais estabilidade para ajudar este desenvolvimento a alastrar-se para todo o país. Porém, estamos a viver uma instabilidade que afugenta todos dos seus lugares de residência, o que não abona em nada para o que realmente o povo quer: o bem-estar”, censurou o religioso.
Referiu que os moçambicanos foram sempre conhecidos como um povo pacífico, amante da paz e que conduziu com sucesso um processo de pacificação, após vários e longos anos de uma guerra fratricida. “Agora, o que está a acontecer é uma vergonha para todos. Por isso, que julgo que todos têm um papel a desempenhar para que Moçambique conquiste, de forma definitiva, a paz e a estabilidade definitivas, condição primordial para o seu desenvolvimento harmonioso”, sublinhou o dirigente religioso.
O Sheik Cássimo David apelou, neste contexto, para que o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, se encontrem o mais rápido possível para a estabilidade do país.
Na ocasião, o responsável apelou aos líderes religiosos para que intercedam junto dos políticos de modo a não só se realizar o esperado encontro Nyusi/Dhlakama, como também engajarem toda a sociedade, independentemente da sua crença ou simpatia política, nos esforços da paz.
PRIVILEGIAR A INCLUSÃO – RAUL DOMINGOS, POLÍTICO
O LÍDER do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, considera ter chegado a hora de Moçambique desenhar um novo sistema político, que privilegie a inclusão e a descentralização político-administrativa.
Segundo defendeu, a tensão que se vive no país tem como razão de fundo a luta pelo poder.
“Ou seja, os que se sentem excluídos procuram, a todo o custo, chamar atenção para a necessidade de lhes ser dado um pouco de poder, pois sentem-se com legitimidade para o possuírem”, sustentou, considerando que Moçambique tem um mapa político interessante, sobretudo no que tange ao sentido do voto dos eleitores.
Segundo ele, na província de Gaza, por exemplo, o voto é maioritariamente dirigido à Frelimo e ao seu candidato presidencial, enquanto em Sofala o voto é direccionado à Renamo e ao seu concorrente.
Para Raul Domingos, é necessário que os políticos se sentem e revejam o sistema de distribuição de poder, de modo a aproveitar-se o voto dos eleitores. “O nosso actual sistema diz que o vencedor das eleições é aquele que consegue a maioria dos votos a nível nacional, não se aproveitando o voto maioritário a nível regional. Como exemplo desse aproveitamento temos vários sistemas no mundo, incluindo na vizinha África do Sul. São sistemas de descentralização de poder que não significam o federalismo”, enfatizou.
O político diz que só havendo este tipo de descentralização é que Moçambique poderá conquistar uma paz e estabilidade duradoiras. “Para que este processo tenha início é preciso que o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, se encontrem e realizem um diálogo franco e aberto”, defendeu.
Na opinião do líder partidário, o Presidente da República, Filipe Nyusi, e a nova geração de políticos da Frelimo já demonstraram que querem a paz.
NYUSI DEVE CONVENCER DHLAKAMA – JOÃO MASSANGO, DO PARTIDO ECOLOGISTA
O LÍDER do Partido Ecologista – Movimento Terra, João Massango, revelou que a sua formação política pediu, semana finda, uma audiência com o Chefe do Estado, para com ele analisar a situação político-militar no país, que na sua opinião é bastante preocupante.
“Os moçambicanos não querem a guerra, querem a paz. O povo quer viver sossegado e tranquilo. Quer poder viajar sem medo de cair numa emboscada militar. Quer produzir à vontade. Quer que sejam criadas condições para a realização de uma comercialização agrícola que beneficie o camponês e o comerciante. Quer ter escolas, centros de Saúde, água potável e outros bens de primeira necessidade em abundância”, sublinhou o político.
NOTÍCIAS – 03.10.2015
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