segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Retrospectiva eclesiológica sobre percurso da busca da paz (1)

O QUE DIZEM OS LEITORES - 
Terça, 22 Setembro 2015

A PAZ de que hoje nos orgulhamos e tudo fazemos para que ela não se solte dos nossos punhos deixando-nos órfãos da felicidade, constitui uma dádiva imensurável para a qual cada moçambicano tem uma obrigação moral de a conquistar a cada momento.
Esta custou não só cérebros idóneos, mas suor e sangue dos melhores concidadãos, alguns dos quais seus túmulos são irreconhecíveis. Esta paz custou inteligências, sabedoria, mansidão, bravura e um todo de valores não tangíveis e supra humanos. Custou lágrimas, momentos de suspensão, dor, ansiedade, esperança e desespero, avanços e recuos. Foi um exercício não só epistemológico, mas humano, onde as mais invisíveis fraquezas humanas vieram ao de cima, onde as grandes forças humanas foram reveladas especialmente nos momentos mais cruciais. Foi um exercício que expôs a nú as nossas qualidades, quer boas, assim como as ruins. Foram rios de palavras sábias derramadas aos tímpanos de quem era de direito dar o passo necessário no momento oportuno.
Foram várias saudações das mais calorosas endereçadas aos antigos estadistas por na iminência de dirigir algo com a finalidade de despertar uma certa consciência para uma acção imediata com vista a superação das dificuldades do momento. Outrossim, foi um momento de esgotamento e desânimo totais. Passo agora a visitar alguns momentos históricos e dignos de registo desses momentos em que o planeta, nesta região designada Moçambique, enxergava as mais preciosas lágrimas.
Num dado momento e em nome de certas confissões religiosas, ecoava uma rica saudação ao então Presidente da República Popular de Moçambique por via duma missiva idónea e imparcialmente elaborada por um restrito grupo de líderes religiosos e, claro, de reconhecida reputação e maturidade assim como a sua qualificação para a emissão de opinião de extrema validade. Com muito respeito e admiração passo a rolar alguns dos homens dessas figuras de proa religiosa e de imensurável coragem num momento marcado por ambiguidades políticas e num contexto geopolítico indefinido. Quero sim dentre os demais destacar o pastor Osias Mucache, o pastor Filipe Sique Banze, o pastor Luís Manuel Chenene, o pastor Asserone Litsuri (pai do actual Arão Litsuri) , o pastor Luís Uanela Nhampale, o pastor João Somane Machado, o pastor Isaque David Malhalela, o pastor Amosse Baltazar Zita, o pastor Salvador Matsombe e o bispo D. Dinis Salomão Sengulane. Alguns destes “homens do livro” e portadores do saber e idoneidade, já repousam no celeste. Não se pode estranhar o facto de esta lista se constituir por pastores, pois, desde o tempo colonial pastores de várias igrejas, maioritariamente protestantes, protestaram com a desumanização dos povos e deram seu contributo até à morte para a libertação dos povos africanos bem como pela causa da paz. Foi assim na África do Sul, Gana, Tanzânia, etc. Aqueles dirigentes da palavra não deixaram nunca de expressar sua indignação perante o cenário que se desenrolava naquele duro momento, mas ao mesmo tempo, não deixaram de manifestar suas apreciações perante acções positivas levadas a cabo na altura pelo dirigente da Nação a saber: a auto-entrega do presidente do país no plano interno e externo com vista a minimizar ou mesmo eliminar os problemas que enfermavam a Nação, como por exemplo, os líderes cristão teriam manifestado o seu apoio a opção pelo não-alinhamento e onde os líderes sublinhavam que “Moçambique é quem escolhe os amigos que quer e quem estabelece a natureza dessa amizade”(1).
Os líderes dessa época souberam, por outro lado, endereçar congratulações na pessoa do ex-Presidente da República Popular de Moçambique, pelos esforços do Governo no plano económico e diplomático com vista a restauração da paz no país. Os líderes frisaram muito mais o facto de o Governo ter na altura retomado as conversações com a África do Sul e ao procurar segundo a óptica dos pastores, pôr em prática o Acordo de Nkomati, ora sistematicamente violado pela contraparte sul-africana. Mais uma vez se observa nesta intervenção pastoral não só a capacidade interventiva, mas a forma arrojada e aberta de observar os factos e buscar soluções para os referidos problemas. Aliás, foi esta capacidade de leitura com a qual várias agremiações se entregaram a fundo para apaziguar o continente, o que levou a criação da Conferência das Igrejas de Toda África (CITA) no Uganda, decorria o ano de 1963, em paralelo com a criação da Organização da Unidade Africana (OUA). Uma outra prova inequivocamente expressa por aqueles pastores moçambicanos se resumia na seguinte citação: “Congratulamos o Governo pelo êxito do processo da troca de prisioneiros entre a República Popular de Angola e a República da África do Sul”(2), e salientavam os dirigentes da Igreja que o processo em referência envolveu países como a Holanda e França. A razão desta menção por parte dos clérigos tem que ver com o facto de ser Moçambique, nessa altura, ser um país em vias de desenvolvimento ajudando países com elevado índice de industrialização. Mas o que aqueles homens de Deus pretendiam transmitir era o facto de Moçambique possuir, nessa época, uma capacidade de diálogo e mediação excelentes.
MARCOS EFRAIM MACAMO

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