De Cabo Delgado, o país está
à espera do gás e, eventualmente,
petróleo da Bacia
do Rovuma. Contam-se os
anos, antecipam-se cenários, projectam-se
investimentos, flutuam as
cotações das acções dos investidores
no negócio, a Autoridade Tributá-
ria vigia com engodo as tributações
actuais e futuras, e a sociedade civil
clama por transparência, prestação
de contas e melhor regime fiscal. De
Cabo Delgado, em Montepuez, para
o mundo dos leilões e das bolsas de
valores, há um mineral cujo brilho
factura milhões de dólares: são os
rubis do General Raimundo Pachinuapa.
Enquanto o mundo mediático se delicia
do tiki-taka do Barça de Messi, semana
sim, semana sim, Moçambique
e o mundo dos petróleos vivem a tensão
do tic-toc, tic-toc à espera de 2019
e do “Messias” LNG/GNL, nome de
código de gás natural liquefeito.
É a promessa de prosperidade e riqueza,
profetizada pelas descobertas
breakthrough (traduza-se revolucionárias),
anunciadas ao ritmo do vento
no consulado de Guebuza. Enquanto
assistimos à Liga dos Campeões da
Europa do futebol milionário, sonhamos
com um país na Primeira Liga
mundial dos cifrões e campeões de
vendas de gás natural.
A tentar refazer-se da ressaca do
(fracassado?) eldorado Tete do carvão
mineral, o país vive sob a névoa
da instabilidade política que tudo
condiciona: as exigências-ameaças
de Afonso Dhlakama, os avanços e
recuos próprios de um debutante Presidente
Filipe Nyusi, o tragicómico
teatro político das Mil e Uma Noites
do Centro de Conferências Joaquim
Chissano, o crescente debate sobre a
descentralização colocam o destino
de um Povo e de uma Nação sob custódia
de um ponto de interrogação,
entre parêntesis.
Leilões no Oriente e Bolsa
de Valores de Londres
Não admira que a notícia de um negócio
de sucesso, de milhões de dó-
lares, passe despercebida. Valha-nos
Rosário Fernandes e sua Mannschaft
de arrecadação de impostos, que a
tudo e todos persegue implacavelmente.
Atente-se aos suplementos de
anúncios públicos que a Autoridade
Tributária publica nas últimas semanas,
no jornal Notícias.
A notícia em questão: o general Raimundo
Pachinuapa e seus sócios na
Montepuez Rubi Mining (MRM)
estão a amassar milhões de dólares,
com a venda de umas pequenas mas
preciosas gemas no mercado internacional:
rubis.
Coloquemos em perspectiva: em
2011, o general Pachinuapa e seu só-
cio na Mwiriti Limitada venderam à
britânica Gemfields, por “apenas” 2,5
milhões de dólares, 75 % da sua participação
numa concessão de prospec-
ção e exploração de rubis em Montepuez,
constituindo a hoje lucrativa
Montepuez Rubi Mining.
Com a exploração de rubis e venda
em leilão no mercado internacional,
em apenas três operações no ano pasDe
Montepuez para as bolsas e leilões internacionais, amassa milhões de dólares em surdina
Os rubi$ do General Pachinuapa
Por Milton Machel
sado amassaram 90 milhões de dólares
brutos, antes de impostos, taxas,
comissões de intermediações, entre
outros custos sobre o rendimento deste
tipo de negócio.
“Fizemos as duas primeiras vendas
no ano passado na Tailândia. No
primeiro leilão rendemos 30 milhões
e no segundo 45 milhões de
dólares. A terceira venda aconteceu
recentemente, cuja qualidade consideramos
baixa, comparativamente
às duas primeiras, e ganhámos cerca
de 15 milhões de dólares”, estas palavras
que salivariam qualquer leitor
de notícias de negócios são de Raime
Raimundo Pachinuapa, filho do general
Pachinuapa e gestor na sociedade.
Disse-as para um correspondente
do jornal Notícias em Cabo Delgado.
Em Junho, no próximo leilão, a Montepuez
Rubi Mining espera arrecadar
50 milhões de dólares. Ao diário da
Rua Joe Slovo (ex-Joaquim Lapa),
Pachinuapa-filho mostrou confian-
ça no alcance desse cifrão tendo em
conta “a potencialidade da área em
que operamos, na qual foi feito um
estudo por uma empresa cotada e
esperamos que os resultados sejam
divulgados publicamente nos pró-
ximos dias pela bolsa de valores de
Londres.”
Assimetria de informação:
oceanos de distância
Se, em Moçambique, o negócio dos
rubis passa despercebido à generalidade
do público, é em Londres que a
pulsação dos corações dos investidores
de bolsa adquire ritmo impróprio
para cardíacos. Parecem apostadores
em Las Vegas e Hong Kong!
No último dia 5, em artigo para uma
das agências de informação do mercado
de capitais, a Broker Spotlight,
o redactor Andrew Neil perspectivava
um dia da bolsa de valores de Londres:
“a Gemfields tem um negócio
único, que oferece exposição a pedras
coloridas de alto valor (…) e
uma marca de artigos de luxo em recuperação.
Tem um potencial considerável,
com a declaração inicial dos
recursos de Montepuez por ser feita
antes do fim do ano e, claro, com a
perspectiva de mais leilões de alto
valor. A empresa teve um forte desempenho
ao longo do ano passado,
impulsionado principalmente pelo
crescente reconhecimento do valor
potencial da mina de Montepuez
Rubi.”
Publicação da correctora de bolsa
Proactive Investors, a Broker Spotlight
considera-se uma influente fonte
das análises mais inusitadas, que
iluminam pensamentos e opiniões
por detrás das grandes estórias que
gravitam em torno da bolsa na City
londrina.
Falando à reportagem do Notícias
nesta segunda-feira, o Administrador
do distrito de Montepuez, Arcanjo
Cassia, traduz o oceano de distância
informativa entre o mercado internacional
e o país, sobre os rubis de
Montepuez. Parte da delegação da
MRM no leilão de Jaipur na Índia,
Arcanjo disse ao Notícias ter sentido
que naquele país asiático o posto administrativo
de Namanhumbir ficou
valorizado, enfatizando: “foi muito
bom saber que afinal temos muita
riqueza!”
Um dos media de autoridade mundial
em finanças e negócios, a Bloomberg
publicou em Abril uma matéria intitulada
“O valor de rubis”, na qual
era citado o CEO da Gemfields, Ian
Harebottle, a afirmar categoricamente
que “com rubis há um potencial
elevação bastante saudável” e que
“nos próximos dois anos poderemos
duplicar os preços.”
A Gemfields já detém 20 por cento do
mercado das esmeraldas, tornando-se
no maior produtor destas pedras preciosas.
A firma pretende replicar essa
margem nos rubis. “Esperamos que a
Gemfields repita com rubis o sucesso
que alcançou ao impor ordem nos
preços das esmeraldas”, perspectivou
a Investec Plc, firma analista da Bolsa
de Valores de Londres. “A mina de
rubis de Montepuez irá posicionar-
-se entre as maiores descobertas em
África por décadas”, completou.
Segundo o CEO da Gemfields, estima-se
que a reserva de rubis de Montepuez
contenha mais de 40 por cento
do fornecimento mundial conhecido
destas pedras preciosas. O executivo
espera que a MRM triplique a sua
produção, dos 8 milhões de quilates
estabelecidos como meta para este
ano.
Enquanto a ignorância geral governa
a Nação, pelo mundo os especialistas
só falam dos rubis de Montepuez. No
ano passado, uma equipa de pesquisa
do Instituto de Gemologia Americano
(GIA) dedicou uma visita aos
campos de rubi de Montepuez.
Uma descoberta de rubis
para o Séc. XXI
Na sua primeira edição de Primavera
de 2015, a revista trimestral Gems
& Gemology traz um relatório desse
estudo de campo realizado pelos especialistas
Merilee Chapin, Vincent
Pardieu e Andrew Lucas. Em editorial,
a revista considera o depósito de
rubis de Montepuez como “actualmente
a mais importante fonte comercial
de rubis do mundo.”
Em artigo intitulado, “Moçambique:
Uma Descoberta de Rubis para
o Século 21”, os três especialistas
apontam: “o primeiro leilão de rubis
de Moçambique da Gemfields, realizado
em Singapura em Junho de
2014, foi um marco para o comércio
global. O rendimento de 33,5 milhões
de dólares pelo leilão colocou
os holofotes no depósito de rubis da
MRM, tanto que todo o inventário
foi o resultado directo da amostragem
de massa em Montepuez. Esta
amostragem de massa orientará os
futuros desenvolvimento de opera-
ções da mina de grande escala.”
Os pesquisadores reportam que, como
parte de sua operação de amostragem
de massa, a MRM tem tratado cerca
de 1,8 milhões de toneladas de rocha
em Montepuez, recuperando aproximadamente
8 milhões de quilates de
rubi e safira de várias cores. A empresa
espera dobrar sua capacidade de
3,6 milhões de toneladas de rocha em
2015 e, eventualmente, aumentar esse
número para 10 milhões de toneladas
de rocha por ano.
Enquanto o General Pachinuapa e
seus sócios facturam no mercado internacional
e o país mediático passa
ao lado do negócio, crónicas colaterais
de vez em quando reportam um ambiente
de faroeste entre garimpeiros
ilegais e a polícia nas comunidades
de Mucolotho, Muapeya, Nakala e
Namujo, no posto administrativo de
Namanhumbir.
Para o bem da prosperidade geral, a
Autoridade Tributária tem facturado
do negócio. Em 2014, embolsou da
Montepuez Ruby Mining pelo menos
320 milhões de meticais de impostos
das vendas desta pedra preciosa em
leilões internacionais.
A cor dos rubis de
Montepuez
Os rubis de Montepuez são considerados
pelos pesquisadores do GIA
como muito importantes para o comércio
por causa das grandes quantidades
e a ampla gama de qualidades
e tamanhos produzidos. Suas cores
colmatam o fosso entre os das fontes
clássicas da Birmânia (altamente fluorescente,
com baixo teor de ferro) e
Tailândia/Cambodja (ligeiramente
fluorescente, com alto teor de ferro).
Os Rubis devem a sua cor vermelha
ao cromo, mas a sua cor é modificada
pela presença de ferro, o que reduz a
fluorescência provocada pelo crómio.
Um interessante aspecto de rubis do
depósito de Montepuez é o seu teor
de ferro, que varia de quase tão baixo
quanto os rubis birmaneses do tipo
de mármore para tão alta como rubis
encontrados em depósitos relacionados
com basalto ao longo da fronteira
tailandesa-cambodjana. Isto significa
que têm o potencial para atender uma
gama de diferentes mercados, sublinham
os especialistas do GIA.
O Instituto Gemológico da América
(GIA) é uma organização independente
não-lucrativa, estabelecida em
1931 e reconhecida como a maior
autoridade mundial em Gemologia.
O GIA é creditado como inventor,
nos primórdios dos anos 1950, dos
famosos 4Cs (em inglês) que correspondem
a cor, corte, clareza e (peso
de) quilate (Carat, em inglês).
Em 1953 o GIA criou o Sistema Internacional
de Classificação de Diamantes™,
hoje reconhecido virtualmente
por todos os profissionais de
joalharia no mundo.
O Jackpot do General
Pachinuapa
O negócio dos rubis de Montepuez
configura o velho modelo de doing
business in Mozambique: um membro
influente da nomenklatura associa-se
a um pequeno investidor estrangeiro
com algum conhecimento técnico do
negócio ou de gestão e obtém licenças
de prospecção; subsequentemente entra
uma grande empresa internacional
do sector, com capital e know-how
para investir e alavancar o negócio.
Assim se unem os velhos factores de
produção económica: terra, capital e
trabalho.
Recusando fazer parte dos condenados
da terra, o General Raimundo Domingos
Pachinuapa, natural de Cabo
Delgado, fundou em 2005, a Mwiriti,
Limitada, com Asghar Fakhraleali.
Foi à Mwiriti, Limitada a quem se
atribuíram quatro licenças de prospecção
numa vastidão de terra em
Namanhumbir, Montepuez, aproximadamente
33.600 hectares. O
depósito de Montepuez Rubi foi
descoberto em Maio de 2009. Logo
em seguida, milhares de garimpeiros,
apoiados por comerciantes estrangeiros,
começaram a trabalhar
ilegalmente da área. Isto prevaleceu
até Junho de 2011, com a formação
da Montepuez Rubi Mining (MRM).
Em Junho de 2011, a britânica Gemfields
adquiriu à Mwiriti, por 2,5
milhões de dólares, 75% da concessão
do depósito de rubis em Montepuez.
Formou-se, assim, a MRM numa
operação que as crónicas da especialidade
consideraram como “uma procura
pelos então detentores do projecto
de um parceiro profissional, experiente
e transparente para os assistir
a desenvolver um projecto de rubi
potencialmente de classe mundial.”
A MRM obteve uma concessão de 25
anos em Março de 2012 e empreendeu
um esforço considerável e capital
para melhorar a infra-estrutura da
mina, maquinaria, recursos humanos,
segurança e relações públicas. A Gemfields
está listada na bolsa de valores
de Londres, com créditos firmados no
negócio de esmeraldas. Do jackpot ao
take-off do General Pachinuapa, passaram-se
apenas três anos.
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