Saturday, May 23, 2015

ARMA E ENXADA NA BANDEIRA NACIONAL

    ARMA E ENXADA NA BANDEIRA NACIONAL
    (parte III)

    Escrita por: Vladimir Guepatos
    A lenda dizia: Comandante Rasta-man, um guerrilheiro da democracia que morreu com sua AK-47 nas mãos. Entre os trapos verdes e os laços de curanderia em sua cintura, sobrou-lhe "Eu, Mugorongozi". Não há passageiro que atravessou Muxungué-Save que se tenha sentado nos bancos dos transportes que não lembrava dos versos disparados por Rasta-man.
    Todos aprendemos a gramática da democracia com a sombra desse guerrilheiro mítico. Mais tarde, soube que aquela olímpica lenda tinham saído do coração Unay Cambuma, "reacionário", pintor de quadros das baixas das FDS governamentais e encantador fabuloso, poeta das lendas, "agitador do povo" segundo alguns comentários em rádios e televisões.
    "Conheci-o", trocamos muitos posts. Mas continuei acreditar naquela lenda. Porque era demasiado verdadeira. E quando as lendas são mais verosímeis do que a própria realidade vale a pena ancorarmos a razão nos contos e lendas e é de lendas que se vira famoso e é de famoso que se atraem as mulheres.
    No pátio da minha infância, disse versos de outros poetas-guerrilheiros. Marcelino dos Santos e seu poema: "É preciso plantar, mamã". Conhecia todos. Moçambique não teria existido se não fossem seus poetas, os irmãos Baltazar, Rui de Noronha, José Craveirinha, Noêmia de Sousa, entre outros cadáveres conhecidos e desconhecidos. Estes eram verdadeiros e não melhores ou piores que os poetas da atualidade. Hoje, o Cambuma, o Guepatos, entre muitos outros poetas escondendem suas poesias no minguar do anonimato, os outros também o fizeram, pseudônimos pouco ou nada se defire do anonimato.
    Muitos daqueles textos, não têm valor literário. Basta ler os poemas do livro Maria, do heroico José Craveirinha, uma salada de palavras, dizem que o que fazem os textos em poéticos são as rimas e a eloquência de palavras, mas Maria, não tem uma estrutura definida, rimas, etc... mas foram e são estes textos que hoje são glorificados.
    Alguns com capacidade medíocre, poderão pedir fontes desse texto. Pouco ou nada pouco sabem exigir fontes. Outros não menos medíocres pela ordem, são os que dizem: "Dhlakama não estudou". Pouco importa se Dhlakama estudou ou não, mas realmente o que importa é: ele sendo "Analfabeto" consegue usufruir da "liberdade de expressão" plasmado na constituição, enquanto tu que es licenciado não tem licença para abrir o bico.
    Escrita pelo proprietário da verdade: Vladimir Guepatos
    PS: Não perca a parte IV
    ARMA E ENXADA NA BANDEIRA NACIONAL
    (Parte II)

    Escrita por: Vladimir Guepatos
    No mercado 37 mm, espreitávamos das barricadas de cortinas que nós chamávamos de "restaurante militar", em pleno Quartel Militar. O quartel que abrigava nomes como: Coronel Arranca-Tudo, Major Pedacinho, Tenente Mamas-Caídas, Cabo Macaquinho, etc.
    As rádios atropelavam os ouvidos pela gritaria. Uma nova era começava, uma era que os governantes deixariam se ser representantes do povo e passariam à representantes da fortuna. Já não se chamavam mais: senhor governador, senhor ministro ou senhor administrador, mas sim: Duque, Marquês, Conde, Visconde, Barão de drogas.

    Naqueles dias, vi as "mulheres" exorbitarem de tanta liberdade. Carregavam nas costas: fogões, geleiras, sofás, tudo quanto era mobília deixada pelos ONU-Moz("es"). Arrombavam-se as lojas do povo, cujo próprio dono era o ladrão que assaltava sua própria propriedade. Usam a liberdade como arma. Assaltava-se as cooperativas agrícolas. Também chamávamos aquilo de revolução. No Katanga.
    Passados anos, um dia regressei àquele bazar, porque nele enterraram-se lendas dos tempos de: Um branco e uma menina da "rua". Claro que as coisas não mudaram, apenas mudaram de local, hoje a lenda é a "madrinha", uma embaixada do Zimbábue fora da capital moçambicana.

    Os meninos do meu bairro, glorificavam nomes cuja guerra os enterrou: André, Afonso, Fernandes, Jardim...
    Quantos André(s) teriam nascidos naquele dia?
    Se antes daquele dia os "nomes mais nascidos" era os Samora(s), os Joaquim(s), etc.
    A liberdade é muito intangível para os moçambicanos, se a revolução pariu muitos Mazangas, Muchangas, Matsangas...os que vinham das trilhas da Gorongosa traziam tatuagens estampadas na testa, sotaques de "Bhambo" puro mugorongozi para chamar 'cunhado'. Outros nomeavam a luta de Mubhale.

    A revolução pariu muitas lendas "urbanas" das aldeias de GAZA: a mulher que tornou heroína simplesmente porque pariu uma criatura na árvore em plena cheias de 2000. Heroína, porque tinha que colocar ao mundo o que ela fez nas esteiras 9 meses antes? Que fantochada.
    A revolução que chocou (acto de colocar ovo, não confundir com profundo espanto) presidentes que caminham no ar (ao contrário de Jesus que caminhou nas águas) de helicópteros só para inaugurar edifícios dos secretários dos bairros.
    Revolução que pariu os 7 milhões do estado para servir de bônus da frelimo.
    Revolução que fecundou muitos Guepatos, presidentes que enriqueceram pela venda de patos em um país que a carne de pato é uma das mais desprezadas.

    Escrita pelo proprietário da verdade: Vladimir Guepatos
    PS: Na perca a parte III

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    ARMAS E ENXADAS NA BANDEIRA NACIONAL
    (Parte I)

    Escrita: Vladimir Guepatos
    Na memória do velho hino e dos Chiko-Nyocas. E de Samora a entrar na sala de aulas a assobiar e com as mãos no bolso, interrogando os moluwenes sobre os heróis da Nachingweia. Dos tempos de "O Tomás é pastor" e das fábulas como "O Macaco Pim-Pim" contadas pelos ramos de amoreiras e das acácias-amarelas quebradas em nossas costas inchadas, a refeição diária do professor Raúl Adriano Conde, que nós acreditávamos ser um herói que estudara com armas nas costas.
    Há vinte e poucos anos, os meninos da minha aldeia enriqueciam novas coreografias do Rumba Zimbabuiano (Txinguere), embriagavam o pombe com frases de liberdade. Os meninos da minha aldeia, que pouco ou nada sabiam de política, caminhavam pelas ruas das "cidades" (que deixara de sê-las quando o colono foi corrido delas), para receber os heróis da 'democracia'.
    Provavelmente não sabíamos nada o que esta expressão significava, mas dizíamos com pompa insuflado de orgulho.
    Quando, aconteceu o 4 de Outubro em Roma, as "praças" abandonadas encheram-se de "reacionários políticos", "traidores da pátria e do povo", dos "bandidos armados", dos "Matsangas", em fim até mesmo dos camaradas.
    Deixamos de ter aulas na Escola Primária da Têxt-África, porque finalmente os empregados de Magalhães deixariam de ser "Servidores do imperialismo", "Colaboradores dos Matsangas", etc. Até a Professora Fátima que batia ferozmente no mufana da primeira carteira por não fazer correctamente o guia de marcha que nós chamávamos de " Esquerda Pré-filar", temendo o pior, sumira da Soalpo definitivamente.
    Com os uniformes de ganga, zoavamos da AK-47 e da enxada de cabo curto da bandeira "nacional", atravessamos o alcatrão proibido para fazermos compras no mercado "Magarrafa" enquanto na sede do massaroca o Tenente Bazuca hasteava a bandeira comunista.
    Fiz meu "primeiro" xixi no caule da laranjeira ao lado do portão principal do quartel, junto a passagem de nível no dia 5 de Outubro. O sentinela atirou um cartucho da sua "Pepe-chá" (mini-metralhadora soviética) pelo ar e eu corri com o bilão fora dos meus calções da equipa de futebol do Avibela, bem alto eu clavam: "Viva a democracia, seu filho da luta".

    Escrita pelo proprietário da verdade: Vladimir Guepatos
    PS: NÃO PERCA A PARTE II

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