22.05.2015
FRANCISCO SEIXAS DA COSTA
Os socialistas apresentaram as ideias centrais do seu programa eleitoral. Há quem acuse o texto de ter uma preocupação tão obsessiva em ser realista que, porventura, alguns o verão como pouco mobilizador.
Nos seus detratores, para além dos sons normais da polémica, nota-se alguma dificuldade em colar ao texto um rótulo de vendedor de uma irresponsável ilusão.
Um dos fatores descredibilizantes da nossa vida política prende-se com o facto dos programas eleitorais terem quase sempre pouco a ver com a prática dos partidos, quando chegados ao poder. Chamemos as coisas pelos nomes que têm. Os portugueses - não só os portugueses - parece aceitarem, sem grande escândalo, que os políticos têm uma espécie de licença para mentir. E, em lugar de os punirem fortemente nas eleições seguintes, muitos acabam por aceitar isso como um "fact of life", como se estivesse na sua inescapável natureza serem, em geral, uns relapsos e incuráveis pantomimeiros. É como se, ao votar neles, os insultassem: "eu sei que este tipo é um mentiroso, mas tudo bem!". O grau de "respeito" que daqui decorre para a imagem da classe política parece-me óbvio.
Romper com este ciclo de ilusão desencantada é um dever de quem quer estar na política como uma pessoa de bem. E ainda há muitas pessoas de bem na política, se bem que haja outras que - tira-se-lhes "pela pinta", basta olhar-lhes para a cara! - se percebe logo "ao que andam". Estar na política como pessoa de bem obriga a cumprir o que se prometeu, a não se enredar na desculpa estafada de que a realidade trouxe surpresas e de que, afinal, as coisas não eram aquilo que pareciam. Um político que quer ser uma pessoa de bem, se acaso não pode pontualmente cumprir algo a que se comprometeu, pede desculpa, explica isso ao país, não tenta "jongleries" verbais, meias-verdades que querem fazer passar os outros por parvos. A humildade é um sinal de caráter.
Nas eleições legislativas que aí vêm, para além dos partidos e dos seus programas, estaremos a escolher a pessoa que vai dirigir o futuro Governo. Dir-me-ão que não é bem assim, que são os deputados que iremos selecionar. A mim, contudo, importa-me essencialmente a cara daquele a quem eu posso pedir contas pelo voto que lhe dei. E, neste jogo de caras, de credibilidade, eu só estarei ao lado de uma pessoa de bem, de quem tenha um passado político e cívico cristalino e intocável, de alguém a quem nunca tenha visto fazer o contrário daquilo que prometeu.
EMBAIXADOR
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