PARA acabar com intolerância política e discursos belicistas no país
“A consolidação da unidade nacional, que constitui um bem inestimável para todos, uma riqueza à qual não podemos nunca renunciar, não pode jamais ser considerada um monopólio exclusivo de alguns grupos fechados em si mesmos e obcecados pela ganância do poder político e económico”, revelam os bispos da Igreja Católica de Moçambique.
Reza a História que a estrada PARA a consolidação da unidade nacional na vizinha África do Sul foi aberta em 1990, quando o presidente Frederic de Klerk, discursou no parlamento, onde repudiou o sistema segregacionista do “Apartheid” e revogou leis que protegiam a discriminação racial.
O sinal mais simbólico de mudança permanente veio com a libertação deNelson Mandela, em 1990, tendo na altura Mandela trabalhado com o presidente De Klerk para mudar o rosto do governo sul-africano.
Entretanto, em 1994, o Arcebispo Desmond Tutu liderou o processo de “Verdade e Reconciliação”, ajudando a fechar antigas feridas.
De acordo com o historiador moçambicano, Aurélio Rocha, a vizinha África do Sul desenvolveu um processo de “reconciliação nacional” que de certa forma resultou, porque houve reconhecimento de que os erros foram cometidos por ambas as partes.
A própria Namíbia, em determinado momento, desempenhou um processo de reconciliação semelhante e se calhar “em Moçambique podíamos ter feito isso”, referiu Rocha.
Segundo Rocha, para que esta reconciliação se torne uma realidade em Moçambique é necessário que haja uma purificação das fileiras no poder, principalmente os principais actores políticos, com ênfase para a mudança de mentalidade de ambas as partes.
“O problema central de hoje, em Moçambique, é que as mentalidades não mudaram, porque continuam apegados à consciência armada e guerreira”, defendeu Aurélio Rocha.
Para ele, a Frelimo mantém a postura da aristocracia libertadora, porque ainda considera-se única detentora de direitos. Por sua vez, a Renamo segue uma posição contrária ao opositor porque não consegue desapegar-se das raízes e da consciência guerreira, porque logrou conseguir dominar a Frelimo, por via da força, e desta forma alcançar os seus objectivos que estão além do jogo político e democrático.
Rocha diz que a única forma de assegurar a reconciliação nacional, passa por extirpar a forma de pensamento e de linguagem violenta, com vista a abrir espaço para erradicar a intolerância que continua a ser entrave para o exercício pleno da democracia e da actividade política.
Ninguém quer ceder
Conforme é de domínio público, o diálogo político entre o Governo e a Renamo, no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, está longe de alcançar consensos sobretudo no que tange à integração dos homens armados da Renamo, situação que está a despender muito dinheiro do erário público, mas sem resultados palpáveis.
O Governo através da sua delegação no diálogo exige a lista dos homens armados da Renamo, enquanto a sua opositora exige o modelo de integraçãodos homens residuais daquela formação política.
PARA o historiador, há uma certa relutância entre as partes envolvidas, porque não se reconhecem e muito menos querem ceder, o que para além de terminar com a intolerância está a fomentar-se, de forma preocupante, porque ameaça a paz e o bem-estar político.
Rocha explica ao Debate que deve haver reconhecimento de que no passado houve erros de todas as partes, que devem ser resolvidos para se evitar novos tropeços no futuro.
Conforme destacou o nosso interlocutor, é importante que se coloque na mesa todas as diferenças antes de qualquer negociação e “Se queremos levar este país em frente, num ambiente de paz e para que o desenvolvimento seja efectivo, deve-se encontrar consensos que acabem com as diferenças de pensamento entre as partes”.
“Os dois maiores partidos têm maior responsabilidade na reconciliação nacional. Penso que devem ceder aos apelos de responsabilidade, de seriedade, de fazer uma paz assente em bases que permitam que a paz seja uma realidade”, sublinhou Rocha.
Entretanto, para que a paz e a unidade nacional não sejam uma ilusão em Moçambique, Rocha reitera o afastamento dos “fantasmas de guerra, da intolerância para que de facto possamos levar o processo adiante sem recurso à violência”.
Deve renunciar-se o egoísmo
Para os bispos católicos, que denunciaram, recentemente, retrocessos na consolidação da paz e da unidade nacional, através de uma carta divulgada nosprincipais jornais da praça, a verdadeira “unidade nacional” não pode estar ancorada nos meros limites geográficos do nosso país, nem mesmo na letra morta das leis que regem o nosso Estado, mas sim, na comunhão real dos moçambicanos, animados pelo mesmo espírito de fraternidade e de solidariedade, na construção duma nação feliz, saudável e próspera.
“Nesse sentido, a consolidação da unidade nacional, que constitui um bem inestimável PARA todos, uma riqueza à qual não podemos nunca renunciar, não pode jamais ser considerada um monopólio exclusivo de alguns grupos fechados em si mesmos e obcecados pela ganância do poder político e económico”, lê-se na carta.
Como todo o verdadeiro bem-comum, de acordo com os bispos, a unidade nacional precisa de todos os membros da sociedade moçambicana. E nesta ordem de ideias, ninguém está escusado de colaborar, de acordo com as próprias possibilidades, na sua busca e no seu desenvolvimento, pois a Unidade nacional exige ser servida plenamente a todos, “não segundo visões redutivas, subordinadas às vantagens de uma minoria, mas com base numa lógica que tende à mais ampla responsabilização de todos”.
De facto, a unidade nacional, para aquela agremiação é um bem árduo de alcançar e “por isso mesmo, exige uma capacidade total de renúncia dos interesses egoístas e a busca constante do bem-estar do outro como se fosse próprio”.
Por seu turno, o politicólogo João Pereira, em entrevista ao Debate, explicou recentemente, em Maputo, que não se pode falar de unidade nacional, num país onde ainda se fomenta o espírito divisionista, se incute que os moçambicanos do sul são superiores aos do centro e norte, há existência de disparidades regionais na alocação de programas, estratégias e fundos para estancar os males económicos e sociais existentes, uma vez que a sua implementação não tem sido equitativa, quer em termos de recursos humanos e como logísticos.
Pereira acrescenta ainda que desde que Moçambique alcançou a independência, o país esteve sempre dividido e sem sinais da existência de uma unidade nacional frutífera e com impacto na vida dos moçambicanos.
Dávio David
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