quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Informe a Samora Machel*


«Em 1985, com Chissano e Veloso, a mando do Presidente Samora estivemos em Moscovo em Novembro, e realizámos longos encontros com Schverdnaze e Gorbachev. Eu ainda me encontrei com o marechal da URSS Sergey Sokolov. Estive ainda com o sucessor de Andropov, na Praça Dzerjinsky, Vladimir Kryuchkov, que fracassará o golpe de Estado quase infantil, contra Gorbachev e, mau grado as intenções dos golpistas, levará ao poder Boris Yeltsin e, ao subsequente suicídio da URSS como Estado, em 1991.
Partimos de Moscovo os três para destinos diferentes, logo após a comemoração e desfile na Praça Vermelha celebrando a Revolução de Outubro. A conclusão unânime, que se deu a Samora quando nos reencontrámos em Maputo, resumia-se, na essência, a um só ponto:
Vamos ficar sós. Do que vimos e ouvimos dos dirigentes soviéticos e da nossa gente que estuda e estagia nas Forças Armadas e nas mais diversas universidades, só se pode tirar uma conclusão, a crise interna é muito grave e que os soviéticos vão abandonar os apoios a todos.
Nós já nos havíamos convencido do carácter duvidoso da afirmação sobre a irreversibilidade da Revolução de Outubro. Durante a visita de Samora à URSS, e nos encontros que realizou com Gorbachev e Schverdnaze concluímos que ficaríamos isolados. (...)
Estas inquietações levavam a que se reorganizassem, a partir de 1985, as nossas relações económicas e diplomáticas internacionais, face à agressividade do apartheid e ao imperativo de asseguramos a nossa independência e a sobrevivência da Pátria.»
* Sérgio Vieira: Participei, por isso testemunho (Editorial Ndjira, Maputo 2010, pp. 607,608)
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