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Em 2004, quando Armando Guebuza foi indicado candidato da Frelimo às presidenciais, publiquei um artigo (Corrupção em Moçambique: Alguns elementos para debate) que era alta e politicamente incorrecto. Num simples exercício, quase preguiçoso, fiz um inventário ao património do candidato e observei que ele era um empresário com muitos interesses.
Guebuza tinha empresas em tudo o que era atividade económica e um sem número de parceiros. Muitos disseram depois, com base naquelas evidências, que ele era um homem rico, mas esse não era o meu desiderato. Outros acrescentarem que, por isso, ele não iria “roubar”. Eu adiantava uma outra hipótese: Que ele não era rico, tinha sim muitas empresas (a Focus 21, era a principal) e ligações empresarias mas que, tendo em conta a sua apetência por empresas e dinheiro, e dentro do nosso quadro precário de ética e probidade, havia a hipótese de ele usar o poder para enriquecer esse património empresarial.
Hoje, Guebuza deixa o poder e, calculo, um dos seus objectivos foi alcançado. E não foi pela viabilização dessas muitas empresas. Foi por outras vias. Ao longo destes anos, Guebuza chamou a si a decisão sobre os principais negócios do Estado e onde houve oportunidade, tratou de capitalizar a Focus 21.
Imitando o modelo angolano, entregou a liderança dos negócios da família à sua filha Valentina. Esperto, afastou antigos parceiros e retirou-se das distintas áreas, apagando o seu nome dessas tantas empresas (Mavimbe, Intelec, etc), passando a capitalizar parcerias com multinacionais, fazendo da Focus 21 um centro giratório para tudo o que fosse investimento estrangeiro em infraestruturas de logística. Para isso, não se coibiu de arranjar birras com colegas do Partido como Alberto Chipande e Mariano Matsinha.
E nem sempre agiu dentro dos ditames da transparência que devem caracterizar os negócios do Estado. O recente episódio dos prazos apertados para o licenciamento dos 15 novos blocos de petróleo mostra isso. As peripécias à volta da Base Logística de Pemba também, para nomear apenas dois casos recentes.
Dez anos depois, Guebuza deixa o poder controlando boa parte do sector privado. Hoje, seria interessante voltar a fazer, mais criteriosamente, um levantamento sobre os seus interesses empresariais. Mas seria uma empreitada muito complicada, se bem que relevante: já não basta ir apenas ao Registo de Entidades Legais. É preciso ter fontes do sector privado dispostas a falar. Cada vez mais, o registo de propriedade é feito usando-se a figura das Sociedade Anónimas, que esconde a identidade dos accionistas, e privilegiando-se paraísos fiscais. Por outro lado, “acordos societários” entre accionistas permitem esconder pactos de cedência de interesses a pessoas que, formalmente, não são parte da sociedade.
Gostava de ver a declaração patrimonial do camarada Guebuza...
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