Sábado, 17 Janeiro 2015 00:00
QUANDO me chegou o convite de ir a Maputo, para a cerimónia da investidura do Engenheiro Filipe Nyusi ao cargo de mais alto magistrado da nação moçambicana, quase ao meio-dia do dia 13 de Janeiro, terça-feira, eu estava na vila autárquica de Mocímboa da Praia, perto de 400 quilómetros de Pemba, onde tinha agendado uma série de trabalhos, antes de ir a Nangade e depois em Mueda, de modo que calhasse na quinta-feira esperada, 15 de Janeiro, em Namaua, terra natal do Presidente da República de Moçambique.
Queria ser o único jornalista a acompanhar a forma como os namauenses acompanhariam a cerimónia de investidura do seu filho e como celebrariam o acto, preparado para, dia seguinte, aparecer com uma reportagem sob forma de filme feito a partir daquela aldeia. Era uma iniciativa ao mesmo tempo muito íntima e profissional, de tal modo que nem a minha chefia sabia do intento, mas convencido de que o resultado previsto seria positivamente estonteante.
No “faz-tempo”, estava, como dizia, em Mocimboa da Praia, cheio de afazeres programados com o conselho municipal, o governo do distrito e, de repente, há uma ordem que dita a que naquele mesmo dia estivesse em Pemba, para que dia seguinte estivesse em Maputo, para participar, pela primeira vez, à cerimónia de entronização de um chefe de Estado. Toda a agenda anterior, tornou-se automaticamente subalterna e insignificante!
Ficou a tarefa difícil a que não estamos muito habituados, a desprogramação. Mas tinha que ser! Quem estava por perto era Mahomed Faruk Jamal, o colosso de exploração de madeira, em Cabo Delgado e empresário de outras áreas, algumas em compensação do facto de agora a madeira não sair para fora, em virtude de os tradicionais mercados asiáticos, através dos chineses, ser nos dias que correm um negócio muito fraco. Afinal, já se dizia que não seria sempre uma boa aposta…
Faruk não escapou à minha preocupação de conseguir em cinco horas, três das quais feitas à noite, para o meu regresso a Pemba e sentiu que algo me apoquentava. Amigo que é, disse-lhe que devia regressar pelos motivos encimados.
Faruk sugeriu que fosse a conduzir sem muita pressa e caso anoitecesse diminuísse a velocidade para aguentar o espaço de visibilidade que o meu horizonte permitisse, até que chegasse. Então, Faruk deu-me os seguintes recados:
Que nós estamos com ele; estamos confiantes na sua capacidade; pessoalmente trabalhei com ele aqui em Mocímboa da Praia, quando era necessário repor em funcionamento o porto; conheci um homem incansável, de muita imaginação e empenhado no que acredita, dai que acreditou que este porto poderia funcionar e pô-lo como sonhava. Estou a lembrar-me dum homem exigente, transparente, mas duro em momentos de prestação de contas. Diga a ele que é a nossa esperança na tentativa do esforço colectivo de eliminar os desequilíbrios regionais que a história nos deixou.
Faruk terminou dizendo que se há quem imaginou e cantou que “Nyusi, confio em ti” eu disse isso logo que soube dessa sua derradeira caminhada para a Ponta Vermelha, só não sei cantar e a minha imaginação morava em mim próprio.
Fiquei atónito, porque não sabia como transmitir isso ao chefe do Estado e na cerimónia à qual ia convidado estaria longe dele, mas muito perto em relação à maioria dos moçambicanos. Imaginei que tinha uma outra via, dizendo os tais recados, apenas por dizer. Mas antes e ouvindo o discurso do presidente da Republica, encontrei muitas respostas aos recados de Faruk.
Ouvi o presidente a dizer que pretende criar um governo com a dimensão adequada para as necessidades de contenção e de eficácia (…) governo que terá que ser firme na defesa do interesse público (…) que terá que ser intolerante para com a corrupção (…) que não deve tolerar qualquer descriminação nas instituições do Estado a todos os níveis e (…) só há dois critérios básicos que nortearão os órgãos da administração pública e da justiça: o mérito e o profissionalismo!
O presidente disse que exigirá maior eficiência e melhor qualidade das instituições e dos agentes públicos que respeitem os princípios da legalidade, transparência e imparcialidade, de forma a servir cada vez melhor o cidadão.
Penso que a partir daqui podem ser encontradas as respostas aos recados de Faruk e se não forem suficientes levo-lhe a brochura contendo o discurso histórico de Filipe Nyusi, Presidente da Republica de Moçambique.
PEDRO NACUO
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