O doutor Heymann comentou o relatório do Centro de Investigação e Prevenção de AcidentesAeronáuticos (CENIPA), cuja versão preliminar foi conhecida no final da semana passada. O relatório constata que um dos dois pilotos em um determinado momento abortou o pouso e quis subir rapidamente, manejando os instrumentos da aeronave (um Cessna 560XL Citation) em desacordo com as recomendações do fabricante. Como resultado disso, entrou em estado de desorientação espacial, sem saber se dirigia o avião para cima ou para baixo. Era para baixo.
Segundo o CENIPA, o piloto não estava preparado para operar o avião desse tipo. O doutor Heymann sublinha que um piloto que não foi treinado para uma aeronave não deveria ser admitido a pilotá-la:
“Se os pilotos não estavam bem treinados, bem preparados, é a responsabilidade do órgão que os habilitou. Se o piloto não tinha habilitação para voar naquele tipo de aeronave, tem que se perguntar: “Espera aí, então quem é que deu a carteira pra esse cara, quem é que deu licença pra ele voar? Como é que o avião dele decolava?” Ninguém o fiscalizava. Não existe fiscalização. Eu acho que há uma grande responsabilidade, uma cadeia de responsabilidade que foi quebrada e resultou nesse acidente”.
Ou seja: esse piloto não devia ter sido nomeado como piloto da campanha, porque ele não sabia usar todos os instrumentos do avião da campanha. Ou pelo menos devia passar um treinamento. Que um piloto saiba operar bem o avião é uma questão de segurança essencial, e segurança não é algo em que se deve economizar, afirma o especialista.
O doutor Heymann explicou um pouco os pormenores técnicos do acidente:
“Esse avião sofre de uma característica de projeto que se chama tuck under (puxar para baixo). Quando você acelera demais o avião e o flap (instrumento usado para reduzir a velocidade durante o pouso) fica estendido, ele joga o avião para baixo. O piloto tentou fazer o que na linguagem vulgar dos pilotos chama-se “pelada”. Ele devia estar pressionado pelo tempo, pressionado pelo cansaço, e então resolveu encurtar o tipo de procedimento e entrou muito veloz, arremeteu e tentou fazer uma coisa que chama-se “pelada”, quer dizer, voar sem instrumento, sem visão, porque a visibilidade era baixa. Ele tentou manter contato com o solo e o avião foi puxado para baixo porque ele não recolheu o flap e deixou os motores acelerarem; ficou com desorientação espacial, muito comum em qualquer pessoa. Ele entrou em um voo invertido e quanto mais ele puxava, mais ele acelerava, mais ele afundava o mergulho”.
Outra questão, na visão de Millian Heymann, são as condições de trabalho. Uma campanha presidencial é um compromisso exaustivo, já que se tem de voar quase 24 horas e os sete dias da semana. Para todos os pilotos terem folga necessária para recompor as forças, deviam ter sido “três, pelo mínimo”, e não dois.
Destaca-se também que, dias antes do acidente, um dos pilotos colocou uma postagem no Facebook falando que estava “cansadaço”. E o cansaço é cumulativo, afirma o doutor Heymann.
O especialista saudou também o fato de o acidente ter sido investigado pelo CENIPA, uma instituição civil, e não militar, porque “a investigação não tem caráter punitivo, ela tem caráter só de esclarecimento para que se possa evitar futuros acidentes”.
A Aeronáutica divulgará o relatório final em inícios de fevereiro.
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2015_01_20/Cadeia-de-responsabilidade-matou-Eduardo-Campos-6159/
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