As notícias pavorosas de barcos no Mediterrâneo carregados de emigrantes, muitos deles ilegais, mas fugindo da miséria e das guerras ditas primaveris, dizem-nos muito sobre as novas escravaturas denunciadas pelo Papa. As tripulações, violando toda a ética milenar da marinha, abandonam os navios à sua sorte, deixando-os a arder ou apenas à deriva.
Independentemente das opções confessionais e filosóficas de cada um, há que ponderar sobre a declaração recente do Papa Francisco à Cúria. Há que olhar as suas palavras como se referindo ao grosso da sociedade, incluindo aquela em que estamos inseridos.
O Papa denunciou as quinze doenças graves da igreja que adapto ao nosso quotidiano:
1. O sentimento da indispensabilidade e recusa da autocrítica;
2. A negligência face ao essencial e a atenção presa ao imediato;
3. A transformação das instituições em máquinas burocráticas;
4. A planificação excessiva que manieta a iniciativa concreta;
5. A falta de coordenação que bloqueia a funcionalidade harmoniosa;
6. O alzheimer do espírito fazendo perder a memória dos muitos e projectar apenas o interesse imediato de quem dirige;
7. A aparência e o protocolo tornarem-se os primeiros objectivos da vida;
8. A esquizofrenia existencial conducente à hipocrisia e mediocridade vazias;
9. O terrorismo dos boatos doença dos covardes que desejam assassinar a reputação de terceiros;
10. O carreirismo e oportunismo que tudo sacrificam a favor de ganhos pessoais;
11. A indiferença para com os outros forjando a queda deles para benefício pessoal;
12. Tratar os outros do alto da autoridade com severidade rispidez;
13. Privilegiar a acumulação da riqueza pessoal;
14. Fazer da camada dirigente um pequeno clube marginalizando os demais;
15. O exibicionismo e culto do ego.
Estes males denunciados por Francisco I afectam certamente a máquina da igreja, mas estendem-se a todas as sociedades. Poderemos sempre refugiar-nos na afirmação sobre a fraqueza humana, sobre o facto de não cometerem erros apenas os que nada fazem.
Ao fazê-lo, recusamos a autocrítica, caímos no alzheimer do espírito, defendemos os boatos, a indiferença para com os outros, instalamonos no carreirismo e oportunismo.
A recusa da autocrítica conduz a persistir nos mesmos caminhos errados e pior, tratar qualquer observação crítica como um ataque. Mate-se o mensageiro, diziam os déspotas asiáticos de antanho, quando lhes desagradava a informação. O autismo faz parte dos males que minam a governação em muitas partes do nosso continente. A tendência de substituir a análise e a verdade por louvaminhas pode ficar bem na Coreia do Norte, mas só fomentam a insatisfação, instabilidade e revolta. Alguns dirigentes da oposição em Moçambique sofrem e gravemente deste mal.
A busca da aparência e o refúgio no protocolo dominam as mentes carreiristas e oportunistas. Conheci um pobre diabo, porque directorzito de qualquer coisa, quando a mãe, porque analfabeta e com panos ousava visitá-lo, dizia tratar-se de uma empregada antiga vinda da terra! A estupidez caracteriza este tipo de gente. Hoje lambem os pés deste e amanhã daquele, esperando sempre galgar.
A transformação das instituições em máquinas burocráticas, servindo o poder e os grandes e jamais os verdadeiros destinatários crentes e público, conduzem as gentes à indiferença em relação a elas e, a termo, a revoltas surdas ou não.
Por trás de tudo a busca da riqueza e privilégios pessoais. A lhaneza de Francisco I, a humildade de Mujica, antigo guerrilheiro Tupamaro e chefe do estado do Uruguai, assim como da sua esposa, engrandecem-nos para além de todas as pompas. A ostentação de um Mobutu jamais o elevaria ao nível de Mujica, tal como as hierarquias religiosas nunca se alcandorarão à grandeza de Francisco I, enquanto se rodearem de pompa e circunstância.
As pompas dos clubes de elites, o exibicionismo nem servem o povo e muito menos o interesse da instituição religiosa ou do Estado. As ostentações fazem-nos lembrar a lenda do rei que ia nu, convicto que envergava os trajes mais sumptuosos. Bastou a sinceridade e inocência de uma criança gritando o rei vai nu, para a gargalhada da multidão e os apupos derrubarem a presunção. Para terminar a sugestão do Papa nas Filipinas para que os católicos não se reproduzam como coelhos! Muito se anda nu nas terras do mundo e de Moçambique. Os palácios e palacetes, os mais de mil quartos do novo palácio presidência na Turquia, não resolvem qualquer problema do povo. Há que lembrar a canção de Grândola Vila Morena do Zeca Afonso, o povo é quem mais
ordena.
As notícias pavorosas de barcos no Mediterrâneo carregados de emigrantes, muitos deles ilegais, mas fugindo da miséria e das guerras ditas primaveris, dizem-nos muito sobre as novas escravaturas denunciadas pelo Papa. As tripulações, violando toda a ética milenar da marinha, abandonam os navios à sua sorte, deixando-os a arder ou apenas à deriva.Segundo as informações publicadas, estes novos negreiros adquirem navios em fim de vida, cobram 8.000 dólares americanos por passageiro clandestino sírio e fogem ao cumprimento do contrato.
No ano de 2014, mais de 3.000 emigrantes morreram no Mediterrâneo, transformando-o em Mar da Morte, de Mare Nostrum que era conhecido desde os tempos de Roma.
Muitos destes emigrantes, sobretudo vindos da nossa África, porque novos escravostrabalham como serviçais, varredores de rua, mulheres entregues à prostituição, vivem em casebres, subornam com os magros haveres os controlos da migração. Não só de África, hoje daSíria massacrada e do leste da Europa forçado à miséria. Em Portugal, estes escravos vêm sobretudo de Cabo Verde, da Guiné (B) e, mas raros, de Angola. Moçambique muito pouco, a nossa gente prefere a África do Sul como destino e próximo, isso permitindo as visitas regulares à família e à terra.
Como escravos, os ciganos, maltratados na maior parte dos países da Europa. Nestes dias, um novo escândalo em França, um município recusou o enterro dum bebé cigano. Personalidades, partidos, organizações sociais e a comunicação social denunciaram esta barbaridade. O município encontra-se governado por uma força política da extrema-direita.
A economia sul-africana, contudo, cada dia se assemelha a um gigante com pés de barro e isso combinado com o desemprego para as novas gerações de sul-africanos e a subida das manifestações chauvinistas, pode perigar a emigração para esse país. Talvez uma boa coisa se levando a um forçar de mudanças e criar espaços de qualidade e em quantidade dentro do país para as nossas gentes.
Até breve e esperando que o bom ocorra em Moçambique e no mundo. Dizem que só mau sai nas notícias e comentários. Um abraço pelo bom.
P.S. Mais uma vez, o cinco vezes perdedor refugia-se na fraude como explicação da sua incompetência. Presumo que desta vez capitulará como em 2009, para que os seus deputados tomem posse. Verdade que os ameaçou com represálias dizendo que o povo faria, contra eles e famílias. Democracia de cassetete! Vamos deixar de ligar ao trivial e ocupemo-nos do trabalho sério. A nossa preocupação imediata é garantir o apoio ao Presidente Nyusi para que leve a cabo as suas promessas. Começou bem, há que garantir-lhe a força para continuar.
SV
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