Tuesday, October 28, 2014

Um debate em torno das eleições

Acerca de dois meses logo ao início da campanha eleitoral disse aqui que não entraria em debates sobre a política em Moçambique sob riscos de ser julgado ou associado a um dado partido ou outro, mas que no entanto, me pronunciaria apenas e apenas há questões do tipo incoerências de qualquer que fosse o candidato (PR ou Partido). Ora, hoje quero aqui discutir e opinar sobre os resultados, e disso levantar as possíveis causas desses resultados.
Mais um, ou menos um deputado agora não vem ao acaso e nem alteraria muito a ordem dos acontecimentos. Vou começar analisando os dados sempre pela FRELIMO como principal termo de comparação por dois motivos, primeiro é que esta no poder, segundo é a maquina operativa mais ativa na vida política em Moçambique. A confirma-se que a FRELIMO terá 144 deputados, e a oposição junta 106 (88 Renamo e 16 MDM) significaria que a FRELIMO de modo geral perde entre 24 à 30% a favor da oposição que, respectivamente, a renamo tem um aumento entre 80% à 85% do seu eleitorado em relação a seu eleitorado passado e o MDM tem um aumento entre 85 à 93% em relação ao seu eleitorado passado (aqui abrimos aspas, na medida que precisa considerar que nas eleições passadas o MDM apenas teve acesso a 4 províncias, o que de alguma forma influência a possibilidade de discutir particularidades deste crescimento ou estagnação deste movimento).
Ora, palavras como vitórias retumbantes, asfixiantes, goleada passam a ter uma relativa compreensão e elas podem-se compreender em dois parâmetros, nomeadamente no parâmetro generalista por um lado, o que significa que é goleada, retumbante, asfixiante, etc só e somente só se considerarmos que, na AR (ainda não vou para o caso das Presidencias) a FRELIMO continuará podendo aprovar “algumas leis” perdendo, em demasia o seu controlo sobre a Constituição da Republica de Moçambique e por outro lado, no parâmetro particularista, que se relaciona com o fato de ter eleito o seu presidente. No entanto, se olharmos para essas palavras no seu significado denotativo, não se pode falar nelas nesta vitoria na medida em que o partido no geral perde sua capacidade de influência no seu maior instrumento das ultimas eleições, a (CRM).
Os Problemas: Sentidos contrários dos ideiais
Vi e pude ler todos os manifestos eleitorais e acompanhei os discursos. Em relação aos manifestos eleitorais o da FRELIMO pautou por um discurso que salientava, de forma geral, que se estava num bom rumo e que se devia necessariamente continuar. Seriament que olhando para os dados macro-economicos do país, aqui os economistas podem melhor do que eu analisar o país esta nesse rumo com um crescimento anual único na África Austral de cerca de 8,9% anos (IDH, 2010, 2011, 2012), mas como isso se reflete no povo? (aqui o pecado da FRELIMO, retomaremos isso a seguir). O manifesto do MDM apresenta-se muito evasivo, no entanto trouxe algo que a RENAMO trouxe em dois momentos, nomeadamente ao nível do manifesto (definido claramente o que compreendia por cada categoria que usou (despartidarização, separação de poderes, pobreza, etc) e do discurso popular, a esperança ou utopia. 
Creio que a FRELIMO errou ao não ser capaz de criar utopias para o povo e isso resulta de um afastamento deste movimento com parte do partido que refletia o partido. O slogan “sou mais NHussy” induz a uma empatia com a pessoa e não com a capacidade desta pessoa em dar destinos a quem confia em Nhussy ou é mais NHussy. Diferentemente de “Moçambique para todos” que traz a esperança, o sonho e ainda a possibilidade ou seja o acesso e ainda igual discurso de Dhlakhama que apelava a um país unido cheio de infortúnios e que era necessário mudar a FRELIMO não foi capaz disso. O simples “Yes, we can” não é mais nada senão uma utopia. 
A FRELIMO pecou por ter sido incapaz de passar esse “Yes, we can” ao seu eleitorado. Não esta aqui em causa a não visibilidade das obras, dos resultados de um ou outro governo mas, na capacidade de justificar esse fim. A FRELIMO deixou por terra um detalhe que a política alimenta e sustenta-se de opiniões e decisões. Portanto, a FRELIMO não foi capaz de fazer o que sempre fez, manter-se me sintonia na sua direção com a população. Este fato é tão mais importante na medida em que em Moçambique nos últimos anos houve um crescimento de Instituições de ensino superior, o que obriga ou leva mais pessoas a pensarem discutir com mais profundidade, não me refiro aqui a qualidade destas, mas a possibilidade que estas dão para abertura de visões e conseqüentes relações de implicação em uma cadeia de relações e influências. Por outro lado, a oposição conseguiu acertar essa direção. 
A pergunta que fica é: isto quererá dizer que a FRELIMO perdeu as eleições? Não, se entendermos que continuará com maior numero de assentos parlamentares e com a PR. No entanto, se entendermos, que a oposição teve um crescimento na ordem acima mostrada então ela também não perdeu, assumiu sim, Robert Mitchell (poder relativo) o que torna o nosso pais numa democracia com tendência a partido dominante.
Iriam, perguntar e a fraude ou supostas fraudes? Esta resposta fica para semana, quando analisar o que julgo sobre a percepção do poder em Moçambique.

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  • Livre Pensador Para comeco de conversa considero - pois espero ansiosamente pelo encerramento do processo, com seus dados, reclamacoes e decisoes, que o POVO mocambicano tem as ELEICOES que merece. Voltarei nos proximos tempos com um post mais longo, aflorando varios aspectos.
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  • Lissungu Mazula O mesmo eleitorado que a FRELIMO perdeu foi o mesmo eleitorado que a RENAMO, até certo, ponto podemos dizer recuperou, se formos a olhar para as legislativas de 2009-2014 e se nos atrevermos a voltar um pouco as 4 eleições em que a RENAMO sozinha reuniu quase cerca de 37% dos mandatos por conseguinte, o mesmo eleitorado apático à Frelimo, ou mesmo, o tal eleitorado "incapturável". Ao passo que para o MDM penso que não deveriamos utilizar a expressão "estagnação" e sim afloramento deste partido no cenário político(o MDM surge-nos como um fenómeno novo) por estar num contexto de polarização ou até partidarização (e já mesmo, aos poucos sendo aceito pelos cidadãos moçambicanos. O MDM aparece como tendo conseguido aumentar sua esfera de influencia. De certo, a Frelimo nao foi capaz de sustentar o seu eleitorado "dominado" registrado nas ultimas eleiçoes. NB: Como havia referido, nas eleiçoes de 2004- 2009 o cenário ainda estava demasiado polarizado. Ora que o MDM surge c a terceira força( assim como chamam), apenas nas legislativas de 2009-2014 é que o MDM entra em cena e junto a Frelimo captura cerca de 15,6% de todo eleitorado da Renamo. Desta feita, os números voltam e a Frelimo perde parte de seu eleitorado para o MDM.
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  • Brazao Catopola Aí entramos numa lógica circular e que não permite olhar para o crescimento ou estagnação dos partidos. Estaria se assumir que nestes anos o eleitorado não mudou (morte, imprevistos, etc). Outrossim, se a Renamo sozinha teve 37% , quem são os novos eleitores que dão ao MDM 10%?
    [2:01 PM 23/10/2014] Lsm Mazula: Na verdade, tens razao! Os numeros voltam e a Frelimo perde parte de seu eleitorado p o MDM
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  • Brazao Catopola E mais ainda, se justifica porque os 193 deputados o eleitorado da Renamo foi quem mais abstenção praticou nas eleições passadas
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  • Marcelo Tavares Momade Professor Brazao Catapola sera que devemos analisar esses dados apriori sem ter em conta as supostas fraudes? Como podemos analisar dados supostamente falços? A validade cientifica depende da fiabilidade dos dados.
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  • Marcelo Tavares Momade Mas dando meu contributo penso que a crise politico militar potenciou a imagem do lider da renamo que voltou da parte incerta como se Michael jackson resuscitasse. voltou como um martire pelo que aglutinou as massas. O mdm é teria consiguido resultados superiores a renamo se o nao tivesse acontecido a tensao militar.
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  • Brazao Catopola Os dados são falsos até que se declararem por hora é oque temos como oficial. Em relação a fraude podemos discutir o nível dos dados viciados e a questão é, como identificar. Neste contexto entramos para outra questão fundamental a fraude como também estratégia de manutenção de poder e podemos questionar até que nível pode ser aceite esse fenômeno tão real em África e Moçambique e cooptado pelos observadores como modais operando em nosso contexto. O ressuscitar de Djakhama não pode ser visto como fenômeno catalizador na verdade ele nunca saiu do cenário político de Moçambique e a Frelimo parece me que neste momento não consegue criar alguém que o represente nas áreas não urbanas onde, por excelência tinha hegemonia
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  • Livre Pensador Mas entao, os "7 milhoes" foram esquecidos? Alguns disseram que foi uma das medidas mais acertadas na governacao da FRELIMO de todos os tempos.
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  • Brazao Catopola Não, não foram esquecidos. Aqui entra outra Questão a FRelimo foi incapaz de se justificar perante o eleitorado. Parece ter havido um convencimento de que as coisas falavam e agiriam per si. Pelo contrário os outros mostraram que a frelimo podia fazer mais do que o que fez, ou seja, a natureza do discurso da frelimo como aponto no texto não foi capaz de mostrar o melhor, criar e justificar utopias e as ações. Houve uma focalização no sujeito como bom, mas nunca como o que pode fazer melhor
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  • Livre Pensador Ou seja, uma vitoria amarga como o fel. Eu tenho uma interpretacao simplista dos acontecimentos. Em primeiro lugar, depois de Machel a FRELIMO perdeu lideres e criou aparelho. E com isso, passou a ter chefes que constroem o seu proprio aparelho, de acordo com os interesses de grupo. Esta governacao de Guebuza caracterizou-se muito pela "campanha". Pelo estrondo. Pela luz. E pela excitacao das massas. Isso funciona, por vezes, mas por pouco tempo. Porque nao e um acto ponderado. E um acto intenso, que a medida que perde energia vai revelando a sua vulgaridade. Por outro lado, este sistema que exalta massas, atrai muitas atencoes dos subditos. E havendo erosao de oponentes, como verificamos, converge para o pantano da critica, logo, o sistema nao se auto-regenera. E e ai que os expoliados de dentro e fora do aparelho se manifestam contra. Ai entao, surgem as solucoes de recurso. Nyusi e uma solucao de recurso. Bicefala. E sem carisma. Nao vai governar diferente do seu mentor, ate que este desapareca de cena no Comite Central juntamente com a sua entourage. Ficaremos 2 anos nesse marasmo e o seu "eleitorado' vai cobrar as promessas de campanha. E a oposicao vai se consolidar ainda mais. E porque? Porque revelou-nos uma coisa que ja nao viamos ha muito. Um LIDER! E mesmo com uma diferenca de meios de 1:10 ou mais, a RENAMO nao precisou de 30 dias para conquistar o eleitorado. Serviu-se inteligentemente do vacuo criado pelos seus adversarios ao preferirem uma campanha longa, monocordica e embalada por shows cinematograficos. E sobretudo foi simples, onde outros foram complexos, fazendo jus a Hermann Hesse: "O homem culto é apenas mais culto; nem sempre é mais inteligente que o homem simples."

    E Dhlakama e um líder simples, como o seu eleitorado.
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  • Lissungu Mazula este era o ponto, Dhlakama nunca saiu de cena. O MDM nao iria tao ja (ao menos nao de qualquer maneira) aparecer no cenario e capturar o eleitorado da REN(segundo partido dominante). Pra dizer que Dhlakama nao retornou das cinzas, apenas recuperou seu eleitorado. Em relaçao as fraudes como maneira de manuntençao do poder(eleiçoes livres, mas justas?!¿)... .
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  • Brazao Catopola Ou seja, estas dizendo o mesmo que eu. A frelimo em sua campanha errou na estratégia de comunicação e criação de um líder e, não foi ao povo. Talvez pela incapacidade desses escolhidos irem até a base e se sustentaram um líder cria se pelas suas referências. Só para lembrar Guebuza era visto antes 2004 como reto, rigoroso e isso o catapultou na esperança de um país melhor
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  • Livre Pensador Um velho ditado ja dizia que o poeta nasce. O orador faz-se. O da FRELIMO e ventriloquo.
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  • Lissungu Mazula Yup. Neste sentido. Pois Guebuza governou a lei de ferro. E como em Moçambique nos orientamos muito mais pela imagem do presidente e dai para o partido, com Guebuza a FRELIMO deixou de ser o partido do povo. Com tempo, as divergencias internas foram tornando-se claras (e era a gota que faltava p'ra transbordar o oceano). Desta maneira, as fraudes extravagantes só poderiam ser utilizadas para conservar a manuntençao deste partido no poder..
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  • Eusébio A. P. Gwembe Eu vejo o problema da Frelimo noutra linh, nas zonas urbanas. A maioria dos seus edis por não conseguirem resolver os problemas da juventude com efeito nos progenitores que os devem alimentar fora do tempo, criou fel para a própria Frelimo. Enquanto isso, Guebuza esforçou-se a recuperar o eleitorado rural que era mais inclinado para a Renamo. Para recuperar o amor perdido das cidadea, os edis precisam contribuir.
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  • Lissungu Mazula Quando os calculos estão corretos os números nao mentem. 
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  • Eusébio A. P. Gwembe Mazula, pelo contrário. Guebuza apanhou a Frelimo com água no pescoço. Dhlakama chegou de ter 47%. Para mim, Guebuza foi homem certo no momento certo.
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  • Lissungu Mazula Eu discordo. Está ai a consequencia.. Talvez o homem certo para um futuro que seria prospero c a peculiaridade da mao de ferro que diminuiu o potencial de dominancia do partido..
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  • Eusébio A. P. Gwembe Além de tornar a Frelimo mais forte, Guebuza fez com que o Estado se.fizesse presente nas áreas remotas. Nos dias que correm, mesmo o chefe do posto administrativo tem trabalho.
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  • Brazao Catopola Creio que se a questão é o eleitorado urbano através da insatisfação, aqui entramos para um cenário muito crítico, pois parece que as regiões rurais votaram em massa na Renamo? Então levantamos a questão: onde se situa o eleitorado da frelimo?
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  • Eusébio A. P. Gwembe Mazula, mão de ferro em relação a quem? Eu tenho que no tempo de Guebuza as liberdades cívicas ampliaram-se.
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  • Eusébio A. P. Gwembe Catopola, a boa campanha que a Frelimo fez nas cidades que resultou na tomada de consciência de muitos perdidos, leva me a crer que o seu eleitorado continua a ser urbano. Lembre-se das deserções em massa no MDM.
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  • Lissungu Mazula Gwembe,Guebuza nao tornou a Frelimo mais forte. O que tornou a Frelimo mais forte foi a captura das regioes inclusive da Renamo após as eleiçoes de 2009. Conquistou 191 assentos.. Transitou de dominante a hegemónico, partido tornou-se Estado(difícies linha de separaçao) com todos os recursos estatais a seu dispor, manipulou o aparatus estatal e o faz até hoje..
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  • Arcadio Nelson Na minha pobre analise julgo tdos irem no ñesmo caminho; mas abono d verdade olhando pelos resultados parciais ate entao e cm a subida da Renamo e do Mdm mostra q o povo(rural e urbano)ta insatisfeito cm a governaçao do dia.nomea se dirigentes burros pq e antigo n partid frelimo.que nem acompanha a dinamica da sociedade....e estes lgo sao rejeitados pela cmunidade.
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  • Claudio Lombene Os desafios politicos agora sao mais complexos para os Partidos e consequentemente e tempo de os estrategas Politicos destas organizacoes sentarem e repensarem o rumo a seguir(como ganhar mais carisma no seio das camadas desertoras ou hesitantes,como superar de forma convicente os adversarios)e isto significara uma nova fase na nossa democracia,onde a sofisticacao do pensamento e do agir superarao a leviandade na conquista do eleitorado.Estamos todos a crescer.
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