Cartas de M’telela (2) *
«Centro de Reeducação
12 – 2 – 81
Querido Filho,
Sinto-me muito contente por escrever esta carta a todos os meus filhos. Primeiro, quero saber da vossa vida. Quanto a mim, estou bem. De facto, estou muito triste porque faz agora um ano que recebi notícias vossas. Estou ansiosa por saber de tudo.
Recebi as vossas cartas de Outubro e Novembro de 1979, assim como uma carta de Fevereiro de 1980, na qual vinha incluída uma fotografia.
As cartas que me escreveram em 1980 não chegaram às minhas mãos. Apenas me disseram que por azar haviam-se extraviado. O chefe fez o melhor para encontrar as cartas, mas sem sucesso. Portanto, não se apoquentem. Já passou.
Estou ansiosa por saber dos resultados dos vossos anos escolares de 1980. Por favor, respondam tão cedo quanto possível.
O Déviz e o José devem escrever-me em qualquer língua.
Tenho a certeza que vocês estão bem, e que o meu pai fará tudo por vós. Peço-vos que não o incomodem muito, mas não tenham receio dele. Sejam bons rapazes para o vosso Avô.
Estou sempre ansiosa por saber da Carolina, da Lina, da Marta, do José Obedias e do Obedias, filho do meu irmão. Em que classe é que eles andam?
Aqui estamos todos bem. Desejos de boa sorte e boa saúde nos vossos estudos.
Aqui estamos todos bem. Desejos de boa sorte e boa saúde nos vossos estudos.
Cumprimentos a todos em casa, e dêem as minhas melhores saudações à minha querida Avó.
Por favor, não esperem receber sempre cartas minhas, mas se as receberem só será quando o rei fizer anos, está bem? O que quero dizer é que não devem pensar que sempre que me escreverem terão uma resposta. Mas escrevam sempre.
É tudo por agora.
A vossa querida mãe,
Celina»
* Esta a única carta que os filhos do casal Simango receberam da mãe. Celina Simango foi executada por ordens do governo da Frelimo em 21 de Junho de 1982, menos de um ano após o lançamento da chamada «Ofensiva na Frente da Legalidade», no decurso da qual as autoridades moçambicanas admitiram publicamente a ocorrência de graves violações de direitos humanos em campos de reeducação. A responsabilidade por tais práticas foi, porém, atribuída a "elementos infiltrados nas Forças de Defesa e Segurança" e à "persistência de valores e práticas das sociedades colonial-capitalista e tribal-feudal".
Foto: Campo de Reeducação de M’telela (antigo aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, Nova Viseu, Província do Niassa)
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