Tuesday, October 28, 2014

Cartas de M’telela (2)

Cartas de M’telela (2) *
«Centro de Reeducação
12 – 2 – 81
Querido Filho,
Sinto-me muito contente por escrever esta carta a todos os meus filhos. Primeiro, quero saber da vossa vida. Quanto a mim, estou bem. De facto, estou muito triste porque faz agora um ano que recebi notícias vossas. Estou ansiosa por saber de tudo.
Recebi as vossas cartas de Outubro e Novembro de 1979, assim como uma carta de Fevereiro de 1980, na qual vinha incluída uma fotografia.
As cartas que me escreveram em 1980 não chegaram às minhas mãos. Apenas me disseram que por azar haviam-se extraviado. O chefe fez o melhor para encontrar as cartas, mas sem sucesso. Portanto, não se apoquentem. Já passou.
Estou ansiosa por saber dos resultados dos vossos anos escolares de 1980. Por favor, respondam tão cedo quanto possível.
O Déviz e o José devem escrever-me em qualquer língua.
Tenho a certeza que vocês estão bem, e que o meu pai fará tudo por vós. Peço-vos que não o incomodem muito, mas não tenham receio dele. Sejam bons rapazes para o vosso Avô.
Estou sempre ansiosa por saber da Carolina, da Lina, da Marta, do José Obedias e do Obedias, filho do meu irmão. Em que classe é que eles andam?
Aqui estamos todos bem. Desejos de boa sorte e boa saúde nos vossos estudos.
Cumprimentos a todos em casa, e dêem as minhas melhores saudações à minha querida Avó.
Por favor, não esperem receber sempre cartas minhas, mas se as receberem só será quando o rei fizer anos, está bem? O que quero dizer é que não devem pensar que sempre que me escreverem terão uma resposta. Mas escrevam sempre.
É tudo por agora.
A vossa querida mãe,
Celina»
* Esta a única carta que os filhos do casal Simango receberam da mãe. Celina Simango foi executada por ordens do governo da Frelimo em 21 de Junho de 1982, menos de um ano após o lançamento da chamada «Ofensiva na Frente da Legalidade», no decurso da qual as autoridades moçambicanas admitiram publicamente a ocorrência de graves violações de direitos humanos em campos de reeducação. A responsabilidade por tais práticas foi, porém, atribuída a "elementos infiltrados nas Forças de Defesa e Segurança" e à "persistência de valores e práticas das sociedades colonial-capitalista e tribal-feudal".
Foto: Campo de Reeducação de M’telela (antigo aquartelamento das Forças Armadas Portuguesas, Nova Viseu, Província do Niassa)
  • 20 pessoas gostam disto.
  • Nelio Raul Joao O teor dessa carta é muito forte que até deu me uma vontade de chorar, uma mãe privada se ver os filhos por questões ideológicas......
  • Aderito Bernardo Junior Lamentavelmente,parece uma estoria mas é pura verdade.
  • Arlindo António Chiuiane Nhantumbo Quao dorido! A verdade exige-se e impoe-se.Os actuais cenarios de mera violencia ,obrigam-nos a reflectir e mais do que isso a evitar cenarios semelhantes.Porque tanto odio que se prolonga ate'? O medo,a ma' consciencia ou historicidades em causa? Os cenarios de ontem prolongam-se.
  • Arlindo António Chiuiane Nhantumbo Se houvesse arrependimento,teriamos cenarios diferentes.O que se sente e' a sobranceria e o monopolio da historia. Nao senti nestas comemoracoes das fdm qualquer referencia aos fundadores da frelimo no sentido amplo.Quer se queira quer nao,Uria Simango,Celina Muchanga,Adelino Guambe,Lazaro Simango ,Kavandame entre outros como Filipe Magaia nao podem ser obliterados na genese e desenvolvimento da Frelimo.Busca-se extirpar uma fase historics,amputando-a.A historia so' se fez e faz a partir de outros contextos,nao estaremos no dominio da estoria? Preocupante que os homens sejam dignos a partir de aforismos.Nao tera' Celina fundado a primeira Liga de Mulheres da Frelimo? Que saiba Uria foi expulso da Frelimo por ter denunciado certas praticas internas pos morte de Mondlane.Onde a traicao?
  • Linette Olofsson Muito triste! sem palavras.
  • Francisco S. Mate Mais parece uma tentativa de aproveitamento politico. Em 5 anos não se publicou esse material, porquê agora? Se está mesmo interessado na educação historica do povo, então não precisa de o fazer em momentos cruciais da consolidação da democracia. Querer moldar mentes com artificios historicos é jogar baixo, até porque há partidos politicos cujo passado, se vasculhado, podem afundar. 

    Past is past. Os objectivos são outros hoje. Viva a paz e reconciliação.
  • Livre Pensador Viva o esquecimento tambem, para voltarmos a cometer os mesmos erros!
  • Francisco S. Mate Viva o perdao, pois esquecer, por imperativos biologicos, nao eh possivel.
  • Joao Cabrita Oriento-me pela palavra de ordem superiormente traçada: «Não vamos esquecer o tempo que passou».
  • Francisco S. Mate Ahh sim, por conveniencia politica. Em outras circunstancias nao te orientarias!!!
  • Joao Cabrita Francisco S. Mate, publicidade à parte, fiz referência a essas cartas, transcrevendo excertos das mesmas, em livro publicado muito antes das actuais e anteriores campanhas eleitorais. Além do mais, não acredito que seja possível alterar a tendência de voto da esmagadora maioria de um eleitorado sem acesso à Internet e, por inerência, ao Facebook.Mas, se por causa da divulgação das cartas, o Francisco S. Mate está agora na dúvida se deve votarFilipe Jacinto NyusiDhlakama - imagens de campanhaLutero Simango, ouDaviz Mbepo Simango, então só devo regozijar-me por isso.
  • Linette Olofsson Viva o perdão?? para ser perdoado, é preciso coragem para pedir perdão!
  • Jose Domingos Pereira Nos nao vamox xkecer o tempo k paxou ate k seja feita a justica,foram milhares dos noxos irmaos mortos pela Frelimo por causa duma luta pelo poder,nada irá ser xkecido
  • Francisco S. Mate os menos atentos senhor Joao Cabrita, como eu, podem facilmente ser manipulados com este passado. Eh preciso explicar, urgentemente, o objectivo destes campos. A sobrevivencia deste Estado exigiu a tomada de decisoes dificeis. Provavelmente o senhor, como lider, teria tomado as mesmas decisoes. Hje, a agenda internacional trouxe conceitos como direitos humanos emprestados das democracias liberais e sao o ganho para as nacoes. Mas eh injusto olhar para aquele momento historico e ignorar estes elementos todos: a busca pela estabilidade economica, politica e principalmente social. Eh injusto ignorar estes factores.
  • Jose Domingos Pereira Justo foi assassinar os proprios irmaos?senhor nao tem coraxao,nao se mata alguem para atingir o topo
  • Francisco S. Mate Ai estah a diferenca entre um cidadao comum e um lider ( aquele que zela pelo bem estar e seguranca de 23 milhoes de outros cidadaos). Para si, eh uma questao de coracao, para um lider eh uma questao de sacrificar 1 (um) em nome de 23 milhoes!!!
  • Jose Domingos Pereira Ixo ker dizer sacrificaram os irmaos pelo 23 milhoes d pexoa?exe acto nao tem defesa,o assassinato,crime contra a humanidade
  • Joao Cabrita Francisco S. Mate, grande parte dos comentários aqui feitos apontam a necessidade de não se voltar a cometer os erros do passado. Não era a sobrevivência do Estado moçambicano que estava em causa, mas a de um regime quando se tomaram as medidas em debate. A busca pela estabilidade económica, política e social não justifica a negação de direitos elementares, como o da integridade da pessoa humana. Os conceitos de direitos humanos a que se refere não são de hoje. Eles inspiram-se em instrumentos como a Carta Magna de 1215, a Declaração de Direitos Inglesa de 1689, a Declaração Francesa de Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 e a Constituição e Declaração de Direitos dos Estados Unidos de 1791. O 1° Programa da Frelimo aprovado em 1962 proclamava a instauração num Moçambique independente de «um governo do povo, pelo povo e para o povo».Este princípio fundamental de um Estado de Direito democrático não foi retirado de nenhuma agenda internacional, mas antes inspirado no pensamento de Abraham Lincoln (1809-1865). Houve, pois, um recuo dos dirigentes da Frelimo em relação a um princípio adoptado aquando da fundação da Frente de Libertação de Moçambique, recuo esse que também não pode servir de justificativo para a negação dos direitos elementars ora referidos.
  • Jose Domingos Pereira Francisco S Mate, ta tentando defnder uma causa k nem sabe
  • Khallos Manuel Ainda há quem pensa em continuar a apoiar um regime tirano? Assassinatos, prisões arbitrarias seqüestros, execuções sumarias, perseguições políticas, tribalismo instituicional e muito recentemente uma demonstração de que quem promulga a Lei pode pisá lá. Alto aí. Apartir de 15 de Outubro é celebrada a nova Republica com os Jovens da Revolução 28 de Agosto tendo o Galo como mascote e Daviz Mbepo Simango Presidente.

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