O pior prisioneiro é aquele que jaz
trancafiado no tempo. Aquele que se fecha dentro das grades imaginárias de um
passado estancado na memória, e não deixa o presente fluir.
Aquele que morre de medo de ser, de
existir, de enfeitar a masmorra de suas emoções com as flores do agora, e alega
"flores não tardam: desfalecem". Ele não se permite a perplexidade, o
encantamento, o deslumbramento com as ínfimas, mas grandiosas e infinitas
alegrias que o cercam. E, assim, se desvencilha da poesia que o visita a cada
fração de segundo.
Há, também, aquele que se faz prisioneiro do futuro e vive na ansiedade de
quem adia, dentro de si, o pulsar das
emoções. Assim, aquilo que de belo se lhe apresenta na alma, ele o faz abafar,
o despreza, o desqualifica, pois ele aguarda um futuro que há de ser ainda mais
grandioso e mais perfeito.
A vida é uma sucessão de
oportunidades únicas, todas efêmeras, cada qual com sua rara e insubstituível
beleza, para adornar o instante de cada um.
Não é possível desfrutar do eterno se
ele não se fizer fracionado em
instantes.
Então, que os ponteiros do agora
indiquem a nossa melhor hora de íntimo mergulho nas turbulências da nossa paz
interior; eis a nossa libertação. E não se preocupe: ninguém morre afogado de
si. Ninguém.
31 de Outubro de 2014.
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