O Farol do Macúti e o Acidente de Mbuzini - 1
(VOR para iniciados)
Faltam apenas três meses para a realização de eleições gerais no país, que, entre outras coisas, assinalarão o fim da carreira de Armando Emílio Guebuza como Presidente da República. Das promessas que não poderá orgulhar-se de ter cumprido foi a da resolução do mistério por ele próprio alimentado anos a fio, primeiro como chefe da comissão de inquérito nacional ao acidente de aviação de Mbuzini, e depois na qualidade de mais alto magistrado da Nação, em torno de um famigerado «VOR falso» como causa do acidente de Mbuzini. Promessas que foram sendo ritualmente feitas em cada aniversário do desastre. Esgotado o tema, o Presidente Guebuza lavou as mãos da moscambilha engendrada, transferindo depois o que ele designou de «dossier Mbuzini» para a Procuradoria-Geral da República, instituição não vocacionada à investigação de acidentes aéreos, aí permanecendo em hibernação artificial vai para seis anos.
Por ignorância ou por dolo, Armando Guebuza lançou o engodo do «VOR falso», criando entre os familiares das vítimas do acidente e no seio dos cidadãos em geral a falsa expectativa de que um dia se descobriria, não os autores, pois estes há muito foram por ele identificados, mas o instrumento por eles utilizado, o que torna tudo ainda mais caricato e tão ridículo como a suposta tese do misterioso aparelho falso.
Toda a gente sabe, e os investigadores da equipa tripartida foram os primeiros a descobrir, que o Tupolev presidencial deu a volta prematura à direita por ter sintonizado um radiofarol VOR. Mas, concluir que este era falso, isto é, que transmitia na mesma frequência da estação VOR do aeroporto de Maputo não passa de pura especulação.
No âmbito dos preparativos para uma descida e aterragem, o Comandante de qualquer aeronave tem procedimentos a seguir a regras a cumprir. Por uma questão de rotina, o Comandante do avião verifica se todos os instrumentos de bordo estão devidamente ajustados e a funcionar conforme o exigido pelos regulamentos da aviação civil e de acordo com o que vem estipulado no manual da aeronave. Em voz alta, o Comandante vai lendo cada um dos instrumentos, dos altímetros, aos rádios passando pelos receptores VOR. E igualmente em voz alta, o Co-piloto responde, «verificado», à medida que confere cada um desses instrumentos. É a chamada contraprova, ou «cross-checking» na gíria da aviação, e no caso específico dos receptores VOR, o Co-piloto verifica não apenas a frequência seleccionada, como também escuta, com auxílio de auscultadores, o indicativo da estação VOR do aeroporto onde pretende aterrar, que é transmitido em código Morse.
Ao escutarem a gravação da conversa no interior da cabine do Tupolev sinistrado em Mbuzini, os investigadores da equipa tripartida concluíram que o Comandante do avião não havia procedido à verificação das listas de descida e aproximação à pista. O Co-piloto, em vez de estar em sintonia com a estação VOR do Aeroporto de Maputo, escutava, através do rádio de alta frequência de bordo, um programa musical transmitido por uma estação de rádio soviética.
Portanto, como atrás foi referido, é pura especulação dizer-se que o avião deu a volta prematura devido à existência de um VOR falso dado que nem o Comandante, nem o Co-piloto haviam verificado a frequência do VOR seleccionado. (continua)
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