Escolha de Filipe Nyussi é “triunfo da ala próxima de Guebuza”
O analista político Henriques Viola frisa que escolha era previsível, mas que atual titular da Defesa tem capacidades de boa governação. Viola diz que se avizinham eleições “renhidas” pelas brechas deixadas pela FRELIMO.
O atual ministro da Defesa, Filipe Nyussi, foi eleito candidato oficial às eleições presidenciais de 15 de outubro, no último fim de semana, pelo Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO).
Nyussi, de 55 anos, natural de Cabo Delgado, no norte do país, derrotou na segunda volta a antiga primeira-ministra Luísa Diogo.
O antigo dirigente do Ferroviário de Nampula deverá ter como adversários o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, e o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, que já anunciou a intenção de se candidatar à Presidência da República.
DW África: É uma surpresa a escolha de Filipe Nyussi?
Henriques Viola (HV): Evidentemente que não é nenhuma surpresa para mim. Querendo ou não, o xadrez político da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) vem evoluindo de forma previsível. No caso da ala que defendia outros pré-candidatos, como Joaquim Chissano e Luísa Diogo, não fizeram um trabalho suficientemente forte nas bases de modo a que tivessem lobbies no comité Central.
DW África: Acha que o aparecimento destes pré-candidatos de última hora é uma manobra da FRELIMO?
HV: Exatamente, foi uma "operação de cosmética". Estes pré-candidatos que entraram à ultima hora não tiveram tempo de trabalhar e eu não percebo como é que eles aceitaram vir para uma eleição numa situação de campo inclinado, onde os outros adversários levavam uma vantagem de três meses de pré-campanha dentro do próprio partido.
DW África: O que é que representa esta eleição?
HV: Não há dúvidas de que é uma vitória da ala próxima de Armando Guebuza. Mas é preciso ter em conta que Filipe Nyussi é uma pessoa que, apesar de não ter grande traquejo político, detém um certo domínio de alguns dossiês e alguma capacidade de análise democrática e económica. É uma figura que peca principalmente por vir da ala do Presidente Armando Guebuza, mas tem capacidades para levar a bom termo as questões de desenvolvimento.
DW África: Filipe Nyussi tem 55 anos, não tem um passado de luta armada contra a administração colonial portuguesa… Como é que vê esta mudança?
HV: Moçambique tem vindo a retardar essa mudança há algum tempo. É independente há cerca de 40 anos, mas felizmente a governação era tomada pela Geração Machingueia, da geração dos antigos combatentes que estiveram na luta de libertação nacional. Mas há um dado curioso: vai-se consolidando o poder, o domínio económico e político e a ligação entre as etnias changana e maconde. Evidentemente alguns antropólogos e parte da população moçambicana poderão ver isto como uma ameaça a outras etnias.
DW África: Acha que a escolha de Filipe Nyussi foi a mais acertada?
HV: O futuro é que vai responder. Na minha opinião, entre os três pré-candidatos – o primeiro-ministro Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura José Pacheco e o da Defesa Filipe Nyussi – penso que este último é o menos mau. O grande problema dos três não se coloca ao nível da sua capacidade, mas principalmente ao nível da sua ligação excessiva e até umbilical à governação do Presidente Armando Guebuza. A grande questão que se coloca é: será que eles vão ter a capacidade de se distanciar da governação de Armando Guebuza e de propor, fazer e colocar em prática as suas provas políticas?
DW África: Prevêem-se eleições renhidas em outubro?
HV: As eleições este ano vão ser realmente renhidas. Haverá uma grande concorrência mas que não vai depender do que a FRELIMO fizer, mas sim da capacidade da oposição em aproveitar os espaços que a FRELIMO tem vindo a deixar, quer à sua direita, quer à esquerda, tal como atrás do partido.
Nyussi, de 55 anos, natural de Cabo Delgado, no norte do país, derrotou na segunda volta a antiga primeira-ministra Luísa Diogo.
O antigo dirigente do Ferroviário de Nampula deverá ter como adversários o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, e o líder do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, que já anunciou a intenção de se candidatar à Presidência da República.
Nomeação à última hora de mais duas figuras na corrida a candidato da FRELIMO foi "operação de cosmética" da FRELIMO, diz Henriques Viola
A DW África conversou com Henriques Viola, analista político do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Moçambique, sobre o candidato oficial da FRELIMO.DW África: É uma surpresa a escolha de Filipe Nyussi?
Henriques Viola (HV): Evidentemente que não é nenhuma surpresa para mim. Querendo ou não, o xadrez político da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) vem evoluindo de forma previsível. No caso da ala que defendia outros pré-candidatos, como Joaquim Chissano e Luísa Diogo, não fizeram um trabalho suficientemente forte nas bases de modo a que tivessem lobbies no comité Central.
DW África: Acha que o aparecimento destes pré-candidatos de última hora é uma manobra da FRELIMO?
HV: Exatamente, foi uma "operação de cosmética". Estes pré-candidatos que entraram à ultima hora não tiveram tempo de trabalhar e eu não percebo como é que eles aceitaram vir para uma eleição numa situação de campo inclinado, onde os outros adversários levavam uma vantagem de três meses de pré-campanha dentro do próprio partido.
DW África: O que é que representa esta eleição?
HV: Não há dúvidas de que é uma vitória da ala próxima de Armando Guebuza. Mas é preciso ter em conta que Filipe Nyussi é uma pessoa que, apesar de não ter grande traquejo político, detém um certo domínio de alguns dossiês e alguma capacidade de análise democrática e económica. É uma figura que peca principalmente por vir da ala do Presidente Armando Guebuza, mas tem capacidades para levar a bom termo as questões de desenvolvimento.
DW África: Filipe Nyussi tem 55 anos, não tem um passado de luta armada contra a administração colonial portuguesa… Como é que vê esta mudança?
HV: Moçambique tem vindo a retardar essa mudança há algum tempo. É independente há cerca de 40 anos, mas felizmente a governação era tomada pela Geração Machingueia, da geração dos antigos combatentes que estiveram na luta de libertação nacional. Mas há um dado curioso: vai-se consolidando o poder, o domínio económico e político e a ligação entre as etnias changana e maconde. Evidentemente alguns antropólogos e parte da população moçambicana poderão ver isto como uma ameaça a outras etnias.
DW África: Acha que a escolha de Filipe Nyussi foi a mais acertada?
HV: O futuro é que vai responder. Na minha opinião, entre os três pré-candidatos – o primeiro-ministro Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura José Pacheco e o da Defesa Filipe Nyussi – penso que este último é o menos mau. O grande problema dos três não se coloca ao nível da sua capacidade, mas principalmente ao nível da sua ligação excessiva e até umbilical à governação do Presidente Armando Guebuza. A grande questão que se coloca é: será que eles vão ter a capacidade de se distanciar da governação de Armando Guebuza e de propor, fazer e colocar em prática as suas provas políticas?
DW África: Prevêem-se eleições renhidas em outubro?
HV: As eleições este ano vão ser realmente renhidas. Haverá uma grande concorrência mas que não vai depender do que a FRELIMO fizer, mas sim da capacidade da oposição em aproveitar os espaços que a FRELIMO tem vindo a deixar, quer à sua direita, quer à esquerda, tal como atrás do partido.
DW.DE
- Data03.03.2014
- AutoriaMadalena Sampaio
- EdiçãoNuno de Noronha / António Cascais
- Palavras-chaveMoçambique, FRELIMO, Comité Central da FRELIMO, Henriques Viola, Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais de Moçambique
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