Na imprensa aparecem cada vez mais declarações de políticos que consideram perfeitamente possível o surgimento no lugar da atual Ucrânia de logo vários territórios independentes. E isto tem uma explicação bastante simples: quanto mais fraco um Estado, tanto mais há quem queira se enriquecer à sua custa.
Um dos primeiros a exprimir tal ideia, em entrevista à rádio polonesa, foi o ex-embaixador polonês na URSS e depois na Rússia e na Ucrânia, Stanislaw Ciosek. Ele disse que a Ucrânia pode ser dividida em três partes. Esta ideia não pode ser chamada de fresca, mas nas últimas semanas ela de repente voltou a ser relevante. Assim, a Hungria insiste em criar na Transcarpátia uma região especial onde hoje vive principalmente população húngara. A Romênia reivindica parte da área fronteiriça da Ucrânia. A propósito, o parlamento romeno já adotou uma declaração na qual a Bucovina do Norte e alguns distritos da região de Odessa são proclamados “território romeno”.
Mas é a Polônia que tem as principais pretensões em relação à Ucrânia. Os nacionalistas não se cansam de exigir a Varsóvia medidas concretas para o retorno das “periferias do leste”, como a região de Lviv. O representante do Parlamento Europeu Marek Siwiec disse num jornal: “A Polônia tem a obrigação de apoiar de todas as formas a ideia da divisão da Ucrânia e fazer tudo para que ela aconteça o mais rápido possível.”
E eis o que o editor-chefe da publicação Geopolítica, Leonid Savin, disse sobre as perspectivas de um estado ucraniano unido:
“Além das áreas mencionadas, há ainda a região de Polesie, onde vive uma população mista de ucranianos e bielorrussos. Entre os nacionalistas bielorrussos também existe a opinião de que historicamente essas terras são da Bielorrússia. Há também o Sudeste da Ucrânia, onde vivem pessoas etnicamente russas. Se o atual governo da Ucrânia continuar a exercer a mesma política destrutiva, a divisão é possível. Vemos que o exército ucraniano está mostrando a sua incapacidade total apesar das declarações sobre a defesa da Crimeia e a disposição de resistir, como eles dizem, às forças de ocupação.”
O cenário iugoslavo na Ucrânia, infelizmente, é bastante provável, embora indesejável para todos os membros responsáveis da comunidade internacional sem exceção. Neste momento difícil, as autoridades autoproclamadas de Kiev devem mostrar a máxima sabedoria e resistência para não permitir a forças destrutivas dentro do país e àqueles que voltaram suas atenções para suas regiões de levarem vantagem.
No entanto, eles estão fazendo tudo exatamente ao contrário, como se seguindo um cenário definido de perda final da soberania da Ucrânia. Primeiro de tudo, com suas iniciativas nacionalistas, antirrussas, e simplesmente desprovidas de elementar bom senso eles tornam ainda mais profunda a divisão entre o Leste e Oeste do país. Há uma sensação de que dentro em breve, pelos esforços do governo autoproclamado, será superada a linha vermelha depois da qual a vida das duas partes do país num único estado será dificultada ao máximo, se não impossível de todo.
O analista político Vladimir Pantin acredita que a divisão sociopolítica na Ucrânia irá certamente mobilizar aqueles que estão dispostos a ficar com os “melhores pedaços”:
“A história do país é muito complicada. Várias áreas pertenciam à Polônia, Áustria-Hungria e outros Estados. Na história sempre podem ser encontradas razões para a divisão da Ucrânia, mas isso pode levar a consequências imprevisíveis e perigosas. Embora a divisão que vemos lá sempre tivesse provocado, e provocará tais tentativas.”
Várias agências e especialistas estrangeiros já estão discutindo quase que os detalhes de uma possível ocupação da Ucrânia, chamando-a de um Estado completamente falhado. O Partido Liberal Democrático da Rússia tão pouco ficou de lado desse tema. Assim, o seu líder Vladimir Zhirinovsky, avançou com mais uma iniciativa original enviando uma carta ao Ministério das Relações Exteriores polonês. Nela apela-se a concentrar esforços na realização de um referendo sobre a adesão à Polónia das regiões ocidentais da Ucrânia: Volyn, Lviv (Lvov), Ivano-Frankivsk (Ivano-Frankovsk), Ternopil (Ternopol) e Rivne (Rovno). O analista Oleg Matveichev comentou essa ideia assim:
“A prática de divisões veio de um passado muito distante. Os czares russos participavam relutância em tais divisões, quando se perdia a soberania de algum Estado. Já quando os outros partilhavam algo, nós nos víamos obrigados a participar porque se não ficasse para nós – ficaria para os nossos inimigos. Foi assim no caso com a Polônia. Mas quando os países ocidentais ofereceram à Rússia dividir a Turquia e a China, o imperador Nicolau II recusou e disse que isso não era cristão.”
O presidente russo Vladimir Putin se pronunciou repetidamente sobre a possível divisão da Ucrânia. Ele declarou que Moscou está interessada em manter um Estado da Ucrânia unido, e a adesão voluntária da Crimeia é não mais que a restauração da justiça histórica, baseada no desejo da esmagadora maioria dos habitantes.
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