Friday, March 7, 2014

A (surpreendente) eleição de Nyussi

(surpreendente) eleição de Nyussi


Meteórica! É o que se pode dizer da ascensão de Filipe Nyussi, o candidato da Frelimo às eleições presidenciais de 15 de Outubro próximo, eleito na III Sessão Ordinária do Comité Central, que teve lugar na cidade da Matola entre os dias 27 de Janeiro e 2 de Março.
Nyussi, actual ministro da Defesa, fazia parte do trio de pré-candidatos propostos ao Comité Central, o mais alto órgão do partido Frelimo entre os congressos, ao lado de Alberto Vaquina, Primeiro-Ministro, e José Pacheco, timoneiro da Agricultura. A indicação dos três não foi alvo de contestações, porém, o problema começou quando o partido, na voz do seu então secretário-geral, Filipe Paúnde, disse, num tom autoritário, que já não havia espaço para a entrada de mais pré-candidatos na corrida, o que gerou um clima de ranger os dentes no seio do cinquentenário.
Entretanto, porque no partido reina uma espécie de yes manismo (obediência cega), ninguém se dignou a contrapor a decisão abertamente. Com o passar do tempo, uma carta de impugnação, assinada por alguns membros, dentre os quais seniores, foi divulgada na comunicação social e entregue à Comissão de Verificação. Mais do que impugnar, o documento alertava para o facto de a Comissão Política e o secretário-geral estarem a violar os estatutos do partido ao não permitir que mais membros se propusessem a pré-candidatos às eleições presidenciais de Outubro próximo.
É que os Estatutos rezam que cabe apenas à Comissão Política propor candidatos ao Comité Central mas este, querendo, pode aceitar ou rejeitar as propostas assim como optar por aceitar outras candidaturas provenientes de outros órgãos do partido, inclusive do próprio CC. Mas isso não cabia na cabeça de Filipe Paúnde e dos seus seguidores, com destaque para o G40, que se limitara a questionar o carácter dos signatários da carta, sem sequer prestar atenção ao conteúdo da mesma, muito menos ler os Estatutos.
Os recados dos antigos combatentes
Felizmente, a Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional honrou as calças que veste e colocou literalmente o ponto de ordem. Na sua reunião, que antecedeu o Comité Central, os antigos combatentes não só exigiram a inclusão de mais candidatos, mas também a reestruturação do secretariado do partido uma vez que não o consideravam à altura dos desafios que se seguem, nomeadamente as eleições presidenciais, legislativas e das assembleias provinciais de Outubro.
“Mas que fique claro que os três não foram reprovados. Nós estamos junto dos três candidatos, mas aceitamos que haja mais abertura para mais oportunidades, porque queremos que seja um candidato de consenso. (…) O importante é que deveríamos seguir o que os nossos Estatutos dizem: que primeiro a Comissão Política propõe (os nomes), mas não dita (…)”, disse Carlos Siliya, porta-voz do encontro.
“Temos que fortificar o nosso partido para os desafios que se avizinham porque a Frelimo tem que ganhar e não pode fazê-lo com estruturas fracas”, acrescentou Siliya, para quem o novo secretariado deve ser capaz de elevar o moral dos militantes e ainda mobilizar massivamente o povo, pois só deste modo a Frelimo sairá vencedora do próximo escrutínio.
Secretariado cede e admite novos pré-candidatos
As recomendações dos antigos combatentes foi tida em conta e na antevisão da III Sessão do Comité Central o porta-voz do partido, Damião José, abria a possibilidade de haver mais propostos a pré-candidatos. Já na primeira conferência de Imprensa, Damião José anunciava as candidaturas de Luísa Diogo e Aires Ali, antigos primeiros- ministros, tidos como pertencentes à moderada ala de Joaquim Chissano.
No sábado, por volta das 19 horas, os 197 dos 201 membros do Comité Central e convidados, estes últimos sem direito a voto, entravam na sala de sessões para procederem à eleição do candidato da Frelimo às eleições presidenciais de Outubro. Na corrida estavam Alberto Vaquina, José Pacheco, Filipe Nyussi, Luísa Diogo e Aires Ali. Os dois últimos enconteavam-se em desvantagem porque as suas candidaturas foram aceites um dia antes e não tinham tido a oportunidade de fazer campanha pelos círculos provinciais, tal como os outros três.
O escrutínio ditou a realização de uma segunda volta entre os dois pré-candidatos mais votados, nomeadamente Filipe Nyussi e Luísa Diogo, uma vez que nenhum dos cinco atingira os 50+1 porcento dos votos, como determinam os Estatutos. No fim, Nyussi saiu vencedor, com 135 votos, correspondentes a 68 porcento, contra 61 de Diogo, equivalentes a 31 porcento.
“O nosso candidato é para vencer”, Guebuza
Após o anúncio dos resultados, Armando Guebuza, presidente do partido, era um homem visivelmente feliz porque o seu desejo tinha sido materializado. Filipe Nyussi, proposto pela Comissão Política e que era dado como o que mais condições de ganhar reunia, era o candidato presidencial. “É o candidato de grande parte do povo moçambicano. Dissemos que íamos escolher o candidato da Frelimo. Os concorrentes prestaram um grande serviço ao país. O candidato da Frelimo é para vencer. Vencer!”, disse Guebuza. Mas foi no dia de encerramento que Guebuza falou de Filipe Nyussi, na qualidade de candidato, de forma mais apaixonada. Para além da sua biografia, o presidente da Frelimo invocou qualidades pessoais e competência profissional para justificar a aposta do seu partido em Nyussi.
A corrida contra o tempo
Entretanto, uma coisa é certa. O partido, no seu todo, reconhece que tem muito pouco tempo para projectar o nome e a imagem do seu candidato, desconhecido pela maioria do eleitorado dado o seu histórico na política. Pode-se dizer que Nyussi é um “pára-quedista” neste jogo. Ele apareceu em 2008 como governante em 2008, quando foi nomeado ministro da Defesa depois da queda de Tobias Dai.
Antes disso, sempre esteve ligado à empresa Portos e Caminhos-de-Ferro de Moçambique, onde ocupou o cargo de director executivo da zona Norte e, mais tarde, administrador executivo. No partido, nunca desempenhou nenhuma posição de direcção. “O camarada Nyussi nasceu, cresceu e estudou dentro dos valores identitários da nossa gloriosa Frelimo e, por isso, apresenta-se como conhecedor e continuador do mesmo ideal seguido pelas sucessivas lideranças da Frelimo.
(…) O camarada Nyussi representa o investimento da Frelimo na juventude. (…) Unamo-nos à sua volta para, através das nossas palavras e actos, particularmente junto do eleitorado e da comunicação social, fazer dele o candidato vitorioso, o candidato com uma vitória à altura da nossa cinquentenária e histórica Frelimo”, disse Guebuza.
O operário que virou político
Durante a apresentação do seu perfil aos membros do Comité Central antes da votação, Nyussi estava certo de que iria vencer a corrida. Mesmo nas entrevistas aos órgãos de comunicação social era o mais seguro dos cinco pré-candidatos. “Eu sou um operário que virou gestor e depois político, filho da Frelimo, com o perfil adequado para ser o candidato a Presidente da República de Moçambique, neste novo tempo político, com toda a dinâmica e crescimento”, disse Nyussi durante a campanha.
Os adversários de Nyussi
Nas eleições de 15 de Outubro próximo, Filipe Nyussi terá como adversários Afonso Dhlakama, candidato da Renamo, Daviz Simango, do Movimento Democrático de Moçambique, e, por enquanto, Yaqub Sibindy, do Partido Independente de Moçambique. Estes são os que até agora manifestaram o interesse de concorrer ao cargo de Presidente da República, apesar de ainda não terem sido legitimados pelos órgãos dos seus respectivos partidos, o que, a acontecer, deve ser feito brevemente uma vez que já começou o processo de entrega de candidaturas ao Conselho Constitucional.
O Movimento Democrático de Moçambique disse que iria reunir-se ainda este mês para eleger o seu candidato presidencial assim como os concorrentes a deputados. Da Renamo sabe-se apenas que tudo depende da saída de Afonso Dhlakama de parte incerta, embora este já tenha dito que ele e o seu partido iriam participar nas eleições, daí que tenha exigido a revisão da legislação eleitoral.
@VERDADE – 06.03.2014
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