BAMAKO — Um islamita cometeu nesta sexta-feira o primeiro atentado suicida da história do Mali, em Gao, cidade do norte recentemente retomada de grupos islamitas armados, no mesmo dia em que soldados malinenses atacaram na capital Bamaco um acampamento de militares ligados ao ex-presidente Amadou Toumani Touré, deixando pelo menos dois mortos.
No âmbito militar, os soldados franceses e chadianos mantiveram seu avanço no extremo nordeste do Mali, bastião dos islamitas armados, tomando nesta sexta-feira o controle da localidade de Tessalit, a menos de 90km da fronteira argelina.
Em Gao, um terrorista suicida morreu ao detonar seus explosivos perto de soldados malinenses, um dos quais ficou levemente ferido, afirmou à AFP um oficial do exército malinense.
O homem "se aproximou de nós de moto, ele era um Tamashek (tuaregue), e, quando se aproximava, detonou seus explosivos", declarou Mamadou Keita, acrescentando: "Morreu imediatamente e entre nós há um ferido em estado leve".
O atentado foi reivindicado por um grupo islamita do norte do Mali, o Movimento para a Unidade e a Jihad na África Ocidental (Muyao). "Reivindicamos este ataque contra os soldados malinenses, que escolheram ficar ao lado dos infiéis, dos inimigos do Islã", disse à AFP um porta-voz, Abu Walid Sahraouiu.
Um jornalista da AFP viu o corpo destroçado do suicida, que vestia um uniforme da polícia malinense e que, além de seu cinturão de explosivos, carregava um morteiro que não explodiu.
O Muyao já havia feito uma declaração na véspera reivindicando a colocação de minas, ataques a comboios militares e a utilização de terroristas suicidas nesta região.
"O Muyao está por trás da explosão de dois carros do exército malinense entre Gao e Hombori" (norte), afirmou então o mesmo porta-voz. Também disse que seu grupo havia "conseguido criar uma nova zona de conflito, organizar ataques a comboios e organizar terroristas suicidas".
Gao, maior cidade do norte do Mali, foi tomada dos islamitas em 26 de janeiro.
Boinas Vermelhas contra Boinas Verdes
Em Bamaco, pelo menos dois adolescentes morreram e outras treze pessoas ficaram feridas durante os confrontos entre as tropas malinenses e membros de uma unidade de elite leal ao presidente Amadou Toumani Touré, derrubado em março de 2012 por um golpe de Estado, informou uma autoridades militar à AFP.
O presidente malinense interino, Dioncounda Traoré, condenou estes "disparos fratricidas" entre soldados.
"Peço que parem definitivamente com estes confrontos dentro do Exército, que tem que fazer todo o possível para se recuperar e estar à altura de sua missão", disse o chefe de Estado em uma mensagem divulgada pela televisão pública.
O ataque - que ilustra as profundas divergências no exército malinense, derrotado pelos islamitas armados e pelos rebeldes tuaregues em 2012 - foi aparentemente motivado pela rejeição dos "Boinas Vermelhas" em deixar seu acampamento e se dirigir a outras unidades para combater os islamitas no norte.
Os "Boinas Vermelhas" são membros do Regimento do Comando de Paraquedistas (RCP), que foi o corpo de elite do Exército malinense até o golpe de Estado que derrubou o presidente Touré, ex-integrante desta unidade.
Esse golpe de Estado foi praticado por outro corpo do Exército, os "Boinas Verdes" do capitão Amadou Haya Sanogo. Os combates entre as duas unidades deixaram 20 mortos.
No fim de abril de 2012, os "Boinas Vermelhas" tentaram em vão recuperar o poder.
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