«Não há regimes eternos, não há regimes perfeitos, não há
regimes universais. Não há regimes eternos mas há regimes estáveis e instáveis;
não há regimes perfeitos mas há-os que servem e os que desservem as Nações; não
há regimes universais, mas há os que consideram e outros que desconhecem a
particularidade das circunstâncias e a universalidade do factor humano».
Oliveira Salazar, 1949.
“Sem censura, o salazarismo não duraria muito”.
Mário Soares, 1972.
“Sem a mais
dissimulada das tiranias, o socialismo oligárquico nem sequer duraria”.
O jornal Expresso comemora agora 40 anos alegando, por
intermédio do seu fundador e proprietário, que o 25 de Abril salvou o semanário
de um fim, quase diríamos, kafkiano. Francisco Pinto Balsemão, que passou dos
seus privilégios na ditadura para maiores privilégios na suposta democracia que
entregou Portugal aos poderes e organizações internacionais, ostenta assim, em
prefácio ao livro O que a Censura Cortou, de autoria de José Pedro Castanheira,
o seu testemunho burguês de como o Expresso resistiu, ou por vezes ludibriou o
Exame Prévio de Caetano. Aliás, quem melhor o exprime é sem dúvida J. P.
Castanheira na introdução ao seu livro:
«Durante quase meio século, a Censura/Exame Prévio abafou e
amordaçou um país inteiro. Não há termo que, por si só, abarque a totalidade do
mal que fez à inteligência, à criação, à cultura e à liberdade de todo um povo.
Abuso, ignorância, desprezo, obscurantismo, despotismo, discrição, prepotência,
zelo, capricho, arbítrio – muitos e muitos outros termos seriam possíveis.
Todos juntos poderão fazer compreender, em toda a sua dimensão e profundidade,
o que foi a intervenção da Censura sobre várias gerações de portugueses».
E acrescenta, em tom hipócrita e triunfalista:
«Só no próprio dia da Revolução dos Cravos é que, pela
primeira vez em 48 anos, os jornais portugueses se viram, finalmente, livres».
Ora bem: é-nos dito, sem mais, que a liberdade de informação
foi em Portugal uma conquista do comunismo. Como deslindar, pois, este
contra-senso, na medida em que o comunismo é, por definição e experiência
consolidada na realidade dos factos mais brutais e desumanos que o mundo alguma
vez conheceu, o maior inimigo da liberdade na esfera económica, política e
cultural? Ou, por outras palavras, como é que «os jornais portugueses se viram,
finalmente, livres» se a cartilha mental e revolucionária elegia a Rússia dos
anos 20, a França dos anos 30, a Jugoslávia dos anos 40, a Argélia dos anos 50,
a China dos anos 60 e todos os demais anacronismos próprios de ideias feitas e
de slogans de propaganda e subversão ideológica? (1)
De resto, e a título de exemplo, perguntemos ainda se o
Expresso foi, por acaso, imune a um ambiente antipatriótico em que se
proclamava aos quatro ventos o socialismo como dogma indisputável de todo o
futuro? Ou até mesmo se o Expresso, inspirado nas edições dominicais dos
jornais londrinos (The Sunday Times e The Observer), foi capaz de noticiar as
forças internacionais que venceram por via do terrorismo e da acção
subterrânea, lenta e premeditada as forças nacionais? É óbvio que não, pela
simples razão de que o Expresso, não obstante a leitura fascista e direitista
que por vezes dele faziam os agitadores de extrema-esquerda, representou um
instrumento deveras eficaz na transição de interesses capitalistas de certos
grupos familiares no seio do regime salazarista para a centralização económica,
política e cultural do pós-25 de Abril de 1974.
Basta, como tal, atender aos accionistas de vários
quadrantes ideológicos do Expresso, a começar pelo próprio Balsemão e por
empresas como a Vitamealo portuguesa, a Sonacim e a Ciesa; depois, por famílias
como os Ruela Ramos, ligados ao Diário de Lisboa, ou os Botelho Moniz a par de
accionistas menores como Manuel Boullosa, Ruben Anderson Leitão, Marcelo Rebelo
de Sousa (2), António Guterres e Patrício Gouveia. Deste modo, se é verdade que
a censura prevalecia de facto na ditadura, não menos verdade é que, com a
implementação do caos e da anarquia em Portugal por via revolucionária, o
monopólio da informação passava doravante a estar nas mãos de quem proclamava a
liberdade universal de expressão e, por conseguinte, repudiava a censura
legalizada. Mas se a repudiava também não a dispensava mediante o gradual
controlo de uma rede de condicionalismos vários até perfazer o politicamente
correcto nos actuais conselhos de redacção dos jornais ou nas direcções de
empresas cuja nomeação depende do Estado.
Consequentemente, o controlo da comunicação social é hoje
muito mais eficaz do que no tempo de Salazar e de Caetano, porquanto não só
persistem as represálias do Governo em funções, como também predomina a censura
não legalizada por parte dos conselhos de redacção sobre artigos que não
estejam em sintonia com a planificação burocrática do ensino e da economia,
assim como com o monopólio do reconhecimento social. Aliás, no tempo de Salazar
e de Caetano não existiam os meios e os recursos informáticos e de
digitalização que permitem assegurar um império mediático, como aquele que
Pinto Balsemão construiu mediante a concentração de jornais, revistas e canais
de televisão (3).
Além disso, não é por acaso que o fundador do Expresso tenha
decerto participado em reuniões do Clube Bilderberg como o «homem que puxa os
cordelinhos» do país, na expressão de Daniel Estulin (4). O jornalista também
reproduz as imagens de António Guterres na reunião Bilderberg em Rottach-Egem,
na Alemanha, em 2005, assim como a de José Sócrates, antes de ser
primeiro-ministro de Portugal, na reunião Bilderberg em Stresa, na Itália.
Estamos, pois, perante figuras bem conotadas internacionalmente, servindo, sem
dúvida, interesses e desígnios estranhos ao povo português (5). Este processo
de subordinação a forças internacionais não é propriamente recente, por ter já
sido consideravelmente activo em sectores progressistas da Igreja, das Forças
Armadas e da Universidade no tempo de Caetano e até de Salazar. O caso de
Sá-Carneiro, que fora deputado da Assembleia Nacional e, mais tarde, fundador
do Partido Popular Democrático (PPD) , é igualmente sintomático das suas
ligações ao socialismo, nomeadamente o nórdico que apoiou e financiou acções
terroristas no Ultramar português (6).
Este processo de subordinação a forças internacionais (7)
não é propriamente recente, por ter já sido consideravelmente activo em
sectores progressistas da Igreja, das Forças Armadas e da Universidade no tempo
de Caetano e até de Salazar. O caso de Sá-Carneiro, que fora deputado da Assembleia
Nacional e, mais tarde, fundador do Partido Popular Democrático (PPD) (8), é
igualmente sintomático das suas ligações ao socialismo, nomeadamente o nórdico
que apoiou e financiou acções terroristas no Ultramar português.
De facto, a concertação mundial contra Portugal e os seus
territórios de além-mar foi uma constante desde a madrugada de 11 de Março de
1961, em que, durante três dias, oitocentos portugueses entre uma população
total de 10 000 foram massacrados no Norte de Angola por negros bakongos apoiados
pelo governo congolês, auxiliados pela ONU e até financiados por entidades
oficiais norte-americanas. No Congo consolidaram-se inclusivamente bases
militares e de treino com vista a apoiar acções terroristas, incidentes e
infiltrações na fronteira Norte de Angola (9). Além do mais, Franco Nogueira
relata uma série de afirmações a ele transmitidas pelo jornalista Peter Lessing
a 9 de Novembro de 1962, entre as quais destacamos as seguintes:
«Tem escrito alguns livros sobre África. O último intitula-se
«Africa’s Red Harvest». Dedica nesse volume um capítulo a Portugal.
Para esse capítulo, as fontes de informação foram
constituídas pelos relatórios dos serviços secretos norte-americanos, que lhe
foram facultados por amigos seus dos Estados Unidos. Esses relatórios comprovam
absolutamente todas as alegações portuguesas quanto à preparação exterior do
terrorismo e quanto à inexistência de qualquer movimento nacionalista em
Angola. O Departamento não só ignorou como contrariou todos aqueles relatórios.
Tem a certeza de que quando Stevenson pronunciou o seu
famoso discurso antiportuguês, no Conselho de Segurança, estava de posse dos
relatórios dos serviços secretos americanos e de todos os demais elementos que
comprovavam a veracidade das alegações portuguesas. A disparidade entre o que
se sabia ser a verdade e o tom do discurso de Stevenson causou profunda
impressão em muitos meios responsáveis norte-americanos.
Tem sido acusado de haver baseado o capítulo sobre Portugal
em fontes portuguesas, quando a verdade é que só havia recorrido às fontes
norte-americanas, e não teve o menor contacto com serviços ou funcionários
portugueses» (10). Paris, 15 de Dezembro de 1962, Franco Nogueira relata ainda
a propósito da sua conversa com o secretário de Estado norte-americano, Dean
Rusk: «Rusk disse que escutara com muito interesse a minha exposição feita
perante o Conselho da NATO, acerca dos ataques planeados pelo Alto-Comando
Pan-Africano (11). Desejaria conhecer mais pormenores. Poderia fornecer-lhos?
Salientei que já tinha dado a Elbrick conhecimento de tudo,
com documentos e mapas. Em Washington, no seu regresso, encontraria todos os
elementos. Havia que ter em vista, antes de mais, os objectivos do Comando
Pan-Africano. Tendo realizado que o terrorismo estava praticamente findo e já
não conduzia a nada; vista a crescente inquietação das populações congolesas,
no lado do Congo, perante o desassossego causado pelos terroristas; sendo um
facto o descrédito dos chefes terroristas; não tendo sido possível obter o
apoio das populações portuguesas da área – o Comando Pan-Africano resolvera
tomar o assunto em suas mãos e lançar um ataque na área nordeste de Angola. Tal
ataque, se bem sucedido, permitiria a conquista de uma área importante de
território, para estabelecimento de um «governo»; permitiria a posse das
importantes minas de diamantes da região; e permitiria ainda o corte da ligação
ferroviária com o Catanga. Além disto, o plano resolveria um dos problemas do
Sr. Ben Bella: que destino dar aos elementos do FLN agora inactivos? Aquele
ofereceu 30 000 «voluntários» ao Comando Pan-Africano, que os aceitara. Para
execução do plano, fora estabelecido um quartel-general no Cairo.
Soldados e material seriam transportados para Dar-es-Salam
em navios libaneses e japoneses, e daí conduzidos através de África (por um
itinerário de que Elbrick estava ao corrente) para bases junto da fronteira
nordeste de Angola. Por outro lado, havia entre o plano e os movimentos das
forças das Nações Unidas no Congo uma estranha coincidência, e como o ataque
previsto no plano e os movimentos da ONU se processariam no sentido norte-sul
de cada lado da fronteira, parecia legítima a conclusão da conivência e do
intuito de protecção e apoio recíproco. Não sabíamos, evidentemente, se os planos
eram verdadeiros ou se tinham apenas por objectivo fazer-nos cair numa cilada.
Em qualquer caso, nós não tínhamos desviado nenhuma tropa da zona norte actual,
e os reforços para a zona nordeste estavam sendo feitos com tropas novas.
Por último, eu queria salientar ao secretário de Estado que
tínhamos informado de tudo o Governo sul-africano, que havia mostrado a maior
preocupação e ansiedade, e decerto na altura própria, se o plano viesse a ser
executado, não deixaria de intervir. Estaríamos assim perante um conflito
internacional, de vastas proporções, e já não se tratava de uma pretensa
autodeterminação de Angola, mas de uma conquista por um exército estrangeiro.
Não podia eu deixar ainda de vincar que, para nossa defesa, teríamos de
recorrer à retaliação contra as bases estrangeiras, com as consequências daí
resultantes. Eu esperava, por isso, que o bom senso prevalecesse, e que o plano
não fosse executado. O secretário de Estado, sem hesitar, comentou que tal
plano era na verdade um simples e claro caso de agressão. Os Estados Unidos não
podiam aceitar que a mesma fosse cometida. No seu regresso, ia ocupar-se do
assunto. Aludi depois aos prejuízos que nos estavam causando as forças da ONU
no Congo, como tais e através de vários contingentes nacionais, em particular
os indianos e tunisinos. Davam aos terroristas auxílio de toda a sorte, e era
matéria de rotina encontrar em Angola as respectivas provas» (12).
Todo este quadro aponta, em última instância, para um
inimigo que dominou e continua a dominar num conceito de guerra total. Uma
guerra, portanto, não somente militar mas antes e, acima de tudo, uma guerra
política, económica, psicológica e espiritual. Aliás, já Edward Griffin, em
1968, lograva descrever, explicar e exemplificar um tal conceito e sua
aplicação revolucionária a nível local, nacional e planetário. Por outras
palavras, Griffin não descurava a capacidade do movimento comunista
internacional de operar secretamente no seio de povos, culturas, nações,
civilizações e, como tal, de se infiltrar em meios de comunicação social,
estruturas administrativas governamentais, partidos ideológicos os mais
diversos, etc.
Admirável quão talentoso narrador sobre uma matéria
desconhecida do público em geral, Griffin foi ao ponto de, numa prelecção pronunciada
a 22 de Agosto de 1968, mencionar os massacres perpetrados no Norte de Angola
em 1961. Mais: Griffin não apenas contextualizou tais massacres no âmbito da
revolução mundial comunista, como ainda mostrou imagens horripilantes bem
probatórias de um crime abominável instigado contra Angola. E quem diz Angola,
diz Portugal (13).
No presente, Griffin continua a dar palestras e
conferências, sobretudo na qualidade de fundador do movimento International
Freedom Force. Muito do que disse nos últimos quarenta anos, em particular
sobre a gradual e sistemática instauração da Nova Ordem Mundial, tem sido plena
e rigorosamente confirmado, sobretudo no que diz respeito ao programa
internacionalista das Nações Unidas para pôr fim a todas as soberanias nacionais.
Assim, desde a adaptação ao mundo comunista, até ao desarmamento unilateral em
prol do progressivo controlo e fortalecimento das instituições e organizações
internacionais sob a égide da ONU, eis o processo já plenamente assumido
durante a administração Kennedy, na qual influíra Walter Rostow no sentido de
secretamente comprometer e quebrar a soberania de todas as nações do mundo,
incluindo a dos Estados Unidos.
Notas:
(1) Perante tamanho contra-senso, leia-se o seguinte excerto
de António Quadros: «Em 11 de Março [de 1975], no seguimento de uma estratégia
já experimentada com êxito noutros lugares, como a Checoslováquia e a Hungria,
[o sector revolucionário e marxista do Movimento das Forças Armadas],
assenhoreando-se dos postos-chave do Governo, das Forças Armadas e dos Meios de
Comunicação Social, estabelecia os fundamentos da Revolução comunista e do
Estado totalitário, criando uma força policial-militar de repressão, o Copcon,
encerrando os Partidos e os jornais sumariamente classificados de reaccionários
e fascistas, efectuando prisões em massa sem culpa formada, realizando
vertiginosamente a nacionalização de toda a Banca e das principais empresas e
unidades industriais, precipitando ocupações de terras no Alentejo, criando
unidades colectivas no modelo dos Kolkozes russos, organizando por todo o lado
sovietes ou comissões de trabalhadores, de moradores, de soldados, de
marinheiros, etc., ao mesmo tempo que lançava uma ofensiva de grande estilo
contra a democracia «burguesa», aconselhava ostensivamente o voto em branco nas
prometidas eleições para a Assembleia Constituinte e mais tarde deixava que os
deputados fossem sequestrados dentro da própria Assembleia, por uma multidão
manipulada e bem enquadrada» (in A Arte de Continuar Português, Edições do
templo, 1978, p. 31).
(2) No papel de comentador ao serviço da TVI, Marcelo já
classificou de «bonita» a comemoração centenária do comunista Álvaro Cunhal. O
universitário socialista parece assim revelar a sua cumplicidade moral para com
os crimes do comunismo internacional, já que Cunhal não foi senão um
revolucionário manipulado e dirigido pela União Soviética contra a
independência e a soberania dos povos, mormente no que a Portugal respeita. E,
se Marcelo sabe que assim é, então só resta concluir que também ele adere, como
não podia deixar de ser, a uma campanha de desinformação corrente na sociedade
portuguesa ao longo dos últimos quarenta anos.
(3) Hoje em dia, a Internet constitui, de facto, uma
alternativa de comunicação perante o poder monolítico dos meios de informação
dominados pelos grandes grupos comerciais e corporativos em voga. No entanto,
permanece a eventual possibilidade de uma censura universal que ultrapasse o
uso de técnicas já existentes para bloquear, filtrar e censurar conteúdos informáticos
mediante roteadores locais, domésticos, empresariais ou ao nível dos provedores
de acesso à Internet.
(4) Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg,
Publicações Europa-América, 2008.
(5) Daniel Estulin também apresenta a lista de participantes
na reunião Bilderberg em Istambul, Turquia (entre 31 de Maio a 3 de Junho de
2007), onde constam os nomes de dois portugueses: «Francisco Balsemão,
Presidente e Administrador Executivo, IMPRESA SGPS, antigo primeiro-ministro
(Portugal); Leonor Beleza, Presidente, Fundação Champalimaud (Portugal)». No
quarto capítulo intitulado «Amiguinhos Bilderberg», mais particularmente no
subtítulo «A Abertura Portuguesa», Daniel Estulin regista ainda o seguinte:
«Segundo uma fonte bem informada, na reunião Bilderberg de 2004 em Stresa,
Itália, montou-se uma promoção por grosso aos Bilderberg portugueses. Na
sequência dessa sessão, ocorreram grandes alterações na liderança de Portugal.
Pedro M. Santana Lopes, (…) presidente da Câmara Municipal de Lisboa, foi
subitamente nomeado primeiro-ministro pelo Presidente da República. José M.
Durão Barroso, anterior primeiro-ministro, foi nomeado Presidente da Comissão
Europeia. José Sócrates, deputado, foi eleito líder do Partido Socialista
depois de Eduardo Ferro Rodrigues se demitir a 25 de Maio de 2003, numa crise
social e política decorrente de uma investigação policial, que comportava
quinze casos e que alegadamente o implicava, de abuso sexual de menores em
orfanatos do estado entre 1999 e 2000 (as fontes próximas da investigação
confirmaram-me que a crise foi encenada dos bastidores por membros do Clube
Bilderberg). Sócrates tornou-se primeiro-ministro de Portugal em 2005. Por fim,
em Os Senhores da Sombra (Publicações Europa-América, 2010, pp. 300-301),
Daniel Estulin apresenta outra lista de participantes da reunião Bilderberg
ocorrida no Canadá (entre 30 de Maio a 2 de Junho de 1996), e na qual constam
os nomes de Pinto Balsemão e Margarida Marante.
(6) Quanto a membros portugueses pertencentes à Comissão
Trilateral, fundada em 1973 por David Rockefeller, refiram-se os seguintes:
Jorge Braga de Macedo, Conselheiro do Secretário-Geral da Organização para a
Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OECD), professor de Economia da
Universidade Nova de Lisboa e ex-primeiro-ministro das Finanças; António
Carrapatoso, Presidente do Conselho de Administração da Vodafone Portugal;
Vasco de Mello, Vice-Presidente da José de Mello SGPS; João Meneses de
Ferreira, Presidente e Chefe Executivo Oficial da ECO-SOROS, bem como membro do
Parlamento português (in Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube
Bilderberg, pp. 291-294).
(7) Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros (1961-1969),
Franco Nogueira personificou, sem dúvida, a maior e talvez a última
personalidade a fazer valer a diplomacia portuguesa perante o internacionalismo
invasor. Figura respeitável e admirável pelo seu patriotismo, firmeza,
abnegação e sacrifício pessoal em prol de Portugal, nunca se deixou impressionar
nem influenciar no âmbito das suas relações e contactos internacionais, mesmo
quando participante das reuniões Bilderberg, de que dá testemunho num dos seus
livros: «Lisboa, 24 de Abril [de 1968] – Partida para o Canadá, para
mais uma reunião do Grupo de Bilderberg.
Mont-Tremblant, Canadá, 28 de Abril – Três dias numa
montanha canadiana, estância para Inverno e para Verão, a 150 quilómetros ao
norte de Montreal. Teve algum interesse esta reunião do Grupo de Bilderberg?
Foi sobretudo curiosa a discussão do tema: «Defesa do Ocidente e Détente».
Síntese do debate: não há Détente, que tem de ser havida por uma farsa;
continua como dantes e acaso mais agudo o perigo de agressão russa; e deu-se
uma recente alteração no equilíbrio de poderes, e isso em desfavor do Ocidente.
Nunca esperei que os membros do Grupo de Bilderberg – pela maioria, todos muito
bem instalados, muito bem-pensantes, muito flexíveis nos seus princípios, muito
sinuosos nas suas convicções, muito prudentes nos seus juízos – tivessem a audácia
de tais conclusões. Presidiu, como sempre, o príncipe Bernardo da Holanda:
estas reuniões são as suas meninas dos olhos. De novo ajuízo a personalidade
deste homem, tão conhecido no mundo, e tão influente em certos meios. Para além
dos seus ares de à-vontade, de segurança, de decisão, de grandes palavras, de
confiança em si, de homem do vasto mundo, de pessoa que se sente íntima dos
grandes da terra (de que se julga elemento de tomo) – ao Príncipe Bernardo
falta classe, e é sem nobreza nem galhardia, pesadão, de mau gosto nos seus
ditos sem espírito nem humor, e tudo isto é mal oculto por um verniz
convencional. Com o seu aspecto desportivo e ágil, magro, sóbrio no vestir,
sempre de cravo ao peito, convencionalmente informal e desataviado, Bernardo é
somente o marido da Rainha dos Países Baixos. Quase o mesmo eu diria do
Príncipe Claus, embora este me pareça com mais dimensão. E a Princesa Beatriz,
que encontro pela segunda vez, vai engordando e, ainda que tenha por si a
mocidade e a sua beleza, começa a adquirir abundâncias de futura matrona
neerlandesa. Mas nesta reunião não faltaram personalidades de consequência. À
cabeça, no meu parecer, Pierre-France. Discreto, tranquilo, natural, sem o
menor esforço, atento, polido, comportando-se como um homem que não é nada,
nunca foi nada, nunca será nada – mas que pode ter sido ou vir a ser tudo.
Conversa simples, de homem lúcido, que em nenhum momento procura exibir-se, ou
alardear o que quer que seja. Falo-lhe da sua ascendência portuguesa. Não a
rejeita, e até mostra uma ponta de orgulho - «orgulhoso como meu Avô, mais do
que como meu Pai» - e relata as suas investigações em arquivos portugueses; e
diz que, quando tivesse tempo, desejaria prossegui-las. Prontifiquei-me a
ajudá-lo, assegurei-lhe que tudo seria feito para facilitar as suas pesquisas
nos arquivos oficiais, e nos privados cujos possuidores consentissem, como
decerto consentiriam com prazer. Recordei a sua estadia em Lisboa há três ou
quatro anos. Mendes-France perguntou-me se a ponte já estava pronta, e se não
desfeava a paisagem. Depois, encaminhou a conversa para a política. Quis saber
se também tínhamos um problema de «pós-salazarismo» como em França havia um
problema de «pós-gaullismo». Respondi que sim, e que esperávamos resolvê-lo a
seu tempo, ainda que eu não ocultasse algumas apreensões. Mendes-France trouxe
depois a terreiro a situação de África. Mostrou-se inteiramente lúcido,
informado e responsável. «Compreendo a vossa posição. É certo que se não pode
conservar a estrutura integral do século XIX, mas a verdade é que vocês já vêm
dos séculos anteriores e são por isso diferentes dos demais. São um caso
especial, que o mundo deveria aceitar como tal. Depois, há os problemas da
segurança, a rota do Cabo, o vazio do Oceano Índico. Tudo isto é muito
complexo. A vossa posição é muito importante», comenta Mendes-France, em tom de
quem está a pensar alto. Mostrou-se consciente dos interesses em jogo,
conhecedor das forças em conflito, e perfeitamente informado da intervenção
hostil dos americanos, de quem aliás não me pareceu amigo devotado. Prometeu
que me procuraria na sua próxima visita a Portugal. Além de Mendes-Frances, há
nomes que o mundo conhece. David Rockefeller, que nos dá a impressão de a todo
o momento nos pedir um dólar para o autocarro; Henry Ford, com uma esquadrilha
de automóveis; Joseph Luns, sempre a contar histórias picarescas de políticos,
e em especial do general De Gaulle; o novo primeiro-ministro do Canadá, Pierre
Trudeau, que surge de surpresa para jantar, e que me pareceu tão simpático como
ambicioso. Nos debates, eu levantei questões que desagradaram. Quando perguntei
se a NATO era uma aliança política ou militar, e se pretendia defender
princípios ou territórios, e se, sendo as duas coisas e tendo os dois
objectivos, coincidiam as respectivas áreas de aplicação – o embaraço foi
geral. Igual constrangimento foi óbvio quando perguntei por que motivo se não
falava de desarmamento e de Nações Unidas quando se discutia a «Détente» e as
relações leste-oeste. Foi meu vizinho o armador grego Niarchos, que passou o
tempo a ler telegramas que uma secretária lhe trazia e, nos intervalos, a
dizer-me que a atitude do Ocidente para com o actual governo de Atenas era uma
estupidez rematada. E tem razão» (in Um Político Confessa-se (Diário: 1960-1968),
Editora Civilização, 1986, pp. 291-293).
(8) O PPD, hoje PSD, é um partido de matriz essencialmente
socialista. Eis duas passagens probatórias extraídas do programa político do
PPD: «Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideais do socialismo
e realizam-se em democracia. Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem
socialismo autêntico sem democracia»; «O Partido Popular Democrático, como
partido político, visa a conquista do poder por via eleitoral e demais regras
do processo democrático, a fim de instaurar progressivamente uma sociedade
socialista em liberdade no nosso país» (in O Programa do M.F.A. e dos Partidos
Políticos, Edições Acrópole, 1975, pp. 26 e 32).
(9) Relativamente ao Congo, diz-nos Franco Nogueira: «Lisboa, 31 de Agosto [de 1962] – Violenta polémica entre
nós e o Congo por causa da base militar. Defende o Congo o seu direito a
permitir campos de treino para guerrilheiros que ataquem territórios vizinhos.
Proclama Portugal o seu direito de legítima defesa e, mais do que isso, o seu
direito de perseguir os atacantes até ao seu ponto de origem. (…) Lisboa, 7 de Setembro – Chegam notícias de mercenários
indianos, e de alguns americanos que se congregam no Congo para ajudarem os
terroristas em Angola. E disporiam de forte armamento. De cinco em cinco
minutos recebem-se informações sobre uma catástrofe iminente, de cerco a
apertar-se, de cruzada mundial contra nós. É de esfrangalhar os nervos mais
sólidos.
(…) Lisboa, 28 de Setembro – (…) recomeçou a luta entre
Catangueses e as forças da ONU. Mortos e feridos causados pelas forças de
manutenção da paz. Telefono a Elbrick para exprimir a nossa profunda
preocupação pelo destino do armamento: segundo as nossas informações, muito
desse armamento, fornecido por Washington à ONU, era desviado para os
terroristas antiportugueses.
Lisboa, 29 de Dezembro – Plena guerra no Catanga.
Intervenção americana nítida: na esperança de substituírem os belgas, os
Estados Unidos pretendem salvaguardar um Congo unido. Perigosa situação, a que
nos pode ser criada. Tenho suspeita de que se planeia a divisão de Moçambique
em quatro partes: Norte, para o Tanganica; distrito de Niassa para a
Niassalândia; região entre o Zambeze e o Save, para a Rodésia do Norte; e o
Sul, com o porto de Lourenço Marques, ficaria ambiguamente numa esfera de
influência da África do Sul. Últimas notícias sugerem que o Catanga não se
estaria aguentando e que Tschombé teria fugido.
Lisboa, 31 de Dezembro – (…) Examinámos a situação do
Catanga; critiquei a atitude americana; Elbrick naturalmente defendeu a posição
do seu governo, mas não se tolheu de dizer que compreendia a nossa. Tschombé
teria estado na Rodésia do Sul para se avistar com Roy Wellensky; e haveria
depois partido com destino que se ignora. Tudo isto que se escreve de pena leve
processa-se por cima de milhares de cadáveres. Quem cuida disso?» (in Um
Político Confessa-se, pp. 37-38; 50-51).
(10) Franco Nogueira, Diálogos Interditos: A Política
Externa Portuguesa e a Guerra de África, Editorial Intervenção, 1979, Vol. I,
pp. 184-185.
(11) Tratava-se do Plano Mistério, sobre o qual os nossos
serviços haviam colhido informações, e que previa a constituição de um exército
africano internacional para atacar Angola.
(12) Franco Nogueira, ob. cit., pp. 198-200.
(13) O documentário “A Guerra”, de autoria do jornalista
Joaquim Furtado, tem como ponto de partida os ataques da UPA a fazendas e povoações
do Norte de Angola contados por quem, de uma forma desumana e sem piedade, os
levou a cabo. No entanto, como já seria de esperar, o documentário não revela
como tais actos manifestamente terroristas – apresentados como «revoltas» –
foram instigados e preparados do exterior. Também não situa tamanha selvajaria
no âmbito da política paralela de Moscovo e Washington no financiamento,
armamento e preparação ideológica de grupos, facções e movimentos subversivos
para expulsar os portugueses de África. E tudo sob a simulação do rigor, do
retratar fiel e isento de uma guerra que foi essencialmente orquestrada e
dirigida nos bastidores por forças internacionais de que Oliveira Salazar
estava bem ciente e bem informado. A omissão e o silenciar de factos indispensáveis
para a devida compreensão do que esteve verdadeiramente em causa na guerra do
Ultramar, faz parte integrante do processo de desinformação histórico e
político em curso. De resto, alegar pesquisa, entrevistas, recolha de imagens
de arquivo e reportagens radiofónicas desconhecidas do grande público, tudo
isso, por mais valor documental que tenha, situa-se apenas na periferia de uma
questão que permanece, essa sim, pouco ou nada visível para a generalidade das
gerações de ontem e de hoje. Referimo-nos, pois, ao facto de Portugal ter sido,
sem dúvida, vítima de uma campanha internacional apostada a reduzir a mais
velha Nação da Europa a um território exíguo e particularmente refém de
interesses, objectivos e directrizes que não os seus. E uma vez conseguida tão
torpe campanha, o camarada Joaquim Furtado – o mesmo, diga-se de passagem, que
já estava ideologicamente posicionado para, às 04:26 do dia 25 de Abril de
1974, ler o «comunicado» do MFA no Rádio Clube Português –, é também o mesmo
que vem dar agora uma «visão integrada e tão completa quanto possível» de uma
guerra de que ele próprio nem imagina a rede de relações e consequências
implícitas.
Continua
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Escrito por Miguel Bruno Duarte
«Não há regimes eternos, não há regimes perfeitos, não há regimes universais. Não há regimes eternos mas há regimes estáveis e instáveis; não há regimes perfeitos mas há-os que servem e os que desservem as Nações; não há regimes universais, mas há os que consideram e outros que desconhecem a particularidade das circunstâncias e a universalidade do factor humano».
Oliveira Salazar, 1949.
“Sem censura, o salazarismo não duraria muito”.
Mário Soares, 1972.
“Sem a mais dissimulada das tiranias, o socialismo oligárquico nem sequer duraria”.
Miguel Bruno Duarte, 2013.
O jornal Expresso comemora agora 40 anos alegando, por intermédio do seu fundador e proprietário, que o 25 de Abril salvou o semanário de um fim, quase diríamos, kafkiano. Francisco Pinto Balsemão, que passou dos seus privilégios na ditadura para maiores privilégios na suposta democracia que entregou Portugal aos poderes e organizações internacionais, ostenta assim, em prefácio ao livro O que a Censura Cortou, de autoria de José Pedro Castanheira, o seu testemunho burguês de como o Expresso resistiu, ou por vezes ludibriou o Exame Prévio de Caetano. Aliás, quem melhor o exprime é sem dúvida J. P. Castanheira na introdução ao seu livro:
«Durante quase meio século, a Censura/Exame Prévio abafou e amordaçou um país inteiro. Não há termo que, por si só, abarque a totalidade do mal que fez à inteligência, à criação, à cultura e à liberdade de todo um povo. Abuso, ignorância, desprezo, obscurantismo, despotismo, discrição, prepotência, zelo, capricho, arbítrio – muitos e muitos outros termos seriam possíveis. Todos juntos poderão fazer compreender, em toda a sua dimensão e profundidade, o que foi a intervenção da Censura sobre várias gerações de portugueses».
E acrescenta, em tom hipócrita e triunfalista:
«Só no próprio dia da Revolução dos Cravos é que, pela primeira vez em 48 anos, os jornais portugueses se viram, finalmente, livres».
Oliveira Salazar, 1949.
“Sem censura, o salazarismo não duraria muito”.
Mário Soares, 1972.
“Sem a mais dissimulada das tiranias, o socialismo oligárquico nem sequer duraria”.
Miguel Bruno Duarte, 2013.
O jornal Expresso comemora agora 40 anos alegando, por intermédio do seu fundador e proprietário, que o 25 de Abril salvou o semanário de um fim, quase diríamos, kafkiano. Francisco Pinto Balsemão, que passou dos seus privilégios na ditadura para maiores privilégios na suposta democracia que entregou Portugal aos poderes e organizações internacionais, ostenta assim, em prefácio ao livro O que a Censura Cortou, de autoria de José Pedro Castanheira, o seu testemunho burguês de como o Expresso resistiu, ou por vezes ludibriou o Exame Prévio de Caetano. Aliás, quem melhor o exprime é sem dúvida J. P. Castanheira na introdução ao seu livro:
«Durante quase meio século, a Censura/Exame Prévio abafou e amordaçou um país inteiro. Não há termo que, por si só, abarque a totalidade do mal que fez à inteligência, à criação, à cultura e à liberdade de todo um povo. Abuso, ignorância, desprezo, obscurantismo, despotismo, discrição, prepotência, zelo, capricho, arbítrio – muitos e muitos outros termos seriam possíveis. Todos juntos poderão fazer compreender, em toda a sua dimensão e profundidade, o que foi a intervenção da Censura sobre várias gerações de portugueses».
E acrescenta, em tom hipócrita e triunfalista:
«Só no próprio dia da Revolução dos Cravos é que, pela primeira vez em 48 anos, os jornais portugueses se viram, finalmente, livres».
Ora bem: é-nos dito, sem mais, que a liberdade de informação foi em Portugal uma conquista do comunismo. Como deslindar, pois, este contra-senso, na medida em que o comunismo é, por definição e experiência consolidada na realidade dos factos mais brutais e desumanos que o mundo alguma vez conheceu, o maior inimigo da liberdade na esfera económica, política e cultural? Ou, por outras palavras, como é que «os jornais portugueses se viram, finalmente, livres» se a cartilha mental e revolucionária elegia a Rússia dos anos 20, a França dos anos 30, a Jugoslávia dos anos 40, a Argélia dos anos 50, a China dos anos 60 e todos os demais anacronismos próprios de ideias feitas e de slogans de propaganda e subversão ideológica? (1)
De resto, e a título de exemplo, perguntemos ainda se o Expresso foi, por acaso, imune a um ambiente antipatriótico em que se proclamava aos quatro ventos o socialismo como dogma indisputável de todo o futuro? Ou até mesmo se o Expresso, inspirado nas edições dominicais dos jornais londrinos (The Sunday Times e The Observer), foi capaz de noticiar as forças internacionais que venceram por via do terrorismo e da acção subterrânea, lenta e premeditada as forças nacionais? É óbvio que não, pela simples razão de que o Expresso, não obstante a leitura fascista e direitista que por vezes dele faziam os agitadores de extrema-esquerda, representou um instrumento deveras eficaz na transição de interesses capitalistas de certos grupos familiares no seio do regime salazarista para a centralização económica, política e cultural do pós-25 de Abril de 1974.
Basta, como tal, atender aos accionistas de vários quadrantes ideológicos do Expresso, a começar pelo próprio Balsemão e por empresas como a Vitamealo portuguesa, a Sonacim e a Ciesa; depois, por famílias como os Ruela Ramos, ligados ao Diário de Lisboa, ou os Botelho Moniz a par de accionistas menores como Manuel Boullosa, Ruben Anderson Leitão, Marcelo Rebelo de Sousa (2), António Guterres e Patrício Gouveia. Deste modo, se é verdade que a censura prevalecia de facto na ditadura, não menos verdade é que, com a implementação do caos e da anarquia em Portugal por via revolucionária, o monopólio da informação passava doravante a estar nas mãos de quem proclamava a liberdade universal de expressão e, por conseguinte, repudiava a censura legalizada. Mas se a repudiava também não a dispensava mediante o gradual controlo de uma rede de condicionalismos vários até perfazer o politicamente correcto nos actuais conselhos de redacção dos jornais ou nas direcções de empresas cuja nomeação depende do Estado.
Consequentemente, o controlo da comunicação social é hoje muito mais eficaz do que no tempo de Salazar e de Caetano, porquanto não só persistem as represálias do Governo em funções, como também predomina a censura não legalizada por parte dos conselhos de redacção sobre artigos que não estejam em sintonia com a planificação burocrática do ensino e da economia, assim como com o monopólio do reconhecimento social. Aliás, no tempo de Salazar e de Caetano não existiam os meios e os recursos informáticos e de digitalização que permitem assegurar um império mediático, como aquele que Pinto Balsemão construiu mediante a concentração de jornais, revistas e canais de televisão (3).
De resto, e a título de exemplo, perguntemos ainda se o Expresso foi, por acaso, imune a um ambiente antipatriótico em que se proclamava aos quatro ventos o socialismo como dogma indisputável de todo o futuro? Ou até mesmo se o Expresso, inspirado nas edições dominicais dos jornais londrinos (The Sunday Times e The Observer), foi capaz de noticiar as forças internacionais que venceram por via do terrorismo e da acção subterrânea, lenta e premeditada as forças nacionais? É óbvio que não, pela simples razão de que o Expresso, não obstante a leitura fascista e direitista que por vezes dele faziam os agitadores de extrema-esquerda, representou um instrumento deveras eficaz na transição de interesses capitalistas de certos grupos familiares no seio do regime salazarista para a centralização económica, política e cultural do pós-25 de Abril de 1974.
Basta, como tal, atender aos accionistas de vários quadrantes ideológicos do Expresso, a começar pelo próprio Balsemão e por empresas como a Vitamealo portuguesa, a Sonacim e a Ciesa; depois, por famílias como os Ruela Ramos, ligados ao Diário de Lisboa, ou os Botelho Moniz a par de accionistas menores como Manuel Boullosa, Ruben Anderson Leitão, Marcelo Rebelo de Sousa (2), António Guterres e Patrício Gouveia. Deste modo, se é verdade que a censura prevalecia de facto na ditadura, não menos verdade é que, com a implementação do caos e da anarquia em Portugal por via revolucionária, o monopólio da informação passava doravante a estar nas mãos de quem proclamava a liberdade universal de expressão e, por conseguinte, repudiava a censura legalizada. Mas se a repudiava também não a dispensava mediante o gradual controlo de uma rede de condicionalismos vários até perfazer o politicamente correcto nos actuais conselhos de redacção dos jornais ou nas direcções de empresas cuja nomeação depende do Estado.
Consequentemente, o controlo da comunicação social é hoje muito mais eficaz do que no tempo de Salazar e de Caetano, porquanto não só persistem as represálias do Governo em funções, como também predomina a censura não legalizada por parte dos conselhos de redacção sobre artigos que não estejam em sintonia com a planificação burocrática do ensino e da economia, assim como com o monopólio do reconhecimento social. Aliás, no tempo de Salazar e de Caetano não existiam os meios e os recursos informáticos e de digitalização que permitem assegurar um império mediático, como aquele que Pinto Balsemão construiu mediante a concentração de jornais, revistas e canais de televisão (3).
Além disso, não é por acaso que o fundador do Expresso tenha decerto participado em reuniões do Clube Bilderberg como o «homem que puxa os cordelinhos» do país, na expressão de Daniel Estulin (4). O jornalista também reproduz as imagens de António Guterres na reunião Bilderberg em Rottach-Egem, na Alemanha, em 2005, assim como a de José Sócrates, antes de ser primeiro-ministro de Portugal, na reunião Bilderberg em Stresa, na Itália. Estamos, pois, perante figuras bem conotadas internacionalmente, servindo, sem dúvida, interesses e desígnios estranhos ao povo português (5). Este processo de subordinação a forças internacionais não é propriamente recente, por ter já sido consideravelmente activo em sectores progressistas da Igreja, das Forças Armadas e da Universidade no tempo de Caetano e até de Salazar. O caso de Sá-Carneiro, que fora deputado da Assembleia Nacional e, mais tarde, fundador do Partido Popular Democrático (PPD) , é igualmente sintomático das suas ligações ao socialismo, nomeadamente o nórdico que apoiou e financiou acções terroristas no Ultramar português (6).
Este processo de subordinação a forças internacionais (7) não é propriamente recente, por ter já sido consideravelmente activo em sectores progressistas da Igreja, das Forças Armadas e da Universidade no tempo de Caetano e até de Salazar. O caso de Sá-Carneiro, que fora deputado da Assembleia Nacional e, mais tarde, fundador do Partido Popular Democrático (PPD) (8), é igualmente sintomático das suas ligações ao socialismo, nomeadamente o nórdico que apoiou e financiou acções terroristas no Ultramar português.
De facto, a concertação mundial contra Portugal e os seus territórios de além-mar foi uma constante desde a madrugada de 11 de Março de 1961, em que, durante três dias, oitocentos portugueses entre uma população total de 10 000 foram massacrados no Norte de Angola por negros bakongos apoiados pelo governo congolês, auxiliados pela ONU e até financiados por entidades oficiais norte-americanas. No Congo consolidaram-se inclusivamente bases militares e de treino com vista a apoiar acções terroristas, incidentes e infiltrações na fronteira Norte de Angola (9). Além do mais, Franco Nogueira relata uma série de afirmações a ele transmitidas pelo jornalista Peter Lessing a 9 de Novembro de 1962, entre as quais destacamos as seguintes:
«Tem escrito alguns livros sobre África. O último intitula-se «Africa’s Red Harvest». Dedica nesse volume um capítulo a Portugal.
Para esse capítulo, as fontes de informação foram constituídas pelos relatórios dos serviços secretos norte-americanos, que lhe foram facultados por amigos seus dos Estados Unidos. Esses relatórios comprovam absolutamente todas as alegações portuguesas quanto à preparação exterior do terrorismo e quanto à inexistência de qualquer movimento nacionalista em Angola. O Departamento não só ignorou como contrariou todos aqueles relatórios.
Este processo de subordinação a forças internacionais (7) não é propriamente recente, por ter já sido consideravelmente activo em sectores progressistas da Igreja, das Forças Armadas e da Universidade no tempo de Caetano e até de Salazar. O caso de Sá-Carneiro, que fora deputado da Assembleia Nacional e, mais tarde, fundador do Partido Popular Democrático (PPD) (8), é igualmente sintomático das suas ligações ao socialismo, nomeadamente o nórdico que apoiou e financiou acções terroristas no Ultramar português.
De facto, a concertação mundial contra Portugal e os seus territórios de além-mar foi uma constante desde a madrugada de 11 de Março de 1961, em que, durante três dias, oitocentos portugueses entre uma população total de 10 000 foram massacrados no Norte de Angola por negros bakongos apoiados pelo governo congolês, auxiliados pela ONU e até financiados por entidades oficiais norte-americanas. No Congo consolidaram-se inclusivamente bases militares e de treino com vista a apoiar acções terroristas, incidentes e infiltrações na fronteira Norte de Angola (9). Além do mais, Franco Nogueira relata uma série de afirmações a ele transmitidas pelo jornalista Peter Lessing a 9 de Novembro de 1962, entre as quais destacamos as seguintes:
«Tem escrito alguns livros sobre África. O último intitula-se «Africa’s Red Harvest». Dedica nesse volume um capítulo a Portugal.
Para esse capítulo, as fontes de informação foram constituídas pelos relatórios dos serviços secretos norte-americanos, que lhe foram facultados por amigos seus dos Estados Unidos. Esses relatórios comprovam absolutamente todas as alegações portuguesas quanto à preparação exterior do terrorismo e quanto à inexistência de qualquer movimento nacionalista em Angola. O Departamento não só ignorou como contrariou todos aqueles relatórios.
Tem a certeza de que quando Stevenson pronunciou o seu famoso discurso antiportuguês, no Conselho de Segurança, estava de posse dos relatórios dos serviços secretos americanos e de todos os demais elementos que comprovavam a veracidade das alegações portuguesas. A disparidade entre o que se sabia ser a verdade e o tom do discurso de Stevenson causou profunda impressão em muitos meios responsáveis norte-americanos.
Tem sido acusado de haver baseado o capítulo sobre Portugal em fontes portuguesas, quando a verdade é que só havia recorrido às fontes norte-americanas, e não teve o menor contacto com serviços ou funcionários portugueses» (10).
Paris, 15 de Dezembro de 1962, Franco Nogueira relata ainda a propósito da sua conversa com o secretário de Estado norte-americano, Dean Rusk:
«Rusk disse que escutara com muito interesse a minha exposição feita perante o Conselho da NATO, acerca dos ataques planeados pelo Alto-Comando Pan-Africano (11). Desejaria conhecer mais pormenores. Poderia fornecer-lhos?
Salientei que já tinha dado a Elbrick conhecimento de tudo, com documentos e mapas. Em Washington, no seu regresso, encontraria todos os elementos. Havia que ter em vista, antes de mais, os objectivos do Comando Pan-Africano. Tendo realizado que o terrorismo estava praticamente findo e já não conduzia a nada; vista a crescente inquietação das populações congolesas, no lado do Congo, perante o desassossego causado pelos terroristas; sendo um facto o descrédito dos chefes terroristas; não tendo sido possível obter o apoio das populações portuguesas da área – o Comando Pan-Africano resolvera tomar o assunto em suas mãos e lançar um ataque na área nordeste de Angola. Tal ataque, se bem sucedido, permitiria a conquista de uma área importante de território, para estabelecimento de um «governo»; permitiria a posse das importantes minas de diamantes da região; e permitiria ainda o corte da ligação ferroviária com o Catanga. Além disto, o plano resolveria um dos problemas do Sr. Ben Bella: que destino dar aos elementos do FLN agora inactivos? Aquele ofereceu 30 000 «voluntários» ao Comando Pan-Africano, que os aceitara. Para execução do plano, fora estabelecido um quartel-general no Cairo. Soldados e material seriam transportados para Dar-es-Salam em navios libaneses e japoneses, e daí conduzidos através de África (por um itinerário de que Elbrick estava ao corrente) para bases junto da fronteira nordeste de Angola. Por outro lado, havia entre o plano e os movimentos das forças das Nações Unidas no Congo uma estranha coincidência, e como o ataque previsto no plano e os movimentos da ONU se processariam no sentido norte-sul de cada lado da fronteira, parecia legítima a conclusão da conivência e do intuito de protecção e apoio recíproco. Não sabíamos, evidentemente, se os planos eram verdadeiros ou se tinham apenas por objectivo fazer-nos cair numa cilada. Em qualquer caso, nós não tínhamos desviado nenhuma tropa da zona norte actual, e os reforços para a zona nordeste estavam sendo feitos com tropas novas. Por último, eu queria salientar ao secretário de Estado que tínhamos informado de tudo o Governo sul-africano, que havia mostrado a maior preocupação e ansiedade, e decerto na altura própria, se o plano viesse a ser executado, não deixaria de intervir. Estaríamos assim perante um conflito internacional, de vastas proporções, e já não se tratava de uma pretensa autodeterminação de Angola, mas de uma conquista por um exército estrangeiro. Não podia eu deixar ainda de vincar que, para nossa defesa, teríamos de recorrer à retaliação contra as bases estrangeiras, com as consequências daí resultantes. Eu esperava, por isso, que o bom senso prevalecesse, e que o plano não fosse executado.
O secretário de Estado, sem hesitar, comentou que tal plano era na verdade um simples e claro caso de agressão. Os Estados Unidos não podiam aceitar que a mesma fosse cometida. No seu regresso, ia ocupar-se do assunto.
Aludi depois aos prejuízos que nos estavam causando as forças da ONU no Congo, como tais e através de vários contingentes nacionais, em particular os indianos e tunisinos. Davam aos terroristas auxílio de toda a sorte, e era matéria de rotina encontrar em Angola as respectivas provas» (12).
Todo este quadro aponta, em última instância, para um inimigo que dominou e continua a dominar num conceito de guerra total. Uma guerra, portanto, não somente militar mas antes e, acima de tudo, uma guerra política, económica, psicológica e espiritual. Aliás, já Edward Griffin, em 1968, lograva descrever, explicar e exemplificar um tal conceito e sua aplicação revolucionária a nível local, nacional e planetário. Por outras palavras, Griffin não descurava a capacidade do movimento comunista internacional de operar secretamente no seio de povos, culturas, nações, civilizações e, como tal, de se infiltrar em meios de comunicação social, estruturas administrativas governamentais, partidos ideológicos os mais diversos, etc.
Admirável quão talentoso narrador sobre uma matéria desconhecida do público em geral, Griffin foi ao ponto de, numa prelecção pronunciada a 22 de Agosto de 1968, mencionar os massacres perpetrados no Norte de Angola em 1961. Mais: Griffin não apenas contextualizou tais massacres no âmbito da revolução mundial comunista, como ainda mostrou imagens horripilantes bem probatórias de um crime abominável instigado contra Angola. E quem diz Angola, diz Portugal (13).
No presente, Griffin continua a dar palestras e conferências, sobretudo na qualidade de fundador do movimento International Freedom Force. Muito do que disse nos últimos quarenta anos, em particular sobre a gradual e sistemática instauração da Nova Ordem Mundial, tem sido plena e rigorosamente confirmado, sobretudo no que diz respeito ao programa internacionalista das Nações Unidas para pôr fim a todas as soberanias nacionais. Assim, desde a adaptação ao mundo comunista, até ao desarmamento unilateral em prol do progressivo controlo e fortalecimento das instituições e organizações internacionais sob a égide da ONU, eis o processo já plenamente assumido durante a administração Kennedy, na qual influíra Walter Rostow no sentido de secretamente comprometer e quebrar a soberania de todas as nações do mundo, incluindo a dos Estados Unidos.
Notas:
(1) Perante tamanho contra-senso, leia-se o seguinte excerto de António Quadros: «Em 11 de Março [de 1975], no seguimento de uma estratégia já experimentada com êxito noutros lugares, como a Checoslováquia e a Hungria, [osector revolucionário e marxista do Movimento das Forças Armadas], assenhoreando-se dos postos-chave do Governo, das Forças Armadas e dos Meios de Comunicação Social, estabelecia os fundamentos da Revolução comunista e do Estado totalitário, criando uma força policial-militar de repressão, o Copcon, encerrando os Partidos e os jornais sumariamente classificados de reaccionários e fascistas, efectuando prisões em massa sem culpa formada, realizando vertiginosamente a nacionalização de toda a Banca e das principais empresas e unidades industriais, precipitando ocupações de terras no Alentejo, criando unidades colectivas no modelo dos Kolkozes russos, organizando por todo o lado sovietes ou comissões de trabalhadores, de moradores, de soldados, de marinheiros, etc., ao mesmo tempo que lançava uma ofensiva de grande estilo contra a democracia «burguesa», aconselhava ostensivamente o voto em branco nas prometidas eleições para a Assembleia Constituinte e mais tarde deixava que os deputados fossem sequestrados dentro da própria Assembleia, por uma multidão manipulada e bem enquadrada» (in A Arte de Continuar Português, Edições do templo, 1978, p. 31).
(2) No papel de comentador ao serviço da TVI, Marcelo já classificou de «bonita» a comemoração centenária do comunista Álvaro Cunhal. O universitário socialista parece assim revelar a sua cumplicidade moral para com os crimes do comunismo internacional, já que Cunhal não foi senão um revolucionário manipulado e dirigido pela União Soviética contra a independência e a soberania dos povos, mormente no que a Portugal respeita. E, se Marcelo sabe que assim é, então só resta concluir que também ele adere, como não podia deixar de ser, a uma campanha de desinformação corrente na sociedade portuguesa ao longo dos últimos quarenta anos.
(3) Hoje em dia, a Internet constitui, de facto, uma alternativa de comunicação perante o poder monolítico dos meios de informação dominados pelos grandes grupos comerciais e corporativos em voga. No entanto, permanece a eventual possibilidade de uma censura universal que ultrapasse o uso de técnicas já existentes para bloquear, filtrar e censurar conteúdos informáticos mediante roteadores locais, domésticos, empresariais ou ao nível dos provedores de acesso à Internet.
(4) Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg, Publicações Europa-América, 2008.
Tem sido acusado de haver baseado o capítulo sobre Portugal em fontes portuguesas, quando a verdade é que só havia recorrido às fontes norte-americanas, e não teve o menor contacto com serviços ou funcionários portugueses» (10).
Paris, 15 de Dezembro de 1962, Franco Nogueira relata ainda a propósito da sua conversa com o secretário de Estado norte-americano, Dean Rusk:
«Rusk disse que escutara com muito interesse a minha exposição feita perante o Conselho da NATO, acerca dos ataques planeados pelo Alto-Comando Pan-Africano (11). Desejaria conhecer mais pormenores. Poderia fornecer-lhos?
Salientei que já tinha dado a Elbrick conhecimento de tudo, com documentos e mapas. Em Washington, no seu regresso, encontraria todos os elementos. Havia que ter em vista, antes de mais, os objectivos do Comando Pan-Africano. Tendo realizado que o terrorismo estava praticamente findo e já não conduzia a nada; vista a crescente inquietação das populações congolesas, no lado do Congo, perante o desassossego causado pelos terroristas; sendo um facto o descrédito dos chefes terroristas; não tendo sido possível obter o apoio das populações portuguesas da área – o Comando Pan-Africano resolvera tomar o assunto em suas mãos e lançar um ataque na área nordeste de Angola. Tal ataque, se bem sucedido, permitiria a conquista de uma área importante de território, para estabelecimento de um «governo»; permitiria a posse das importantes minas de diamantes da região; e permitiria ainda o corte da ligação ferroviária com o Catanga. Além disto, o plano resolveria um dos problemas do Sr. Ben Bella: que destino dar aos elementos do FLN agora inactivos? Aquele ofereceu 30 000 «voluntários» ao Comando Pan-Africano, que os aceitara. Para execução do plano, fora estabelecido um quartel-general no Cairo. Soldados e material seriam transportados para Dar-es-Salam em navios libaneses e japoneses, e daí conduzidos através de África (por um itinerário de que Elbrick estava ao corrente) para bases junto da fronteira nordeste de Angola. Por outro lado, havia entre o plano e os movimentos das forças das Nações Unidas no Congo uma estranha coincidência, e como o ataque previsto no plano e os movimentos da ONU se processariam no sentido norte-sul de cada lado da fronteira, parecia legítima a conclusão da conivência e do intuito de protecção e apoio recíproco. Não sabíamos, evidentemente, se os planos eram verdadeiros ou se tinham apenas por objectivo fazer-nos cair numa cilada. Em qualquer caso, nós não tínhamos desviado nenhuma tropa da zona norte actual, e os reforços para a zona nordeste estavam sendo feitos com tropas novas. Por último, eu queria salientar ao secretário de Estado que tínhamos informado de tudo o Governo sul-africano, que havia mostrado a maior preocupação e ansiedade, e decerto na altura própria, se o plano viesse a ser executado, não deixaria de intervir. Estaríamos assim perante um conflito internacional, de vastas proporções, e já não se tratava de uma pretensa autodeterminação de Angola, mas de uma conquista por um exército estrangeiro. Não podia eu deixar ainda de vincar que, para nossa defesa, teríamos de recorrer à retaliação contra as bases estrangeiras, com as consequências daí resultantes. Eu esperava, por isso, que o bom senso prevalecesse, e que o plano não fosse executado.
O secretário de Estado, sem hesitar, comentou que tal plano era na verdade um simples e claro caso de agressão. Os Estados Unidos não podiam aceitar que a mesma fosse cometida. No seu regresso, ia ocupar-se do assunto.
Aludi depois aos prejuízos que nos estavam causando as forças da ONU no Congo, como tais e através de vários contingentes nacionais, em particular os indianos e tunisinos. Davam aos terroristas auxílio de toda a sorte, e era matéria de rotina encontrar em Angola as respectivas provas» (12).
Todo este quadro aponta, em última instância, para um inimigo que dominou e continua a dominar num conceito de guerra total. Uma guerra, portanto, não somente militar mas antes e, acima de tudo, uma guerra política, económica, psicológica e espiritual. Aliás, já Edward Griffin, em 1968, lograva descrever, explicar e exemplificar um tal conceito e sua aplicação revolucionária a nível local, nacional e planetário. Por outras palavras, Griffin não descurava a capacidade do movimento comunista internacional de operar secretamente no seio de povos, culturas, nações, civilizações e, como tal, de se infiltrar em meios de comunicação social, estruturas administrativas governamentais, partidos ideológicos os mais diversos, etc.
Admirável quão talentoso narrador sobre uma matéria desconhecida do público em geral, Griffin foi ao ponto de, numa prelecção pronunciada a 22 de Agosto de 1968, mencionar os massacres perpetrados no Norte de Angola em 1961. Mais: Griffin não apenas contextualizou tais massacres no âmbito da revolução mundial comunista, como ainda mostrou imagens horripilantes bem probatórias de um crime abominável instigado contra Angola. E quem diz Angola, diz Portugal (13).
No presente, Griffin continua a dar palestras e conferências, sobretudo na qualidade de fundador do movimento International Freedom Force. Muito do que disse nos últimos quarenta anos, em particular sobre a gradual e sistemática instauração da Nova Ordem Mundial, tem sido plena e rigorosamente confirmado, sobretudo no que diz respeito ao programa internacionalista das Nações Unidas para pôr fim a todas as soberanias nacionais. Assim, desde a adaptação ao mundo comunista, até ao desarmamento unilateral em prol do progressivo controlo e fortalecimento das instituições e organizações internacionais sob a égide da ONU, eis o processo já plenamente assumido durante a administração Kennedy, na qual influíra Walter Rostow no sentido de secretamente comprometer e quebrar a soberania de todas as nações do mundo, incluindo a dos Estados Unidos.
Notas:
(1) Perante tamanho contra-senso, leia-se o seguinte excerto de António Quadros: «Em 11 de Março [de 1975], no seguimento de uma estratégia já experimentada com êxito noutros lugares, como a Checoslováquia e a Hungria, [osector revolucionário e marxista do Movimento das Forças Armadas], assenhoreando-se dos postos-chave do Governo, das Forças Armadas e dos Meios de Comunicação Social, estabelecia os fundamentos da Revolução comunista e do Estado totalitário, criando uma força policial-militar de repressão, o Copcon, encerrando os Partidos e os jornais sumariamente classificados de reaccionários e fascistas, efectuando prisões em massa sem culpa formada, realizando vertiginosamente a nacionalização de toda a Banca e das principais empresas e unidades industriais, precipitando ocupações de terras no Alentejo, criando unidades colectivas no modelo dos Kolkozes russos, organizando por todo o lado sovietes ou comissões de trabalhadores, de moradores, de soldados, de marinheiros, etc., ao mesmo tempo que lançava uma ofensiva de grande estilo contra a democracia «burguesa», aconselhava ostensivamente o voto em branco nas prometidas eleições para a Assembleia Constituinte e mais tarde deixava que os deputados fossem sequestrados dentro da própria Assembleia, por uma multidão manipulada e bem enquadrada» (in A Arte de Continuar Português, Edições do templo, 1978, p. 31).
(2) No papel de comentador ao serviço da TVI, Marcelo já classificou de «bonita» a comemoração centenária do comunista Álvaro Cunhal. O universitário socialista parece assim revelar a sua cumplicidade moral para com os crimes do comunismo internacional, já que Cunhal não foi senão um revolucionário manipulado e dirigido pela União Soviética contra a independência e a soberania dos povos, mormente no que a Portugal respeita. E, se Marcelo sabe que assim é, então só resta concluir que também ele adere, como não podia deixar de ser, a uma campanha de desinformação corrente na sociedade portuguesa ao longo dos últimos quarenta anos.
(3) Hoje em dia, a Internet constitui, de facto, uma alternativa de comunicação perante o poder monolítico dos meios de informação dominados pelos grandes grupos comerciais e corporativos em voga. No entanto, permanece a eventual possibilidade de uma censura universal que ultrapasse o uso de técnicas já existentes para bloquear, filtrar e censurar conteúdos informáticos mediante roteadores locais, domésticos, empresariais ou ao nível dos provedores de acesso à Internet.
(4) Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg, Publicações Europa-América, 2008.
(5) Daniel Estulin também apresenta a lista de participantes na reunião Bilderberg em Istambul, Turquia (entre 31 de Maio a 3 de Junho de 2007), onde constam os nomes de dois portugueses: «Francisco Balsemão, Presidente e Administrador Executivo, IMPRESA SGPS, antigo primeiro-ministro (Portugal); Leonor Beleza, Presidente, Fundação Champalimaud (Portugal)». No quarto capítulo intitulado «Amiguinhos Bilderberg», mais particularmente no subtítulo «A Abertura Portuguesa», Daniel Estulin regista ainda o seguinte: «Segundo uma fonte bem informada, na reunião Bilderberg de 2004 em Stresa, Itália, montou-se uma promoção por grosso aos Bilderberg portugueses. Na sequência dessa sessão, ocorreram grandes alterações na liderança de Portugal. Pedro M. Santana Lopes, (…) presidente da Câmara Municipal de Lisboa, foi subitamente nomeado primeiro-ministro pelo Presidente da República. José M. Durão Barroso, anterior primeiro-ministro, foi nomeado Presidente da Comissão Europeia. José Sócrates, deputado, foi eleito líder do Partido Socialista depois de Eduardo Ferro Rodrigues se demitir a 25 de Maio de 2003, numa crise social e política decorrente de uma investigação policial, que comportava quinze casos e que alegadamente o implicava, de abuso sexual de menores em orfanatos do estado entre 1999 e 2000 (as fontes próximas da investigação confirmaram-me que a crise foi encenada dos bastidores por membros do Clube Bilderberg). Sócrates tornou-se primeiro-ministro de Portugal em 2005. Por fim, em Os Senhores da Sombra (Publicações Europa-América, 2010, pp. 300-301), Daniel Estulin apresenta outra lista de participantes da reunião Bilderberg ocorrida no Canadá (entre 30 de Maio a 2 de Junho de 1996), e na qual constam os nomes de Pinto Balsemão e Margarida Marante.
(6) Quanto a membros portugueses pertencentes à Comissão Trilateral, fundada em 1973 por David Rockefeller, refiram-se os seguintes: Jorge Braga de Macedo, Conselheiro do Secretário-Geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OECD), professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa e ex-primeiro-ministro das Finanças; António Carrapatoso, Presidente do Conselho de Administração da Vodafone Portugal; Vasco de Mello, Vice-Presidente da José de Mello SGPS; João Meneses de Ferreira, Presidente e Chefe Executivo Oficial da ECO-SOROS, bem como membro do Parlamento português (in Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg, pp. 291-294).
(7) Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros (1961-1969), Franco Nogueira personificou, sem dúvida, a maior e talvez a última personalidade a fazer valer a diplomacia portuguesa perante o internacionalismo invasor. Figura respeitável e admirável pelo seu patriotismo, firmeza, abnegação e sacrifício pessoal em prol de Portugal, nunca se deixou impressionar nem influenciar no âmbito das suas relações e contactos internacionais, mesmo quando participante das reuniões Bilderberg, de que dá testemunho num dos seus livros:
«Lisboa, 24 de Abril [de 1968] – Partida para o Canadá, para mais uma reunião do Grupo de Bilderberg.
Mont-Tremblant, Canadá, 28 de Abril – Três dias numa montanha canadiana, estância para Inverno e para Verão, a 150 quilómetros ao norte de Montreal. Teve algum interesse esta reunião do Grupo de Bilderberg? Foi sobretudo curiosa a discussão do tema: «Defesa do Ocidente e Détente». Síntese do debate: não há Détente, que tem de ser havida por uma farsa; continua como dantes e acaso mais agudo o perigo de agressão russa; e deu-se uma recente alteração no equilíbrio de poderes, e isso em desfavor do Ocidente. Nunca esperei que os membros do Grupo de Bilderberg – pela maioria, todos muito bem instalados, muito bem-pensantes, muito flexíveis nos seus princípios, muito sinuosos nas suas convicções, muito prudentes nos seus juízos – tivessem a audácia de tais conclusões. Presidiu, como sempre, o príncipe Bernardo da Holanda: estas reuniões são as suas meninas dos olhos. De novo ajuízo a personalidade deste homem, tão conhecido no mundo, e tão influente em certos meios. Para além dos seus ares de à-vontade, de segurança, de decisão, de grandes palavras, de confiança em si, de homem do vasto mundo, de pessoa que se sente íntima dos grandes da terra (de que se julga elemento de tomo) – ao Príncipe Bernardo falta classe, e é sem nobreza nem galhardia, pesadão, de mau gosto nos seus ditos sem espírito nem humor, e tudo isto é mal oculto por um verniz convencional. Com o seu aspecto desportivo e ágil, magro, sóbrio no vestir, sempre de cravo ao peito, convencionalmente informal e desataviado, Bernardo é somente o marido da Rainha dos Países Baixos. Quase o mesmo eu diria do Príncipe Claus, embora este me pareça com mais dimensão. E a Princesa Beatriz, que encontro pela segunda vez, vai engordando e, ainda que tenha por si a mocidade e a sua beleza, começa a adquirir abundâncias de futura matrona neerlandesa. Mas nesta reunião não faltaram personalidades de consequência. À cabeça, no meu parecer, Pierre-France. Discreto, tranquilo, natural, sem o menor esforço, atento, polido, comportando-se como um homem que não é nada, nunca foi nada, nunca será nada – mas que pode ter sido ou vir a ser tudo. Conversa simples, de homem lúcido, que em nenhum momento procura exibir-se, ou alardear o que quer que seja. Falo-lhe da sua ascendência portuguesa. Não a rejeita, e até mostra uma ponta de orgulho - «orgulhoso como meu Avô, mais do que como meu Pai» - e relata as suas investigações em arquivos portugueses; e diz que, quando tivesse tempo, desejaria prossegui-las. Prontifiquei-me a ajudá-lo, assegurei-lhe que tudo seria feito para facilitar as suas pesquisas nos arquivos oficiais, e nos privados cujos possuidores consentissem, como decerto consentiriam com prazer. Recordei a sua estadia em Lisboa há três ou quatro anos. Mendes-France perguntou-me se a ponte já estava pronta, e se não desfeava a paisagem. Depois, encaminhou a conversa para a política. Quis saber se também tínhamos um problema de «pós-salazarismo» como em França havia um problema de «pós-gaullismo». Respondi que sim, e que esperávamos resolvê-lo a seu tempo, ainda que eu não ocultasse algumas apreensões. Mendes-France trouxe depois a terreiro a situação de África. Mostrou-se inteiramente lúcido, informado e responsável. «Compreendo a vossa posição. É certo que se não pode conservar a estrutura integral do século XIX, mas a verdade é que vocês já vêm dos séculos anteriores e são por isso diferentes dos demais. São um caso especial, que o mundo deveria aceitar como tal. Depois, há os problemas da segurança, a rota do Cabo, o vazio do Oceano Índico. Tudo isto é muito complexo. A vossa posição é muito importante», comenta Mendes-France, em tom de quem está a pensar alto. Mostrou-se consciente dos interesses em jogo, conhecedor das forças em conflito, e perfeitamente informado da intervenção hostil dos americanos, de quem aliás não me pareceu amigo devotado. Prometeu que me procuraria na sua próxima visita a Portugal. Além de Mendes-Frances, há nomes que o mundo conhece. David Rockefeller, que nos dá a impressão de a todo o momento nos pedir um dólar para o autocarro; Henry Ford, com uma esquadrilha de automóveis; Joseph Luns, sempre a contar histórias picarescas de políticos, e em especial do general De Gaulle; o novo primeiro-ministro do Canadá, Pierre Trudeau, que surge de surpresa para jantar, e que me pareceu tão simpático como ambicioso. Nos debates, eu levantei questões que desagradaram. Quando perguntei se a NATO era uma aliança política ou militar, e se pretendia defender princípios ou territórios, e se, sendo as duas coisas e tendo os dois objectivos, coincidiam as respectivas áreas de aplicação – o embaraço foi geral. Igual constrangimento foi óbvio quando perguntei por que motivo se não falava de desarmamento e de Nações Unidas quando se discutia a «Détente» e as relações leste-oeste. Foi meu vizinho o armador grego Niarchos, que passou o tempo a ler telegramas que uma secretária lhe trazia e, nos intervalos, a dizer-me que a atitude do Ocidente para com o actual governo de Atenas era uma estupidez rematada. E tem razão» (in Um Político Confessa-se (Diário: 1960-1968), Editora Civilização, 1986, pp. 291-293).
(8) O PPD, hoje PSD, é um partido de matriz essencialmente socialista. Eis duas passagens probatórias extraídas do programa político do PPD: «Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideais do socialismo e realizam-se em democracia. Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia»; «O Partido Popular Democrático, como partido político, visa a conquista do poder por via eleitoral e demais regras do processo democrático, a fim de instaurar progressivamente uma sociedade socialista em liberdade no nosso país» (in O Programa do M.F.A. e dos Partidos Políticos, Edições Acrópole, 1975, pp. 26 e 32).
(6) Quanto a membros portugueses pertencentes à Comissão Trilateral, fundada em 1973 por David Rockefeller, refiram-se os seguintes: Jorge Braga de Macedo, Conselheiro do Secretário-Geral da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OECD), professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa e ex-primeiro-ministro das Finanças; António Carrapatoso, Presidente do Conselho de Administração da Vodafone Portugal; Vasco de Mello, Vice-Presidente da José de Mello SGPS; João Meneses de Ferreira, Presidente e Chefe Executivo Oficial da ECO-SOROS, bem como membro do Parlamento português (in Daniel Estulin, Toda a Verdade sobre o Clube Bilderberg, pp. 291-294).
(7) Enquanto ministro dos Negócios Estrangeiros (1961-1969), Franco Nogueira personificou, sem dúvida, a maior e talvez a última personalidade a fazer valer a diplomacia portuguesa perante o internacionalismo invasor. Figura respeitável e admirável pelo seu patriotismo, firmeza, abnegação e sacrifício pessoal em prol de Portugal, nunca se deixou impressionar nem influenciar no âmbito das suas relações e contactos internacionais, mesmo quando participante das reuniões Bilderberg, de que dá testemunho num dos seus livros:
«Lisboa, 24 de Abril [de 1968] – Partida para o Canadá, para mais uma reunião do Grupo de Bilderberg.
Mont-Tremblant, Canadá, 28 de Abril – Três dias numa montanha canadiana, estância para Inverno e para Verão, a 150 quilómetros ao norte de Montreal. Teve algum interesse esta reunião do Grupo de Bilderberg? Foi sobretudo curiosa a discussão do tema: «Defesa do Ocidente e Détente». Síntese do debate: não há Détente, que tem de ser havida por uma farsa; continua como dantes e acaso mais agudo o perigo de agressão russa; e deu-se uma recente alteração no equilíbrio de poderes, e isso em desfavor do Ocidente. Nunca esperei que os membros do Grupo de Bilderberg – pela maioria, todos muito bem instalados, muito bem-pensantes, muito flexíveis nos seus princípios, muito sinuosos nas suas convicções, muito prudentes nos seus juízos – tivessem a audácia de tais conclusões. Presidiu, como sempre, o príncipe Bernardo da Holanda: estas reuniões são as suas meninas dos olhos. De novo ajuízo a personalidade deste homem, tão conhecido no mundo, e tão influente em certos meios. Para além dos seus ares de à-vontade, de segurança, de decisão, de grandes palavras, de confiança em si, de homem do vasto mundo, de pessoa que se sente íntima dos grandes da terra (de que se julga elemento de tomo) – ao Príncipe Bernardo falta classe, e é sem nobreza nem galhardia, pesadão, de mau gosto nos seus ditos sem espírito nem humor, e tudo isto é mal oculto por um verniz convencional. Com o seu aspecto desportivo e ágil, magro, sóbrio no vestir, sempre de cravo ao peito, convencionalmente informal e desataviado, Bernardo é somente o marido da Rainha dos Países Baixos. Quase o mesmo eu diria do Príncipe Claus, embora este me pareça com mais dimensão. E a Princesa Beatriz, que encontro pela segunda vez, vai engordando e, ainda que tenha por si a mocidade e a sua beleza, começa a adquirir abundâncias de futura matrona neerlandesa. Mas nesta reunião não faltaram personalidades de consequência. À cabeça, no meu parecer, Pierre-France. Discreto, tranquilo, natural, sem o menor esforço, atento, polido, comportando-se como um homem que não é nada, nunca foi nada, nunca será nada – mas que pode ter sido ou vir a ser tudo. Conversa simples, de homem lúcido, que em nenhum momento procura exibir-se, ou alardear o que quer que seja. Falo-lhe da sua ascendência portuguesa. Não a rejeita, e até mostra uma ponta de orgulho - «orgulhoso como meu Avô, mais do que como meu Pai» - e relata as suas investigações em arquivos portugueses; e diz que, quando tivesse tempo, desejaria prossegui-las. Prontifiquei-me a ajudá-lo, assegurei-lhe que tudo seria feito para facilitar as suas pesquisas nos arquivos oficiais, e nos privados cujos possuidores consentissem, como decerto consentiriam com prazer. Recordei a sua estadia em Lisboa há três ou quatro anos. Mendes-France perguntou-me se a ponte já estava pronta, e se não desfeava a paisagem. Depois, encaminhou a conversa para a política. Quis saber se também tínhamos um problema de «pós-salazarismo» como em França havia um problema de «pós-gaullismo». Respondi que sim, e que esperávamos resolvê-lo a seu tempo, ainda que eu não ocultasse algumas apreensões. Mendes-France trouxe depois a terreiro a situação de África. Mostrou-se inteiramente lúcido, informado e responsável. «Compreendo a vossa posição. É certo que se não pode conservar a estrutura integral do século XIX, mas a verdade é que vocês já vêm dos séculos anteriores e são por isso diferentes dos demais. São um caso especial, que o mundo deveria aceitar como tal. Depois, há os problemas da segurança, a rota do Cabo, o vazio do Oceano Índico. Tudo isto é muito complexo. A vossa posição é muito importante», comenta Mendes-France, em tom de quem está a pensar alto. Mostrou-se consciente dos interesses em jogo, conhecedor das forças em conflito, e perfeitamente informado da intervenção hostil dos americanos, de quem aliás não me pareceu amigo devotado. Prometeu que me procuraria na sua próxima visita a Portugal. Além de Mendes-Frances, há nomes que o mundo conhece. David Rockefeller, que nos dá a impressão de a todo o momento nos pedir um dólar para o autocarro; Henry Ford, com uma esquadrilha de automóveis; Joseph Luns, sempre a contar histórias picarescas de políticos, e em especial do general De Gaulle; o novo primeiro-ministro do Canadá, Pierre Trudeau, que surge de surpresa para jantar, e que me pareceu tão simpático como ambicioso. Nos debates, eu levantei questões que desagradaram. Quando perguntei se a NATO era uma aliança política ou militar, e se pretendia defender princípios ou territórios, e se, sendo as duas coisas e tendo os dois objectivos, coincidiam as respectivas áreas de aplicação – o embaraço foi geral. Igual constrangimento foi óbvio quando perguntei por que motivo se não falava de desarmamento e de Nações Unidas quando se discutia a «Détente» e as relações leste-oeste. Foi meu vizinho o armador grego Niarchos, que passou o tempo a ler telegramas que uma secretária lhe trazia e, nos intervalos, a dizer-me que a atitude do Ocidente para com o actual governo de Atenas era uma estupidez rematada. E tem razão» (in Um Político Confessa-se (Diário: 1960-1968), Editora Civilização, 1986, pp. 291-293).
(8) O PPD, hoje PSD, é um partido de matriz essencialmente socialista. Eis duas passagens probatórias extraídas do programa político do PPD: «Liberdade, igualdade e solidariedade são os grandes ideais do socialismo e realizam-se em democracia. Não há verdadeira democracia sem socialismo, nem socialismo autêntico sem democracia»; «O Partido Popular Democrático, como partido político, visa a conquista do poder por via eleitoral e demais regras do processo democrático, a fim de instaurar progressivamente uma sociedade socialista em liberdade no nosso país» (in O Programa do M.F.A. e dos Partidos Políticos, Edições Acrópole, 1975, pp. 26 e 32).
(9) Relativamente ao Congo, diz-nos Franco Nogueira:
«Lisboa, 31 de Agosto [de 1962] – Violenta polémica entre nós e o Congo por causa da base militar. Defende o Congo o seu direito a permitir campos de treino para guerrilheiros que ataquem territórios vizinhos. Proclama Portugal o seu direito de legítima defesa e, mais do que isso, o seu direito de perseguir os atacantes até ao seu ponto de origem.
(…) Lisboa, 7 de Setembro – Chegam notícias de mercenários indianos, e de alguns americanos que se congregam no Congo para ajudarem os terroristas em Angola. E disporiam de forte armamento. De cinco em cinco minutos recebem-se informações sobre uma catástrofe iminente, de cerco a apertar-se, de cruzada mundial contra nós. É de esfrangalhar os nervos mais sólidos.
(…) Lisboa, 28 de Setembro – (…) recomeçou a luta entre Catangueses e as forças da ONU. Mortos e feridos causados pelas forças de manutenção da paz. Telefono a Elbrick para exprimir a nossa profunda preocupação pelo destino do armamento: segundo as nossas informações, muito desse armamento, fornecido por Washington à ONU, era desviado para os terroristas antiportugueses.
Lisboa, 29 de Dezembro – Plena guerra no Catanga. Intervenção americana nítida: na esperança de substituírem os belgas, os Estados Unidos pretendem salvaguardar um Congo unido. Perigosa situação, a que nos pode ser criada. Tenho suspeita de que se planeia a divisão de Moçambique em quatro partes: Norte, para o Tanganica; distrito de Niassa para a Niassalândia; região entre o Zambeze e o Save, para a Rodésia do Norte; e o Sul, com o porto de Lourenço Marques, ficaria ambiguamente numa esfera de influência da África do Sul. Últimas notícias sugerem que o Catanga não se estaria aguentando e que Tschombé teria fugido.
Lisboa, 31 de Dezembro – (…) Examinámos a situação do Catanga; critiquei a atitude americana; Elbrick naturalmente defendeu a posição do seu governo, mas não se tolheu de dizer que compreendia a nossa. Tschombé teria estado na Rodésia do Sul para se avistar com Roy Wellensky; e haveria depois partido com destino que se ignora. Tudo isto que se escreve de pena leve processa-se por cima de milhares de cadáveres. Quem cuida disso?» (in Um Político Confessa-se, pp. 37-38; 50-51).
(10) Franco Nogueira, Diálogos Interditos: A Política Externa Portuguesa e a Guerra de África, Editorial Intervenção, 1979, Vol. I, pp. 184-185.
(11) Tratava-se do Plano Mistério, sobre o qual os nossos serviços haviam colhido informações, e que previa a constituição de um exército africano internacional para atacar Angola.
(12) Franco Nogueira, ob. cit., pp. 198-200.
(13) O documentário “A Guerra”, de autoria do jornalista Joaquim Furtado, tem como ponto de partida os ataques da UPA a fazendas e povoações do Norte de Angola contados por quem, de uma forma desumana e sem piedade, os levou a cabo. No entanto, como já seria de esperar, o documentário não revela como tais actos manifestamente terroristas – apresentados como «revoltas» – foram instigados e preparados do exterior. Também não situa tamanha selvajaria no âmbito da política paralela de Moscovo e Washington no financiamento, armamento e preparação ideológica de grupos, facções e movimentos subversivos para expulsar os portugueses de África. E tudo sob a simulação do rigor, do retratar fiel e isento de uma guerra que foi essencialmente orquestrada e dirigida nos bastidores por forças internacionais de que Oliveira Salazar estava bem ciente e bem informado.A omissão e o silenciar de factos indispensáveis para a devida compreensão do que esteve verdadeiramente em causa na guerra do Ultramar, faz parte integrante do processo de desinformação histórico e político em curso. De resto, alegar pesquisa, entrevistas, recolha de imagens de arquivo e reportagens radiofónicas desconhecidas do grande público, tudo isso, por mais valor documental que tenha, situa-se apenas na periferia de uma questão que permanece, essa sim, pouco ou nada visível para a generalidade das gerações de ontem e de hoje. Referimo-nos, pois, ao facto de Portugal ter sido, sem dúvida, vítima de uma campanha internacional apostada a reduzir a mais velha Nação da Europa a um território exíguo e particularmente refém de interesses, objectivos e directrizes que não os seus. E uma vez conseguida tão torpe campanha, o camarada Joaquim Furtado – o mesmo, diga-se de passagem, que já estava ideologicamente posicionado para, às 04:26 do dia 25 de Abril de 1974, ler o «comunicado» do MFA no Rádio Clube Português –, é também o mesmo que vem dar agora uma «visão integrada e tão completa quanto possível» de uma guerra de que ele próprio nem imagina a rede de relações e consequências implícitas.
Continua
«Lisboa, 31 de Agosto [de 1962] – Violenta polémica entre nós e o Congo por causa da base militar. Defende o Congo o seu direito a permitir campos de treino para guerrilheiros que ataquem territórios vizinhos. Proclama Portugal o seu direito de legítima defesa e, mais do que isso, o seu direito de perseguir os atacantes até ao seu ponto de origem.
(…) Lisboa, 7 de Setembro – Chegam notícias de mercenários indianos, e de alguns americanos que se congregam no Congo para ajudarem os terroristas em Angola. E disporiam de forte armamento. De cinco em cinco minutos recebem-se informações sobre uma catástrofe iminente, de cerco a apertar-se, de cruzada mundial contra nós. É de esfrangalhar os nervos mais sólidos.
(…) Lisboa, 28 de Setembro – (…) recomeçou a luta entre Catangueses e as forças da ONU. Mortos e feridos causados pelas forças de manutenção da paz. Telefono a Elbrick para exprimir a nossa profunda preocupação pelo destino do armamento: segundo as nossas informações, muito desse armamento, fornecido por Washington à ONU, era desviado para os terroristas antiportugueses.
Lisboa, 29 de Dezembro – Plena guerra no Catanga. Intervenção americana nítida: na esperança de substituírem os belgas, os Estados Unidos pretendem salvaguardar um Congo unido. Perigosa situação, a que nos pode ser criada. Tenho suspeita de que se planeia a divisão de Moçambique em quatro partes: Norte, para o Tanganica; distrito de Niassa para a Niassalândia; região entre o Zambeze e o Save, para a Rodésia do Norte; e o Sul, com o porto de Lourenço Marques, ficaria ambiguamente numa esfera de influência da África do Sul. Últimas notícias sugerem que o Catanga não se estaria aguentando e que Tschombé teria fugido.
Lisboa, 31 de Dezembro – (…) Examinámos a situação do Catanga; critiquei a atitude americana; Elbrick naturalmente defendeu a posição do seu governo, mas não se tolheu de dizer que compreendia a nossa. Tschombé teria estado na Rodésia do Sul para se avistar com Roy Wellensky; e haveria depois partido com destino que se ignora. Tudo isto que se escreve de pena leve processa-se por cima de milhares de cadáveres. Quem cuida disso?» (in Um Político Confessa-se, pp. 37-38; 50-51).
(10) Franco Nogueira, Diálogos Interditos: A Política Externa Portuguesa e a Guerra de África, Editorial Intervenção, 1979, Vol. I, pp. 184-185.
(11) Tratava-se do Plano Mistério, sobre o qual os nossos serviços haviam colhido informações, e que previa a constituição de um exército africano internacional para atacar Angola.
(12) Franco Nogueira, ob. cit., pp. 198-200.
(13) O documentário “A Guerra”, de autoria do jornalista Joaquim Furtado, tem como ponto de partida os ataques da UPA a fazendas e povoações do Norte de Angola contados por quem, de uma forma desumana e sem piedade, os levou a cabo. No entanto, como já seria de esperar, o documentário não revela como tais actos manifestamente terroristas – apresentados como «revoltas» – foram instigados e preparados do exterior. Também não situa tamanha selvajaria no âmbito da política paralela de Moscovo e Washington no financiamento, armamento e preparação ideológica de grupos, facções e movimentos subversivos para expulsar os portugueses de África. E tudo sob a simulação do rigor, do retratar fiel e isento de uma guerra que foi essencialmente orquestrada e dirigida nos bastidores por forças internacionais de que Oliveira Salazar estava bem ciente e bem informado.A omissão e o silenciar de factos indispensáveis para a devida compreensão do que esteve verdadeiramente em causa na guerra do Ultramar, faz parte integrante do processo de desinformação histórico e político em curso. De resto, alegar pesquisa, entrevistas, recolha de imagens de arquivo e reportagens radiofónicas desconhecidas do grande público, tudo isso, por mais valor documental que tenha, situa-se apenas na periferia de uma questão que permanece, essa sim, pouco ou nada visível para a generalidade das gerações de ontem e de hoje. Referimo-nos, pois, ao facto de Portugal ter sido, sem dúvida, vítima de uma campanha internacional apostada a reduzir a mais velha Nação da Europa a um território exíguo e particularmente refém de interesses, objectivos e directrizes que não os seus. E uma vez conseguida tão torpe campanha, o camarada Joaquim Furtado – o mesmo, diga-se de passagem, que já estava ideologicamente posicionado para, às 04:26 do dia 25 de Abril de 1974, ler o «comunicado» do MFA no Rádio Clube Português –, é também o mesmo que vem dar agora uma «visão integrada e tão completa quanto possível» de uma guerra de que ele próprio nem imagina a rede de relações e consequências implícitas.
Continua
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