Caro Sr. Aruno Abubacar
Pois...a diferença é precisamente esta, este pensamento, com o qual tropecei, muana ainda, num livro de um irmão mais velho, teria à volta dos 16 anos. E que me marcou até à data.
"Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”,
ou ainda
"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós."
JEAN PAUL SARTRE (1905-1980.
Há diversas variantes, sendo que:
- "o homem não é aquilo que diz/escreve, mas aquilo que faz"
Há também um pensamento linear, simples, que assim reza:
- "PELOS FRUTOS SE CONHECE A ÁRVORE."
E nunca esqueça a «construção, a invenção, do "homem Novo"» e dos seus custos para os homens "velhos", as centenas de milhares, os milhões... devidos à sua (do tal do “homem novo”) "raça, cultura, história,...,conforme os usos, costumes e tradições da linha correcta".
Fungula masso iué (abram os olhos).
A LUTA É CONTÍNUA
2
Aruno Abubacar said...
Caro Senhor Eusébio,
Sou leitor assíduo deste local de conversa. Não sou o primeiro a dizê-lo, mas reconheço que as suas observações primam pela sobriedade e objectividade. O Senhor Eusébio é de trato fino. Fossem todos os membros da Frelimo como o Senhor Eusébio, estou em crer que Moçambique seria uma Nação de Paz e Harmonia, focalizando seus esforços na edificação de um futuro promissor para todos. Não duvido um minuto sequer que o Senhor Eusébio afirma com convicção e honestodade que ʺQuanto ao Sérgio Vieira, Moçambique inteiro deve a esse notável político serviços relevantes. Tete, reserva-lhe, com certeza, lugar muito especial no coração de seus filhos e a vitória só foi testemunha desse desejo.ʺ Toda a trajectória política do Senhor Sérgio Vieira demonstra que este Moçambicano se entregou de corpo e alma à Frelimo, durante a luta armada, no período da independência, como deputado, quadro dirigente do Partido e do Governo. Mal andariam as coisas se o Partido a que pertence e seus membros não o reconhecessem. Deve-se olhar igualmente para o Senhor Sérgio Vieira na perspectiva dos que não militam nas fileiras do Partido Frelimo ao qual ele dedicou grande parte da sua vida. Daqueles que pagaram um preço bem alto por não comungarem dos ideais do Partido do Senhor Sérgio Vieira.
A família Câmara, da Zambézia, chora ainda o filho que desertou das fileiras do exército colonial para se aliar à luta da independência nacional travada pela Frelimo, mas para ser executado por aqueles em quem um dia acreditou. O Senhor Sérgio Vieira toca ao de leve no caso Câmara em sua majestosa autobiografia, PARTICIPEI POR ISSO TESTEMUNHO. A leitura do livro aponta ter sido o Senhor Sérgio Vieira o elemento chave na execução de Pedro Câmara.
Mais a Norte, na província de Nampula, a família da Dona Joana Simeão chora o desaparecimento de sua filha, presa na Beira em Outubro de 1975 e depois conduzida para Nachingwea onde foi submetida a julgamento popular. Depois foi levada para Niassa. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira omite esta fase da sua trajectória política, mas sabe-se que foi ele o ʺpromotor de justiçaʺ em Nachingwea, coadjuvado por outros elementos do Departamento de Segurança da Frelimo. Ao Sul, na província de Sofala, os filhos do senhor Uria e da Dona Celina Simango também choram o desaparecimento dos pais, em circunstâncias idênticas às da Dona Joana Simeão. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira também omite esta fase da sua trajectória política, mas sabe-se qual o papel preponderante por ele desempenhado em todo o processo. Ainda mais a Sul, na província de Inhambane, o Senhor José Chicuara Massinga, funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, preso pelo SNASP por instruções d o Senhor Sérgio Vieira, narra em «THE LIFE AND WALKS OF DR. JOSÉ C. MASSINGA as sevícias por que passou às mãos do coronel das beatas, cognome com que ficou conhecido o Senhor Sérgio Vieira. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira omite igualmente esta fase da sua trajectória política.
No extremo Sul da Nação, a família dos Zitas reclama por justiça desde o desaparecimento do seu filho, Senhor Eugénio Zita, estudante universitário. Teve a mesma sina que a Dona Simeão, os Simangos, o Senhores Gumane, Raul Casal Ribeiro, etc. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira também não se refere a esta fase da sua trajectória política. Nem a esta fase nem a uma fase posterior, de 1984, quando mandou raptar os Senhores Serras Pires, pai e sobrinho, que trabalhavam para uma empresa de safaris no norte da Tanzânia, e que de olhos vendados acabaram por ir parar a Maputo. O Senhor Serras Pires narra de forma emocionante isso e outros factos na última edição de WINDS OF HAVOC que acaba de me chegar às mãos. O Senhor Ludovick Simon Mwijage, cidadão tanzaniano, fala em THE DARK SIDE OF NYERERE’S LEGACY o rapto de que foi vítima por agentes do SNASP enviados pelo Senhor Sérgio Vieira ao Reino da Swazilandia, a pedido de colegas seus da segurança em Dar-es-Salam. Senhor Eusébio, aconselho-lhe a ler os livros dos Senhores Pires e Mwijage. Medite depois sobre a sina das famílias da Zambézia, Nampula, Sofala, Inhambane e Maputo de que aqui fiz referência, para que possa ficar a compreender que embora seja reconhecido e louvado por membros de seu Partido, a Frelimo, o Senhor Sérgio Vieira causou dor e sofrimento a muitas famílias, dentro e fora de Moçambique, nacionais e estrangeiras.
4
Eusébio said in reply to António Bilal...
A atitude da Renamo é que revela manobras intimidatórias e desespero de última hora. O governo não irá tolerar a savimbização de Moçambique. Apesar do cepticismo de todos, a Frelimo não enjeita a responsabilidade sobre o que suceder. A mesa do diálogo ai está e o Governo sabe como é por dentro. Não a desejaria melhor. No entanto, só o futuro dirá se ela corresponde ao que se espera, se as previsões foram justas, se o diálogo emergirá com os alicerces da paz firmados em Roma intactos ou destruídos e escalavrados, acusando a Frelimo de ter falhado. Não é missão da Frelimo reanimar os partidos da oposição moribundos. Levem tempo as negociações, tomem-se as cautelas devidas, mas, uma vez a decisão tomada, vá-se até ao fim, através de tudo, sofrendo tudo, não cedendo nada e para nunca mais largar. Essa é a directiva principal.
Dialogar com o adversário do tamanho da Renamo não é sinónimo de fraqueza nem cedência. Por vezes é preciso reconhecer na face do outro quanto dissabor, quanta vaidade sofreada, quantas mostras de fadigas, quantos orgulhos esmagados, enfim, quanta amargura ele nos causou. O que aqui se vê é o fruto dum trabalho metódico e consciente, revestido de cautelas, rodeado de prudências e cálculos capazes de adicionarem mais razão do lado de quem é acusado de ser violador no espírito e letra do AGP; é o resultado duma vontade de levar por diante toda e qualquer obra cuja necessidade se imponha, derrubando as maiores dificuldades e, correndo os maiores riscos. É por isso que a Frelimo não teme as contrariedades que, apesar de tudo, lhe possam surpreender. Por enquanto, a Frelimo decidiu rastejar como uma serpente para, no momento do sucesso, finalmente, voar como um falcão! Temos o nosso orgulho ferido sempre que ouvimos que as nossas vitórias foram fruto de fraude.
Quanto ao Sérgio Vieira, Moçambique inteiro deve a esse notável político serviços relevantes. Tete, reserva-lhe, com certeza, lugar muito especial no coração de seus filhos e a vitória só foi testemunha desse desejo. Não foi porque ele defraudou, numa terra que o viu nascer. Aliás, a conjugação de esforços de uma elite de heróis salvou Tete, porventura prestes a perder-se, numa obra-prima de intuição psicológica, de diplomacia com os líderes tradicionais e de firmeza de ânimo de quem não enverga a farda de soldado: militantes. Felizes os partidos políticos que nos seus momentos difíceis podem contar com homens assim esclarecidos. Não obstante os erros que terão cometido, compete-nos glorifica-los, louvar a sua empresa para que o sentimento de gratidão nacional estimule as gerações presentes e futuras, fazendo renascer outros exemplos semelhantes de abnegação e amor ao Partido para que continue a dirigir os destinos da nação. A cláusula já foi retirada, para dar justeza as vitórias acumuladas.
5
António Bilal said in reply to Eusébio...
Não estava a provocar a paciência do teu governo, Eusébio. Apenas interpretei o alegado envio de tropas zimbabweanas para a fronteira e que tu equacionaste como sinal de interferência.
Julgo que a ser verdade esse envio, o mesmo terá sido a pedido do teu governo. Exactamente por não dispor dos meios para fazer face a um novo conflito armado. Tratar-se-á de um acto intimidatório, de uma manobra de despero, de última hora.
O teu governo, aliás, deu sinal de fraqueza ao aceitar sentar-se à mesa com os da Renamo, por mais que queira subestimar na praça pública essa realidade.
Adiar as eleições? Basta que o teu governo aceite um princípio simples: que retire da Lei Eleitoral a cláusula que diz o que conta são os votos dentro das urnas e não o contabilizado nas assembleias de voto.
És de Tete ou conheces Tete como as palmas das tuas mãos. Não me digas que te esqueceste das manobras do teu conterrâneo, Sérgio Viera, nas últimas eleições, em que andou a atulhar urnas com votos falsos nesse círculo eleitoral?
Não brinques, tu e teus correlegionários, com a paciência dos moçambicanos, dos deserdados que não têm nada mais a perder.
6
Eusébio said in reply to António Bilal...
Um dos muitos problemas, que é necessário que se resolvam para que se chegue a realizar o nacional desejo e, por ora, utopia de diálogo, é achar de que matéria há-de o diálogo ser feito para resistir aos inimigos, que de dentro e de fora o ameaçam. Este discurso de que «a FIR não tem efectivos suficientes nem meios para fazer face a uma nova guerra» além de ser uma provocação a paciência de quem governa legitimamente o país é uma demonstração apologética de uma saída militar para o desentendimento. É importante que se empregue um discurso não incendiário nem encorajador para a Renamo. Que o ódio que se tem para com a Frelimo não nos segue a ponto de não vermos o perigo para o qual corre o país no presente momento.
Como por ai se tem falado muito em direcção a um desentendimento, me lembrei o meu invento imaginativo segundo o qual uma crise política e o boicote da Renamo as eleições traria vantagens recíprocas para os dois e para a nação. Se for para adiar as eleições até que tudo se resolva é melhor, a Renamo ganharia por permanecer no segundo lugar ante o nervosismo do MDM, Guebuza permaneceria ainda mais alguns anos como JES em Angola e o país permaneceria em paz enquanto se buscam consensos. Com um boicote à vista, os membros de ocasião presentes na Renamo desertar-se-iam para o MDM com vista a continuarem no Parlamento e noutros fóruns próximos dos dividendos que a política oferece e assim também seria uma mais-valia. Não podemos ter pressa de ir para as eleições quando as mesmas ofereçam, à partida, pontos de penumbra.
As exigências da Renamo ainda que legítimas requerem mais tempo pois elas próprias são fruto de duas décadas de descuido nacional. Quem estiver em melhores circunstâncias argumentativas do que eu, poderá fazer a experiência imaginativa à vista do que é melhor para preservar a paz.
Força RENAMO, se tem que ser assim a única forma de despartidarização do Estado, força e nem q seja com armas pois o povo e a joventude está contigo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
9
António Bilal said...
Para um partido que convidou a intervenção dos zimbabweanos, tanzanianos e malawianos na guerra civil não deixa de espantar os lamentos de um militante seu.
Para a Frelimo, uma nova intervenção será necessária mais do que nunca. Os bosses do militante voltaram a fazer mal as contas: não quiseram criar um exército unificado para assim deixar a Renamo de fora. Preferiram criar uma milícia privada sem a Renamo, a que chamaram FIR.
Como guarda pretoriana que defende pontos estratégicos, especialmente em redor do baluarte do regime em Maputo, a FIR não tem efectivos suficientes nem meios para fazer face a uma nova guerra.
Tal como o Mac Zech, os frelos imaginaram que sem os misteriosos “mercenários brancos” da Rodésia e da África do Sul, a Renamo não poderia levantar cabelo, logo seria suficiente uma FIR.
No seu raciocínio bronco, deduziram que os países vizinhos são todos do mesmo clube (Commonwealth) a que Moçambique passou a pertencer e que portanto não haverá ‘infiltrações’ – nem instrumentalizações. ‘Estamos juntos’, vociferam, referindo-se aos países ontem imperialistas.
Como todos os regimes que detêm o poder pela força – e com recurso à vigarice – os da Frelimo nunca aceitaram que o problema é e sempre foi interno. Preparam-se aqora para aprender mais uma lição; amarga lição.
Boa sorte, Eusébio. Espero que fiques para depois contar a história - ou os lamentos.
10
Eusébio said...
«Informações indicam que Zimbabwe está aberto a apoiar o governo moçambicano no caso da Renamo embarcar numa guerra civil»
Muito lamentável que um país irmão esteja a querer fomentar guerra no vizinho que lhe aludou a capinar o seu caminho para a independência. O melhor que o Zimbabwe devia fazer é manter-se calado em vez de querer, por vias infelizes, dar segurança a um lado para, desse modo, enveredar-se pela arrogância desprezando o diálogo. Parece cada vez mais claro que o Zimbabwe está interessado numa instabilidade em Moçambique para tirar dividendos. O caminho da presente aparente crise tem que ser o diálogo.
Caro Sr. Aruno Abubacar
Pois...a diferença é precisamente esta, este pensamento, com o qual tropecei, muana ainda, num livro de um irmão mais velho, teria à volta dos 16 anos.
E que me marcou até à data.
"Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”,
ou ainda
"O importante não é o que fazemos de nós, mas o que nós fazemos daquilo que fazem de nós."
JEAN PAUL SARTRE (1905-1980.
Há diversas variantes, sendo que:
- "o homem não é aquilo que diz/escreve, mas aquilo que faz"
Há também um pensamento linear, simples, que assim reza:
- "PELOS FRUTOS SE CONHECE A ÁRVORE."
E nunca esqueça a «construção, a invenção, do "homem Novo"» e dos seus custos para os homens "velhos", as centenas de milhares, os milhões...
devidos à sua (do tal do “homem novo”) "raça, cultura, história,...,conforme os usos, costumes e tradições da linha correcta".
Fungula masso iué (abram os olhos).
A LUTA É CONTÍNUA
Sou leitor assíduo deste local de conversa. Não sou o primeiro a dizê-lo, mas reconheço que as suas observações primam pela sobriedade e objectividade. O Senhor Eusébio é de trato fino. Fossem todos os membros da Frelimo como o Senhor Eusébio, estou em crer que Moçambique seria uma Nação de Paz e Harmonia, focalizando seus esforços na edificação de um futuro promissor para todos.
Não duvido um minuto sequer que o Senhor Eusébio afirma com convicção e honestodade que ʺQuanto ao Sérgio Vieira, Moçambique inteiro deve a esse notável político serviços relevantes. Tete, reserva-lhe, com certeza, lugar muito especial no coração de seus filhos e a vitória só foi testemunha desse desejo.ʺ
Toda a trajectória política do Senhor Sérgio Vieira demonstra que este Moçambicano se entregou de corpo e alma à Frelimo, durante a luta armada, no período da independência, como deputado, quadro dirigente do Partido e do Governo. Mal andariam as coisas se o Partido a que pertence e seus membros não o reconhecessem.
Deve-se olhar igualmente para o Senhor Sérgio Vieira na perspectiva dos que não militam nas fileiras do Partido Frelimo ao qual ele dedicou grande parte da sua vida. Daqueles que pagaram um preço bem alto por não comungarem dos ideais do Partido do Senhor Sérgio Vieira.
A família Câmara, da Zambézia, chora ainda o filho que desertou das fileiras do exército colonial para se aliar à luta da independência nacional travada pela Frelimo, mas para ser executado por aqueles em quem um dia acreditou. O Senhor Sérgio Vieira toca ao de leve no caso Câmara em sua majestosa autobiografia, PARTICIPEI POR ISSO TESTEMUNHO. A leitura do livro aponta ter sido o Senhor Sérgio Vieira o elemento chave na execução de Pedro Câmara.
Mais a Norte, na província de Nampula, a família da Dona Joana Simeão chora o desaparecimento de sua filha, presa na Beira em Outubro de 1975 e depois conduzida para Nachingwea onde foi submetida a julgamento popular. Depois foi levada para Niassa. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira omite esta fase da sua trajectória política, mas sabe-se que foi ele o ʺpromotor de justiçaʺ em Nachingwea, coadjuvado por outros elementos do Departamento de Segurança da Frelimo.
Ao Sul, na província de Sofala, os filhos do senhor Uria e da Dona Celina Simango também choram o desaparecimento dos pais, em circunstâncias idênticas às da Dona Joana Simeão. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira também omite esta fase da sua trajectória política, mas sabe-se qual o papel preponderante por ele desempenhado em todo o processo.
Ainda mais a Sul, na província de Inhambane, o Senhor José Chicuara Massinga, funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros, preso pelo SNASP por instruções d o Senhor Sérgio Vieira, narra em «THE LIFE AND WALKS OF DR. JOSÉ C. MASSINGA as sevícias por que passou às mãos do coronel das beatas, cognome com que ficou conhecido o Senhor Sérgio Vieira. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira omite igualmente esta fase da sua trajectória política.
No extremo Sul da Nação, a família dos Zitas reclama por justiça desde o desaparecimento do seu filho, Senhor Eugénio Zita, estudante universitário. Teve a mesma sina que a Dona Simeão, os Simangos, o Senhores Gumane, Raul Casal Ribeiro, etc. No seu livro de memórias, o Senhor Sérgio Vieira também não se refere a esta fase da sua trajectória política.
Nem a esta fase nem a uma fase posterior, de 1984, quando mandou raptar os Senhores Serras Pires, pai e sobrinho, que trabalhavam para uma empresa de safaris no norte da Tanzânia, e que de olhos vendados acabaram por ir parar a Maputo. O Senhor Serras Pires narra de forma emocionante isso e outros factos na última edição de WINDS OF HAVOC que acaba de me chegar às mãos.
O Senhor Ludovick Simon Mwijage, cidadão tanzaniano, fala em THE DARK SIDE OF NYERERE’S LEGACY o rapto de que foi vítima por agentes do SNASP enviados pelo Senhor Sérgio Vieira ao Reino da Swazilandia, a pedido de colegas seus da segurança em Dar-es-Salam.
Senhor Eusébio, aconselho-lhe a ler os livros dos Senhores Pires e Mwijage. Medite depois sobre a sina das famílias da Zambézia, Nampula, Sofala, Inhambane e Maputo de que aqui fiz referência, para que possa ficar a compreender que embora seja reconhecido e louvado por membros de seu Partido, a Frelimo, o Senhor Sérgio Vieira causou dor e sofrimento a muitas famílias, dentro e fora de Moçambique, nacionais e estrangeiras.
Dialogar com o adversário do tamanho da Renamo não é sinónimo de fraqueza nem cedência. Por vezes é preciso reconhecer na face do outro quanto dissabor, quanta vaidade sofreada, quantas mostras de fadigas, quantos orgulhos esmagados, enfim, quanta amargura ele nos causou. O que aqui se vê é o fruto dum trabalho metódico e consciente, revestido de cautelas, rodeado de prudências e cálculos capazes de adicionarem mais razão do lado de quem é acusado de ser violador no espírito e letra do AGP; é o resultado duma vontade de levar por diante toda e qualquer obra cuja necessidade se imponha, derrubando as maiores dificuldades e, correndo os maiores riscos. É por isso que a Frelimo não teme as contrariedades que, apesar de tudo, lhe possam surpreender. Por enquanto, a Frelimo decidiu rastejar como uma serpente para, no momento do sucesso, finalmente, voar como um falcão! Temos o nosso orgulho ferido sempre que ouvimos que as nossas vitórias foram fruto de fraude.
Quanto ao Sérgio Vieira, Moçambique inteiro deve a esse notável político serviços relevantes. Tete, reserva-lhe, com certeza, lugar muito especial no coração de seus filhos e a vitória só foi testemunha desse desejo. Não foi porque ele defraudou, numa terra que o viu nascer. Aliás, a conjugação de esforços de uma elite de heróis salvou Tete, porventura prestes a perder-se, numa obra-prima de intuição psicológica, de diplomacia com os líderes tradicionais e de firmeza de ânimo de quem não enverga a farda de soldado: militantes. Felizes os partidos políticos que nos seus momentos difíceis podem contar com homens assim esclarecidos. Não obstante os erros que terão cometido, compete-nos glorifica-los, louvar a sua empresa para que o sentimento de gratidão nacional estimule as gerações presentes e futuras, fazendo renascer outros exemplos semelhantes de abnegação e amor ao Partido para que continue a dirigir os destinos da nação. A cláusula já foi retirada, para dar justeza as vitórias acumuladas.
Julgo que a ser verdade esse envio, o mesmo terá sido a pedido do teu governo. Exactamente por não dispor dos meios para fazer face a um novo conflito armado. Tratar-se-á de um acto intimidatório, de uma manobra de despero, de última hora.
O teu governo, aliás, deu sinal de fraqueza ao aceitar sentar-se à mesa com os da Renamo, por mais que queira subestimar na praça pública essa realidade.
Adiar as eleições? Basta que o teu governo aceite um princípio simples: que retire da Lei Eleitoral a cláusula que diz o que conta são os votos dentro das urnas e não o contabilizado nas assembleias de voto.
És de Tete ou conheces Tete como as palmas das tuas mãos. Não me digas que te esqueceste das manobras do teu conterrâneo, Sérgio Viera, nas últimas eleições, em que andou a atulhar urnas com votos falsos nesse círculo eleitoral?
Não brinques, tu e teus correlegionários, com a paciência dos moçambicanos, dos deserdados que não têm nada mais a perder.
Como por ai se tem falado muito em direcção a um desentendimento, me lembrei o meu invento imaginativo segundo o qual uma crise política e o boicote da Renamo as eleições traria vantagens recíprocas para os dois e para a nação. Se for para adiar as eleições até que tudo se resolva é melhor, a Renamo ganharia por permanecer no segundo lugar ante o nervosismo do MDM, Guebuza permaneceria ainda mais alguns anos como JES em Angola e o país permaneceria em paz enquanto se buscam consensos. Com um boicote à vista, os membros de ocasião presentes na Renamo desertar-se-iam para o MDM com vista a continuarem no Parlamento e noutros fóruns próximos dos dividendos que a política oferece e assim também seria uma mais-valia. Não podemos ter pressa de ir para as eleições quando as mesmas ofereçam, à partida, pontos de penumbra.
As exigências da Renamo ainda que legítimas requerem mais tempo pois elas próprias são fruto de duas décadas de descuido nacional. Quem estiver em melhores circunstâncias argumentativas do que eu, poderá fazer a experiência imaginativa à vista do que é melhor para preservar a paz.
Para a Frelimo, uma nova intervenção será necessária mais do que nunca. Os bosses do militante voltaram a fazer mal as contas: não quiseram criar um exército unificado para assim deixar a Renamo de fora. Preferiram criar uma milícia privada sem a Renamo, a que chamaram FIR.
Como guarda pretoriana que defende pontos estratégicos, especialmente em redor do baluarte do regime em Maputo, a FIR não tem efectivos suficientes nem meios para fazer face a uma nova guerra.
Tal como o Mac Zech, os frelos imaginaram que sem os misteriosos “mercenários brancos” da Rodésia e da África do Sul, a Renamo não poderia levantar cabelo, logo seria suficiente uma FIR.
No seu raciocínio bronco, deduziram que os países vizinhos são todos do mesmo clube (Commonwealth) a que Moçambique passou a pertencer e que portanto não haverá ‘infiltrações’ – nem instrumentalizações. ‘Estamos juntos’, vociferam, referindo-se aos países ontem imperialistas.
Como todos os regimes que detêm o poder pela força – e com recurso à vigarice – os da Frelimo nunca aceitaram que o problema é e sempre foi interno.
Preparam-se aqora para aprender mais uma lição; amarga lição.
Boa sorte, Eusébio. Espero que fiques para depois contar a história - ou os lamentos.
Muito lamentável que um país irmão esteja a querer fomentar guerra no vizinho que lhe aludou a capinar o seu caminho para a independência. O melhor que o Zimbabwe devia fazer é manter-se calado em vez de querer, por vias infelizes, dar segurança a um lado para, desse modo, enveredar-se pela arrogância desprezando o diálogo. Parece cada vez mais claro que o Zimbabwe está interessado numa instabilidade em Moçambique para tirar dividendos. O caminho da presente aparente crise tem que ser o diálogo.