sábado, 15 de dezembro de 2012

Políticos Profissionais

 
A sociedade cria intrujões
E a educação torna-os
Uns mais hábeis
Que os outros.
Oscar Wilde
 
À volta da celeuma criada pela interpretação gelatinosa da Lei de Probidade Pública, houve quem me interpelasse dizendo que se os deputados fossem impedidos de exercer suas actividades profissionais, então, necessariamente, nunca mais abandonariam a AR.
Pois é. Mas há um grande equívoco aqui. Ninguém sugeriu que um deputado não exercesse o seu mandato até ao fim da legislatura. Somente se defendeu que optasse: ou pelo seu mandato ou pela sua profissão. Agora vestir ambas camisolas é que não...
Deixem-me contudo dizer, que leio nesta interpelação algo muito mais profundo. Se calhar, o verdadeiro âmago da questão em volta desta Lei. Com efeito, os nossos profissionais, hoje deputados, conhecem muito bem o que determinou o seu percurso profissional. Quase sempre, o expediente político. Seja pelo cartão vermelho, de que se fizeram adeptos para não serem incomodados na Função Pública. Seja pelas nomeações políticas explícitas para cargos ditos de “confiança”, isto é, PCAs e directorzecos de Fundações ou Instituições de Investigação. Poucos, são que lá foram parar por causa do seu talento nato ou recompensa por brilhantes serviços prestados ao país.
No fundo, esta Lei da probidade pública, mexe com a organização interna dos partidos também. Isto porque há uma coincidência entre estes conflitos de interesse e a instituição dos directórios partidários, onde, em circuito-fechado, se escolhem os eleitos que irão falar em nome do POVO na AR. Processo que começa, invariavelmente nas juventudes partidárias, independentemente da linha ideológica de cada formação política. Em suma, a democracia, poder do povo para as elites governarem converteu-se moçambicanamente em democratura, poder das elites para o povo obedecer.
Não admira pois, que por causa da instituição deste estado de coisas, tenhamos parido os Políticos Profissionais, que são aquela simbiose entre a longevidade e a incompetência. Onde pessoas, se socorrem da vital necessidade de se manterem ligadas à sua profissão, porque senão perdem a prática. Mas também, à política, porque senão perdem ou não arranjam emprego.
E se repararem, tudo isto não aconteceria se houvessem duas premissas de base no nosso sistema democrático, concretamente a limitação de mandatos parlamentares por mais de duas legislaturas. E a instituição de círculos uninominais, ainda que parcialmente, para eleição dos nossos representantes nacionais ou provinciais. Isto, independentemente da necessidade de despartidarização do Estado ou da votação secreta para os órgãos do partido a que se filiam.
Publicada porlivre pensador moçambicanoem14:43Sem comentários:

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