Ao clarear o dia a chuva cessou, e os resisten-tes, alarmados, escutaram galos a cantar, portas a bater e vozes! O que durante a chuva e escuridão lhes pa-recera um mato cerrado, era-o de facto, mas minúsculo e vizinho dos quintais de várias casas, ocupadas por guerrilheiros da Zipa, organização que fazia ataques às herdades rodesianas próximas da fronteira! Os terroristas, durante todo o dia passaram muito perto do grupo, conversando des-preocupadamente, com suas AK47 a tiracolo, calções e berrantes chapéus.
Afinal, estavam na sua base! Os resistentes descobririam mais tarde que toda a zona fronteiriça era ocupada por terroristas que habitavam as vilas de onde a população foi obrigada a mudar-se paraas aldeias comunais, nome dado aos aglomerados idênticos aos al-deamentos portugueses, tão combatidos pela Frelimo. Além dos guerrilheiros da Zipa, ocupam postos fortificadosde defesa forças regulares do Exército Tanzaniano, assistidos por técnicos rus-sos e auxiliados por cubanos.
A Frelimo é incapaz de controlar o seu próprio território, e o povo sofre as consequências do racismo e tribalismo das tropas estrangeiras. Os oito homens, deitados, esperavam que chovesse ou que a noite chegasse depressa, mas o céu estava limpo e o dia arrastava-se. Com os ner-vos tensos, aguardavam. Por volta das 16.30, quando só faltavam duas horas para escurecer, vozes começaram a aproximar-se. Silenciosamente as armas foram empunhadasenquanto os terroris-tas entravam pelo matodentro. Provavelmente seguiam a pista deixada pelo grupo.
O comandante Manuel e o Silveira ajoelha-ram-se, lado a lado, e apontaram as suas armas na direcção de onde deveria surgir o inimigo. Os outros, deitados, fizeram o mesmo. Devido à vegetação, os terroristasdeveriam aproximar-se sem vê-los até 4 ou 5 metros de distância. Já podiam distingui-los; um barulho imprevisto, e os ouvidos treinados escutaram o seco som metálico da patilha de segurança duma AK a ser destravada. Um segundo depois, e o mato encheu-se dos estampidos das diversas armas e da estridente rajada das Kalachnikovs. De relance viram as balas a entrar nas árvores e no chão, estraçalhando de passagem as pernas do caçador-guia, ao mesmo tempo que um outro levavaa mão ao braço, atin-gido, mas continuando a disparar.
Viram também os inimigos a cair. Ouviu-se gritar e chorar, se-guido de um gorgolejar, indicativo de balas no pulmão. Os terroristas fugiam, gritando, enquan-to o pânico se apossava da aldeia que acreditou tratar-se de um ataque emmassa da Rodésia. Isso salvou o pequeno grupo. Três inimigos estavam es-tendidos com o peito atingido, mortos. Mais abaixo, outro escapava, ferido. As suas armas foram imediatamente apanhadas juntamente com os cinturões e porta-carregadores. Tinham de sair dali com rapidez.
A sua volta o terreno era aberto, apenas com capim, e teriam que atravessá-lo para chegar a um morropróximo, onde poderiam resis-tir. Cercados de casas, em pleno dia, dentro de uma base inimiga, arrastando um ferido grave, a situação apresentava-se difícil aos oito homens. Foi ordenado a dois que abandonassem as mo-chilas para carregar o ferido. Mas tudo isso tinha que ser feito rápido, antes que o inimigo, des-cobrindo que se tratava deum pequeno grupo, os cercasse. A perna quase seccionada por duas balas balançava quando o caçador-guia era transpor-tado. Gritava de dor.
Pensando rapidamente, o comandante Manuel viu que nadapoderiam fazer para tratá-lo em pleno matoe, além disso, a partir de agora seriam perseguidos; teria que ser sa-crificado, para que o resto do grupo, com apenas um ferido leve, deslocando-se veloz, se salvasse. E sendo capturado, poderia ser tratado, en-quanto que na selva, a gangrena logo tomaria conta da perna. Issofoi-lhe dito, e ele aceitou, sereno. Retirou o anel e o relógio,entregando-os ao chefe, para que, se pudesse, um dia o desse à sua mãe, já idosa. Um aperto de mão e os sete homens corren-do pelo capim aos ziguezagues procuraram atingir o cimo do morro.
Numa protecção há muito de-sejada, começou a chover torrencialmente, fa-cilitando a fuga. Com o coração apertado, es-cutavam os gritos de dorlançados pelo compa-nheiro abandonado. Mas não havia ocasião para lamentos e todos sabiam que se arriscavam ao mesmo, ou à morte, dia a dia. No topo do morro, o ferido leve foi medicado, e seguiram em frente. Duas noites depois, estavam num lugar seguro, tendo despistado o inimigo. Mas haviam sido localizados por alguém que após a notícia do curto combate começara a procurá-los.
— Irmãos!
Os resistentes, surpreendidos, agarraram as
armas e deitados olhavam em torno, desorien-tados.
— Sou amigo!
— Se é amigo, avance!
E um africano, com a farda da Frelimo e armado de AK, aproximou-se com um sorriso nos lábios, estendendo a mão.
— Eu sou o comandante André, e estou lutan-do contra a Frelimo, como vocês. Estão mal aqui! Passa muito "zipa" neste mato! Vêm comigo que acaba problema todo! Conversaram ainda cerca de uma hora, a prin-cípio desconfiados, mas acabaram por se conven-cer. O comandante André lutara muitos anos na Frelimo mas, com a independência, vira que os seus chefes agiam pior que os "colonialistas", e começou a protestar. Enviado para o campo de prisioneiros Sacudzo, na Gorongosa, de lá se evadira. Sendo conhecido e estimado, logo conseguira vários seguidores que agora realizavam ac-ções contra os antigos companheiros de guerra mentalizados por Moscovo.
A união com os gruposdispersos, sonhada pelos C.E., estava a concretizar-se e a Resistência passou a ter um braço maisforte, naquele dia. Guiados por André, caminharam vários dias, tendo-se-lhes juntado mais dois africanos armados, que esperavam pelo seu chefe, num ponto ante-riormente designado. Riam muito do bizarro armamento dos brancos, ao mesmo tempo satisfeitos pelo reforço. A base era uma velha machamba, há muito abandonada e que o mato isolou completamente. Possuíam terrenosminados, como faziam nas antigas bases da Frelimo e inclusive RPGs, Explosivos e armas extras, resultado de vários encontros com o inimigo.
Não tinham problemas de caça, pesca ou água, e sempreque era preciso, um dos homens deslocava-se à vila para comprar o que faltava, passeando muitas vezes pelas ruas, far-dado e armado como sefosse membro das FPLM Forças Populares de Libertação de Moçambique, o exército moçambicano). Durante semanas, os dois grupos trocaram as suas experiências. As 22 com os silenciadores foram de grande utilidade para a obtenção de comida sem problemas de barulho. Já armados de AK, iniciaram as ope-rações, sempre em zonas muito distantes da base. Possuíam também panfletos toscamente feitos, mas que eram entendidos pelos africanos e cujas cópias eram tiradas no próprio quartel da FPLM, por um colaborador!
— Eu sou o comandante André, e estou lutan-do contra a Frelimo, como vocês. Estão mal aqui! Passa muito "zipa" neste mato! Vêm comigo que acaba problema todo! Conversaram ainda cerca de uma hora, a prin-cípio desconfiados, mas acabaram por se conven-cer. O comandante André lutara muitos anos na Frelimo mas, com a independência, vira que os seus chefes agiam pior que os "colonialistas", e começou a protestar. Enviado para o campo de prisioneiros Sacudzo, na Gorongosa, de lá se evadira. Sendo conhecido e estimado, logo conseguira vários seguidores que agora realizavam ac-ções contra os antigos companheiros de guerra mentalizados por Moscovo.
A união com os gruposdispersos, sonhada pelos C.E., estava a concretizar-se e a Resistência passou a ter um braço maisforte, naquele dia. Guiados por André, caminharam vários dias, tendo-se-lhes juntado mais dois africanos armados, que esperavam pelo seu chefe, num ponto ante-riormente designado. Riam muito do bizarro armamento dos brancos, ao mesmo tempo satisfeitos pelo reforço. A base era uma velha machamba, há muito abandonada e que o mato isolou completamente. Possuíam terrenosminados, como faziam nas antigas bases da Frelimo e inclusive RPGs, Explosivos e armas extras, resultado de vários encontros com o inimigo.
Não tinham problemas de caça, pesca ou água, e sempreque era preciso, um dos homens deslocava-se à vila para comprar o que faltava, passeando muitas vezes pelas ruas, far-dado e armado como sefosse membro das FPLM Forças Populares de Libertação de Moçambique, o exército moçambicano). Durante semanas, os dois grupos trocaram as suas experiências. As 22 com os silenciadores foram de grande utilidade para a obtenção de comida sem problemas de barulho. Já armados de AK, iniciaram as ope-rações, sempre em zonas muito distantes da base. Possuíam também panfletos toscamente feitos, mas que eram entendidos pelos africanos e cujas cópias eram tiradas no próprio quartel da FPLM, por um colaborador!
A luta continua!
Com um grupo forte, o comandante André pôde realizar um velho sonho: libertar na Gorongosa, do campo de prisioneiros Sacudzo, onde es-tivera internado, os restantes prisioneiros. Através de um preciso esquema do campo e conhecedor da rotina de segurança, planeou-se o ataque. 1200 prisioneiros viviam num regime de fome e terror. Dividido em dois complexos, um alojava os elementos da Frelimo e suas famílias, que viviam à grande, usando os presoscomo escravos, com boas casas, fartas "machambas"e criação de aves.
No bom estilo fascista, ascasas do comandante do campo, comissário, etc, eram privilegiadas e separadas das outras onde viviam os elementos mais baixos da Frelimo.No outro complexo, as casas de barro, sem portas, muitas vezes sem telhado, alojavam dez vezes mais pessoas do que a sua real capacidade. Não havia camas, nem ca-deiras, nem mesas. O melhor edifício era a cadeia, sólido, sem janelas, onde às vezes se comprimiam centena e meia de pessoas.
Os prisioneiros eram acordados antes das 04.00 e descalços, com uma sumária tanga confeccionada com sacos de fa-rinha, ou com esfarrapadas calças, eram levados, sem nada comer, para asmachambas, trabalhan-do sem cessar até às 13.00, quando lhes era dis-tribuída uma ração de massa que mal chegaria para uma criança e às vezesum pouco de feijão ou peixe, este geralmente estragado, e que fora re-cusado por qualquer quartel da Frelimo. As visitas dos "altos dignitários" acompanhados por jor-nalistas eram saudadas com real entusiasmo pelos prisioneiros. Simplesmente porque, nesse dia, comiam como seres humanos, massa bem feita, bom caril, vestiam fardas que estavam guardadas no depósito e tinham uma rotina extremamente suave, até com horas de dança e canto!
E os jornalistas, encantados com a farsa, com muitas fotos no bolso, iam fazer o jogodos carrascos elogiando a "candura" com que se tratava dos reaccionários em Moçambique, um país livre...Aos resistentes surgiu o problema de muitos presos não terem condições para lutar nas guer-rilhas e não poderem ser obrigados a isso. Resol-veu-se então, em caso de sucesso na operação, dividir os libertos, sendo que os não combatentes seriam guiados até à fronteira da Rodésia, onde se entregariam às autoridades e poderiam viver li-vremente.
O ataque ao campo foi levado a cabo pelo comandante André, depois de uma longa cami-nhada, e apanhou o inimigo totalmente desprevenido, ao mesmo tempo que o comandante Manuel e seus homens realizavam missões de sabotagem para desorientar a Frelimo. Apenas um dos libertos foi morto durante a fuga, e alguns outros ficaram para trás, esgotados. O grupo que foi até à fronteira interceptou um tractor com um reboque, e seguiram pela estrada asfaltada, tendo até parado para reabastecê-lo, dizendo-se soldados das FPLM que transportavam prisioneiros!
Num ruído infernal, astropas tanzanianas abriram fogo de cima dos morros, com metra-lhadoras pesadas, sobre os fugitivos quando estes já quase alcançavam a liberdade. Dispersaram-se entre as árvores, correndo em direcção às mon-tanhas que assinalavam a Rodésia, e algumas horas depois agrupavam-se, sem forças, feridos, mas salvos, quase todos. Soube-se depois que foram recolhidos numa estrada por civis rode-sianos e entregues às autoridades que os acolheram com simpatia e compreensão.
Os libertos que quiseram ser combatentes, estes, após recuperarem durante quase um mês da subnutrição e sevícias sofridas em Sacudzo, começaram a receber instrução, a cargo do comandante Manuel. Uma visita, com os olhos vendados, foi conduzida até eles: um repórter da Rádio África Livre, porta-voz de todos os resistentes. Gravou uma entrevista com os libertos para que todo Moçambique soubesse o que se passara.
Cerca de dois meses depois de libertados, um jeep da Frelimo foi atacado numa emboscada montada pelos ex-prisioneiros de Sacudzo, que assim se integravam definitivamente na luta contra a escravidão em África. ELNA, ex-Frelimos, ex-prisioneiros, ex-Comandos Especiais, africanos e portugueses, gritam bem alto para os russos e cubanos:
"A luta continua!"
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