- 30 Dezembro 2012
- Opinião
Luanda – As festas de Natal e de Novo Ano não faziam parte do calendário bantu. Elas não fazem parte das culturas bantu. Os bantu não comemoravam o nascimento de um filho de Deus, nem sabiam da sua existência.
Fonte: Club-k.net
Fonte: Club-k.net
Os bantu reconheciam a existência de um Ser Todo-poderoso, Invisível e Criador do Céu e da Terra, assim como de tudo que existe, visível e invisível. Eles chamavam este Ser Omnipotente Nzambi a Mpungu.
Mas os bantu não sabiam que o Nzambi a Mpungu tinha um filho e este chamou-se Jesus Cristo, nem da Maria e José. Desconheciam a data e o local do nascimento deste filho de Deus; por isso não comemoravam a festa referente ao Natal. Quanto ao Ano novo, o calendário bantu é ou era diferente do Grego romano.
Um ano bantu era contado a partir de uma estação e terminava quando se chegava à mesma epoca. Quanto se chega à mesma temporada que já passou completa-se um ano chamado “Mvu” ou “Mvula”, em língua Kikongo. Estação fria chama-se Sivu. Entre dois Sivu ou melhor entre duas estações iguais é um ano. “Mvu a mvimba” (um ano completo).
Não se comemorava nada por viver duas mesmas estações. As festas de Natal e Ano novo resultam da Conferencia de Berlim de 1885 durante a qual o Continente africano ou a África foi talhado como de um bolo se tratasse pelas potências europeias da época. África foi subdividida em colónias. E os colonizadores introduziram o Cristianismo nas suas colónias que são os actuais países.
Assim surgiram o Natal e o Ano novo que viraram festas de Fim d’Ano ate ah data presente.
Mas à medida que os anos passam, as referidas festas mudam de cor. Antigamente o Natal e o Ano novo eram considerados como as maiores festas da vida de uma pessoa, além do nascimento e do matrimónio.
Durante as referidas festas todas as pessoas, crianças, jovens, adultas e velhas de ambos sexos vestiam-se de roupa nova com calçados novos nas aldeias, dançava-se noites e dias inteiros o batuque. Aquelas danças folclóricas bantu com batuques feitos de troncos de árvore cavados e tapados com peles de cabritos que se aqueciam regularmente.
Eram uma orquestra composto de grande batuque acompanhado por dois pequenos chamados “Intambu” ao plural e “Kintambu” ao singular e cantores chamavam-se Intozi (Kintozi ao singular).
As canções eram cantadas em línguas locais. Havia também Fonógrafo e mais tarde Gira-discos. O Natal era festa para orar e festejar o nascimento de Jesus Cristo, filho de Deus, enquanto que o dia 01 de Janeiro comemora(va)-se a entrada num Ano novo.
Neste dia, cedo as pessoas vestiam-se de roupa e calcados novos e dirigiam-se às Igrejas construídas de pau a pique. Os fiéis sentavam em bancos feitos de troncos de árvores.
Os catequistas - que eram filhos das comunidades - pregavam em línguas locais.
O Ano novo ou Bom Ano, chama-se na língua Kikongo Buanana ou “Nkembo a nkotelo um Mvu ampa” (festa da entrada num Ano novo). A festa era maior que a do Natal, pois as pessoas festejavam por ter sobrevivido o ano passado.
A festa do Ano novo foi cantada por um dos mais famoso músico zairense, congolês democrático, o falecido Chantal. O disco intitulava-se “Bonne Annee” (Bom Ano) em que este com a voz melancólica cantou: “Mbula esili, Bonne Annee mpe ekoki. Sanza zomi na mibale, nabanzaki nakokufa…” (O Ano terminou, e o Bom Ano chegou. Doze meses passaram, eu pensava que ia morrer…).
Foi exactamente para festejar o Buanana que as pessoas vestiam-se de roupa e calcados novos. Era nesta ocasião que os animais domésticos como o cabrito, a ovelha, o porco, a galinha e o pato eram abatidos. As pessoas comiam o macarrão e comidas preparadas com o óleo vegetal que os bakongo (pessoas de etnia Kikongo) chamavam por Luila.
Afinal “Luila” era apenas a kikongolizacao da palavra Huile ou l’Huile em língua francesa que significa Óleo em Português. No mês de Dezembro, os velhos das comunidades mandavam os caçadores procurarem carne para as festas. Com a bênção dos antepassados, os caçadores faziam boa caça e regressavam com carne suficiente para as comunidades.
Havia bebidas europeias e locais. Os mais velhos compravam vinho em pipas, garrafões de dez litros que se chamavam “Mbamba” ou raramente garrafas e cerveja. Consumia-se igualmente bebidas produzidas localmente, nomeadamente o Nsamba que era extraída de uma palmeira viva ou Nkungulu proveniente de uma palmeira abatida, o Lunguila (Escutai-me) que feita de cana-de-açúcar, o Tombe (de Bordão), Mbamvu feito de milho, o Nteva (de Matebeira) e o Mbibidi (de caju).
As bebidas de palmeiras são chamadas noutras línguas por “Maruvo”, mas em língua Kikongo “Malavu” significa Bebida. Ninguém conhecia o bacalhau nem o cabaz. A comida para as festas eram compostas basicamente de Funge e carne ou peixe.
Na véspera das festas de Natal e de Bom Ano, os alfaiates tinham muito trabalho. Quase todo o mundo mandava cozer roupa. Os alfaiates passavam os dias e pernoitavam a cozer, para não frustrar os clientes.
Os alfaiates que desconseguiam satisfazer todos os clientes, fingiam estar doentes ou escondiam-se destes. Outros mais pacientes esforçavam-se a satisfazerem todos os clientes. Lembra-se de um menino que se vestiu de roupa sem botões, pois o Mestre, como se chamavam carinhosamente os alfaiates, não chegou de aprontar a obra a tempo.
Clientes choravam quando o alfaiate não cozia a sua roupa a tempo. Muitos trocavam de alfaiates com o pano já talhado, acabando por estragar a roupa. Muitos clientes fiscalizavam e pressionavam os alfaiates a cozer as suas roupas, permanecendo ou pernoitando nas alfaiatarias.
Na altura, não existia roupa pronto-a-vestir. Os alfaiates eram vedetas e a sua profissão estava na moda. Pois, no dia da festa, principalmente a do Ano novo, as pessoas depois de almoçarem vestiam-se de roupa e calcados novos e circulavam na aldeia a gritar “Bonne Annee” (Bom Ano) desejando boas festas ou Kandando a toda a gente.
As pessoas cumprimentadas respondiam oferecendo prendas em dinheiro. Geralmente oferecia-se dinheiro em moeda. Havia igualmente choros de ente queridos falecidos antes, na véspera ou nos dias das festas. No dia seguinte, todo o mundo apresentava cansaço e cabeceava com o sono.
Saudades dos tempos passados.
*makutankondo@yahoo.com.br
Mas os bantu não sabiam que o Nzambi a Mpungu tinha um filho e este chamou-se Jesus Cristo, nem da Maria e José. Desconheciam a data e o local do nascimento deste filho de Deus; por isso não comemoravam a festa referente ao Natal. Quanto ao Ano novo, o calendário bantu é ou era diferente do Grego romano.
Um ano bantu era contado a partir de uma estação e terminava quando se chegava à mesma epoca. Quanto se chega à mesma temporada que já passou completa-se um ano chamado “Mvu” ou “Mvula”, em língua Kikongo. Estação fria chama-se Sivu. Entre dois Sivu ou melhor entre duas estações iguais é um ano. “Mvu a mvimba” (um ano completo).
Não se comemorava nada por viver duas mesmas estações. As festas de Natal e Ano novo resultam da Conferencia de Berlim de 1885 durante a qual o Continente africano ou a África foi talhado como de um bolo se tratasse pelas potências europeias da época. África foi subdividida em colónias. E os colonizadores introduziram o Cristianismo nas suas colónias que são os actuais países.
Assim surgiram o Natal e o Ano novo que viraram festas de Fim d’Ano ate ah data presente.
Mas à medida que os anos passam, as referidas festas mudam de cor. Antigamente o Natal e o Ano novo eram considerados como as maiores festas da vida de uma pessoa, além do nascimento e do matrimónio.
Durante as referidas festas todas as pessoas, crianças, jovens, adultas e velhas de ambos sexos vestiam-se de roupa nova com calçados novos nas aldeias, dançava-se noites e dias inteiros o batuque. Aquelas danças folclóricas bantu com batuques feitos de troncos de árvore cavados e tapados com peles de cabritos que se aqueciam regularmente.
Eram uma orquestra composto de grande batuque acompanhado por dois pequenos chamados “Intambu” ao plural e “Kintambu” ao singular e cantores chamavam-se Intozi (Kintozi ao singular).
As canções eram cantadas em línguas locais. Havia também Fonógrafo e mais tarde Gira-discos. O Natal era festa para orar e festejar o nascimento de Jesus Cristo, filho de Deus, enquanto que o dia 01 de Janeiro comemora(va)-se a entrada num Ano novo.
Neste dia, cedo as pessoas vestiam-se de roupa e calcados novos e dirigiam-se às Igrejas construídas de pau a pique. Os fiéis sentavam em bancos feitos de troncos de árvores.
Os catequistas - que eram filhos das comunidades - pregavam em línguas locais.
O Ano novo ou Bom Ano, chama-se na língua Kikongo Buanana ou “Nkembo a nkotelo um Mvu ampa” (festa da entrada num Ano novo). A festa era maior que a do Natal, pois as pessoas festejavam por ter sobrevivido o ano passado.
A festa do Ano novo foi cantada por um dos mais famoso músico zairense, congolês democrático, o falecido Chantal. O disco intitulava-se “Bonne Annee” (Bom Ano) em que este com a voz melancólica cantou: “Mbula esili, Bonne Annee mpe ekoki. Sanza zomi na mibale, nabanzaki nakokufa…” (O Ano terminou, e o Bom Ano chegou. Doze meses passaram, eu pensava que ia morrer…).
Foi exactamente para festejar o Buanana que as pessoas vestiam-se de roupa e calcados novos. Era nesta ocasião que os animais domésticos como o cabrito, a ovelha, o porco, a galinha e o pato eram abatidos. As pessoas comiam o macarrão e comidas preparadas com o óleo vegetal que os bakongo (pessoas de etnia Kikongo) chamavam por Luila.
Afinal “Luila” era apenas a kikongolizacao da palavra Huile ou l’Huile em língua francesa que significa Óleo em Português. No mês de Dezembro, os velhos das comunidades mandavam os caçadores procurarem carne para as festas. Com a bênção dos antepassados, os caçadores faziam boa caça e regressavam com carne suficiente para as comunidades.
Havia bebidas europeias e locais. Os mais velhos compravam vinho em pipas, garrafões de dez litros que se chamavam “Mbamba” ou raramente garrafas e cerveja. Consumia-se igualmente bebidas produzidas localmente, nomeadamente o Nsamba que era extraída de uma palmeira viva ou Nkungulu proveniente de uma palmeira abatida, o Lunguila (Escutai-me) que feita de cana-de-açúcar, o Tombe (de Bordão), Mbamvu feito de milho, o Nteva (de Matebeira) e o Mbibidi (de caju).
As bebidas de palmeiras são chamadas noutras línguas por “Maruvo”, mas em língua Kikongo “Malavu” significa Bebida. Ninguém conhecia o bacalhau nem o cabaz. A comida para as festas eram compostas basicamente de Funge e carne ou peixe.
Na véspera das festas de Natal e de Bom Ano, os alfaiates tinham muito trabalho. Quase todo o mundo mandava cozer roupa. Os alfaiates passavam os dias e pernoitavam a cozer, para não frustrar os clientes.
Os alfaiates que desconseguiam satisfazer todos os clientes, fingiam estar doentes ou escondiam-se destes. Outros mais pacientes esforçavam-se a satisfazerem todos os clientes. Lembra-se de um menino que se vestiu de roupa sem botões, pois o Mestre, como se chamavam carinhosamente os alfaiates, não chegou de aprontar a obra a tempo.
Clientes choravam quando o alfaiate não cozia a sua roupa a tempo. Muitos trocavam de alfaiates com o pano já talhado, acabando por estragar a roupa. Muitos clientes fiscalizavam e pressionavam os alfaiates a cozer as suas roupas, permanecendo ou pernoitando nas alfaiatarias.
Na altura, não existia roupa pronto-a-vestir. Os alfaiates eram vedetas e a sua profissão estava na moda. Pois, no dia da festa, principalmente a do Ano novo, as pessoas depois de almoçarem vestiam-se de roupa e calcados novos e circulavam na aldeia a gritar “Bonne Annee” (Bom Ano) desejando boas festas ou Kandando a toda a gente.
As pessoas cumprimentadas respondiam oferecendo prendas em dinheiro. Geralmente oferecia-se dinheiro em moeda. Havia igualmente choros de ente queridos falecidos antes, na véspera ou nos dias das festas. No dia seguinte, todo o mundo apresentava cansaço e cabeceava com o sono.
Saudades dos tempos passados.
*makutankondo@yahoo.com.br
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