domingo, 7 de julho de 2019

O Presidente que mais nos representa por Elísio Macamo


"NYUSI SOMOS NÓS"
Elísio Macamo

Partilho a seguir uma reflexão da autoria de Elísio Macamo, sociólogo moçambicano radicado na Suíça, porque considero "alimento para o pensamento".
Sugiro que cada um de nós reflicta profundamente sobre as perguntas que o Elísio nos coloca no texto que segue.
Eu estou fazendo isso, com esta partilha.

--- INÍCIO ---

O Presidente que mais nos representa
por Elísio Macamo

Sim, o Presidente Nyusi! Nunca na nossa jovem história alguém foi mais representativo, sobretudo no que de mais negativo nos caracteriza. E mesmo a forma como hoje o ridicularizamos mostra o quão ele foi talhado à nossa imagem.
A coisa começa com o domínio da Língua Portuguesa. Muitos pensam que o problema é não dominar a língua quando, na verdade, o problema é articular um pensamento coerente. Quantos somos capazes disso? Quantos de nós usam conceitos com segurança para além da repetição de slogans mal digeridos? Quantos de nós deixam que conceitos pensem por nós?
Quantos de nós pensam que uma posição de autoridade é suficiente para lhes conferir autoridade na fala? Não é esse o apanágio de muitos de nós que pensam que formação numa área, ocupação numa determinada área profissional, militância num certo partido, preocupação pelos injustiçados do mundo, etc. constituem critérios de validação do que falam?
Quantos de nós pensam que quem interpela criticamente é inimigo? Não é assim na esfera pública, onde muitas vezes não se debatem os méritos das questões, mas sim convicções políticas? Quantas vezes a discussão não arrancou porque quem devia debater perdeu tempo procurando saber que motivações políticas estariam por detrás do que se dizia?
Quantos de nós não se dão por satisfeitos apenas por identificar um bode expiatório, mesmo que eles próprios estejam atolados na mesma lama? Não é assim com as “dívidas ocultas”? Quem elegeu Guebuza? Porque é que nunca tivemos a coragem de admitir que a responsabilidade é colectiva, mas demo-nos por satisfeitos diabolizando os “lesa-pátria” e fechando os olhos à responsabilidade que como membros da comunidade política também temos? Em que é que a campanha “Eu não pago” é diferente da postura do Presidente e do seu partido?
Quantos de nós reconhecem que não estão à altura da tarefa que lhes foi confiada? Quantos admitem insuficiências e, por isso, apostam seriamente na assessoria, dão ouvidos a quem sabe e afastam-se de quem só aplaude, saúda e aquiesce? Quantos de nós estão nos poleiros que ocupam por mérito próprio? Quantos de nós têm a humildade de reconhecer que, por vezes, a posição não reflecte o mérito profissional, mas pode se dever a outros factores?
Quantos de nós acertam sempre na relação entre estratégia e detalhe? Não é esse o nosso maior problema? Falamos à toa porque o que dizemos não promove nem protege nenhum princípio claro para nós, apenas faz uso do direito de falar! Não é assim que a gente faz sempre? Defender e aplaudir conclusões, e prestar pouca atenção ao que nos leva lá?
Quantos de nós respeitam os seus interlocutores, sobretudo quando estes estão abaixo na escala social, profissional e económica? Não andavam aqui pessoas a aplaudir o achincalhamento pelo Presidente de administradores por não saberem responder a detalhes?
Eu não me envergonho pelo Presidente que tenho. Envergonho-me por mim mesmo. A sua má prestação naquela entrevista - que não tem nada a ver com as jornalistas, com intenções coloniais, etc. - é sinal de despreparo, algo que é nosso. Todo o povo merece os governantes que tem. Nyusi é nosso Presidente no sentido literal e figurado do termo. Nyusi somos nós.
Por isso, compatriotas, decidi mudar da forma de bater. Não mais me vou chatear com as suas gaffes. Vou transforma-las em momentos privilegiados de introspecção para não perder de vista o País que é muito maior do que as fraquezas dum único homem. Estando claro que esta Frelimo, sobretudo a sua Comissão Política, já não parece gostar de Moz, é minha obrigação patriótica mudar de abordagem e assumir a responsabilidade que me compete: identificar, nas suas gaffes, o que é pérola indiano, e tentar corrigir...

--- FIM ---

Epílego
Eu sempre tenho apregoado que uma mudança positiva começa a identificação e reconhecimento dos erros que cometemos. Não pode haver progresso, se não podermos dar esta passo. O progresso começa com a identificação e correcção dos erros que cometemos.
É por isso tenho insistido que Joaquim Chissano e Armando Guebuza digam aos moçambicanos que erros cada um cometeu e os reconhece como tal, e peçam desculpas por esses erros, para que sejam repetidos pela presente e futuras gerações de líderes moçambicanos.
No texto acima, Elísio Macamo põe o dedo na ferida. Tenhamos coragem de fazer o mesmo: Filipe Nyusi é a nossa imagem; as críticas que dirigimos a ele, são para nós próprios.
Contestas?
Eu sim, porque faço diferente. Ainda espero que Joaquim Chissano e Armando Guebuza digam aos moçambicanos que eles governaram, que erros cometeram e os reconhecem com tal, e peçam desculpas pelos seus erros aos moçambicanos, agora ainda vivos. Assim será mais fácil a sua absolvição pela nossa História colectiva como País e como Nação soberanos.
Mais (eu) não disse.
Palavra d'onra!
Gosto
Comentários
  • Buene Boaventura Paulo Peço para ser subtraído nesse conjunto de "somos todos Nyusi"; articular o pensamento não absolutamente nada a ver com a escolaridade - isso acontece a partir da altura que alguém fala uma determinada língua
    • Julião João Cumbane Buene Boaventura Paulo, a citação correcta é "Nyusi somos nós". Agora, queres ser subtraído do "nós" porquê? Em que é que tu és diferente do "nós"?...
    • Buene Boaventura Paulo Julião João Cumbane, ele Nyusi é que é diferente de nós, ou melhor diferente de qualquer moçambicano que se preze e não vai pela mentira... Aquele espectáculo não tem nada a ver com escolaridade, mas sim uma tentativa frustrada de justificar o injustificável.
    • Julião João Cumbane Buene Boaventura Paulo, eu NÃO vi nem ouvi Nyusi a justificar-se. Justificar-se de quê. O que eu e ouvi foi Nyusi a responser a perguntas que ele pouca imaginava que lhe seriam feitas, ou se sabia, não organizou bem as respostas. Mas, mesmo assim, (eu) considero que, nas respostas deu como as deu, ele passou uma mensagem válida àquelas jornalistas e sua adiênica atenta.
    • Buene Boaventura Paulo Julião João Cumbane, é verdade, ele respondeu a todas as questões colocadas; se de forma brilhante ou nao, depende de cada juízo, analogamente as questões colocadas pelas jornalistas. Nisto se eu fosse um professor, perante um aluno que respondesse às questões colocadas daquela maneira, esse aluno apanhava nota ZERO
    • Julião João Cumbane Buene Boaventura Paulo, porquê? Não terias entendeste as respostas do teu "aluno"? Se disseres "sim", então tu serias um professor inepto!
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    • Buene Boaventura Paulo Julião João Cumbane, porque se para cada pergunta, o aluno balbucia qualquer coisa que foge da logica da questão colocada e até suplica que não faça mais perguntas, esse aluno é inapto
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  • Yaqub Sibindy Menos Sibindy, meu caro Elísio Elisio Macamo!
  • Gito Katawala Muitos se zangam quando se diz, é o país que temos e é o presidente que temos. Eu concordo com a asserção "somos todos Nyusi". Ele é de facto o reflexo do país que somos.
    Elisio Macamo também explica que o problema não é deficiência na expressão em por
    tuguês mas sim a falta de um discurso coerente. É ainda recomenda a reformulação da CP e do CV do vermelhão. É aí é onde está o desafio. Tu mesmo ilustre JayJay já identificaste alguns veteranos que não estão 100% dedicados à causa da nação, talvez representem outros interesses. Mas também tenho a certeza que entre os visados há membros do CC e da CP.

    Agora essa de pedir os dinossauros para se retratarem ou pedir desculpas pelos erros, haha, só se não fossemos feudalmente bantus. Não existe essa possibilidade na tradição bantu (moçambicana).

    A ver vamos!!
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    • Julião João Cumbane Gito Katawala, pois é! É essa "tradição fundamentalista" bantu que nos faz o povo que somos. Por que não romper com as tradições que nos atrasam? O progresso resulta de roturas nas tradições!
  • Gracio Abdula Como cidadão que analisa criticamente o que se escreve, o que se comenta, o que se discute, sem pretender ser mais papista que o papa eu diria que o texto do Elísio Macamo não traz nada de inovador senão repetir o que todos (ou pelo menos alguns) já sabem: O eleitorado é culpado quando não é capaz de escolher um representante competente. Por conseguinte, não deve reclamar quando o seu eleito vira déspota, ditador ou arrogante e manda passear quem o colocou no poleiro. Sejamos honestos e razoáveis numa análise objectiva e respondamos à seguinte pergunta: O nosso Chefe de Estado, volvidos quase 5 anos mostrou ser competente?
    Se sim vamos assumir que conduza o destino do nosso País por mais 5 anos. Caso contrário escolhamos outro. Não está aqui em causa a côr partidária. Nas Legislativas sim, há o pendor da filiação partidária. Nas Presidenciais qualquer cidadão deve escolher quem ele pensa que melhor pode representar a Nação moçambicana. O sentido de pertença à Nação moçambicana está acima dos ideiais partidários! Infelizmente a bipolarização é um fenómeno mundial e nós não fugimos a essa regra e não temos muito por onde escolher. A alternativa a Nyusi só dentro da Frelimo. E temos muitos e bons!
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    • Julião João Cumbane Gracio Abdula, claramente há camaradas que não gostariam que a Frelimo avançasse com Filipe Nyusi para as próximas eleições gerais. O problema, porém, é que esses camaradas só estão interessados pela colocação no poder de alguém que proteja os seus interesses económicos e políticos individuais. São esses camaradas que urdem esquemas para esquemas para a exposição ridícula das insuficiências do nosso "Empregado", como se eles fossem perfeitos. Isso é muito ruím. Filipe Nyusi foi colocado no poder na expectativa de que ele protegeria os interesses individuais desses camaradas. Porém, uma vez no poder, o Filipe entendeu que o melhor a fazer era ficar do lado do povo e realinhar a Frelimo com o seu ideal original. Tal decisão dele é que está a causar a onda de contestação do círculo dos ambiciosos materiais infiltrados e hibernados na Frelimo, desde os tempos da luta de libertação nacional. Hoje, Filipe Nyusi é mais querido pelo povo, porque "traiu" a agenda dos que o conduziram ao poder e estar a tentar realinhar a Frelimo com o verdadeiro ideal de servir bem o povo moçambicano.
    • Gracio Abdula Julião João Cumbane tenho pessoalmente a percepção se que FJN é um estadista humilde e desalinhado da corja que somente pensa nos interesses particulares e enriquecimento ilícito. Mas tenho algumas reservas relativamente a certos elementos do seu núcleo duro! É preciso mais gente competentep descomprometida com o enriquecimento rápido e ilícito!

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