Quando publicamos a parte 8 da série
As mensagens secretas da Lava Jato, a procuradora Monique Cheker – citada na reportagem e consultada previamente por nós – reagiu enviando uma nota a um site que atua como porta-voz de Sergio Moro e da Lava Jato.
Ela tentou desqualificar a
reportagem. "Não reconheço os registros remetidos pelo The
Intercept, com menção a minha pessoa, mas posso assegurar que possui dados errados e alterações de conteúdo", afirmou Cheker.
Uma acusação como essa é grave para qualquer jornalista. Fosse verdade o que alegou a procuradora, teríamos cometido um grande equívoco na apuração. Só que não. Quem está errada é ela.
Desde que recebemos os arquivos que deram origem à #VazaJato, nossa principal preocupação foi nos certificarmos da veracidade das mensagens. Temos perfeita compreensão da gravidade do conteúdo revelado nos diálogos que estamos reportando e que erros ou incorreções ferem a credibilidade do
Intercept, das reportagens e inclusive a nossa.
Assim, passamos semanas obstinadamente buscando sinais que confirmassem a autenticidade das mensagens. Encontramos, em quantidade mais que suficiente: conversas de nossos repórteres com procuradores; menções a nós em outros diálogos que coincidem com datas em que procuramos a Lava Jato; referências a locais e endereços que conhecemos; discussões prévias sobre eventos a que sabemos que a força-tarefa compareceu; trocas de argumentos sobre processos à época em que eles eram julgados; comentários sobre noticiário do dia. Repórteres parceiros repetiram o procedimento, e o resultado foi o mesmo.
Os nomes dos interlocutores aparecem nos arquivos que recebemos como estão originalmente nos chats do aplicativo Telegram. Muitas vezes, eles estão sem sobrenome – justamente o caso de Monique. Por isso, é necessário investigar o sobrenome correto e acrescentá-lo ao texto (nos chats reproduzidos em artes, fazemos isso usando um pop-up sinalizado por um quadrado vermelho) para que você, nosso leitor, tenha uma informação precisa e entenda perfeitamente o contexto das conversas.
Essa busca é um processo exaustivo e frequentemente demorado, que repetimos cada vez que nos deparamos com o nome de um novo personagem.
No caso da procuradora Monique Cheker isso se deu da seguinte forma:
Para começar, buscamos em outras conversas sinais que possam trazer evidências sobre quem é a pessoa de que temos certeza sobre o sobrenome. Fazendo isso, encontramos o seguinte diálogo de Cheker no chat privado dela com Deltan Dallangnol, datado de 9 de setembro do ano passado:
Deltan – 00:17:33 – Mo, como faço a citação do artigo? Preciso dos dados da obra em que estará inserido. Vc me passa ou indica nome se estiver já online?
Monique – 01:10:06 – Pela ABNT, faça a citação e coloque a informação “no prelo” após o nome do autor.
01:11:20 – [imagem não encontrada]
01:11:50 – O nome da coletânea será “Desafios contemporâneos do Sistema Acusatório”Uma simples busca pelo nome do livro na internet nos levou ao site da
Amazon:
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