quinta-feira, 18 de julho de 2019

BARULHO DE 2009 SE REPETE AGORA EM 2019 JÁ COM OUTRA MOTIVAÇÃO POLÍTICA


Por Gustavo Mavie
‘’O passado explica o presente e nos faz antever o que será o futuro’’- Cícero
Nas vésperas das eleições gerais de 2009, que acabaram sendo ganhas pela FRELIMO e pelo seu então candidato Armando Guebuza, houve, tal como nestas de 2019, um grande barulho também politizado, porque na altura se alegava que o MDM tinha sido deliberadamente excluindo pela FRELIMO para que não as ganhasse.
Os que têm boa memória de fotografia, como o meu antigo colega da AIM, Paul Fauvet, certamente que se recordam muito bem desse barulho tão intenso quanto é o que nos ensurdece os ouvidos agora, com a alegação de que o STAE forjou eleitores em Gaza, alegadamente para beneficiar a FRELIMO.
Recordo-me que o meu então colega Paul era um dos que acreditava então piamente que algo sinistro havia sido feito para se prejudicar o MDM. Tal como agora em 2019, também naquelas de 2009, a FRELIMO era o único acusado tanto pelos partidos da oposição como pela dita Sociedade Civil. Que não me deixem mentir o mesmo Paul Fauvet quanto os dirigentes do MDM e os membros da Sociedade Civil que, quanto a mim, peca sempre por só ver a FRELIMO como sendo o único ruim a cada vez que há algo que corre mal ou que assim é entendido. É caso para perguntar: porquê será assim? Sei que não vão responder, porque estão a dançar ao som da música de quem vos paga os salários e outras mordomias de que desfrutam. Certamente que estão conscientes de que não é justo que acusem só a FRELIMO, quando os órgãos eleitorais que fizeram o recenseamento em Gaza são integrados por membros da FRELIMO, RENAMO e MDM. Que forma é essa de separar o joio?
Nas vésperas das eleições de 2009 eu estava num périplo pelas províncias a cobrir a respectiva campanha eleitoral. Quando já estava a cobrir um comício da FRELIMO na povoação ‘’3 de Fevereiro’’ em Gaza, recebi uma chamada telefónica para voltar a Maputo para que pudesse participar numa reunião. A chamada era do então Director do GABINFO, Dr. Felisberto Tinga. Recordo-me que falou preocupado e ofegante. Disse que deviia chegar antes das 15 horas. E de facto interrompi a cobertura e voltei imediatamente à capital. Já na reunião, dei-me conta que a Oposição e o grupo de 19 países ocidentais que tinham co-financiado aquelas eleições exigiam que fossem adiadas, alegando que a FRELIMO havia excluído deliberadamente o MDM. Diziam que tinha feito essa exclusão porque a Maçaroca temia que fossem ganhas pelo Daviz Simango e seu Partido. O agora Vice-Presidente da CNE, António Chipanga, contou aos participantes o que havia acontecido para que o MDM não pudesse então concorrer em todo o país. ‘’Não o excluímos. Eles é que não entregaram todos os processos’’, disse atónico na altura com voz embargada. Chipanga explicou ainda, então, que o MDM havia entregado ‘’os seus processos à CNE quando faltavam apenas 15 minutos antes do fim da hora de expediente e no último dia do prazo estabelecido’’. Vincou que a única candidatura que tinha sido entregue à CNE a tempo tinha sido a do próprio Daviz Simango como Candidato Presidencial.
Durante a sua explanação, Chipanga revelou que o MDM estava sendo desonesto, ao alegar publicamente que estava sendo deliberadamente excluído pela FRELIMO, quando sabe que entregou à última da hora e no último dia os seus processos e, pior ainda, incompletos.
A esta sua explicação, eu quis saber se ele ou a CNE tinha provas de que o MDM havia entregado processos incompletos? Chipanga respondeu que havia sim provas, uma vez que o próprio Daviz Simango escreveu uma semana depois de o seu mandatário ter feito a tal entrega dos tais processos incompletos, pedindo ao então Presidente da CNE, Dr. Leopoldo da Costa, que recebesse excepcionalmente os processos em falta que não os tinham entregado dentro do prazo. Quando Chipanga revelou isto, eu disse que ‘’então o problema estava resolvido’’. Que bastava que se exibisse à imprensa e a todos os outros interessados, incluindo ao tal G19 que exigia o adiamento das eleições, essa carta assinada pelo Presidente do MDM. Disse que a CNE devia usar o mesmo remédio que o MDM usava - que era a imprensa para desmenti-lo, tal como se usa agora para dizer que o STAE forjou eleitores em Gaza.
E de facto Chipanga entregou-me a cópia dessa carta do Daviz e a levei para a AIM, e eu e Paul Fauvet fizemos a notícia, dizendo que o MDM estava sendo desonesto, porque afinal só entregou ao STAE/CNE parte dos documentos. Isto é, incompletos. Que não era verdade que foi excluído deliberadamente. Para dar mais força à minha notícia, dizia que ‘’MDM desmente-se e dá razão à FRELIMO’’.
Após a publicação dessa notícia em português e inglês, já não havia como a Oposição nem o G19 podiam mais continuar a acusar a FRELIMO e muito menos exigir o adiamento das eleições. E não foram adiadas porque o MDM estava a fazer uma acusação de má fé à FRELIMO. E as eleições de 2009 se realizaram sem mais barulho. Mas quando o MDM e a RENAMO as perderam, impugnaram-nas alegando que a FRELIMO recorreu à fraude. E no caso da RENAMO, acabou reactivando a partir de 2011 a guerra de pouca intensidade principalmente no Centro do País, e que só viria a terminar quando o então líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, assinou com Guebuza o Acordo de Cessação das Hostilidades a 5 de Setembro de 2014, portanto, um mês antes das eleições de 15 de Outubro do mesmo ano que também foram ganhas pela FRELIMO e o seu então candidato, o Eng.Filipe Nyusi que agora é o quarto Presidente de moçambicano e de novo candidato à sua própria sucessão, pela mesma FRELIMO.
Decidi contar publicamente pela primeira vez sobre como se resolveu o barulho que antecedeu também as eleições gerais de 2009, porque acredito na tese de Cícero de que ‘’o passado explica o presente e nos faz antever o futuro’’. Cícero dizia e bem que quem não se vale do passado, morre criança, mesmo que viva longamente. Também a minha língua materna, chope, há um ditado que reza que takale ta gondisa, ou seja, factos antigos são uma lição. Tem o mesmo significado a esta asserção de Cícero. Há países até que usam práticas antigas como sua Llei-Mãe. A Grã-Bretanha é um desses países. É por isso que não tem Constituição.
É por isso também que se diz que a História repete-se. Temos de novo um grande barulho politizado nas vésperas de novas eleições. Desta vez alega-se que a mesma FRELIMO forçou o STAE a recensear pessoas fantasmas. Isto é, que não existem em Gaza, de modo a beneficiar a mesma FRELIMO. É uma alegação tão difícil de se acreditar, porque não se pode imaginar pessoas forjadas que se tiram fotografias e impressões digitais, e têm nomes que constam nos cartões de eleitores biométricamente emitidos por uma STAE/CNE que são integrados a todos os níveis por membros da FRELIMO, da RENAMO e do MDM e que enquanto faziam tal recenseamento eram fiscalizados pela tal Sociedade Civil. Os que fazem esta alegação, dizem que os dados desta STAE são mesmo assim menos fiáveis e se agarram religiosamente às do INE como os mais fiáveis, não obstante o tal método com que fez o seu recenseamento de 2017 não tenha permitido que contasse cada um e todos os moçambicanos. Isto porque as suas brigadas são quem iam às casas das pessoas mas nem sempre as encontravam presentes e há casos em que só encontravam parte do agregado ou as crianças e na pior das hipóteses, as galinhas e os cães. E nunca mais voltaram a essas casas.
É por isso que julgo que o método do STAE contém provas materiais irrefutáveis, como a tal fotografia que é biométricamente impregnado no cartão que atribui a cada recenseado e as impressões digitais e o nome do recenseado. Para mim, este barulho de 2019 é tão descabido e infundado quanto de 2009, e só visa criar condições para se por em causa o resultado das eleições de 2019 caso a Oposição vier as perder, tal como impugnou as anteriores, mas que entretanto a tal Sociedade Civil e os países ocidentais nunca condenaram essa injusta impugnação.
Para mim, este novo barulho é parte do antigo plano sinistro de se fazer tudo para se tirar a FRELIMO do poder, por ter ousado libertar Moçambique e inviabilizar os interesses hegemónicos das mesmas nações ocidentais. É por isso que só acusam a ela, não obstante o recenseamento eleitoral seja obra conjunta da FRELIMO, da RENAMO e do MDM. Que o negue quem quiser, mas esta é a VERDADE.
gustavomavie@gmail.com
Comentários
  • Paul Fauvet Isso e' demais! Agora, como parte da sua campanha suja de desinformacao contra o Instituto Nacional de Estatistica (INE), Gustavo Mavie abusa do meu nome. E' verdade que o MDM nao entregou a sua papelada dentro de prazo em 2009 - mas isso nao tem absolutamente nada a ver com o INE, ou com os numeros ridiculos do recenseamento eleitoral em Gaza. O trio de Gustavo, JJC e Egigio Vaz tentam desesperadamente a desacreditar o INE - que e' geralmente reconhecido como uma das instituicoes mais competentes e mais professionais no estado mocambicano. Certamente e' muito differente do STAE e da CNE, que sao absolutamente partidarizadas, com centenas e centenas de funcionarios nomeados pela Frelimo, Renamo e MDM em todos os niveis.Por causa da extrema partidarizacao, os orgaos eleitorais sao pesadas e ineficientes, Ontem perguntei ao director Balate do INE se o Gustavo tinha contactado com o INE antes de escrever os seus ataques contra a instituicao. Resposta - nao!
    • Julião João Cumbane Paul Fauvet, por que tratas um questionamento como "ataque"? Acaso sabes que os "doadores" "chantageam" o INE... e o mesmo já não podem fazer com a CNE e o STAE?...

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