Saturday, March 3, 2018

O “meu 8 de Março”: Estaca III – Bucareste, na Academia Stefan Georgiu do Partido Comunista Romeno, e com os filhos dos chefes


O “meu 8 de Março”: Estaca III – Bucareste, na Academia Stefan Georgiu do Partido Comunista Romeno, e com os filhos dos chefes
03-03-2018
Saímos em Setembro e regressamos em Dezembro de 1977. Foi a minha primeira viagem ao estrangeiro. À ida passamos pela Grécia aonde se revelou uma malária que me deitou abaixo. Chegamos dois dias depois a Bucareste, já fazendo muito frio. Frio nunca experimentado na minha vida.
Chegados a Academia Stefam Georgiu, do Partido Comunista Romeno, fomos bem recebidos e acomodados. Lá havia outros jovens vindos da Asia e da América Latina. Recebemos valores monetários para despesas pessoais, senhas para as refeições no refeitório da academia, e material para o curso. Não havia material em Português, mas havia em Espanhol. Também havia tradução simultânea. Tivemos uma tradutora que falava “portunhol”, mas dava para nos entendermos bem e facilitava a tomada de notas nas aulas.
A primeira semana foi de língua e ambientação. Gostei do Romeno, uma língua que tem raízes latinas e por isso de fácil assimilação para mim sendo falante de português. Gostei tanto da língua que a partir da segunda semana comecei a escutar as lições e a tomar notas em Romeno, em lugar de seguir a tradução em “portunhol” e escrever em português. Foi a minha sorte, porque passadas três ou quatro semanas (dos três meses que iríamos ficar na Roménia), a tradutora desapareceu e não houve nem explicações nem promessas de sua substituição. Deu um pequeno alvoroço, porque isso afetava também os jovens vindos da América Latina que eram mais ativos (“irrequietos”) do que nós Moçambicanos.
Passei para o cubículo dos tradutores e de lá, ao mesmo tempo que tomava as minhas notas, fazia tradução em “portunhol” (embora mais em Português para beneficio do meu colega de Moçambique e a menina de Angola). O facto de que boa parte da literature era em Espanhol facilitou o meu “portunhol”. E assim fui aperfeiçoando o meu Romeno, que depois seria de grande utilidade numa missão que viria mais tarde e de onde eu nunca havia esperado.
As aulas eram aquilo que se pode esperar numa academia de um partido comunista: Materialismo Dialético, Materialismo Histórico, Marxismo-Leninismo, História do Partido Comunista Romeno e da sua organização da juventude, e Historia do Partido Comunista da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Muito material sobre a organização e atividades da juventude. E havia passeios ou visitas de estudo, sobretudo ao campo. Não me recordo de ter visitado uma fábrica ou instalação científica, nem sequer uma Universidade.
Houve histórias hilariantes. Durante os passeios ou excursões de estudo (que podiam durar entre um dia a uma semana), havia muita brincadeira. E alguma já era de adultos. O tipo da Serra Leoa (um professor universitário) e mais uns dois da América Latina eram os chefes da banda quando chegava a isso. O da Serra Leoa bebia muito álcool, e isso era muito importante para todo o grupo pelas razões que explico a seguir.
Sempre que saíamos éramos acompanhado por um homem de chapéu, casacão e óculos escuros. Fingia que não falava nenhuma das línguas faladas por nós. Mas estava connosco em tudo e até nas refeições. Depois das refeições fingia que estava a dormir. Mas antes disso, tirava uma pequena garrafa de Vodka que sempre levava no bolso e dava uns goles. E é aí que entrava em cena o nosso colega da Serra Leoa, que estrategicamente procurava sempre sentar-se ao lado do homem de chapéu, casacão e óculos escuros. Do seu bolso ele também sacava a sua garrafa de Vodka, e lá iam os dois. Mas o nosso colega tomava pouco nessas ocasiões, e vigiava o outro para ter a certeza que estava mesmo a tomar. Passados alguns minutos o tipo de chapéu, casacão e óculos escuros começava a rosnar. E aí começavam os momentos mais interessantes das nossas excursões ou jantares guiados fora da academia. Alguns até desapareciam e só se juntavam a nós a porta de entrada da academia.
Passadas algumas semanas, quando já estávamos ambientados, eu e o meu companheiro Abílio Monjane procuramos os estudantes Moçambicanos na Romenia. Havia vários vindos de quase todo o Moçambique. Eram maioritariamente filhos de antigos combatentes da luta de libertação nacional, alguns mesmo eram filhos de comandantes e governadores e outros altos oficiais da FRELIMO. Havia alguns que já haviam sido lá enviados no quadro das decisões de 8 de Março de 1977.
Logo aos primeiros contactos com os estudantes Moçambicanos transpareceu-nos que se vivia um ambiente muito triste no seio deles. O responsável máximo por eles lá, na altura também estudante, o Sr. Alexandre Zandamela, e outros estudantes seniores estavam muito preocupados com a situação que os estudantes moçambicanos passavam. Havia fome. Havia estudantes internados ou com tratamento hospitalar ambulatório com doenças intestinais por causa da má alimentação. Não tinham livros e outros materiais essenciais em quantidades suficientes. Nas escolas e faculdades os estudantes moçambicanos não tinham acesso as mesmas facilidades que os estudantes romenos e outros europeus. A exclusão ia desde bibliotecas inteiras ou secções destas, até práticas de laboratório e de campo para engenheiros, incluindo em áreas como agronomia. Havia um agrónomo formado pela UEM que ia lá especializar-se, a quem não lhe era permitido sequer guiar trator e fazer práticas nos campos.
A situação daqueles nossos compatriotas perturbou-nos muito psicologicamente. Contradizia tudo o que se falava do “mundo rózeo” dos países socialistas. Fiquei horrorizado. Eu e Abílio éramos dois jovens com um passado muito diferente do daqueles compatriotas. Tínhamos grande respeito por eles, sendo uma boa parte deles filhos de combatentes da luta de libertação nacional. E estavam alí a ser tratados daquela maneira. E parece que a comunicação com Maputo não estava a funcionar bem ou as informações eram filtradas em algum sítio. Apesar de termos recebido orientações de viagem no Ministério da Educação e na OJM, ninguém nos tinha dito que tal situação existia na Roménia.
Nós havíamos saído de Maputo com um montante de dinheiro muito (retrospetivamente julgo até demasiado) elevado, que não sabíamos o que fazer com ele. A partida o Ministério da Educação e Cultura em Maputo deu-nos US$25,000.00 (vinte e cinco mil dólares Americanos) em cheques de viagem da Thomas Cook. Não sei se foi pela nossa modéstia dadas as nossas origens sociais, mas excetuando as compras que fizemos para reforçar os agasalhos contra o frio para nós não habitual, o que os romenos nos deram na academia parecia-nos suficiente. Do dinheiro que nos deram até ao regresso usamos menos de mil dólares. Havia um contraste abismal entre as nossas vidas e o tratamento que os Romenos nos davam, e a situação que os nossos compatriotas que eram estudantes e residentes permanentes lá viviam.

Discutimos com os responsáveis dos estudantes. Era o Alexandre Zandamela, juntamente com o Mpaiva, outro sénior entre os estudantes cujo primeiro nome não me recordo. Perguntamos o que poderíamos fazer, e explicamos que tínhamos esse dinheiro e que estávamos dispostos a deixar-lhes com uma parte desde que eles testemunhassem isso por escrito para nós levarmos para juntar ao nosso relatório das contas. Perguntamos quanto pensavam que poderia ser de ajuda. Acho que eles responderam que US $250.00 a $500.00 poderiam ser suficientes. Fiquei boquiaberto. Creio que havia entre vinte e cinco a trinta estudantes (se não me engano) e todos eles com necessidades básicas. Insistimos perguntando se isso não seria pouco. Eles disseram que não, isso seria bem suficiente.
Acho que acabamos assinando um cheque de US$500.00 (não me recordo se menos, ou mais do que isso, mas se tivermos assinado mais não deve ter passado de US$1,000.00), e ficamos abertos a dispensar mais se necessário.
O Alexandre Zandamela e o Mpaiva, que eram mais velhos do que nós, eram muito disciplinados, conhecedores das regras, e cautelosos. Esclareceram-me depois que era verdade que o valor que eles indicaram seria mesmo suficiente para atender as necessidades básicas e imediatas incluindo as dos estudantes com algumas doenças, mas que isso seria somente por um período limitado (retrospetivamente hoje posso entender, pois o Dólar na altura tinha muito valor nos países socialistas, onde até circulava no Mercado negro, mas mesmo assim…). Mas eles insistiram que haveria que se atacar os problemas de fundo e resolver de raiz a situação dos estudantes moçambicanos na Roménia. Portanto o que eles queriam era que chegados a Maputo reportássemos fielmente a situação ao Ministério da Educação.
Parece que aquele montante que eles nos indicaram foi mesmo suficiente nas condições da Roménia naquela altura. Recordo-me que uma das coisas que os estudantes fizeram (e que não faziam desde muito tempo por falta de meios), foi juntarem-se (uma boa parte deles, senão todos), vindos de vários locais da Roménia, para um dia de reunião e confraternização em Bucareste. Evento esse ao qual fomos convidados, e que em parte foi financiado por daquele valor. Aqueles jovens eram mesmo modestos e disciplinados.
Chegados a Maputo, eu e o meu amigo Abílio Monjane sentamo-nos uma série de dias a escrever o relatório da nossa viagem. Naturalmente que a parte mais difícil era a relacionada com a condição dos estudantes naquele país. Acho que produzimos um relatório de cerca de dez páginas em papel almaço azul de sessenta linhas (que deve ter sido dactilografado mais tarde no MEC para poder ser facilmente lido pelos responsáveis). Demos um grande destaque a situação dos estudantes moçambicanos na Roménia. Juntamos os trocos, e fomos entregar ao ministério. E preparamo-nos para voltar aos nossos locais de trabalho. O que se passou daí foi uma outra história para contar.

***
“Conta a lenda” que depois de algum tempo de análise, o assunto foi parar ao conhecimento do Presidente da República, Samora Machel, e que ele meteu isso na agenda duma reunião do Conselho de Ministros (ou coisa do género). Digo “conta a lenda” porque aquí, não tendo tido papel direto não posso ser 100% certo de como os factos se passaram (mesmo nos casos em que fui ator direto a memória de certeza que deve trair).

Porém o que se passou a seguir, e em que participei, faz crer que de algum modo as coisas tenham acontecido assim. Porque “conta a mesma lenda” que o Presidente Samora Machel ficou mesmo muito aborrecido pelo facto de Moçambicanos, e ainda por cima filhos de combatentes da luta de libertação nacional, alguns dos quais filhos de seus altos comandantes de guerrilha e governadores de províncias depois da independência, serem tratados daquela maneira num país para onde eles foram para serem educados e treinados para desenvolver e dirigir Moçambique. Era um ultraje completamente inaceitável!
“Conta ainda a mesma lenda” que dessa discussão do Conselho de Ministros saiu a decisão de se enviar uma delegação do Ministério da Educação para ir analisar a situação ao mais alto nível possível do Governo Romeno e informar-lhes da decisão do governo moçambicano de repatriar todos os estudantes de uma vez e num único voo se os romenos não se comprometessem a de facto resolver todos os problemas listados pelos estudantes.
A ministra da educação e cultura da altura já me havia mandado requisitar outra vez, e me dado uma outra tarefa da qual falarei na próxima estaca, porque também faz parte do meu “8 de Março”. Porém, tal como “conta a lenda”, uma das orientações que Samora deu foi que nessa delegação levassem “esse jovem” que escreveu esse relatório, para ser ele a estar lá e a assistir às discussões com as autoridades romenas, e se necessário testemunhar a desgraça dos estudantes moçambicanos naquela terra. De um lado isto serviria para evitar expor diretamente os estudantes perante as autoridades romenas. De outro lado esperava-se dissuadir a contraparte romena de mentir descaradamente, e ainda para usar o meu conhecimento de romeno para estar atento a fidelidade da tradução que seria disponibilizada pelas autoridades romenas. E foi assim que eu voltei a entrar em cena na saga dos estudantes moçambicanos na Roménia.
A delegação foi chefiada pela Pamela Rebelo, que na altura era Diretora do Gabinete de Estudos do MEC. Mas o negociador de facto era o Sr. Gideon Ndobe, que havia sido um quadro sénior da FRELIMO e tinha participado no Governo de transição, e era mais experiente que a (na altura) jovem Pamela Rebelo. Na altura desta viagem o Sr. Gideon Ndobe era uma espécie de Conselheiro no Ministério, depois de por razões até hoje desconhecidas ao público ter “falhado” uma posição no primeiro governo de Samora Machel e nunca mais ter entrado nos governos sucessivos da FRELIMO, tendo ficado progressivamente afastado do centro do poder. Para mim este é um dos melhores pedagogos Moçambicanos (creio que treinado na Chekoslovákia).
Aquela missão foi uma escola de negociação da qual ainda hoje destilo lições. Subiu-se até à Ministra da Educação da Roménia, e creio que houve mesmo um “encontro de cortesia” com o Vice-Primeiro Ministro da altura (não me lembro de eu ter sido levado a participar neste encontro, mas a memória me diz que existiu). E não vou entrar em mais detalhes. O certo é que aos Romenos foi dito tudo direto na cara, até ao mais alto nível que se foi.
A tenacidade do Sr. Gideon Ndobe na condução das discussões era assustadora. Pela maneira frontal e sem ambiguidades como ele colocava as questões, posições e exigências do governo moçambicano, cheguei a ter medo que as relações entre Moçambique e a Roménia terminariam alí. E eu não queria ser parte disso, sobretudo porque o meu papel alí era de só ouvir, ver, e respirar fundo quando as sessões chegavam ao fim.
Mas o homem sabia o que estava a fazer, e que terreno estava a pisar. Pois “conta a lenda” que o Presidente Samora tinha levantado a fasquia tão alto ao ponto de ter havido um “ruído” em como enquanto a delegação estivesse na Roménia um avião das Linhas Aéreas de Moçambique estaria preparado para a qualquer altura seguir para lá e trazer de uma vez todos os estudantes Moçambicanos de volta e definitivamente, se as discussões com as autoridades romenas não dessem os resultados desejados.
Não se chegou a tais vias de facto, mas sabia-se que Samora Machel podia muito bem fazer isso. E os romenos, aos ouvidos de quem tal “ruído” pode ter chegado, comprometeram-se credivelmente a resolver os problemas levantados. E parece que a situação depois melhorou. Mas o que de facto se passou depois não sei, pois regressada a delegação a Moçambique continuei na minha de “faztudo”.
De saída da Roménia rumamos para a então República Democrática Alemã, levando um pedido do ministério de educação para o envio do primeiro contingente de especialistas alemães em educação. Isso veio a acontecer meses mais tarde, tendo eu até trabalhado com alguns desses especialistas, sempre na minha condição de “faztudo”.
Continua na Estaca IV – Logistica dos primeiros Centros de Formação de Professores Primários
INTERVALO ENTRE ESTACAS 
(Roberto Tibana, 03-03-2018)

A estaca III esta ai embaixo, e todas as restantes “Estacas” do “meu 8 de Março” já estão no pipeline, e eu não havia programado emitir nenhum post antes de terminar a sua publicação. Mas hoje vou abrir uma excepção, tanto mais que a “Estaca” de hoje saíu ontem a noite por antecipação.
Este intervalo destina-se a publicar o texto que vai abaixo, que recebi via Messenger de um indivíduo que não é meu "Amigo" no Facebook. Creio que ao me enviar a mensagem via Messnger quis manter a conversa a dois. Não concordando com ele nesse procedimento, julgo no entanto importante manter-lhe anónimo (a não se que ele depois se queira vir a identificar, porém eu não faço questão disso). A pessoa também não publica a sua foto, o que reforça a minha convicção de que ele pretende manter-se anónimo e eu vou rspeitar isso. Por isso, vou trata-lo neste post por "Sr. *******".
Dito isto, deixo que os leitores leiam a mensagem dele. Não toquei em nenhuma passage da mesma. Está tal e qual me veio no Messenger, incluindo a reticências.
INÍCIO DA MENSAGEM:
“ *******
You and ******* aren't connected on Facebook
FRI 10:19AM
Exmo Senhor,li o seu artigo e pus-me a rir pois o senhor tenta a todo o custo minimizar o seu apoio fanatico e extremista à frelimo nos anos 70...hoje, graças a Deus, o senhor é um dos mais críticos da frelimo....os jovens de hoje,lendo o seu artigo( comentario) poderao pensar de que, o senhor nos anos 70 era um crítico à frelimo,mas os factos nos dizem de que o senhor e mais uns seus "colegas" eram uns grandes frelimistas,...militancia esse que resultou em o senhor ser escolhido para a Romenia...A frelimo jamais e jamais poderua selecionar o senhor para a Romenia, se e se, ela ( a frelimo) nao estivesse convencida de que o senhor comungava as mesmas ideias com a frelimoi...com todo o meu respeito, sem o ofender,o senhor pertencia àquela juventude de lambebotistas....pois,os jovens de entao que eram bons patrioticos e nacionalistas mas bem criticos à ideologia da frelimo "passaram" mal com a frelimo-o senhor bem sabe disso!...voces contam as vossas "historietas" cheias de meias-verdades e se esquecendo de que ha tantas pessoas que ainda sao vivos e essas pessoas acompanharam as vossas vidas...dito isto, hoje o senhor é um homem: abriu os olhos e é realista....tenho imenso respeito por si e faz criticas construtivas ao governo...oxala que Moçambique tivesse mais Robertos Tibanas.....ps..tenha coragem de admitir de que, se hoje temos esta frelimo de hoje, em parte a culpa é vossa,pois voces na altura davam um apoio à frelimo incondicionalmente...abraçao e estamos juntos...outros tempos! aguas sujas passadas...importante é pensar no futuro....bom fim de semana

ps! o senhor disse uma verdade: que voces eram radicais e acrescentaria que tambem eram fanaticos e extremistas: a frelimo era tudo pra voces...e aí daquele que vos contradizesse,ers visto como um inimigo do povo...e la vinha a snasp.......
7:18AM
You accepted ****'s request.” FIM DA MENSAGEM:

AGORA O MEU COMNTÁRIO:
1. Quem me dera outros também tivessem a sensatez de entrar e fazer este tipo de comentários. Muito importante porque quem participa na história (seja com que papel for) nunca deve ter a pretensão de escrever essa história ele mesmo. Porque o sujeito vai ter sempre (queira ou não) uma memória seletiva dos factos. Mas isso é em relação aos factos. O pior ainda é que se o mesmo sujeito começar a fazer juízos (seja acerca do seu papel, ou do papel dos outros protagonistas nos mesmos eventos) o risco de erros crassos, involuntários ou deliberados, é ainda maior. Nao so porque a memoria e sempre selectiva. MAS Mas mais importante ainda porque os mesmos factos podem ter sido percebidos de maneira diferente por outros, e o sujeito nunca deve pretender impor aos outros o seu juízo dos factos. Por isso me recusei sempre a fazer disto um “Livro de Memórias”. E convidei outros que possam ter sido da minha geração a corrigirem e fechar buracos se o quisessem. Mesmo que seja somente para exprimirem os seus juízos, como o faz o “Sr****”. Os cometartios do “Sr****” sao tambem parte do "meu 8 de Marco", e por isso os partilhei aqui.
2. Seria ridículo se eu viesse a dizer que não apoiei a FRELIMO dos anos 70. Alias, quem seguiu-me na Estaca II viu lá as origens do meu ativismo, primeiro no meu bairro de residência, e depois na escola Industrial. Portanto, nisso de eu ter apoiado a FRELIMO dos anos 70 não existe novidade nenhuma. Novidade está na maneira como o “Sr. ****” interpreta isso. Mas isso é o seu direito, e eu o respeito.
3. No seu ultimo ‘ps’ o “Sr. ****” faz uma referência ao SNASP (a famigerada secreta moçambicana, predecessora do SISE) e a ela associa-nos (a nós que na altura apoiávamos a FRELIMO dos anos 70e pertencemos aos Grupos Dinamizadores dessa epoca) nos seguintes termos: “a frelimo era tudo pra voces...e aí daquele que vos contradizesse,ers visto como um inimigo do povo...e la vinha a snasp.......”. Eu aquí discordo. Nem todos (e nem sequer a grande maioria) dos que estavam nos Grupos Dinamizadores (ou que fossem simpatizantes da FRELIMO dos anos 70s) eram membros ou informadores ou de alguma maneira associados ao SNASP e as atrocidades do regime. Eu tenho a certeza quase absoluta de que alguns o terão sido, alias essa é a natureza dos serviços secretos em todo o mundo, eles colocam em todos os lugares os seus espiões. Eu pessoalmente considero que o SNASP protagonizou uma das partes mais sujas do regime pós-independência. Mais, algumas pessoas que me conhecem e temos falado sobre este assunto sabem que eu tenho advogado que como parte do processo de reconciliação entre os moçambicanos, deveria haver uma maneira de aqueles que foram vítimas das operações desse instrumento de repressão tivessem um mecanismo através do qual pudessem ver a justiça feita e o Estado assumisse as suas responsabilidades nos prejuízos que foram causados a eles e as suas famílias, notando porém que nunca haverá uma reposição total pois infelizmente muitos desses compatriotas perderam as suas vidas ou as viram desestruturadas de uma maneira irreversivel. E MAIS: eu advogo que em devido tempo os arquivos do SNASP deviam ser tornados públicos, e acessíveis aos historiadores para que a verdade venha a ser conhecida e seja contada com toda a objetividade. Faz-se isso em muitas partes do mundo civilizado. Depois do "Glasnost" e a queda do "Murro de berlim", na Russia e na Europa do Leste uma boa parte dos arquivos das congeneres do SNASP ficaram acessiveis. No Oceidente os arquivos das seccetas sao regularment libertados, passado o devido tempo e com as devidas precaucoes.
4. Tenho muito orgulho de (apesar de todos os extremismos da juventude e o apoio a FRELIMO dos anos 70) nunca ter sido nem colaborador, nem informador da SNASP ou de qualquer polícia política. Aliás, eu bem gostaria se o meu ficheiro (que tenho a certeza absoluta que existe nos serviços de segurança de Moçambique, desde o SNASP ao SISE) fosse tornado público. Aí teríamos todo o tira-teimas acerca do que esta la, e de quem espiou em quem! Nesse aspeto os meus filhos, netos, bisnetos, trinetos, etc. nunca terão vergonha de mim. Antes pelo contrário!
4. Um outro amigo me escreveu também em privado perguntou se eu não estaria a “queimar-me” ao partilhar estas "conversas comigo próprio". A minha resposta a esse bom amigo é simples: eu não tenho nenhuns “esqueletos no armário” dos quais não me sinta em condições de falar em público. Não que na minha vida não tenha cometido erros no passado, não que não tenha feito coisas que até se possam considerar “vergonhosas”. Mas nunca deliberadamente cometi crime ou feito algo que possa ter provocado prejuízos a sociedade, e portanto estou pronto para aceitar as minhas imperfeições humanas e os aspetos ridículos do meu entusiasmo e ingenuidade de juventude. Alias,bem gostaria se ao publicar estas "conversas comigo proprio" isso ajudasse os jovens de hoje a nao cometerem os mesmos erros. Teriamos um mocambique melhor!
5. Quem me acompanhar até a Estaca VII (Primeira “chitcotada” política: arrogância ou irreverência, e “o mal que veio pelo bem”) terá mais sobre alguns dos aspetos mencionados acima.

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5 comentários
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Maria Joao Fernandes Como e bom ter histórias para contar e sabe-lãs contar .
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Soraya Abranches Tropa Verdades merecem ser partilhadas! Vou partilhar!
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Solomone Manyike Optimo Prof! Escreva e será bom que seja editado o livro. Li numa passagem - (optimistas fazem avião e pessimistas fazem paraquedas)
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Negro Africano Dr, penso que já está na hora de escrever um livro sobre as suas memórias. Julgo que seria interessante....
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Mondlane Calane Dzovo Kito Negro Africano , vamos esperar o Homem se aponsentar. Heheheheh.
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23 comentários
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1 dia(s)
Fatima Mendonça Muito pertinente o retrato que faz de Gideon Ndobe um quadro competentissimo cujo afastamento nao tem justificacao. Roberto Julio Tibana espero que guarde esses textos.
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1 dia(s)
Roberto Julio Tibana Obrigado Fatima Mendonça! Creio que uma vez no Facebook os textos ja estao bem guardados. Perdi muitos arquivos valiosos na vida e nao posso prometer que eu propprio va conseguir guardar isto!🤣
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1 dia(s)
Fatima Mendonça Acho que no fb nada fica bem guardado o melhor e ter um file no pc Roberto Julio Tibana
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18 h
Alberto Ribeiro Sim primao continua com histórias verdadeira e mantenha se firme e orgulhoso de viver d suor próprio , exp os nossos país (Ribeiros ,Tibana,Maçaneta )depois Samora.
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15 h
Carlos Cardoso Grande percurso!
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23 h
Roberto Julio Tibana Saímos em Setembro e regressamos em Dezembro de 1977 (NAO: Saímos em Setembro de 1977, e regressamos em Dezembro de 1978)😴
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23 h
Jossias Ramos Aproximadamente 15 meses? Por isso, fluente em romeno. Vou aguardando a próxima estaca.
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23 h
Roberto Julio Tibana Não 15 meses! 3 meses!
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22 h
Jossias Ramos Percebido (Setembro a Dezembro) do mesmo ano. Mesmo assim, três meses em 'target language community', é tempo suficiente para adquirir-se/aprender-se uma certa língua.
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22 h
Jossias Ramos Obrigado pela clarificação, Professor Roberto Julio Tibana!
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22 h
Vanny Nhampoca Gostei de ouvir
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23 h
Salvador Raimundo Uff, como anima…
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23 h
Carlos Jorge Nhamahango bom ler a história de Moçambique. força ilustre Rob Tibana
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22 h
Nhantumbo Foliche Marlon Essas memórias bem que podia organizar em um livro. Para jovens como eu é muito bom ler estes textos
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21 h
Carlos Mairoce Desse retracto nota se um governo determinado, e sem medo de enfrentar a injustiça. Quadros preocupados com o bem dos estudantes, o presidente também. De lá para cá o que aconteceu para não termos mais gente com vontade de lutar para o bem dos seus compatriotas?
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20 h
Maria Dos Anjos Rosário Boa ideia colega Roberto Tibana , a de escrever e relatar experiências vividas. O pais nós deu a oportunidade de sermos protagonistas de páginas da sua historia, me lembro de ti, jovem sempre agitado e irrequieto, cheio de dinamismo, com outros jovens cujos nomes não consigo agora reproduzir. (AFONSO, ....
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18 h
Edson Carlos Manjate A forma como o presidente Samora resolveu o problema dos estudantes na Roménia so aumentou o meu respeito que eu ja vinha nutrindo por ele, e o facto de o Sr e seu amigo se terem preocupado em ajudar os jovens estudantes conterrâneos e posteriormente terem reportado ao ministério aquele terrível situação, isso faz falta nos dias de hoje, onde numa situação daquelas so se veria, ou indiferença , ou dirigiriam-se as autoridades roménenias com ar de inferioridade e bajulismo
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16 hEditado
Olegário Samuel Muando Pàginas da nossa história....
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14 h


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14 h
Claudino G. Nchumali Experiencia de vida pessoal que ajuda a comprender a Historia de um povo. Obrigado Roberto Julio Tibana. Agora (todos aqueles que viveram naquele perido) ja imaginaram se todos esses relatos e mais outras experiencias, de outras pessoas, nos mais diversos campos como da educacao, agricultura no periodo pos-independencia fosse documentado. O que falta para isso acontecer? Se calhar a culpa 'e minha que nao procuro pessoas como Roberto Julio Tibana para me contar essa parte da historia.
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14 hEditado
Fernando Nhaca Francamente...história da nossa história...gostei da peça em todos aspectos... O conteúdo que nos engradece...a forma artística de como conta os acontecimentos...a projecção em verdadeira grandeza do nosso saudoso Machel e, sobretudo em saber que parte da nossa existência como República, o Senhor Roberto Tibães é " cumplice" no bom sentido,...defendeu os seus compatriotas"
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14 h
Paulo Mahumane Grande Roberto Tibana, patriota. Trabalhou e ainda trabalha para o bem de Mocambique. Bem haja o senhor, inspira-nos bastante!
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13 h
Tomas Mario Estórias da nossa História! Abraço forte!
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13 h
Helder David Interessante! Atè esqueci me que estava a matabichar
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12 h
Felix Cossa Notável. Parabéns!
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12 h
Rafael Saute Extremamente interessante. Parabéns. R.Saute
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12 h


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7 h
Jose Muchamano Jofre Palavras da nossa história. Parabéns
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6 h
Jorge Jone Importante e interessante relato.

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